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sistema de produção em casas de farinha - Uesc

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Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

Programa Regional <strong>de</strong> Pós-graduação <strong>em</strong> Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente<br />

Mestrado <strong>em</strong> Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente<br />

Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Produção <strong>em</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha:<br />

Uma leitura <strong>de</strong>scritiva na Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos –<br />

Vitória da Conquista(BA)<br />

Ilhéus<br />

2007<br />

Marisa Oliveira Santos Soares


Soares, Marisa Oliveira Santos.<br />

Impactos socioambientais das Casas <strong>de</strong> Farinha no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Campinhos e Simão –<br />

Vitória da Conquista(BA) / Marisa Oliveira Santos Soares. –<br />

Ilhéus, Ba:<br />

UESC/PRODEMA, 2007.x, XXXX; anexos<br />

Orientador: Max <strong>de</strong> Menezes<br />

Disseratação (Mestrado) – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz. Programa Regional <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong><br />

Desenvolvimento e Meio Ambiente.<br />

Bibliografia: f. XXXX<br />

XXXXXX<br />

XXXXX<br />

xvi


MARISA OLIVEIRA SANTOS SOARES<br />

Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Produção <strong>em</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha:<br />

Uma leitura <strong>de</strong>scritiva na Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos –<br />

Vitória da Conquista(BA)<br />

Dissertação apresentada ao Mestrado <strong>em</strong><br />

Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz, sub-área<br />

Comunida<strong>de</strong>s Sustentáveis, para obtenção do título<br />

<strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong> Desenvolvimento Regional e Meio<br />

Ambiente.<br />

Professor Orientador: Prof. Dr. Max <strong>de</strong> Menezes<br />

Ilhéus, BA<br />

2007<br />

xvi


Dissertação aprovada <strong>em</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007.<br />

Prof. Dr. Max <strong>de</strong> Menezes<br />

(Orientador)<br />

Prof. Dr. Neylor Calasans<br />

(Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz)<br />

Prof.Dr. Val<strong>de</strong>miro Conceição Júnior<br />

(Universida<strong>de</strong> Estadual do Sudoeste da Bahia)<br />

xvi


DEDICATORIA<br />

A Deus, pela Supr<strong>em</strong>a Autoria da Natureza.<br />

Ao meu filho, Guilherme Luís, pela intensa e constante<br />

Inspiração <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> alegria.<br />

xvi


VERDADE<br />

A porta da verda<strong>de</strong> estava aberta,<br />

mas só <strong>de</strong>ixava passar<br />

meia pessoa <strong>de</strong> cada vez.<br />

Assim não era possível atingir toda a verda<strong>de</strong>,<br />

porque a meia pessoa que entrava<br />

só trazia o perfil <strong>de</strong> meia verda<strong>de</strong>.<br />

E sua segunda meta<strong>de</strong><br />

voltava igualmente com meio perfil.<br />

E os meios perfis não coincidiam.<br />

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.<br />

Chegaram ao lugar luminoso<br />

on<strong>de</strong> a verda<strong>de</strong> esplendia seus fogos.<br />

Era dividida <strong>em</strong> meta<strong>de</strong>s<br />

diferentes uma da outra.<br />

Chegou-se a discutir qual a meta<strong>de</strong> mais bela.<br />

Nenhuma das duas era totalmente bela.<br />

E carecia optar. Cada um optou conforme<br />

seu capricho, sua ilusão, sua miopia.<br />

Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

xvi


Trovador Nor<strong>de</strong>stino<br />

Pois b<strong>em</strong>, um aviamento,<br />

Quando pega trabaiá,<br />

É o mio divertimento<br />

Que se po<strong>de</strong> maginá,<br />

É a mio distração,<br />

Tudo ali é união,<br />

Prazê, alegria e paz<br />

Só se conveça <strong>em</strong> amo,<br />

Pois todo trabaiadô<br />

É s<strong>em</strong>pre moça e rapaz<br />

O puxado não t<strong>em</strong> móca<br />

É tratado com amo,<br />

Rapadêra <strong>de</strong> mandioca<br />

É tratado com amo<br />

Rapadêra <strong>de</strong> mandioca<br />

É doida por puxado!<br />

As vezes inté eu pensava<br />

Que meu coração virava<br />

Mandioca e macachêra.<br />

E as raiz era cevada<br />

Por as tarisca amolada<br />

Dos óio das rapadêra.<br />

Patativa do Assaré<br />

xvi


SUMÁRIO<br />

Lista <strong>de</strong> Tabelas .............................................................................................................. ix<br />

Lista <strong>de</strong> Figuras............................................................................................................... x<br />

Lista <strong>de</strong> Siglas.................................................................................................................. xi<br />

Resumo............................................................................................................................. xiii<br />

Abstract ........................................................................................................................... xiv<br />

1.0 INTRODUÇAO......................................................................................................................... 1<br />

2.0 OBJETIVOS ........................................................................................................................... 4<br />

2.1 Objetivo Geral ....................................................................................................................... 4<br />

2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................... 4<br />

3.0 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................. 5<br />

3.1 QUESTÕES AMBIENTAIS ................................................................................................... 5<br />

3.2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL .......................................................... 10<br />

3.2.1Desenvolvimento X Sustentabilida<strong>de</strong> .................................................................................... 12<br />

3.2.3 Comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável ....................................................................... 14<br />

3.3 IMPACTOS AMBIENTAIS ..................................................................................................... 17<br />

3.3.1 A sustentabilida<strong>de</strong> produtiva e os Impactos ambientais: um imperativo .............. 19<br />

3.3.2 Mo<strong>de</strong>los produtivos ................................................................................................. 21<br />

3.3.3 Trabalho e aspecto operacional............................................................................... 22<br />

3.3.4 Avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong> Impactos Ambientais ................................................................... 24<br />

3.4 CASAS DE FARINHA: UNIDADE DE BENEFICIAMENTO DA MANDIOCA ....................... 27<br />

3.4.1 A mandioca .......................................................................................................................... 27<br />

3.4.2 Caracterização das Casas <strong>de</strong> Farinha ................................................................................ 35<br />

3.4.3 Casas <strong>de</strong> Farinha: aspectos produtivos e comerciais .......................................................... 38<br />

4.0 METODOLOGIA .................................................................................................................... 47<br />

5.0 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................................................. 50<br />

6.0 DISCUSSÃO DE RESULTADOS........................................................................................... 54<br />

6.1 Descrição da Estrutura Física e Métodos <strong>de</strong> Produção Empregados ............................. 54<br />

6.1.1 Espaço Físico e Divisão <strong>de</strong> Tarefas ..................................................................................... 55<br />

6.1.2 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> R<strong>em</strong>uneração adotado pelas Casas <strong>de</strong> Farinha ................................................ 64<br />

6.1.3 Estrutura funcional das Casas <strong>de</strong> Farinha ........................................................................... 66<br />

6.2 Impactos Ambientais provocados pela ativida<strong>de</strong> ............................................................. 71<br />

6.2.1 Efeito e extensão dos Impactos Ambientais ........................................................................ 71<br />

6.2.2 Natureza e t<strong>em</strong>porarieda<strong>de</strong> dos Impactos Ambientais ......................................................... 73<br />

6.2.3 Periodicida<strong>de</strong> e Intensida<strong>de</strong> dos Impactos Ambientais ........................................................ 73<br />

6.2.4 Reversibilida<strong>de</strong> e probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência dos Impactos Ambientais ........................... 74<br />

6.2.5 Relevância e Magnitu<strong>de</strong> dos Impactos Ambientais .............................................................. 74<br />

7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 79<br />

8.0 REFERENCIAS ...................................................................................................................... 82<br />

9.0 ANEXOS ................................................................................................................................ 86<br />

xvi


9.1 Questionários .......................................................................................................................<br />

9.2 Matriz <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Impactos Ambientias causados pela agroindústria da mandioca <strong>em</strong><br />

87<br />

Campinhos no Município <strong>de</strong> Vitória da Conquista ....................................................................... 89<br />

10 APENDICE<br />

10.1 Catalogação das Casas <strong>de</strong> Farinha/ Campinhos: instrumento <strong>de</strong> pesquisa .........................<br />

90<br />

91<br />

xvi


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 1 – Produção <strong>de</strong> Mandioca na Região Sudoeste da Bahia.......... 29<br />

Tabela 2 – Aquisição alimentar domiciliar per capita anual por gran<strong>de</strong>s<br />

regiões.......................................................................................................<br />

Tabela 3 – R<strong>em</strong>uneração do trabalhador das Casas <strong>de</strong> Farinha ............<br />

39<br />

64<br />

xvi


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1 - Potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso do amido no Brasil ............................<br />

