processos de territorialização e identidades sociais - UFSCar
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CAPÍTULO II<br />
FRONTEIRAS E MOBILIDADE TERRITORIAL:<br />
trajetórias <strong>de</strong> famílias seringueiras na região da tríplice<br />
fronteira do Acre, BR, Pando, BOL, e Madre <strong>de</strong> Dios, PE<br />
INTRODUÇÃO<br />
Maria <strong>de</strong> Jesus Morais<br />
Diego Correia Silva<br />
Alessandra Severino da Silva Manchinery<br />
Mariette <strong>de</strong> Souza Espíndola (in memorian)<br />
As dinâmicas <strong>sociais</strong> na fronteira mostram que a mesma é um espaço <strong>de</strong><br />
múltiplas trocas, sejam econômicas ou culturais. É também um espaço <strong>de</strong> mútuos<br />
estranhamentos e <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, sejam nacionais ou étnicas. Nesse<br />
sentido, a realida<strong>de</strong> fronteiriça <strong>de</strong>ve ser compreendida como um lugar <strong>de</strong> conflito<br />
e alterida<strong>de</strong> entre “nós” e os “outros” e como um espaço <strong>de</strong> várias temporalida<strong>de</strong>s,<br />
como nos ensina Martins (1997). Este capítulo versará sobre o avanço da fronteira<br />
econômica em região transfronteiriça e a mobilida<strong>de</strong> territorial <strong>de</strong>corrente do<br />
avanço <strong>de</strong>ssa fronteira. As trajetórias por nós trabalhadas são expressões <strong>de</strong>ssas<br />
fronteiras econômicas e políticas, e suas histórias estão relacionadas à frente<br />
extrativa da borracha, a partir da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, e à frente<br />
agropecuária das décadas <strong>de</strong> 1970 a 1980, que provocou o <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> muitas<br />
famílias seringueiras para as matas <strong>de</strong> Pando, na Bolívia. A exploração ma<strong>de</strong>ireira<br />
em curso no Pando, Madre <strong>de</strong> Dios e Acre provoca um novo <strong>de</strong>slocamento<br />
das famílias seringueiras para o Brasil e a pressão da expropriação territorial das<br />
nações indígenas do Peru para o Brasil.<br />
Em linhas gerais trabalha-se essa mobilida<strong>de</strong> geográfica tendo como eixo o<br />
processo <strong>de</strong> expropriação territorial em <strong>de</strong>corrência do avanço da fronteira<br />
econômica, documentado na história oral das famílias migrantes que contam as<br />
tensões do viver “entre-lugares”, contam sua condição <strong>de</strong> sujeito transterritorial,<br />
<strong>de</strong>slocado; com territorialida<strong>de</strong>s e territórios vivenciados entre o aqui e o lá, entre<br />
estar na Bolívia, no Peru e no Brasil, o que significa dizer que há uma diferenciação,<br />
do ponto <strong>de</strong> vista do território, entre estar do lado <strong>de</strong> cá e estar do lado <strong>de</strong> lá,<br />
entre o antes e o <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um território emigrado, entre o passado e o presente, entre<br />
a ausência e a presença. A chegada das fronteiras econômicas traz implícitos confrontos<br />
e conflitos, pois é o lugar da alterida<strong>de</strong> e, como diz Martins, o “lugar do