SHIRLEY VILHALVA - Ronice.cce.prof.ufsc.br - UFSC
SHIRLEY VILHALVA - Ronice.cce.prof.ufsc.br - UFSC
SHIRLEY VILHALVA - Ronice.cce.prof.ufsc.br - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
próximas a Dourados, em Amambaí – MS. Ia de sala em sala, falando<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o Projeto Índio Surdo e fazendo levantamento para saber se os<<strong>br</strong> />
alunos conheciam ou eram parentes de algum surdo. As minhas<<strong>br</strong> />
perguntas eram interpretadas em língua portuguesa pela intérprete de<<strong>br</strong> />
Li<strong>br</strong>as/Língua Portuguesa, e depois em Língua Guarani 13 pela<<strong>br</strong> />
<strong>prof</strong>essora. Os alunos sempre respondiam que sabiam ou tinham um<<strong>br</strong> />
amigo ou parente que era surdo. Não havia ainda uma discussão so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />
existência de alunos índios surdos nas escolas indígenas, nem mesmo<<strong>br</strong> />
havia a discussão so<strong>br</strong>e a denominação que os mesmo aceitariam. Índios<<strong>br</strong> />
têm uma etnia, mas pensando em uma posição de ser surdos, alguns<<strong>br</strong> />
colegas pesquisadores usam denominações como, por exemplo, Surdo +<<strong>br</strong> />
a etnia: Surdo Guarani, Surdo Terena, Surdo Kadwéu, Surdo Kaxinawá,<<strong>br</strong> />
Surdos Kaingang 14 , tal como Giroletti (2008) 15 apresenta em sua<<strong>br</strong> />
dissertação, entre outros. Essa é uma questão que vamos colocar em<<strong>br</strong> />
discussão com as autoridades indígenas surdas em encontro nacional.<<strong>br</strong> />
Ademais, notei que os índios surdos que encontrei passam por<<strong>br</strong> />
algumas fases pelas quais passei enquanto pessoa surda, principalmente<<strong>br</strong> />
de não se saber que é surdo. Eu, por exemplo, desco<strong>br</strong>i que era diferente<<strong>br</strong> />
das demais crianças durante uma <strong>br</strong>incadeira de pau-a-pique. Todas as<<strong>br</strong> />
crianças ficavam uma do lado da outra e uma determinada pessoa<<strong>br</strong> />
gritava: “Já”. Então, todos corriam e batiam em um local escolhido e<<strong>br</strong> />
voltavam correndo, mas eu, para minha surpresa, fiquei parada no<<strong>br</strong> />
mesmo lugar; levei um susto. A partir daí fui percebendo que era<<strong>br</strong> />
diferente.<<strong>br</strong> />
Percebo como a escola é cruel com as crianças que diferem da<<strong>br</strong> />
norma, como há necessidade de se fazer as adaptações curriculares para<<strong>br</strong> />
que ocorra uma verdadeira inclusão. Mesmo com as dificuldades<<strong>br</strong> />
linguísticas sempre continuei estudando. Escolhi a área da educação<<strong>br</strong> />
para minha formação <strong>prof</strong>issional, primeiro o magistério, depois a<<strong>br</strong> />
pedagogia e hoje a linguística. Durante a graduação, persisti na luta para<<strong>br</strong> />
que a língua de sinais fosse vista como uma língua, e não como gestos<<strong>br</strong> />
que acompanham a fala, divulgando esse conhecimento de sala em sala<<strong>br</strong> />
dentro da universidade.<<strong>br</strong> />
Estou na Educação de Surdos há 25 anos, tendo experiência<<strong>br</strong> />
como Diretora do CEADA de 1993 a 2001; como Técnica da SED/MS<<strong>br</strong> />
13 Língua Guarani usada pelos índios Guarani /Kaiowa, Guarani /Ñandeva e Guarani / Mbya.<<strong>br</strong> />
14 Surdos Kaingang da aldeia do Município de Ipuaçu, oeste de Santa Catarina.<<strong>br</strong> />
15 GIROLETTI, Marisa Fátima Padilha. Cultura Surda e Educação Escolar Kaingang.<<strong>br</strong> />
Dissertação de Mestrado - Florianópolis:<strong>UFSC</strong>, 2008.<<strong>br</strong> />
7