Figura 2– Época <strong>de</strong> plantio da mandioca na Região Sudoeste da Bahia<br />

Figura 3 – Participação na <strong>produção</strong> estimada <strong>de</strong> raiz <strong>de</strong> mandioca <strong>em</strong><br />

2005 .........................................................................................................<br />

Figura 4– Principais <strong>de</strong>rivados da lavoura <strong>de</strong> mandioca.........................<br />

Figura 5– Sist<strong>em</strong>a agroindustrial da mandioca .......................................<br />

Figura 6 – Fluxograma para obtenção <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca<br />

utilizando prensag<strong>em</strong> mecânica ..............................................................<br />

Figura 7 – Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> fornos utilizados pelas <strong>casas</strong> <strong>de</strong> Farinha..............<br />

Figura 8 – Orig<strong>em</strong> da lenha utilizada nas Casas <strong>de</strong> Farinha <strong>de</strong><br />

Campinhos ...............................................................................................<br />

Figura 9 – Assistência técnica para os proprietários <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong><br />

Farinha .....................................................................................................<br />

Figura 10 – Localização geográfica - Vitória da Conquista (BA) ...........<br />

Figura 11 - Localização espaço geográfica da Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campinhos / Vitória da Conquista (BA) ...................................................<br />

Figura 12 – Divisão das etapas produtivas das Casas <strong>de</strong> Farinha –<br />

Planta ilustrativa .......................................................................................<br />

Figura 13 - Trabalho f<strong>em</strong>inino nas Casas <strong>de</strong> Farinha ............................<br />

Figura 14 – Trabalho masculino nas Casas <strong>de</strong> Farinha ........................<br />

Figura 15 - Predominância da utilização da lenha <strong>em</strong> fornos <strong>de</strong> Casas<br />

<strong>de</strong> Farinha ................................................................................................<br />

Figura 16 – Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração <strong>em</strong>pregado pelas Casas <strong>de</strong><br />

Farinha .....................................................................................................<br />

Figura 17 – T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> funcionamento das Casas <strong>de</strong> Farinha <strong>em</strong><br />

Campinhos ...............................................................................................<br />

Figura 18 – Orig<strong>em</strong> da lenha utilizada nas Casas <strong>de</strong> Farinha <strong>de</strong><br />

Campinhos ...............................................................................................<br />

2<br />

33<br />

34<br />

37<br />

40<br />

42<br />

44<br />

45<br />

46<br />

50<br />

51<br />

55<br />

56<br />

59<br />

63<br />

64<br />

69<br />

70<br />

xvi


LISTA DE SIGLAS<br />

ABAM – Associação Brasileira dos Produtores <strong>de</strong> Amido <strong>de</strong> mandioca<br />

AGF – Aquisição do Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />

AIA – Avaliação <strong>de</strong> Impacto Ambiental<br />

CDAF – Compra Direta da Agricultura Familiar<br />

CEPEA – Centro <strong>de</strong> Estudos Avançados <strong>em</strong> Economia Aplicada<br />

CONAMA – Conselho Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

COOPASUB – Cooperativa mista agropecuária dos pequenos produtores do<br />

Sudoeste da Bahia Ltda<br />

EMBRAPA – Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária<br />

EPI – Equipamento <strong>de</strong> Proteção Individual<br />

IBGE – Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística<br />

ONU – Organização das Nações Unidas<br />

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento<br />

RIMA – Relatório <strong>de</strong> Impacto Ambiental<br />

SEAB – Secretaria <strong>de</strong> Agricultura<br />

SEAGRI - Secretaria <strong>de</strong> Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da<br />

Bahia<br />

xvi


AGRADECIMENTOS<br />

A Deus, Mestre Supr<strong>em</strong>o, Autor Sublime da Fé, Criador, Salvador, Fonte inesgotável <strong>de</strong> Inspiração e<br />

Sabedoria.<br />

Aos meus pais, João e Eulina, que s<strong>em</strong>pre estiveram presentes como elo fundamental entre a vida e os<br />

valores divinos.<br />

Ao meu filho, Guilherme Luís, presente <strong>de</strong> Deus, inspiração <strong>de</strong> vida.<br />

A Van<strong>de</strong>rlei, que tanto me incentivou e que <strong>em</strong>bora venhamos a trilhar caminhos distintos, me ensinou<br />

que sonhar é a nossa meta humana.<br />

Aos meus irmãos, Mauro e Márcio, pelos seus respectivos ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> persistência, dignida<strong>de</strong> e luta.<br />

A FTC, na pessoa do Prof. Humberto Santos Filho, pelos inúmeros incentivos e a crença no sucesso <strong>de</strong><br />

cada um.<br />

Ao estimado Prof. Guilhar<strong>de</strong>s, que lançou uma s<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po oportuno e acreditou na sua<br />

germinação e agora são vistos os resultados.<br />

Ao meu irmão querido, Osmar, que s<strong>em</strong>pre incentivou a minha luta e ainda que t<strong>em</strong>porariamente distante<br />

confiro a ti também a alegria <strong>de</strong>sta vitória.<br />

Ao Educandário Juvêncio Terra, na pessoa <strong>de</strong> Maria Helena Telles, que <strong>em</strong> momento oportuno e<br />

singular fizeram da compreensão um elo <strong>de</strong> fundamental importância para que este <strong>de</strong>safio fosse<br />

superado.<br />

A equipe Administrativa do HGVC , pela caracterização <strong>de</strong> um trabalho s<strong>em</strong>pre coletivo na unida<strong>de</strong>,<br />

ajudando-me incondicionalmente para que este sonho fosse edificado.<br />

Aos amigos, que incondicionalmente, s<strong>em</strong>pre acreditam <strong>em</strong> mim e me albergaram <strong>em</strong> seus corações nos<br />

momentos que mais os solicitei.<br />

A EMBRAPA <strong>de</strong> Cruz das Almas.<br />

Ao professor MAX pelo primor <strong>de</strong> sabedoria que carrega consigo e que faz da humilda<strong>de</strong> uma parceria<br />

especial entre a ciência e o aprendizado. Mestre e s<strong>em</strong>pre mestre.<br />

A Verônica Ferraz, pelo <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> l<strong>em</strong>brar que é s<strong>em</strong>pre muito cedo para se <strong>de</strong>sistir.<br />

Agra<strong>de</strong>ço profundamente a todas as pessoas que entram na minha vida e me inspiram, iluminando-me<br />

comovent<strong>em</strong>ente com sua presença: Paty, Rosana, Lale, Sr. Almeida, Cacilda, Cristiane, Artur, Gustavo,<br />

Ludy, Adriana, Diogo, Renato, Karine.<br />

A Tia Cida e família por todo carinho, doação e <strong>de</strong>sprendimento que tiveram comigo e com meu filho <strong>em</strong><br />

momentos que era preciso dividir tarefas.<br />

A Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos pela intensa e marcante história regional, como também pelo sinal <strong>de</strong><br />

persistência que impera <strong>em</strong> seus cidadãos, fazendo <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong> um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> constante luta e<br />

resistência histórica.<br />

A COOPASUB pela presteza e auxílio, quando compartilhar informações é uma doação mútua.<br />

Aos colegas do Mestrado pela convivência compartilhada e pelo protagonismo <strong>em</strong> uma trilha nova e<br />

especial para todos nós, <strong>em</strong> especial a Deise, Leiriane e Clóvis.<br />

A todos os Mestres pelo <strong>em</strong>penho na <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> um novo conhecimento, um novo olhar crítico sobre<br />

o mundo.<br />

xvi


RESUMO<br />

SOARES, Marisa Oliveira Santos. Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Produção <strong>em</strong> Casas <strong>de</strong><br />

Farinha: Uma leitura <strong>de</strong>scritiva na Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos – Vitória da<br />

Conquista(BA). Ilhéus, 2007. 99p. Dissertação (Mestrado <strong>em</strong><br />

Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente). Programa Regional <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação <strong>em</strong> Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Universida<strong>de</strong><br />

Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />

Pontualmente, a socieda<strong>de</strong> t<strong>em</strong> inferido várias discussões acerca da<br />

probl<strong>em</strong>ática ambiental, no que diz respeito às ações antrópicas no meio<br />

ambiente. Causas e efeitos <strong>de</strong>sta intervenção nunca foram tão<br />

<strong>sist<strong>em</strong>a</strong>ticamente discutidos <strong>em</strong> várias instâncias e o leque i<strong>de</strong>ológico se faz<br />

presente <strong>em</strong> diferentes vertentes. À medida que o século se reconstrói, um dos<br />

maiores <strong>de</strong>safios é o <strong>de</strong> se construir mo<strong>de</strong>los produtivos centrados no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável e consequent<strong>em</strong>ente na edificação <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s sustentáveis. O presente trabalho t<strong>em</strong> como objetivo primordial<br />

expandir a linha <strong>de</strong> pesquisa no que diz respeito a sustentabilida<strong>de</strong> do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong><br />

produtivo, <strong>de</strong>screvendo como unida<strong>de</strong>s agroindustriais da mandioca – Casas<br />

