A normalista - Colégio Pio XI Bessa
A normalista - Colégio Pio XI Bessa
A normalista - Colégio Pio XI Bessa
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
unha), à primeira que abusasse da sua paciência, ela, Maria, saberia<br />
responder na ponta da língua. Umas namoradeiras que se punham a dar<br />
escândalos com os estudantes do Liceu, umas sem-vergonhas! Havia de -<br />
mostrar!<br />
Ela é que era uma tola, dizia a Lídia; as <strong>normalista</strong>s falavam de invejosas;<br />
mandasse-as plantar favas. Cada qual namora com quem quer, e, demais,<br />
não era nenhuma admiração a Maria casar com o Zuza. Por que ele era rico<br />
e ela pobre?<br />
Muito obrigada! Napoleão I tinha-se casado com uma simples camponesa,<br />
e, mais, era um imperador!<br />
E Maria do Carmo passava noites sem dormir, a pensar no futuro<br />
bacharel, retratando-o na imaginação, amando-o de longe. Havia já seis dias<br />
que ele seguira com o presidente, num domingo.<br />
Que custo, que viagem sem fim! Aquela demora impacientava-a. Já era<br />
tempo de terem voltado...<br />
Todos os dias, à noitinha, ia esperar a Província, na janela, a ver se<br />
encontrava alguma notícia dos excursionistas.<br />
Mas, nada!<br />
No domingo seguinte, porém, a folha oficial noticiou que “os ilustres<br />
touristes” deviam regressar à capital no dia imediato.<br />
— Oito dias! Tê-la-ia esquecido? Oito dias na serra, tomando banho de<br />
cachoeira, passeando a cavalo, caçando, divertindo-se — que excelente vida!<br />
— Maria do Carmo sentiu uma alegria deliciosa ao saber que daí a vinte e<br />
quatro horas o Zuza estaria de volta, mais amável talvez, mais nutrido, mais<br />
gordo e mais bonito, contando-lhe as minudências da viagem. Agora, sim,<br />
conversaria com ele, perguntar-lhe-ia se gostara da serra, se tencionava<br />
partir logo para o Recife, se pretendia casar no Ceará...<br />
Nessa noite fez-se muito boa para o padrinho, chamou-o “padrinhozinho”,<br />
acariciou-lhe os bigodes, alisou-lhe o cabelo, sem dar a entender o seu<br />
grande contentamento, a sua grande felicidade. Durante o víspora esteve<br />
perto dele, acompanhando-lhe o jogo, lembrando quando ele esquecia de<br />
marcar um número, dando-lhe cafunés no alto da cabeça, com uma<br />
solicitude ingênua.<br />
Quando os habitués do víspora se retiraram, João da Mata chamou a<br />
afilhada à alcova, e, muito em segredo, como se fossem velhos namorados,<br />
pediu-lhe um beijo na “boquinha”. Maria ofereceu-lhe os lábios com uma<br />
passividade de escrava, sem a menor resistência, pondo-se nos bicos dos<br />
pés, porque João era muito alto, e deixou que ele os sugasse em dois<br />
tempos, às pressas, antes que viesse D. Terezinha.<br />
Grande foi a admiração e a luxúria do amanuense. Maria entregara-se-lhe<br />
sem um grito, sem um esforço! E suspendendo-a pela cintura, num ímpeto<br />
de carnalidade indomável, apertou-a contra si, com força, rilhando os<br />
dentes, nervoso, bambas as pernas, o coração aos pulos; mas soltou-a logo,<br />
42<br />
42