Colunas sociais e Ditadura Militar: Entre o mundo fictício ... - SBPJor
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portanto, seriam fundamentais para o sucesso entre o público, já que permitiam uma<br />
economia de recursos e a fixação do leitor (Moraes, 2004). Nos anos 1960, um colunista<br />
que já havia se inspirado em Jacinto iria utilizar sua coluna para satirizar o regime militar:<br />
Sérgio Porto, através de seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. Stanislaw usaria a coluna<br />
“Fofocalizando” para, ainda na Última Hora, ridicularizar, ao estilo das notas curtas da<br />
coluna social, as frases de louvor à “revolução” de 1964 e os discursos das autoridades<br />
militares (rebatizadas de “otoridades” em seu discurso) do novo regime. Seu estilo, irônico,<br />
mordaz, sem tomar partido do discurso ideológico da esquerda ou direita, ressaltava o<br />
humor para ridicularizar os novos tempos, e que culminaria nos livros intitulados Febeapá –<br />
festival de besteiras que assolam o país.<br />
O humor e a ironia eram qualidades presente nas colunas <strong>sociais</strong> mais perspicazes, e<br />
que já eram usados com malícia por Jacinto de Thormes nos comentários sobre política e<br />
economia, embora ainda bem sutilmente. Aliás, colunistas <strong>sociais</strong> famosos como Ibrahim<br />
Sued eram alvos constantes da ironia de Stanislaw. Quando Ibrahim escreveu que a casa de<br />
Ruy Barbosa, “em Petrópolis”, estava caindo aos pedaços, Stanislaw comentou em sua<br />
coluna: “Só pode estar caindo mesmo, afinal, para ser transportada da Bahia até<br />
Petrópolis...” Voltaremos a Ibrahim mais adiante.<br />
Sérgio Porto fazia parte de um conjunto de intelectuais que escreviam<br />
simultaneamente em vários meios de comunicação e que, muitas vezes sem o perceberem,<br />
estavam construindo uma nova linguagem – sintética, metafórica, leve e bem humorada –<br />
própria para os veículos de comunicação que, àquela época, meados dos anos 1960, se<br />
tornavam no Brasil efetivamente de massa, como o jornal, o rádio, o cinema e a televisão.<br />
Em uma época que se apresentava cerceada de restrições à liberdade de expressão e à<br />
democracia, o perfil de Stanislaw aliava-se a um projeto literário e ideológico partilhado por<br />
outros escritores, pois estas eram as características da produção artística naquele momento<br />
histórico. O engajamento, a linguagem cifrada, o teor de defesa do regime democrático<br />
moldavam a produção artística. (Moraes, 2004).<br />
Quanto aos colunistas <strong>sociais</strong>, ainda que não primassem pelo engajamento ao estilo<br />
dos jornalistas de outros setores, não há dúvidas que o estilo ferino também estava presente<br />
ali. Nas décadas de 1950 e 1960 eram poucos os jornalistas que ousavam sair dos ambientes