processos de territorialização e identidades sociais - UFSCar
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Cap. II Fronteiras e Mobilida<strong>de</strong> Territorial: trajetórias <strong>de</strong> famílias seringueiras na região... 25<br />
cida<strong>de</strong> acreana <strong>de</strong> Plácido <strong>de</strong> Castro. Dona Maria Abreu e Seu Sebastião Vieira<br />
completam a lista <strong>de</strong> entrevistados; são acreanos que também migraram com a<br />
família para a Bolívia e hoje vivem o dilema <strong>de</strong> voltar ao Brasil ou permanecer<br />
nos seringais da Bolívia. 3<br />
O capítulo está organizado em três seções: a primeira faz uma caracterização<br />
geral sobre a formação da tríplice fronteira; a segunda discute a trajetória dos<br />
Manchineri e a terceira parte discute a trajetória das famílias seringueiras, seguida<br />
<strong>de</strong> algumas consi<strong>de</strong>rações.<br />
A FORMAÇÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA<br />
A região que hoje compreen<strong>de</strong> o estado do Acre/Brasil, o Departamento do<br />
Pando/Bolívia e o Departamento <strong>de</strong> Madre <strong>de</strong> Dios/Peru foi ‘alcançada’ pelas frentes<br />
<strong>de</strong> expansão extrativistas na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX. A formação<br />
socioeconômica-territorial <strong>de</strong>ssa região, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, é marcada por conflitos, por<br />
lutas pelos recursos naturais: a borracha no passado e, hoje, a castanha e a ma<strong>de</strong>ira.<br />
A história <strong>de</strong>ssa exploração econômica é a história <strong>de</strong> expropriação territorial<br />
dos grupos indígenas e também a dos seringueiros trabalhadores das unida<strong>de</strong>s<br />
produtivas, os seringais.<br />
Antes da chegada dos migrantes nor<strong>de</strong>stinos, que foram responsáveis pelo<br />
corte do látex e pela “conquista do Acre”, os índios que viviam nas bacias<br />
hidrográficas dos altos rios Purus e Juruá eram <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50 etnias e estavam<br />
territorializados ao longo dos rios. No Purus predominavam os grupos linguísticos<br />
Arawá e Aruak, e no Vale do Juruá, o grupo Pano (MORAIS, 2008).<br />
No alto curso do Rio Purus e no baixo Rio Acre viviam diversas tribos do<br />
tronco linguístico Aruak, como os Apurinãs, Manchineri*, 4 Kulina*, Canamari,<br />
Piros e Ashaninka*. Essas tribos se espalharam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a confluência dos rios Pauini<br />
e Purus até as encostas orientais dos An<strong>de</strong>s, e teriam “resistido à exploração das<br />
civilizações andinas antes <strong>de</strong> enfrentar o avanço dos brancos sobre suas terras na<br />
época da borracha”. Na região intermediária entre o médio curso do Purus e o Juruá<br />
habitavam os Katukinas*. Parte do médio e alto curso do Rio Juruá, bem como a<br />
3. As entrevistas com Zé Urias Manchineri foram realizadas por Alessandra Severino da<br />
Silva Manchinery, em outubro <strong>de</strong> 2010 e em janeiro, fevereiro e junho <strong>de</strong> 2011. As entrevistas<br />
com Chola Manchineri foram realizadas por Alessandra Severino da Silva<br />
Manchinery, em julho <strong>de</strong> 2010 e em 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2011. A entrevista com Toya<br />
Manchineri foi realizada por Alessandra Severino da Silva Manchinery em <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 2010. A entrevista com Jaime Sebastião Luhlu Prishico Manchineri foi realizada por<br />
Alessandra Severino da Silva Manchinery em junho <strong>de</strong> 2011. A entrevista com Francisco<br />
Pereira Sobrinho e sua esposa Dona Maria das Graças foi realizada por Diego Correa<br />
em setembro <strong>de</strong> 2010. As entrevistas com Maria Abreu e com Sebastião Vieira foram<br />
realizadas por Mariette Espindola em junho <strong>de</strong> 2010.<br />
4. *Índios reconhecidos no Acre atualmente.