<strong>de</strong> Farinha – edificam o seu processo <strong>de</strong> transformação dos recursos naturais e<br />

levantando, concomitant<strong>em</strong>ente, variáveis que permitam ao presente estudo<br />

promover a construção <strong>de</strong> diagnóstico, que avalie sobretudo a qualida<strong>de</strong> dos<br />

el<strong>em</strong>entos físicos, humanos e animais dispostos ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> transformação<br />

do meio. As Casas <strong>de</strong> Farinha da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos passam a ser<br />

subsídios <strong>de</strong> investigação científica e sendo utilizadas, como objeto <strong>de</strong> estudo,<br />

servirão como fonte da resolutivida<strong>de</strong> dos objetivos ora propostos, que visam<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu funcionamento até a análise por metodologia <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong><br />

impactos ambientais apresentar o maior número <strong>de</strong> informações pertinentes a<br />

ativida<strong>de</strong> das farinheiras e <strong>de</strong> que maneira as mesma po<strong>de</strong>m consolidar ou<br />

comprometer a existência <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> diretamente da<br />

renda oriunda das Casas <strong>de</strong> Farinha.<br />

xvi


ABSTRACT<br />

SOARES, Marisa Oliveira Santos. Syst<strong>em</strong> Production houses in the Flour: A<br />

<strong>de</strong>scriptive reading in the Community of Campinhos-Vitória da Conquista<br />

(BA). Ilhéus, 2007. 99 p. Dissertation (Master of Regional Development and<br />

Environment). Regional Program for Post-Graduate in Regional Development<br />

and Environment. State University of Santa Cruz.<br />

Promptly, the society has inferred some quarrels concerning probl<strong>em</strong>atic the<br />

ambient one, in what it says respect to the antropics actions in the environment.<br />

Causes and effect of this intervention had been never so syst<strong>em</strong>atically argued<br />

in some instances and the i<strong>de</strong>ological fan it is in different sources. To the<br />

measure that the century if reconstructs, one of the biggest challenges is of<br />

constructing productive mo<strong>de</strong>ls centered in the sustainable <strong>de</strong>velopment and<br />

consequently in the construction of sustainable communities. The present work<br />

has as primordial objective to expand the line of research in what it says respect<br />

to the support of the productive syst<strong>em</strong>, <strong>de</strong>scribing as agro-industrial units of<br />

the cassava - Flour Houses - build its process of transformation of the natural<br />

resources and raising, concomitantly, variable that allow the present study to<br />

promote the diagnosis construction, that over all evaluates the quality of the<br />

physical el<strong>em</strong>ents, human and animal ma<strong>de</strong> use the mo<strong>de</strong>l of transformation of<br />

environment. Flour Houses of the community of Campinhos start to be<br />

subsidies of scientific inquiry and being used, as study object, they will serve as<br />

source of the resolution of the consi<strong>de</strong>red objectives however, that they aim at<br />

since its functioning until the analysis for methodology of evaluation of ambient<br />

impacts to present the biggest number of pertinent information the activity of the<br />

woman who sale flour and how the same one can consolidate or compromise<br />

the existence of this community, that <strong>de</strong>pends directly on the <strong>de</strong>riving income of<br />

the Flour Houses.<br />

xvi


xvi


1 INTRODUÇÃO<br />

Macaxeira, aipim, pão <strong>de</strong> pobre, pão do Brasil, uapi, pau <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>, mandioca<br />

brava, mansa, seja qual for o seu nome, simplesmente a mandioca é reconhecida,<br />

entre vários pesquisadores, como a base <strong>de</strong> alimentação da maioria da população<br />

mundial, po<strong>de</strong>ndo ser cultivada <strong>em</strong> pequenas faixas <strong>de</strong> terra e envolvida por<br />

pequenos produtores rurais <strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> tradicionalmente ser tida<br />

como fonte geradora <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e renda, notadamente na região Nor<strong>de</strong>ste do<br />

Brasil on<strong>de</strong> o consumo per capita mundial <strong>de</strong> mandioca e <strong>de</strong>rivados, <strong>em</strong> 1996, foi <strong>de</strong><br />

17,4 kg/hab/ano, sendo <strong>de</strong> 50,6 kg/hab/ano no Brasil. (EMBRAPA, 2007).<br />

Disposta pela sua riqueza extr<strong>em</strong>a <strong>em</strong> carboidratos, estando à frente do<br />

arroz, do milho e da cana-<strong>de</strong>-açúcar, o tubérculo <strong>em</strong> questão <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>tiza um<br />

diferencial produtivo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância seja <strong>em</strong> relação a sua lavoura, seja <strong>em</strong><br />

relação aos produtos comercializados e <strong>de</strong>rivados da mesma. O beneficiamento da<br />

mandioca ocorre no Nor<strong>de</strong>ste do Brasil <strong>de</strong> forma artesanal, <strong>de</strong>nominado Casa <strong>de</strong><br />

Farinha, tendo pelo uso <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo, um dos principais entraves no que tange a<br />

comercialização e a abertura competitiva no mercado que a coaduna.<br />

Cultivada atualmente <strong>em</strong> vários países <strong>de</strong> diversos continentes, a mandioca é<br />

o alimento humano e animal, que mesmo passado cinco séculos continua mantendo<br />

o privilégio <strong>de</strong> aceitação popular, sendo utilizado <strong>de</strong> diversas maneiras, que vão<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o uso in natura até a sua transformação por unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> beneficiamento<br />

industrial, l<strong>em</strong>brando que 65% do seu uso está diretamente ligado ao consumo<br />

humano (Buitrago, 1990).<br />

96


Figura 1 Potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso do amido no Brasil<br />

Fonte: EMBRAPA (2007)<br />

Além da riqueza e da varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos que <strong>de</strong>la é retirada, como po<strong>de</strong><br />

ser visto na Figura 1. Foi através da mandioca, cultura difundida <strong>em</strong> solo brasileiro<br />

pelos índios, que surgiram as Casas <strong>de</strong> Farinha, espectro <strong>de</strong> transformação e<br />

beneficiamento, <strong>em</strong> caráter <strong>de</strong> mini-indústrias, dos inúmeros produtos que po<strong>de</strong>m<br />

ser subtraídos do tubérculo <strong>em</strong> questão.<br />

São as Casas <strong>de</strong> Farinha, e não, Indústrias ou Fábricas, que <strong>de</strong>terminam uma<br />

peculiarida<strong>de</strong> exposta e importante <strong>em</strong> relação ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>em</strong>pregado<br />

no <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> ora <strong>em</strong> <strong>de</strong>scrição. Casas, porque além da transformação artesanal, a<br />

esta também, estão atrelados os laços consangüíneos, irmanados e a extr<strong>em</strong>a<br />

diferenciação no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produzir. A “<strong>farinha</strong>da” <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser apenas o resultado<br />

final <strong>de</strong> um <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> produtivo, para albergar também os vínculos familiares na sua<br />

execução.<br />

Exce<strong>de</strong>ndo a característica diferenciada <strong>em</strong> relação a outros mo<strong>de</strong>los<br />

produtivos, a Casa <strong>de</strong> Farinha <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>tiza uma <strong>produção</strong> diferente, que<br />

predominant<strong>em</strong>ente aplicada na região Nor<strong>de</strong>ste brasileira, po<strong>de</strong> referendar<br />

discussões criteriosas sobre a sustentabilida<strong>de</strong> das comunida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>la se<br />

utilizam e/ou ao mesmo t<strong>em</strong>po da relação direta que se estabelece com os critérios<br />

ambientais.<br />

Conciliar <strong>de</strong>senvolvimento e sustentabilida<strong>de</strong> tornou-se uma ban<strong>de</strong>ira não<br />

somente ambientalista, mas sobretudo <strong>de</strong> discurso universal. Atualmente, a questão<br />

96


ambiental, que por longos anos, foi <strong>de</strong>smerecida <strong>de</strong> atenção <strong>de</strong>vida, principalmente<br />

pelas autorida<strong>de</strong>s governamentais, requer uma atenção especial, dando notorieda<strong>de</strong><br />

ao assunto como nunca se viu antes. O t<strong>em</strong>a aparent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong>ergente consolidase<br />

com bastante ve<strong>em</strong>ência e t<strong>em</strong> agrupado vários segmentos sociais.<br />

Da Revolução Industrial até os anos 70 do século XX, os governos estiveram<br />

ocupados <strong>de</strong>mais com outras coisas, não quiseram ouvir advertências dos homens<br />

