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A MORTE DE DANTON - Teatro Nacional D.Maria II

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dever atrair a si a tempestade, receber todas as coisas; estendia-se na terra,<br />

cavava uma passagem no universo”. Em Leôncio e Lena é a totalidade do amor<br />

que é fragmentada, despedaçada nas notas separadas da escala musical, as cores<br />

separadas do arco-íris. Mas aqui, como sempre, a ênfase nos fragmentos implica<br />

uma crença na totalidade. E assim, é precisamente a experiência de Leôncio de<br />

um amor que inspira a totalidade do ser que é celebrada no intenso mas efémero<br />

clímax da peça: “Todo o meu ser está neste mesmo momento… Mais é impossível”.<br />

A centralidade desta visão de Büchner da totalidade torna-se clara mesmo quando<br />

percebemos que também está presente no coração do seu trabalho enquanto<br />

“cientista-filósofo”. Quando morreu em fevereiro de 1837, ele tinha acabado de<br />

embarcar numa promissora carreira na nova Universidade de Zurique. A sua tese<br />

de Estrasburgo sobre a anatomia do barbo, Memória sobre o sistema nervoso do<br />

barbo, concedeu-lhe não apenas o doutoramento em Zurique mas também a<br />

oferta de um cargo de docência como Privatdozent, tendo a 5 de novembro 1836<br />

apresentado competentemente a sua “Lição Experimental” (um requerimento<br />

obrigatório para a confirmação de posições como esta). Nas últimas linhas da sua<br />

Memória ele deu a entender a sua visão do mundo natural enquanto um grande<br />

todo harmonioso no qual mesmo as mais complexas entidades derivam de um<br />

“tipo primitivo”; no qual “as formas mais elevadas e mais puras” são desenvolvidas<br />

pela natureza de acordo com “o plano mais simples”. No prefácio da “Lição<br />

Experimental” ele expande-se neste tema. Sumarizando a história recente da<br />

anatomia comparada, salienta que “tudo estava a lutar na direção de uma certa<br />

unidade, em direção à investigação de todas as formas desde o tipo mais simples<br />

e primordial” (e isto era a essência da sua tentativa, na “Lição” e na Memória, de<br />

provar a hipótese segundo a qual o crânio, cérebro e nervos cranianos, por toda a<br />

sua suprema complexidade, se teriam desenvolvido originalmente a partir das<br />

estruturas relativamente simples das vértebras). A frase final da Memória ecoa<br />

especialmente na “Lição”, quando Büchner fala das “formas mais elevadas e puras”<br />

como sendo produzidas a partir dos “mais simples contornos e padrões”; mas<br />

onde ele se conteve na Memória a citar a Natureza como o agente deste processo,<br />

ele é agora muito mais explícito. No coração da natureza, ele declara, tem de<br />

haver uma “lei fundamental”, uma “lei primordial” que molda e forma o “mundo<br />

orgânico inteiro”. Apenas isto é já suficientemente surpreendente; mas mais<br />

surpreendente ainda é a proposta de Büchner segundo a qual essa “lei primordial”<br />

assumida é nenhuma outra que não a “lei da beleza”, que produz necessariamente<br />

“harmonia”de entre todas as suas manifestações. É possivelmente apenas contra<br />

este fundo que apreciamos verdadeiramente a ânsia por beleza atribuída a<br />

Danton quando este contempla Marion; ou as palavras climáticas de Leôncio (logo<br />

a seguir ao seu “Mais é impossível”): “Do caos nasce a criação, irrompendo contra<br />

mim, tão viva e nova, tão radiante de beleza”; ou – acima de tudo – as palavras<br />

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