Colunas sociais e Ditadura Militar: Entre o mundo fictício ... - SBPJor
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Sociedade, abertura política e mudanças no perfil das colunas<br />
Que outros fatores teriam facilitado esse poder dos colunistas <strong>sociais</strong> dentro das<br />
redações e nos salões da alta sociedade, onde circulavam figuras proeminentes do regime?<br />
Voltemos a Ibrahim Sued. Alberto Dines aponta o começo da politização das colunas <strong>sociais</strong><br />
realmente durante a ditadura militar, através de Ibrahim, e sua relação com o casal Maluf 4 .<br />
Porém, Maluf era apenas uma das fontes privilegiadas do colunista durante o regime, sendo<br />
a maior delas o próprio presidente Costa e Silva, seu amigo pessoal. Por esse motivo, o<br />
colunista é visto até hoje como adesista do regime, posição refutada por Ricardo Boechat,<br />
jornalista que começou a carreira na coluna de Ibrahim e passou ali 14 anos. “Ele não aderiu<br />
ao regime militar. O regime é que aderiu ao Ibrahim. Ele pegava notícias, era anticomunista,<br />
mas não havia cumplicidade com a parte podre, tenebrosa, do estado ditatorial” 5 . Segundo<br />
Boechat, a relação com os militares ajudou a interceder por presos políticos, a manobrar na<br />
volta de Darcy Ribeiro do exílio, e também para liberar o livro Reflexos do baile, de Antonio<br />
Callado.<br />
Mas isso não quer dizer que o colunista tenha sido um “herói” a usar sua influência<br />
somente para confrontar o regime. Ibrahim também soube tirar partido de suas amizades<br />
pessoais na ditadura para enriquecer. Fez fortuna no mercado financeiro usando informações<br />
privilegiadas que conseguia de suas fontes; ganhou dinheiro comprando obras de artistas<br />
desconhecidos que mais tarde se valorizavam; seduziu sua segunda mulher publicando notas<br />
sobre ela em sua coluna e prometendo-lhe aparições em comerciais de televisão; foi sócio<br />
em vários empreendimentos comerciais – como uma discoteca com o empresário Chico<br />
Recarey – que ficava sabendo através de seus contatos nas altas rodas. Não se furtava em<br />
aceitar “presentes” de assessorias de imprensa em troca de notinhas favoráveis às empresas<br />
que cediam o mimo.<br />
Na outra ponta, estava Zózimo, o colunista do Jornal do Brasil e seu maior<br />
concorrente. Ele também seguia a tendência de Ibrahim de mesclar notícias sobre a<br />
sociedade com noticiário diversificado, que poderia incluir política, economia,<br />
comportamento e até esportes, do qual era um grande entusiasta. Mas não seguia a linha