<strong>de</strong> ciências. Mudanças climáticas eram dadas como questões secundárias <strong>em</strong> face<br />

<strong>de</strong> outras, predominant<strong>em</strong>ente questões militares. Por várias décadas, uma agenda<br />

sangrenta ocupou o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças. Primeira Guerra Mundial, bolchevismo<br />

russo, Tratado <strong>de</strong> Versalhes, fascismo italiano, Guerra Civil Espanhola [...] Basta<br />

dizer que até 1948, no organograma da ONU, não por acaso <strong>em</strong> último lugar, e assim<br />

mesmo <strong>de</strong>signada como “proposta”, figurava uma <strong>de</strong>sconhecida Organização<br />

Meteorológica Mundial. (MARCOVITCH, 2006, p. 38)<br />

Por sua vez, o enlace entre <strong>de</strong>senvolvimento e sustentabilida<strong>de</strong> surge como<br />

mecanismo <strong>de</strong> reorientação dos procedimentos adotados pela civilização humana no<br />

<strong>de</strong>correr <strong>de</strong>stes anos. A crise que ora se instala e que na maioria das vezes po<strong>de</strong><br />

r<strong>em</strong>eter ao caos, acaba sendo até pela existência <strong>de</strong>ste, o aporte para o novo, para<br />

a possibilida<strong>de</strong> da mudança.<br />

Resgatando o propalado acima e enfatizando a comunida<strong>de</strong> como objeto <strong>de</strong><br />

estudo, é que se propõe através <strong>de</strong>ste trabalho, <strong>de</strong>screver o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Casa <strong>de</strong><br />

Farinha posto <strong>em</strong> evidência e questionar <strong>de</strong> que maneira os <strong>em</strong>preendimentos das<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> beneficiamento da mandioca contribu<strong>em</strong> para a geração <strong>de</strong> impactos<br />

sociais e ambientais <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência do processo produtivo <strong>em</strong>pregado na<br />

Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos, alocada <strong>em</strong> Vitória da Conquista no Sudoeste baiano.<br />

96


2.0 – OBJETIVOS<br />

2.1– Objetivo Geral<br />

Partindo da caracterização e da <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>tização das Casas <strong>de</strong> Farinha alocadas<br />

no bairro <strong>de</strong> Campinhos, o repto mais relevante <strong>de</strong>sta pesquisa coaduna com a<br />

<strong>de</strong>scrição do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>em</strong>pregado e os principais impactos sociais e<br />

ambientais oriundos do processo produtivo <strong>em</strong>pregado pelo <strong>em</strong>preendimento<br />

agroindustrial <strong>em</strong> questão e terá como objetivo geral:<br />

• Caracterizar o <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados da mandioca <strong>em</strong> Casa <strong>de</strong><br />

Farinha e seus impactos socioambientais no <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

comunida<strong>de</strong>.<br />

2.2 Objetivos Específicos<br />

1) Descrever a estrutura física das <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> e os métodos <strong>de</strong> <strong>produção</strong><br />

<strong>em</strong>pregados;<br />

2) Caracterizar e qualificar a mão-<strong>de</strong>-obra <strong>em</strong>pregada na <strong>produção</strong>;<br />

3) Avaliar a importância relativa da ocupação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra pela ativida<strong>de</strong>, no<br />

contexto da comunida<strong>de</strong> do bairro;<br />

4) I<strong>de</strong>ntificar e qualificar os impactos ambientais e/ou sociais provocados pela<br />

ativida<strong>de</strong>.<br />

96


3.0 REVISÃO DE LITERATURA<br />

3.1 Questões Ambientais<br />

96<br />

“Pensar na geração futura é, teoricamente, mais simples do<br />

que pensar na presente, já que se assinando um contrato para<br />

outros cumprir<strong>em</strong>, s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer restrição ao presente”<br />

(SILVA,2005)<br />

A história da humanida<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre foi <strong>de</strong>marcada pela luta incessante pela<br />

sobrevivência. É notório e salutar dizer que, essa luta n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre aconteceu com<br />

equida<strong>de</strong>, sejam pelos aspectos econômicos, políticos, sociais e como não dizer<br />

sobre o próprio posicionamento geográfico, que quando não muito estratégico,<br />

<strong>em</strong>perra ou dificulta a relação hom<strong>em</strong>-natureza caracterizando uma batalha árdua<br />

pela manutenção e atendimento às necessida<strong>de</strong>s humanas.<br />

Seria ao mesmo t<strong>em</strong>po elucidatório, reconhecer que o hom<strong>em</strong>, que venceu<br />

inúmeras e fatigadas crises, <strong>de</strong>safios e limitações, e s<strong>em</strong>pre se colocou<br />

pretensiosamente superior diante das forças naturais, vive atualmente um apelo<br />

comum e global <strong>de</strong> convivência, on<strong>de</strong> os méritos, as leis e os paradigmas são<br />

colocados diante <strong>de</strong> um novo prisma: a sobrevivência no planeta Terra, sustentada<br />

<strong>em</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento eqüitativo e voltado para questões até outrora não<br />

elucidadas com tão ve<strong>em</strong>ência na construção da sua história: quer seja o meioambiente.<br />

Diante <strong>de</strong>sse quadro, e se referindo ao ambiente não como um el<strong>em</strong>ento<br />

periférico, mas sobretudo como principal foco <strong>de</strong> estudo para reestruturação social e<br />

econômica das comunida<strong>de</strong>s, cida<strong>de</strong>s, metrópoles e ou nações o conhecimento<br />

nesta área, torna-se para o mundo, o el<strong>em</strong>ento-chave <strong>de</strong> pesquisa para a


estruturação <strong>de</strong> uma nova vertente, dando, assim, o caráter <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e<br />

referência que o mesmo t<strong>em</strong> nos dias atuais, como salienta Ferreira (Hogan 1995,<br />

apud):<br />

96<br />

Os programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento orientados para a satisfação das<br />

necessida<strong>de</strong>s humanas, tendo <strong>em</strong> vista as potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte<br />

biofísico, ultrapassam a racionalida<strong>de</strong> econômica convencional,<br />

porque compromet<strong>em</strong>-se com um novo humanismo b<strong>em</strong> como com<br />

um novo “contrato natural”, necessários e urgentes diante dos índices<br />

alarmantes <strong>de</strong> pobreza enfrentados pelo terceiro mundo...<br />

A discussão ora apresentada, revoga e chama atenção também para um<br />

mo<strong>de</strong>lo econômico ilimitado, que supostamente vinha para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s<br />

humanas e o <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>, pondo <strong>em</strong> risco a própria<br />

contextualização material do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> econômico vigente, pois, outrora, esse próprio<br />

aparato externaliza um custo social e ambiental alto, que gera uma fluência para as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s socioeconômicas e ambientais.<br />

É <strong>de</strong>marcado por esses pressupostos que se instaura na socieda<strong>de</strong> um<br />

momento peculiar e bastante característico, que requer atenção <strong>de</strong> todos, pois neste<br />

processo civilizatório “mo<strong>de</strong>rno”, inclui-se um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ameaça e exclusão do<br />

futuro.<br />

A vida humana no planeta clama urgent<strong>em</strong>ente por uma postura mais<br />

eqüitativa diante do conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico. É necessário sair da<br />

ética individualista para incorporação <strong>de</strong> um pensamento holístico que permita a<br />

socieda<strong>de</strong> se sentir co-responsável pelo interesse <strong>de</strong> um planeta que é coletivo.<br />

Como ressalta Becker (2001), é urgente pleitear num nível ético, a junção entre as<br />

éticas da solidarieda<strong>de</strong> e alterida<strong>de</strong> por um probl<strong>em</strong>a universal.<br />

A probl<strong>em</strong>ática já existe e coaduna com um referencial amplo e nada discreto, se<br />

levarmos <strong>em</strong> conta o aparato <strong>de</strong> pesquisas até então elencadas para o referido<br />

t<strong>em</strong>a. A sustentabilida<strong>de</strong> do planeta <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />

fortalece e busca no preâmbulo da história uma nova interface, que saia do<br />

consumismo ecológico (SILVA apud TRIGUEIRO 2005), ou seja, do acúmulo <strong>de</strong><br />

conhecimento, do i<strong>de</strong>ologismo para a prática transformadora, capazes, <strong>de</strong> como um<br />

caleidoscópio, ser agente do fluxo <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> idéias, posturas, atitu<strong>de</strong>s.<br />

