19.04.2013 Views

A MORTE DE DANTON - Teatro Nacional D.Maria II

A MORTE DE DANTON - Teatro Nacional D.Maria II

A MORTE DE DANTON - Teatro Nacional D.Maria II

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

testemunhas julgaram ter visto “nos movimentos convulsivos dos músculos do<br />

rosto, imediatamente após a execução, os sinais de uma dor aguda e um vestígio<br />

de sensibilidade que ainda não se extinguiu.” Uma sobrevivência de alguns<br />

instantes, acompanhada de sofrimento horrível após a decapitação, era, pois,<br />

verosímil. É a essa eventualidade que Laflotte se refere aqui. Morrer continua a ser<br />

um tormento, só a morte, com a rigidez do corpo, dá o repouso. É por isso que<br />

Danton diz que “a guilhotina é o melhor médico”: uma vez passados os últimos<br />

instantes, ela, ao tirar a vida, proporciona a única cura absoluta, na inconsciência<br />

e no esquecimento.<br />

Estes detalhes mórbidos dão uma imagem da morte totalmente diferente daquela<br />

que até então se conhecia no teatro. Não que o sofrimento de morrer nunca<br />

tivesse sido descrito, mas ele não constituía a realidade última. Büchner rompe<br />

com toda a estetização da morte. Lança sobre o indivíduo que sofre um olhar<br />

quase médico, que não é alheio aos seus estudos de biologia (não esqueçamos<br />

que mais tarde ele irá estudar precisamente os nervos do crânio!), e que, no<br />

teatro, transforma radicalmente a imagem do homem. O ser moral e consciente<br />

dos seus atos dá lugar à criatura que sofre na carne, presa numa tormenta que a<br />

arrasta e contra a qual luta em vão. O fim de A Morte de Danton anuncia Woyzeck.<br />

O autor já não é um juiz no tribunal das instituições políticas e morais, mas um<br />

clínico no seu laboratório, lançando um olhar compassivo sobre o sujeito de<br />

análise.<br />

Jean-Louis Besson, Le Théâtre de Georg Büchner: un jeu de masques,<br />

Belfort, Éditions Circé, 2001. (trad. Manuela Torres)<br />

Fotografias de ensaios © Jorge Gonçalves<br />

33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!