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processos de territorialização e identidades sociais - UFSCar

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Cap. I Fronteiras Amazônicas e os “Focos <strong>de</strong> Calor” – o que as fumaças ocultam e revelam? 7<br />

as formas <strong>de</strong> conceber as rotinas conforme os modos <strong>de</strong> vida tradicionais, no que<br />

concerne ao conteúdo material das moradias, às formas <strong>de</strong> trafegar, às ocupações<br />

profissionais, que já não é possível aos grupos locais, assim ajustados, estabelecer<br />

uma nítida distinção entre si e o Outro, aquele que solapa a concepção <strong>de</strong> floresta<br />

como um lugar, isto é, como um sistema <strong>de</strong> objetos e <strong>de</strong> ações consistentes com a<br />

dinâmica ecossistêmica natural.<br />

OS “FOCOS DE CALOR”: DESASTRES VISÍVEIS OU OCULTOS?<br />

Em termos sociológicos, <strong>de</strong>sastre é uma crise na esfera social suscitada em<br />

vários recortes espaço-temporais. Embora o discurso midiático tenha por prática<br />

dar ênfase à cena <strong>de</strong>vastadora e aos sujeitos nela circunscritos, no impacto ou no<br />

imediato pós-impacto <strong>de</strong> um dado fator <strong>de</strong> ameaça, a tessitura <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sastre vai<br />

além. Ocorre <strong>de</strong> ali não se encontrarem presencialmente os grupos que <strong>de</strong>finem a<br />

lógica da configuração territorial. E, ainda, da aparência <strong>de</strong>soladora da paisagem,<br />

que abrange os elementos materiais <strong>de</strong>struídos ou danificados, não dar conta <strong>de</strong><br />

apresentar, por si mesma, a teia <strong>de</strong> variadas relações e significações que associam<br />

dimensões psicos<strong>sociais</strong> e sociopolíticas do trágico acontecimento.<br />

Os incêndios florestais são <strong>de</strong>sastres que, como a maioria dos ocorrentes no Brasil,<br />

têm sua origem em uma cronologia muito anterior do que a mera combustão da<br />

paisagem. Para a sociologia, os <strong>de</strong>sastres mantêm nexos sócio-históricos que transcen<strong>de</strong>m<br />

a tragédia local. No caso amazônico, as penúrias e privações infligidas aos grupos<br />

que vivem nos territórios impactados adquirem vieses <strong>de</strong> classe e étnicos e é precário<br />

o reequacionamento das suas rotinas. Quando há regularida<strong>de</strong> na ocorrência <strong>de</strong> um<br />

mesmo tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre numa mesma região, há indícios que as instituições públicas<br />

voltadas para as emergências naquele espaço não funcionam a<strong>de</strong>quadamente, sinalizando<br />

hiatos no cumprimento <strong>de</strong> sua missão institucional e fomentando um sentimento<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sproteção do cidadão que ali vive (VALENCIO & VALENCIO, 2010).<br />

As queimadas provocam efeitos na saú<strong>de</strong> humana uma vez que geram mudanças<br />

macro e microclimáticas que po<strong>de</strong>m alterar a prevalência e disseminação<br />

<strong>de</strong> doenças infecciosas e aumentar os riscos <strong>de</strong> doenças cardiovasculares, sendo a<br />

maior exposição e inalação da fumaça e dos contaminantes aéreos um fator agravante<br />

(RIBEIRO & ASSUNÇÃO, 2002). Em comparação com o cerrado, a floresta<br />

tropical não tem uma boa <strong>de</strong>finição do material e gases provenientes da<br />

combustão, mas há a presença <strong>de</strong> uma alta concentração <strong>de</strong> carbono e compostos<br />

tóxicos (YAMASOE et al., 2000). Isso requer o atendimento <strong>de</strong> um maior volume<br />

<strong>de</strong> pessoas pelo sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> regional – particularmente <strong>de</strong> idosos e crianças,<br />

os grupos mais vulneráveis – o qual, no geral, não apresenta instalações, quadro<br />

humano e equipamentos compatíveis com a <strong>de</strong>manda. Tanto a contaminação humana<br />

e a propagação <strong>de</strong> doenças quanto à incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos grupos<br />

enfermos, revelam um <strong>de</strong>sastre silencioso.

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