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A normalista - Colégio Pio XI Bessa

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grandes pregos dourados, o retrato a óleo do coronel com a sua barba em<br />

ponta, olhava para o piano, muito sério, em simetria com o da esposa.<br />

O corredor da entrada separava a sala de visitas do gabinete do Zuza que<br />

ficava à esquerda. — “Não faltava mais nada!” repetia mentalmente o<br />

coronel, estendido na espreguiçadeira de lona, pernas trançadas, defronte da<br />

varanda, aparando as unhas.<br />

Em casa usava calças brancas, paletó de seda amarelo e sapatos de<br />

entrada baixa com flores no rosto de lã.<br />

Era hora do almoço, o Zuza não devia tardar. Ia falar-lhe decididamente;<br />

aquela história do namoro não lhe cheirava bem. Talvez o filho tivesse<br />

mesmo a estroinice pueril de desfrutar a rapariga.<br />

Daí a pouco entrou o estudante. Vinha muito jovial, cantarolando o<br />

Bocácio:<br />

Se acaso algum de nós<br />

tiver por sina atroz<br />

mulher que se não cale<br />

que a toda hora fale...<br />

E repetia muito alegre:<br />

— Trá lá lá lá... trá lá lá lá...<br />

— Vens muito alegre, hein, meu filho? interrompeu o coronel da sala.<br />

Zuza tinha entrado para o gabinete e começava a despir-se.<br />

— Ah! meu pai estava aí?<br />

E logo:<br />

— Trago uma novidade.<br />

— Vejamos...<br />

— Vou a Baturité com o presidente.<br />

— Ainda bem, ainda bem... fez o coronel num tom desusado, sem erguer<br />

a cabeça.<br />

— Como ainda bem? inquiriu o estudante aproximando-se.<br />

Apenas trocara o fraque por um paletó de brim branco.<br />

— Porque... porque... Eu precisava mesmo falar-te. Ora, dize, uma coisa:<br />

leste o último número da Matraca?<br />

Zuza franziu os sobrolhos desconfiado, com um risinho seco. — “Não tinha<br />

lido a Matraca, não. Um jornaleco imoral que andava por aí? Não, não tinha<br />

lido. Por quê?”<br />

— Que história é uma de namoro no Trilho de Ferro? Fala-se em ti, no teu<br />

nome, numa <strong>normalista</strong>...<br />

Cresceu o assombro do rapaz.<br />

— Eu?!... Meu pai está gracejando...<br />

— Juro-te que não. Mas olha, quem diz é a Matraca e alguém afirmou-me<br />

particularmente que a rua está cheia...<br />

30<br />

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