processos de territorialização e identidades sociais - UFSCar

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10 Processos de Territorialização e Identidades Sociais (Volume II) indagação: por que o problema socioambiental crônico não é amainado? No pior dos casos, supomos que o meio sociopolítico jogue uma cortina de fumaça sobre os atores que promovem, através do mau uso do fogo, a depredação da Amazônia brasileira, banalizando a corrosão das estruturas, dinâmicas e rotinas dos povos locais. FRONTEIRAS AMAZÔNICAS SOB FUMAÇA As queimadas ocorrem todos os anos na Amazônia, afetando a qualidade do ar, a saúde de milhares de pessoas e o ecossistema em geral. O estado do Acre, propagandeado como modelo exemplar de “desenvolvimento sustentável” na Amazônia brasileira, tem sido dramaticamente afetado pela fumaça, tendo nos anos de 2005 a 2010 registrado o ápice de uma situação considerada pelo Ministério Público como de “calamidade ambiental”. A fumaça que cobriu as cidades de Rio Branco, Porto Velho, Manaus e Cobija (departamento de Pando/Bolívia) nos meses de julho a setembro fechou aeroportos e aumentou o número de internações por problemas respiratórios. Os denominados “focos de calor”, em sua maioria, estão localizados às margens das estradas e dos grandes empreendimentos econômicos. No Acre esses estão localizados ao longo das rodovias 317 e 364. No Mapa 1 observamos que a ocorrência das queimadas e a concentração de fumaça na atmosfera delas resultantes estão relacionadas com a expansão da pecuária, exploração madeireira e cultivo da soja (esta última nos estados de MT e RO). A coloração vermelha na imagem indica as maiores concentrações de fumaça na atmosfera. Segundo a OMS, a exposição às partículas PM 2.5 não pode ultrapassar o valor de 25 por mais de três dias no ano e, como podemos visualizar, a exposição à fumaça foi em quantidade muito maior. Essa questão das queimadas no Acre e na Amazônia em geral é recorrente. No ano de 2005 foi registrada uma das maiores secas dos últimos 40 anos nessa região. O nível do Rio Acre registrou a cota mínima de 1,64 metro em Rio Branco, a mais baixa da sua história. Associado a isso, a baixa umidade relativa do ar, de aproximadamente 30% (a média gira em torno de 80%), os ventos fortes, a alta temperatura e a ausência de chuvas contribuíram para que ocorressem vários incêndios no estado do Acre (BROWN, 2006). Em 2005, na Amazônia brasileira, peruana e boliviana e no Departamento de Santa Cruz ocorreu uma “catástrofe ambiental”, entre os meses de julho e meados de outubro. A seca prolongada e os incêndios resultaram em poluição por fumaça que afetou mais de 400 mil pessoas, danos em 300 mil hectares de floresta e mais de US$ 50 milhões de perdas econômicas diretas (BROWN, 2006). De acordo com Duarte (2007), a elevada concentração de fumaça na atmosfera (entre 400 e 800 ugm -3 no Leste do Acre) teria produzido como resultado imediato um surto de doenças respiratórias que afetaram, somente na cidade de Rio Branco, 30 mil pessoas, o equivalente a 10% de sua população.
Cap. I Fronteiras Amazônicas e os “Focos de Calor” – o que as fumaças ocultam e revelam? 11 Mapa 1 Distribuição da fumaça em 24-9-2010. Fonte: BROWN, 2010. Em 2010 o quadro climático voltou a desenhar os mesmos traços de 2005. Os meses de agosto e setembro do corrente ano fizeram os acreanos recordarem o desastre ambiental anterior. As queimadas vinham se prolongando a cada dia, sufocando os pulmões e impedindo até o pouso e decolagem de aeronaves nos aeroportos das principais cidades do Estado, como Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Em recomendação conjunta, o MPE e MPF exigiram a aplicação de medidas de precaução no tráfego aéreo e terrestre, principalmente no período noturno, no qual a visibilidade chegava às vezes a zero. Em agosto de 2010 foi decretado o Estado de Alerta Ambiental no Acre em razão de iminente possibilidade de desastre decorrente da incidência de incêndio em coberturas florestais e queimadas descontroladas. Os focos de calor estão mais concentrados nos meses de agosto e setembro, como podemos perceber nas Figuras 1, 2 e 3.
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Figura 1 Desmatamento na região su
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SOBRE OS AUTORES Alessandra Severin
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