Essa inquietação, aqui provocada, r<strong>em</strong>ete-se ao compromisso <strong>de</strong> cidadania<br />

universal, que pleiteia uma expansão da consciência ambiental integrada com o


<strong>de</strong>senvolvimento econômico que não po<strong>de</strong> mais ser exaurido, e esse processo só<br />

ocorrerá na exata proporção <strong>em</strong> que se percebe o meio ambiente como algo que<br />

começa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada ser humano, portanto, faz parte do contexto <strong>de</strong> vida do<br />

hom<strong>em</strong>.<br />

Essa co-responsabilida<strong>de</strong> humana com o meio ambiente, que<br />

significativamente <strong>de</strong>termina um novo mo<strong>de</strong>lo socioeconômico , encontra<br />

<strong>em</strong>basamento teórico na Ecologia Profunda <strong>de</strong>finida por Capra ( 1996, p.25-26), que<br />

não separa o hom<strong>em</strong> da natureza, do ambiente, na verda<strong>de</strong> não separa nada do<br />

meio ambiente. Não vê o mundo como um conjunto <strong>de</strong> objetos isolados e sim como<br />

uma complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> fenômenos, intrinsecamente interligados e inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

numa abordag<strong>em</strong> sistêmica; logo reconhece o valor <strong>de</strong> todos os seres vivos e<br />

encara o hom<strong>em</strong> como um dos filamentos da teia da vida. Tudo isso vai <strong>de</strong> encontro<br />

ao conceito anterior da chamada Ecologia Rasa, com visão apenas antropocêntrica:<br />

o hom<strong>em</strong>, neste prisma, é fonte <strong>de</strong> todo valor, está acima da natureza ou fora <strong>de</strong>la, e<br />

atribui a ela apenas um valor instrumental e utilitário, um apêndice.<br />

Há que se levar <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração que este propalado vai requerer um imenso<br />

esforço para a busca <strong>de</strong> alternativas eficazes que venham a dirimir os impactos<br />

oriundos da intervenção antrópica na natureza, mas é importante consi<strong>de</strong>rar que a<br />

relevância do mesmo, perpassa pela complexida<strong>de</strong> das relações <strong>em</strong>preendidas e<br />

que a questão ecológica atual exprime. Não t<strong>em</strong> como se eximir do mesmo, o t<strong>em</strong>a<br />

é <strong>de</strong> abrangência universal e o compromisso da humanida<strong>de</strong> perpassa na mesma<br />

proporção.<br />

Incorporar as questões ambientais como o repto central do nosso t<strong>em</strong>po é<br />

assinalar o comportamento <strong>em</strong>ergente <strong>de</strong>ste novo século, que surge <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento<br />

<strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> esperada, na qual o ser humano volte a ser parte e não esteja<br />

à parte da natureza.<br />

A intensida<strong>de</strong> com que a <strong>de</strong>gradação do meio natural t<strong>em</strong> atingido os seres<br />

humanos introduz a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>bater com bastante pro<strong>em</strong>inência o t<strong>em</strong>a<br />

<strong>em</strong> questão. É a preocupação com o <strong>de</strong>senvolvimento e com a consolidação da<br />

socieda<strong>de</strong> atual, b<strong>em</strong> com o seu legado hereditário que será <strong>de</strong>ixado às gerações<br />

futuras, <strong>em</strong>basando <strong>de</strong>sta forma, o mecanismo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve<br />

permear as ações presentes e futuras neste planeta.<br />

O momento é <strong>de</strong> construção particular. O atual e o agora dissocia-se <strong>de</strong><br />

pormenorizações, portanto, o discurso <strong>de</strong>ve vir a ser mais expressivo e a<br />

96


necessida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> reflexão profunda, generalizada e consistente, on<strong>de</strong> o probl<strong>em</strong>a<br />

ambiental tenha o seu axial voltado para a sustentabilida<strong>de</strong> humana e natural, como<br />

ressalta Guimarães apud Viana, Silva & Diniz(2001, p. 55) integrando o hom<strong>em</strong><br />

neste novo processo e advogando um novo estilo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que seja<br />

ambientalmente sustentável no acesso ao uso dos recursos naturais e na<br />

preservação da biodiversida<strong>de</strong>.<br />

Fica evi<strong>de</strong>nte que a crise ambiental é a crise do nosso t<strong>em</strong>po. Não chega a ser uma<br />

catástrofe ecológica, como justifica Leff (1988, p. 416), mas é, como diz o próprio<br />

autor, um resgate reflexivo do pensamento que a humanida<strong>de</strong> utilizou por tanto<br />

t<strong>em</strong>po para <strong>de</strong>marcar a socieda<strong>de</strong> com que nos <strong>de</strong>paramos neste presente.<br />

È uma crise civilizatória e limítrofe, porque questiona a or<strong>de</strong>m do real, que busca<br />

reorientar e buscar ressignificação para o curso da nossa história, limite do<br />

crescimento econômico e populacional; limite dos <strong>de</strong>sequilíbrios ecológicos, das<br />

capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sustentação da vida e da <strong>de</strong>gradação entrópica do planeta; limite da<br />

pobreza e da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. (LEFF, 1998. p. 416)<br />

Consi<strong>de</strong>rando por este prisma, este novo estágio é também um momento <strong>de</strong><br />

aprendizado e a complexida<strong>de</strong> ora instaurada nos leva à construção <strong>de</strong> um novo<br />

conhecimento inquiridor e <strong>de</strong> nova performance, estruturando um aprendizado <strong>de</strong><br />

mão-dupla: o combate imediato ao probl<strong>em</strong>a mais concreto, mais particular; e<br />

segundo promoção da crítica e da instauração <strong>de</strong> novos preceitos, analisando as<br />

causas e as práticas que estão por trás <strong>de</strong> cada probl<strong>em</strong>a. ( LEFF, 2001, p. 390)<br />

Ao que se parece, o momento é instigante. O referencial até outrora utilizado<br />

passa por um momento <strong>de</strong> transformação e esta urge e é necessária. O momento é<br />

<strong>de</strong> revogação do que parecia estar pronto, é a busca por novos conceitos, posturas,<br />

referenciais, teorias e postulados. A reconstrução nos r<strong>em</strong>ete à perda, como se esta<br />

tomasse para si uma conotação negativa, é como se o ponto <strong>de</strong> vista instaurasse<br />

uma perspectiva que apenas estamos subtraindo; porém se faz necessário colocarse<br />

sob uma nova direção, um novo foco: há um novo que está surgindo e que<br />

possivelmente será fruto <strong>de</strong>sta nova <strong>de</strong>sestruturação. (SANTOS,apud Diniz et.al.<br />

2001; p. 28)<br />

... é fácil ter um ponto <strong>de</strong> vista negativo sobre o qual está se <strong>de</strong>sestruturando,<br />

porque a referência que t<strong>em</strong>os é a do que está <strong>de</strong>saparecendo; mas é difícil<br />

ver o que está surgindo, porque muitas vezes não t<strong>em</strong>os olhos para ver o seu<br />

96


interesse, a sua positivida<strong>de</strong> nova, que está <strong>em</strong>ergindo e ajudando a fazer<br />

com que tudo pareça estar se <strong>de</strong>sarticulando. (SANTOS, 2001, p. 28)<br />

Se por algum momento histórico houve a aproximação do hom<strong>em</strong> e a<br />

natureza, apenas <strong>de</strong>ve ser vista como uma comunhão <strong>de</strong> interesse direto do<br />

primeiro <strong>em</strong> relação ao segundo, portanto <strong>de</strong> exploração. Resgatando as palavras<br />

<strong>de</strong> Gil (2005, p.45), a suposta comunhão integral entre o ser humano e o mundo<br />

natural nunca chegou a se manifestar nos dias mais antigos <strong>de</strong> nossa existência<br />

terrestre, nunca foi uma realida<strong>de</strong> histórica, objetiva, para o autor essa relação<br />

nunca existiu. Portanto, conclui-se, que, ao longo <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong>po se arrastou um<br />

comportamento humano <strong>de</strong>stoado da integração harmoniosa e criteriosa acerca do<br />

seu entorno e sua co-responsabilida<strong>de</strong> direta com os espaços naturais. Em função<br />

<strong>de</strong>ste comportamento repetitivo e <strong>de</strong>sintegrador é que se conclama a socieda<strong>de</strong><br />

para uma discussão mais pontual e específica:<br />

Encaramos o meio ambiente como sendo o produto <strong>de</strong> interações entre os<br />

homens e a natureza e da interação entre os próprios homens, <strong>em</strong> espaços e<br />

t<strong>em</strong>pos concretos e com dimensões históricas e culturais específicas que<br />

expressam também o significado político e econômico das mudanças que se<br />

preten<strong>de</strong> induzir ou sustar. (RATTNER apud Viana, Silva & Diniz, 2001, p.98)<br />

