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A normalista - Colégio Pio XI Bessa

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Até aquela data só lera romances de José de Alencar, por uma espécie de<br />

bairrismo mal-entendido, e a Consciência, de Heitor Malot publicada em<br />

folhetins na Província. A leitura do Primo Basílio despertou-lhe um interesse<br />

extraordinário — “Aquilo é que é um romance. A gente parece que está<br />

vendo as coisas, que está sentindo...”<br />

Não compreendera bem certas passagens, pensou em consultar a Lídia;<br />

sim, a Campelinho devia saber a história da champanha passada num beijo<br />

para a boca de Luíza. — Que porcaria! E assim também a tal “sensação<br />

nova” que Basílio ensinara à amante... não podia ser coisa muito asseada...<br />

Terminada a leitura do último capítulo, Maria sentiu que não fossem dois<br />

volumes, três mesmo, muitos volumes... Gostara imensamente!<br />

No dia seguinte, antes de ir à Escola Normal, Maria teve uma entrevista<br />

secreta com a amiga no quintal da viúva Campelo que morava defronte do<br />

amanuense.<br />

A Campelinho tinha acabado de banhar-se e estava arranjando umas<br />

flores para a Nossa Senhora do Oratório. Da saleta de jantar via-se o<br />

quintalzinho, cercado de estacas, estreito e comprido, com ateiras e um<br />

renque de manjericões ao fundo, perto da cacimba. Uma pitombeira colossal<br />

arrastava os galhos sobre o telhado. O chão úmido da chuva que caíra à<br />

noite, porejava uma frescura comunicativa e boa.<br />

Lídia estava à fresca, de cabelos soltos sobre a toalha felpuda aberta nos<br />

ombros, quando Maria apareceu.<br />

— Boa vida, hein? saudou esta. E logo, triunfante: — Acabei o Primo<br />

Basílio!<br />

— Que tal?<br />

— Magnífico, sublime! Olha, vem cá...<br />

E dando o braço à outra dirigiu-se para o “banheiro”, uma espécie de<br />

arapuca de palha seca de coqueiro, acaçapada, medonha, sem a mínima<br />

comodidade e para onde se entrava por uma portinhola de tábua mal segura.<br />

Uma vez ali, sentadas ambas num caixote que fora de sabão, única<br />

mobília do “banheiro”, Maria sacou fora o Primo Basílio, cuidadosamente<br />

embrulhado numa folha da Província. Queria que a Lídia explicasse uma<br />

passagem muito difusa, quase impenetrável à sua inteligência.<br />

— É isto, menina, que eu não pude compreender bem. E, abrindo o livro,<br />

leu: “...e ele (Basílio) quis-lhe ensinar então a verdadeira maneira de beber<br />

champanha. Talvez ela não soubesse! — Como é? perguntou Luíza tomando<br />

o copo. — Não é com o copo! Horror! Ninguém que se preza bebe<br />

champanha por um copo. O copo é bom para o Colares... ‘Tomou um gole de<br />

champanha e num beijo passou-o para a boca dela’, Luíza riu...”, etc., etc...<br />

— Como explicas tu isso?<br />

— Tola! fez a Campelinho. Uma coisa tão simples... Toma-se um gole de<br />

champanha ou de outro qualquer líquido, junta-se boca a boca assim... E<br />

juntou a ação às palavras.<br />

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