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A Vida sob Efeitos do Transe - Repositórios Digitais da UFSC

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Foucault sintetiza esse processo característico <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de no final de seu livro A<br />

Vontade de Saber, assim afirma o autor:<br />

Concretamente, esse poder <strong>sob</strong>re a vi<strong>da</strong> desenvolveu-se a partir <strong>do</strong><br />

século XVII, em duas formas principais (...). Um <strong>do</strong>s pólos, o primeiro a<br />

ser forma<strong>do</strong>, ao que parece, centrou-se no corpo como máquina: no seu<br />

adestramento, na ampliação de suas aptidões, na extorsão de suas forças,<br />

no crescimento paralelo de sua utili<strong>da</strong>de e <strong>do</strong>cili<strong>da</strong>de (...). O segun<strong>do</strong>,<br />

que se formou um pouco mais tarde, por volta <strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século XVII,<br />

centrou-se no corpo-espécie, no corpo transpassa<strong>do</strong> pela mecânica <strong>do</strong><br />

ser vivo e como suporte <strong>do</strong>s processos biológicos: a proliferação, os<br />

nascimentos e a mortali<strong>da</strong>de, o nível de saúde, a duração <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a<br />

longevi<strong>da</strong>de (...). As disciplinas <strong>do</strong> corpo e as regulações <strong>da</strong> população<br />

constituem os <strong>do</strong>is pólos em torno <strong>do</strong>s quais se desenvolveu a<br />

organização <strong>do</strong> poder <strong>sob</strong>re a vi<strong>da</strong>. A instalação – durante a época<br />

clássica, desta grande tecnologia de duas faces – anatômica e biológica,<br />

individualizante e especificante, volta<strong>da</strong> para os desempenhos <strong>do</strong> corpo e<br />

encaran<strong>do</strong> os processos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> – caracteriza um poder cuja função mais<br />

eleva<strong>da</strong> já não é matar, mas investir <strong>sob</strong>re a vi<strong>da</strong>, de cima a baixo<br />

(Foucault, 1999; p.131).<br />

O cui<strong>da</strong><strong>do</strong> para com a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população, talvez, possa ser interpreta<strong>do</strong> em termos<br />

de garantias de direitos e de assistência pública, de mo<strong>do</strong> que o Esta<strong>do</strong>, atuan<strong>do</strong> <strong>sob</strong><br />

princípios democráticos, procuraria incluir o maior número possível de pessoas <strong>sob</strong> a sua<br />

esfera de influência, garantin<strong>do</strong>, entretanto, a própria estrutura de poder que constituiria o<br />

seu <strong>do</strong>mínio. O princípio político de se cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população poderia, também, atuar<br />

<strong>sob</strong> modelos autoritários de poder onde o Esta<strong>do</strong> procuraria delimitar rigi<strong>da</strong>mente um<br />

ordenamento e controlar ao extremo as funções biológicas de sua população. Nos <strong>do</strong>is<br />

casos vi<strong>da</strong> e política seriam indissociáveis e, além disso, a luta política primordial para<br />

ambos os sistemas estaria na inclusão, captura ou extermínio <strong>da</strong>quela vi<strong>da</strong> que não se<br />

enquadrasse no ordenamento constituí<strong>do</strong>. Esta vi<strong>da</strong> fora de qualquer ordenamento e que<br />

assim estaria fora, também, de qualquer possibili<strong>da</strong>de de coman<strong>da</strong>r suas ações ao mesmo<br />

tempo em que aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> pelo Esta<strong>do</strong> é por Giorgio Agamben intitula<strong>da</strong> de vi<strong>da</strong> nua. A<br />

vi<strong>da</strong> fora de qualquer ordenamento, segun<strong>do</strong> este autor, transformar-se-ia na preocupação<br />

política fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> século XX. O cui<strong>da</strong><strong>do</strong> para com a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população só poderia,<br />

assim, emergir como fenômeno político pela exclusão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> nua de qualquer<br />

ordenamento constituí<strong>do</strong>. Entretanto, ela permaneceria incluí<strong>da</strong> pela constante vigilância<br />

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