É preciso que se assinale e justifique a contento que o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

perpassa pela história humana e que jamais po<strong>de</strong>rá ser revogado ou <strong>de</strong>stituído da<br />

nossa vida. Não há como construir a história s<strong>em</strong> edificar o <strong>de</strong>senvolvimento, porém<br />

o chamado atual é <strong>de</strong> reformulação <strong>de</strong>ste, pois se torna um pleonasmo necessário<br />

falar do <strong>de</strong>senvolvimento com a concomitância com a sustentabilida<strong>de</strong>. A história<br />

ambiental atual permite ver a complexida<strong>de</strong> ambiental na história passada e abre ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po uma ação perspectiva para a construção <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong><br />

ambiental; é saber que se estabelece o vínculo entre o passado insustentável e um<br />

futuro sustentável. (LEFF, 2001, p. 391)<br />

96


3.2 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL<br />

Quando o assunto outorgado é <strong>de</strong>senvolvimento econômico, há inúmeras<br />

<strong>de</strong>finições e contextualizações para o mesmo. Antes <strong>de</strong> 1970, quando reflexões<br />

foram feitas tomando por base o hom<strong>em</strong> e o meio ambiente, b<strong>em</strong> como a utilização<br />

dos recursos naturais, os elos conceituais entre <strong>de</strong>senvolvimento e crescimento, se<br />

aproximavam muito <strong>de</strong> intervenções políticas e ações econômicas que orientavam o<br />

processo produtivo pelo uso intensivo <strong>de</strong> recursos, com a finalida<strong>de</strong> ímpar <strong>de</strong><br />

aumentar a <strong>produção</strong>, o consumo e a riqueza, reproduzindo e alimentando assim a<br />

essência do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> capitalista (SILVA, 2005; p. 72 / FURTADO 1974).<br />

Tornou-se redundante e, ao mesmo t<strong>em</strong>po inevitável a sua adjetivação como<br />

sustentável, - <strong>em</strong>bora haja ainda refutações a respeito - pois indagações como:<br />

como produzir, do que, e para qu<strong>em</strong> se adjetivaram e se consolidaram, ao longo do<br />

t<strong>em</strong>po na socieda<strong>de</strong>, curvando-se para algumas ações e preocupações primordiais<br />

na construção <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolvimento, que precisa ocorrer <strong>de</strong> forma harmoniosa,<br />

mediante a intersecção das dimensões espacial, social, ambiental, cultural e<br />

econômica. O <strong>de</strong>senvolvimento não po<strong>de</strong> apenas compreen<strong>de</strong>r a esfera econômica,<br />

<strong>de</strong> <strong>produção</strong> e geração <strong>de</strong> riqueza, ele <strong>de</strong>ve ser abordado na dinâmica , levando <strong>em</strong><br />

consi<strong>de</strong>ração a inter<strong>de</strong>pendência e a inter-relação das variáveis envolvidas <strong>em</strong> um<br />

<strong>sist<strong>em</strong>a</strong> complexo. (SILVA, 2005; p. 11, FURTADO, 1974, CAPRA, 1996, p. 36).<br />

O conceito <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável que vigora <strong>em</strong> nossos dias<br />

originou-se do Relatório Brundtland 1 , que o <strong>de</strong>fine pelo comprometimento com as<br />

novas mudanças no estilo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> e geração <strong>de</strong> riqueza: <strong>de</strong>senvolvimento que<br />

satisfaz as necessida<strong>de</strong>s das gerações atuais s<strong>em</strong> comprometer a capacida<strong>de</strong> das<br />

gerações futuras <strong>de</strong> satisfazer suas próprias necessida<strong>de</strong>s.<br />

1 Relatório Mundial sobre o estado do meio ambiente, coor<strong>de</strong>nado pela Ministra Gro Bruntdland, da Noruega, que foi então<br />

chamado <strong>de</strong> Nosso Futuro Comum. Foi esse relatório que cunhou o termo “<strong>de</strong>senvolvimento sustentável”.<br />

96


No Brasil, mais especificamente, <strong>em</strong>bora a discussão ainda não havia sido<br />

<strong>de</strong>marcada pela ECO-92, <strong>em</strong> solo nacional, a Constituição <strong>de</strong> 1988 é bastante atual<br />

quando antecipa no seu bojo a inserção do conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

<strong>em</strong> seu texto base:<br />

96<br />

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, b<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> uso comum do povo e essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<br />

impondo-se ao po<strong>de</strong>r público e à coletivida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo e<br />

preservá-lo para as presente e futuras gerações. (Constituição<br />

Fe<strong>de</strong>ral 1988, Art. 225, Cap VI, 2003 )<br />

A antecipação aqui r<strong>em</strong>etida refere-se ao conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável consolidado atualmente, que teve sua orig<strong>em</strong> fixada na Conferência das<br />

Nações Unidas sobre Meio Ambiente 2 , realizada <strong>em</strong> Estocolmo, capital da Suécia,<br />

<strong>em</strong> junho <strong>de</strong> 1972. Até então, esse dois vocábulos indissociáveis não tinham<br />

nenhuma pretensão <strong>de</strong> firmar<strong>em</strong> entre si tão forte e fecunda parceria, a qual perdura<br />

até os dias atuais.<br />

Os ditames, <strong>de</strong> tão expressivo encontro, inicialmente serviriam apenas para<br />

colocar <strong>em</strong> evidência a <strong>produção</strong> dos países <strong>de</strong> Primeiro Mundo, que <strong>em</strong>bora<br />

estivess<strong>em</strong> <strong>em</strong> um estágio avançado <strong>de</strong> industrialização, <strong>de</strong>paravam-se com a<br />

antítese da escassez <strong>de</strong> recursos naturais, surpreen<strong>de</strong>ndo-se, mesmo diante da<br />

tecnologia <strong>em</strong> alto estágio, com a limitação imposta pelo meio ambiente no que dizia<br />

respeito à <strong>de</strong>stinação final dos resíduos – sólidos, gasosos, líquidos – tanto na<br />

esfera industrial, quanto no comportamento do consumidor final e da população <strong>de</strong><br />

modo geral. Porém, a expansão das discussões e o agregar <strong>de</strong> uma postura que<br />

evi<strong>de</strong>nciava o meio ambiente humano, diante da questão ambiental <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que, até então se instaurava, fortalecendo ações predatórias, foi<br />

o <strong>de</strong>spertar da consciência ecológica <strong>em</strong> nível global, que buscou ir além do âmbito<br />

local ou regional. (BRUNACCI & PHILIPPI Jr., 2005; p. 257).<br />

O t<strong>em</strong>a <strong>de</strong>senvolvimento sustentável não se esgota <strong>em</strong> seu conceito reflexivo,<br />

originado do relatório <strong>de</strong> Bruntdland 3 , Nosso Futuro Comum, mas se refere a um<br />

2 Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada <strong>em</strong> 1972, <strong>em</strong> Estocolmo, na Suècia<br />

3 Em 1987, <strong>em</strong> Estocolmo, na Suécia, a ONU publicou-se o documento Nosso futuro comum, on<strong>de</strong> <strong>em</strong> raras vezes, o<br />

planeta esteve <strong>em</strong> evidência e levou a humanida<strong>de</strong> a repensar sua postura diante <strong>de</strong>ste, notando que alterações oriundas<br />

da intervenção do hom<strong>em</strong> na natureza implicariam <strong>em</strong> ameaça à vida e ao <strong>de</strong>senvolvimento espacial do mesmo.<br />

O Relatório Brundtland foi <strong>de</strong>senvolvido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a sua<br />

referência é um marconas discussões ambientais, compreen<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> iniciativas, anteriores à Agenda 21,


processo <strong>de</strong> compreensão alternativa <strong>em</strong> face às modificações oriundas <strong>de</strong>ste<br />

momento <strong>em</strong> construção, pois o mesmo não se limita à preocupação sobre o que e<br />

para qu<strong>em</strong> produzir, mas a questão <strong>de</strong> como produzir torna-se fundamental para<br />

garantir a continuida<strong>de</strong> do b<strong>em</strong> ou do serviço <strong>em</strong> questão. (SILVA e MENDES,<br />

2005).<br />

3.2.1 Desenvolvimento X Sustentabilida<strong>de</strong><br />

Embora, muitos autores e pesquisadores não consigam ver a dissociação entre<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e sustentabilida<strong>de</strong>, é bom que se estabeleça entre essa dicotomia<br />

um espaçamento conceitual <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração e significado, argumentando-se que,<br />

não há sinonímia entre ambos, como pensam alguns, ou seja, há uma<br />

compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong>, jamais uma redundância ou espécie <strong>de</strong> pleonasmo forçado.<br />

