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Colunas sociais e Ditadura Militar: Entre o mundo fictício ... - SBPJor

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confundem; a zona dos mitos, dos rumores e dos boatos. Essa reinterpretação da realidade,<br />

conforme a definição de Kovács, deixa margem à dúvida, dá oportunidade ao desmentido,<br />

possibilita uma nova interpretação. Situa-se, portanto, ao nível do discurso, e não da língua,<br />

porque a transgride quando o colunista cria neologismos e usa estrangeirismos,<br />

“ampliando”, assim, a língua (Kovacs, 1975, p.7). Ibrahim, que gostava de se auto-elogiar,<br />

chegou a se definir, com um certo exagero, como o “Guimarães Rosa do colunismo”, pelas<br />

expressões e frases que criara e que acabavam sendo repetidas pelos leitores. Iluska<br />

Coutinho, em sua dissertação de mestrado, ao comentar o aumento das notas sobre política<br />

nas colunas <strong>sociais</strong> nos anos da ditadura, salienta que na década de 60 o modus operandi<br />

específico das colunas permitia a divulgação, em alguns casos “dramatizada”, de notícias<br />

políticas que seriam censuradas nas demais editorias de um jornal (Coutinho, 2005).<br />

Certamente o leitor das colunas <strong>sociais</strong> modernas, chamadas hoje pelos novos<br />

colunistas de colunas de variedades, já leram notas começadas pelos termos, “Comenta-se<br />

que...”; “Segundo rumores do alto escalão...”; ou ainda, bastante comum hoje em dia,<br />

“Pessoa amiga da coluna garante...” etc. São insinuações típicas das colunas de notas, onde<br />

o rigor jornalístico é nulo, mas que servem a essa zona singular que caracteriza este gênero<br />

jornalístico. Durante a abertura política, o governo Geisel tornou comum a divulgação à<br />

imprensa de informações transmitidas por pessoas que ocupavam o centro do poder, como o<br />

general Golbery do Couto e Silva ou o ministro da Justiça Armando Falcão – famoso pela<br />

declaração “nada a declarar”, com que sempre respondia aos repórteres – que não podiam<br />

ser citados como fontes. Eram as chamadas informações privilegiadas, fornecidas<br />

off-the-record, ou seja, longe do gravador, ou extra-oficialmente.Segundo Abreu, essa<br />

forma de obter e divulgar informações permanece até hoje e transformou-se em rotina.<br />

Dificilmente o jornalista cita suas fontes. Dar notícias obtidas “em off” significa não<br />

responsabilizar a fonte pela notícia. Por outro lado, o informante cuja identidade é mantida<br />

em sigilo também pode usar o jornalista com intenções políticas ou econômicas. Ainda<br />

assim, muitos jornalistas consideram o off um excelente meio de obter informação, em geral<br />

uma notícia quente, que de outro modo não seria revelada pelo informante. (Abreu, 2002).<br />

Durante a ditadura, os colunistas <strong>sociais</strong>, com seus espaços privilegiados, diferentes<br />

das editorias ligadas à geral, política e outros assuntos - presas às regras do lide e da

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