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XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP -- 2008

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muito diferente do Nor<strong>de</strong>ste, ain<strong>da</strong> assim o Paraná fazia parte <strong>da</strong> história <strong>da</strong> escravidão e <strong>da</strong>s distinções raciais que<br />

caracterizaram o país como um todo, e então, com a colaboração <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes, organizei um projeto <strong>de</strong> pesquisa, utilizando a<br />

excelente documentação disponível no Estado.<br />

Justamente em função <strong>de</strong>sta experiência eu tanto apreciei e me beneficiei do novo livro <strong>de</strong> Cuca Machado. Manipulando um<br />

largo espectro <strong>de</strong> fontes, mas fazendo uso especialmente <strong>da</strong>s admiráveis listas nominativas, antigos censos <strong>da</strong> população do<br />

su<strong>de</strong>ste brasileiro, ela realizou uma extensiva análise <strong>de</strong>mográfica, econômica e social, tendo como foco a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

José dos Pinhais no início do século XIX. Com essas listas, e com uma exaustiva investigação em outras fontes primárias<br />

regionais, Cacil<strong>da</strong> produziu um primoroso estudo, que revela a natureza <strong>da</strong> escravidão no Paraná e também o caminho através do<br />

qual as posições raciais e sociais foram construí<strong>da</strong>s e modifica<strong>da</strong>s em uma região agrícola particularmente mo<strong>de</strong>sta.<br />

Em um momento historiográfico em que a mo<strong>da</strong> é a história cultural, a autora não se intimidou e fez um livro <strong>de</strong> história social<br />

clássica, meticulosamente construí<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> fontes quantitativas e com técnicas que nos permitem ver o padrão geral no<br />

interior <strong>de</strong> um mundo rural on<strong>de</strong> nem escravos nem escravidão predominavam, mas on<strong>de</strong> a escravidão e as distinções raciais<br />

influenciavam to<strong>da</strong>s as relações sociais. Este é um Brasil rural <strong>de</strong> agregados, um mundo <strong>de</strong> pardos que, nessa frágil fronteira<br />

social, buscam libertar-se do fardo <strong>da</strong> raça por meio <strong>da</strong>s relações familiares e pessoais.<br />

O que a autora faz particularmente bem, no sentido <strong>de</strong> documentar esse processo, é o acompanhamento <strong>de</strong> casos individuais a<br />

partir do cruzamento <strong>da</strong>s listas nominativas com outras fontes, <strong>de</strong> modo a iluminar com <strong>de</strong>talhes as histórias ocultas e os<br />

motivos e objetivos velados <strong>da</strong>s pessoas, quando casavam, serviam, estabeleciam laços <strong>de</strong> compadrio, ou negociavam. É esta<br />

ligação entre uma sóli<strong>da</strong> análise quantitativa e a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>r histórias pessoais que lança uma nova luz sobre os<br />

padrões gerais, o que <strong>de</strong>staca o livro e faz <strong>de</strong>le uma muito bem-vin<strong>da</strong> contribuição para a história <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira.<br />

Num mundo como São José dos Pinhais, on<strong>de</strong> senhores eram raros, pequenas as escravarias, e os escravos eram minoria, o<br />

po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> escravidão era, como Cacil<strong>da</strong> Machado nos lembra, ain<strong>da</strong> assim presente, e "provavelmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u menos do<br />

ilimitado po<strong>de</strong>r senhorial sobre os corpos escravos - que teoricamente a instituição pressupõe - e mais <strong>da</strong> conformação<br />

específica <strong>da</strong> trama social teci<strong>da</strong> no confronto <strong>da</strong>s vonta<strong>de</strong>s pessoais."<br />

TRABALHOS PARA OS QUAIS NÃO DISPOMOS DE RESUMOS

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