(SILVA e MENDES, 2005; ULTRAMARI, 2003)<br />

O distanciamento conceitual está entre a eficiência e a eficácia outorgadas a um<br />

ou ao outro termo. Em outras palavras, a sustentabilida<strong>de</strong> está relacionada<br />

diretamente com o fim específico, o lugar on<strong>de</strong> se preten<strong>de</strong> chegar; já o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento é o mediador, aquele que po<strong>de</strong> dirigir-se ao foco <strong>de</strong> como se<br />

preten<strong>de</strong> chegar a algum lugar, a junção entre os dois termos se constrói e se faz<br />

visível a partir da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um conceito que abre o olhar sobre o que até então<br />

era invisível, impensável, quer seja, a sustentabilida<strong>de</strong>. (SILVA e MENDES, 2005;<br />

LEFF, 2001).<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento r<strong>em</strong>ete ao progresso, ao alcance <strong>de</strong> resultados, é a eficiência<br />

esperada, por ser mediador, por ser intermediário, por ser o aporte do resultado<br />

esperado e <strong>de</strong>sejado. Por esse requisito fundamentado, o <strong>de</strong>senvolvimento é <strong>de</strong><br />

uma incessante busca, não se po<strong>de</strong> abolir o progresso, ele é a adjetivação precisa<br />

do resultado positivo a ser alcançado. Como não se po<strong>de</strong> mais extinguir ou estancar<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento. Também é inadmissível falar hoje <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento s<strong>em</strong> se<br />

antecipando um compromisso <strong>de</strong> questionamento <strong>em</strong> relação ao do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento adotado pelos países<br />

industrializados e reproduzido pelas nações <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, e que reforçam os riscos do uso excessivo dos recursos<br />

naturais s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte dos ecos<strong>sist<strong>em</strong>a</strong>s. O relatório aponta para a incompatibilida<strong>de</strong> entre<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável e os padrões <strong>de</strong> <strong>produção</strong> e consumo vigentes.<br />

96


<strong>em</strong>eter à sustentabilida<strong>de</strong>, porém a busca do primeiro pelo segundo é uma<br />

constante, porque o t<strong>em</strong>po presente conclama um futuro sustentável; quando<br />

algumas ações o alcançam, um outro presente se faz visível e atuante. Portanto, a<br />

busca pela sustentabilida<strong>de</strong> é infinita. ( ULTRAMARI, 2003, p. 10 )<br />

Ainda que estejam presentes <strong>em</strong> uma dicotomia <strong>de</strong> valores, o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

a sustentabilida<strong>de</strong> se tornaram, atualmente, o mol<strong>de</strong> <strong>de</strong> um discurso universal, um<br />

não <strong>de</strong>ve se fazer presente s<strong>em</strong> o outro. No dizer <strong>de</strong> Leff (2001, p.17) já foram<br />

assinalados os limites da racionalida<strong>de</strong> econômica e os <strong>de</strong>safios da <strong>de</strong>gradação<br />

ambiental ao projeto civilizatório da humanida<strong>de</strong>. Rompe-se, portanto, o mo<strong>de</strong>lo<br />

tradicional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. A nova tendência exige uma postura <strong>de</strong> mudanças<br />

radicais <strong>em</strong> que os recursos naturais, a gestão <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos, os avanços e<br />

as diretrizes tecnológicas, b<strong>em</strong> como adaptações institucionais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> tornar<br />

concreto o atendimento eficaz e pleno das necessida<strong>de</strong>s do hoje –<br />

<strong>de</strong>senvolvimento – e do amanhã – sustentabilida<strong>de</strong>. (BRUNACCI e PHILIPPI Jr.<br />

2005 : 261) Po<strong>de</strong>-se, então, chegar a reflexão que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

visa o aprimoramento da condição <strong>de</strong> vida humana, sabendo que o incr<strong>em</strong>ento<br />

fornecido ou acrescentado hoje, - o <strong>de</strong>senvolvimento - não <strong>de</strong>ve ser o custo da<br />

<strong>de</strong>gradação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das gerações futuras – a sustentabilida<strong>de</strong>. (SILVA<br />

e MENDES, 2005).<br />

Portanto, o que mais fica evi<strong>de</strong>nciado nas discussões acima é a esfera <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> outorgada ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, ou seja, a inter-relação<br />

entre os dois termos, tomados pela dicotomia ora presente, não se limita apenas ao<br />

que e ao que produzir, mas se torna b<strong>em</strong> expressiva a preocupação do como,<br />

proposição esta, fundamental para a garantia da continuida<strong>de</strong> do b<strong>em</strong> maior:<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no planeta.<br />

A dimensão única do termo <strong>de</strong>senvolvimento sustentável inibe a divisão entre<br />

ambos, pois não t<strong>em</strong> sentido falar hoje <strong>de</strong> um, s<strong>em</strong> se reportar ao outro, pois se trata<br />

<strong>de</strong> um processo uno <strong>de</strong> transformação, contendo todas as variáveis - sociais,<br />

culturais, espaciais - <strong>de</strong> forma inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, no transcorrer do t<strong>em</strong>po. Na própria<br />

construção e transformação da socieda<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável po<strong>de</strong> ser<br />

visto como meio, quando se caracteriza como um processo <strong>em</strong> mutação; e ou como<br />

fim do processo <strong>de</strong> re<strong>produção</strong> do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>, quando caracteriza esse <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> e o<br />

<strong>de</strong>fine pela maneira como os recursos são utilizados para permitir a consolidação do<br />

96


<strong>de</strong>senvolvimento econômico. (BRESSER PEREIRA, 2003; SILVA e MENDES, 2005;<br />

ALMEIDA,2001).<br />

As duas óticas aqui referendadas são justificadas <strong>em</strong> importância, pois o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável se firma pela alteração dos processos (meios) e dos<br />

objetivos almejados (fins). (SILVA e MENDES, 2005)<br />

As dinâmicas ora propostas são contraditórias se comparadas ao processo <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização exposto pelo hom<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>porâneo, ou seja, o propalado exigido<br />

coloca <strong>em</strong> rota <strong>de</strong> colisão, <strong>de</strong> um lado, as ilimitadas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um mundo<br />

mo<strong>de</strong>rno construído com aval pela espécie humana e, <strong>de</strong> outro, as limitantes<br />

concretas <strong>de</strong> um mundo dado pela natureza. Tudo isso, porque por muito t<strong>em</strong>po se<br />

<strong>de</strong>senvolveu um mo<strong>de</strong>lo econômico centrado no uso massivo dos recursos naturais.<br />

(BECKER, 2001)<br />

3.2.2 Comunida<strong>de</strong> e Desenvolvimento Sustentável<br />

Falar <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável tornou-se o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio do século XXI.<br />

De um lado, imperou uma divulgação preconizada e fortalecida <strong>em</strong> nossa socieda<strong>de</strong>,<br />

principalmente <strong>de</strong>pois da ECO-92 4 , dando a este conceito a formatação <strong>de</strong> um<br />

discurso fácil, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo aparente <strong>de</strong> uma maioria, politicamente adotado e<br />

expandido <strong>em</strong> inúmeras causas; e através <strong>de</strong> outro viés, a mesma divulgação não<br />

ce<strong>de</strong>u espaço para que se avaliasse sua complexida<strong>de</strong> e aplicabilida<strong>de</strong>, visto pela<br />

própria dicotomia já ressaltada no capítulo anterior (ULTRAMARI,1997). Se o<br />

contexto atual t<strong>em</strong> albergado a difusão do termo, o entendimento do mesmo ainda é<br />

difícil consecução, pois a internalização do conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

ainda exige uma convocação extr<strong>em</strong>a <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong> para que a mesma se<br />

sinta co-responsável pela edificação <strong>de</strong>ste, <strong>de</strong> forma respaldada e operacional.<br />

4 Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, <strong>em</strong> 1992, que ficou conhecida como Rio-92 e se tornou o principal<br />

marco mediador <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong>cisivas para impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, como compromisso<br />

ratificado entre 178 nações, ficando consolidado o documento Agenda 21, que assim foi assim <strong>de</strong>nominado por ser o portavoz<br />

dos anseios ambientais para o século atual.<br />

96


Nesse sentido, um dos maiores <strong>de</strong>safios enfrentados para a incorporação do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, refere-se ao <strong>de</strong> territorialização, ou seja, pontuar<br />

especificamente a sustentabilida<strong>de</strong> ambiental e social do <strong>de</strong>senvolvimento – o<br />

