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país. Luminosidade é rotina para o meridional,<br />
para o nórdico objeto de adoração religiosa. No<br />
rápido verão (Nina diz ter caído o último num<br />
domingo), quando um sol frio e distante banha<br />
sem muito entusiasmo Estocolmo, louras de<br />
pele caricaturalmente branca sentam-se em<br />
bancos, degraus ou mesmo no chão, levantam<br />
saias ou eslaques até as coxas, abrem as<br />
blusas e, imóveis, contemplam de olhos<br />
cerrados o sol. Man drömmer bort vintern,<br />
diz-se, expulsamos o inverno à força de<br />
sonhos, e onírico é o gesto com que adoram a<br />
luz.<br />
— Eu ria delas quando cheguei aqui,<br />
conta Nina. Hoje, mal aparece sol, vou pra rua<br />
adorá-lo junto.<br />
O verão de 72 foi considerado pelos<br />
meteorologistas o mais quente do século. A<br />
temperatura atingiu certo dia 31 graus, o que<br />
ocorrera pela última vez em 1939. Nesse dia<br />
morreram cinco homens no país, dois de<br />
insolação e três com problemas cardíacos. Os<br />
jornais berravam em manchetes: ONDA DE<br />
CALOR INVADE O PAÍS.<br />
Nos dias de mais intenso verão, durante<br />
uns 15 dias o sol se esconde às 22 horas e se<br />
ergue às 2. Em Estocolmo, as noites são<br />
brancas, macias, irreais. Uma febre percorre a<br />
cidade toda, em cada face sente-se alegria,<br />
angústia e irritação. Ninguém consegue dormir,<br />
sabendo que, há sol lá fora. As florestas e as<br />
ilhas enchem-se de noctâmbulos. Mas a falta<br />
de sono e o prenúncio do inverno transformam<br />
a euforia em irritação quase. Mais algumas<br />
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