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A normalista - Colégio Pio XI Bessa

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expediente que usava sempre que desejava saber a opinião da Lídia sobre<br />

isto ou sobre aquilo.<br />

A princípio evitava conversar em amores, corando a qualquer palavra<br />

mais livre ou a qualquer fato menos sério que lhe contavam as colegas de<br />

estudo. Agora, porém, ouvia tudo com interesse, procurando inteirar-se dos<br />

acontecimentos, sem acanhamento, sem pejo. Pouco a pouco foi perdendo<br />

os antigos retraimentos que trouxera da Imaculada Conceição. A convivência<br />

com as outras <strong>normalista</strong>s transformara-lhe os hábitos e as idéias. A Lídia<br />

principalmente era a sua confidente mais chegada. Quase sempre estavam<br />

juntas em casa, na Escola, nos passeios, em toda parte onde se<br />

encontravam, de braços dados, aos cochichos... Havia entre elas um<br />

comércio contínuo de carinhos, de afagos e de segredos. Gabavam-se<br />

mutuamente, tinham quase os mesmos hábitos, ves- tiam-se pelos mesmos<br />

moldes, como duas irmãs.<br />

Lídia Campelo tinha então vinte anos. Era uma rapariga alta, “faussemaigre”<br />

e bem-feita de corpo.<br />

A razão por que ainda não se casara ninguém ignorava, toda a gente<br />

sabia — é que a filha da viúva Campelo, por via do atavismo, puxava à mãe.<br />

Não havia na cidade rapazola mais ou menos elegante, caixeiro de loja de<br />

modas que não se gabasse de a ter beijado. Tinha fama de grande namoradeira,<br />

exímia em negócios de amor. O próprio João da Mata não gostava<br />

muito daquela amizade com Maria. Mais de uma vez dissera a D. Terezinha<br />

as suas desconfianças, os seus escrúpulos, os seus receios em relação a essa<br />

intimidade da afilhada com a Lídia: — “Não consentisse a rapariga ir à casa<br />

da outra. Antes prevenir que curar.”<br />

Havia mesmo quem ousasse afirmar que a Campelinho “já não era moça”.<br />

Da viúva diziam-se horrores: “aquilo era casa aberta...” Tantos fossem,<br />

quantos ela recebia com risinho sem-vergonha, arregaçando os beiços. A<br />

filha seguia o mesmo caminho.<br />

O certo, porém, é que o procedimento de D. Amanda não escandalizava a<br />

sociedade. Vivia na sua modesta casinha do Trilho, muito concentrada, sem<br />

amigas, num respeitoso isolamento, saindo à rua poucas vezes em<br />

companhia da filha, não freqüentando os bailes nem o Passeio Público e<br />

muito menos as igrejas: vivia a seu modo, comodamente, do minguado<br />

montepio de seu defunto marido.<br />

— “Uma mulher honesta!” protestava o Loureiro. Infâmias era o que se<br />

diziam da pobre senhora, infâmias que caíam por terra, ante o indefectível<br />

procedimento de D. Amanda!<br />

E acrescentava convicto:<br />

— Tal mãe, tal filha!<br />

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