“pensar globalmente, mas atuar localmente” – e concomitant<strong>em</strong>ente promover o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do território. Em outras palavras, possibilitar que as ativida<strong>de</strong>s<br />

produtivas possam contribuir efetivamente para o aperfeiçoamento das condições <strong>de</strong><br />

vida da população e venham a proteger o patrimônio natural a ser transmitido às<br />

gerações futuras. (GUIMARÂES 1998 apud DINIZ org. 2001; LEROY,1997)<br />

Em razão da discussão acima pontuada, t<strong>em</strong>-se verificado uma perspectiva <strong>em</strong><br />

estar visualisando a comunida<strong>de</strong> como território, ou ponto <strong>de</strong> partida, para a<br />

promoção do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, seguindo as especificações acima<br />

<strong>de</strong>scritas. Ao colocar <strong>em</strong> evidência a comunida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável,<br />

aposta-se na dinâmica microrregional, com suas caracterizações, particularida<strong>de</strong>s<br />

po<strong>de</strong>ndo neutralizar o paradigma <strong>de</strong> ações globais, e verificando que a interface<br />

local po<strong>de</strong> sim, r<strong>em</strong>eter ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, protegendo as<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida das gerações atuais e futuras e, por conseguinte, respeitar a<br />

integrida<strong>de</strong> dos <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>s naturais que permit<strong>em</strong> a existência <strong>de</strong> vida no planeta.<br />

(LEROY, 1997; GUIMARÃES apud VIANA, SILVA & DINIZ (org), 1998).<br />

Se o territorializar referenda um espaço <strong>de</strong> atuação, a comunida<strong>de</strong> enquadra-se<br />

neste projeto <strong>de</strong> promoção do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Falar <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> é,<br />

s<strong>em</strong> dúvida alguma, também uma referência conceitual <strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong> imprecisa.<br />

A idéia <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>, na maioria das vezes, é frequent<strong>em</strong>ente associada à<br />

uma configuração física espacial: é o bairro, o povoado, os moradores, o município<br />

ou mesmo uma sub-região. Como salienta Leroy (1998), quando se toma a<br />

comunida<strong>de</strong> como um espaço físico, ignoramos as diferenciações sociais, políticas,<br />

históricas, os conflitos e os interesses, portanto, para o mesmo autor este não seria<br />

uma contextualização precisa para a promoção do <strong>de</strong>senvolvimento, visto que uma<br />

ação baseada neste conceito levará provavelmente à paralisia ou à neutralização<br />

mútuas dos diferentes setores da socieda<strong>de</strong>, ou à prevalência dos setores mais<br />

forte econômica e/ou politicamente.<br />

Em outras palavras, para a construção <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável <strong>em</strong> um dado espaço territorial, exige-se que os diferentes setores e os<br />

diversos atores sociais se encontr<strong>em</strong>, dialogu<strong>em</strong>, negoci<strong>em</strong> e construam um<br />

território numa perspectiva sustentável e uniforme.<br />

96


Se a comunida<strong>de</strong> fica restrita <strong>em</strong> seu conceito pelo espaço físico, a comunida<strong>de</strong><br />

também po<strong>de</strong> ser vista pela diversida<strong>de</strong> cultural, étnica , religiosa e espacialmente<br />

construída. Segundo Leroy (1998), esses parâmetros dão a idéia <strong>de</strong> pertencimento,<br />

ou seja, a confluência com uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> individual e coletiva dos m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> um<br />

grupo. Essa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> surgir <strong>em</strong> função da forma como as pessoas se un<strong>em</strong><br />

para resolver probl<strong>em</strong>as ou <strong>de</strong>terminar ações, configurando uma ação participativa e<br />

adjetivada pelo comportamento que o grupo possui frente ao seu espaço, surg<strong>em</strong>,<br />

portanto, os atores sociais e sua convergência <strong>de</strong>ntro da comunida<strong>de</strong>.<br />

Falar <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> é também falar <strong>em</strong> território, portanto, há uma<br />

compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> entre o primeiro e o segundo conceito, pois é justamente no<br />

território, on<strong>de</strong> a convivência permite o conhecimento mútuo e possibilita a ação<br />

conjunta.<br />

Com base nos preceitos acima apresentados, é notório que o vocábulo<br />

comunida<strong>de</strong> é um conceito que <strong>de</strong> forma alguma é usado <strong>de</strong> modo claro, único e<br />

inequívoco na literatura científica. Ele é tanto um instrumento metodológico para a<br />

pesquisa, como objeto <strong>de</strong> investigação. Particularmente, na América latina a<br />

pesquisa <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>s é o tipo mais comum <strong>de</strong> pesquisa sociológica. Portanto,<br />

para se falar <strong>de</strong>las como um grupo específico, é necessário abstrair suas<br />

diversida<strong>de</strong>s e concentrar a atenção sobre aqueles aspectos que verda<strong>de</strong>iramente<br />

têm <strong>em</strong> comum. (STAVENHAGEN apud SZMRECSÁNYI & QUEDA 1979, p.26).<br />

Um tipo <strong>de</strong> abordag<strong>em</strong> muito comum acerca do mo<strong>de</strong>lo comunitário t<strong>em</strong> sido, <strong>de</strong><br />

modo particular, o que a toma pelos efeitos causados pela variação tecnológica e<br />

sua inferência nas questões ambientais, dando ênfase a projetos <strong>em</strong> que a<br />

referência são as áreas protegidas, regido pelas regras estabelecidas pela<br />

comunida<strong>de</strong> humana. É digno ressaltar, que o primeiro tipo <strong>de</strong> abordag<strong>em</strong><br />

usualmente leva a uma maior ênfase sobre a mudança interna à comunida<strong>de</strong>,<br />

enquanto a segunda orientação ten<strong>de</strong> a enfatizar fatores externos à mudança.<br />

(HOGAN apud TORRES & COSTA (ORG), 2005. P. 68; JORGE, apud RIBEIRO<br />

(ORG), 2004).<br />

É neste espaço restrito, <strong>em</strong> que o agir local e o pensar global conclamam para<br />

iniciativas profícuas e eficazes, e sendo pontuais po<strong>de</strong>m ser agentes multiplicadores<br />

da diss<strong>em</strong>inação e integralização do conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável para<br />

os atores sociais, que modificam e po<strong>de</strong>m qualificar suas ações no território on<strong>de</strong><br />

viv<strong>em</strong>.<br />

96


3.3 IMPACTOS AMBIENTAIS<br />

Uma vez ciente <strong>de</strong> que sua sobrevivência <strong>de</strong>pendia diretamente da sua corelação<br />

com a Natureza e os recursos por ela disponibilizados, o hom<strong>em</strong> veio, ao<br />

longo do t<strong>em</strong>po aumentando sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interferir no meio para satisfazer<br />

suas necessida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando <strong>de</strong>sta <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>tização muitos probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong><br />

razão do mau uso do espaço físico ou dos recursos disponíveis, provocando, <strong>de</strong>sta<br />

forma, sérios probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> impactos ambientais. (SILVA & VIANA, 2006; Philippi Jr,<br />

Romero, Bruna; 2004)<br />

A modificação se encerrava por algumas variáveis pertinentes a história e ao<br />

momento <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> ocupava o seu espaço e a sua trajetória <strong>de</strong> vida. Entre<br />

esses el<strong>em</strong>entos estavam a concentração populacional, o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado<br />

dos espaços físicos e a exploração <strong>de</strong>sregrada dos recursos naturais disponíveis,<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando impactos positivos ou negativos, como é caso da <strong>de</strong>gradação<br />

humana, a proliferação <strong>de</strong> doenças, concentração <strong>de</strong> renda, vetores biológicos,<br />

entre outros. (SILVA & VIANA, 2006; )<br />

O Impacto Ambiental <strong>de</strong>ve ser entendido como toda e qualquer alteração das<br />

proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e ou biológicas do meio ambiente <strong>em</strong> razão dos<br />

efeitos causados por matéria ou energia associada a ativida<strong>de</strong> humana, conforme<br />

estabelece a Resolução 01 do CONAMA 5 <strong>de</strong> 23.01.86.<br />

Alvarenga et. al. (2000), ressalta que um impacto ambiental t<strong>em</strong> ocorrência direta<br />

com alguma ativida<strong>de</strong> humana, ou seja, provém <strong>de</strong> ações que provocam alterações<br />

5 CONAMA - O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA é o órgão consultivo e <strong>de</strong>liberativo<br />

do Sist<strong>em</strong>a Nacional do Meio Ambiente-SISNAMA, foi instituído pela Lei 6.938/81, que dispõe sobre a<br />

Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto 99.274/90.<br />

O CONAMA é composto por Plenário, CIPAM, Câmaras Técnicas, Grupos <strong>de</strong> Trabalho e Grupos<br />

Assessores. O Conselho é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e sua Secretaria Executiva é<br />

exercida pelo Secretário-Executivo do MMA.<br />

O Conselho é um colegiado representativo <strong>de</strong> cinco setores, a saber: órgãos fe<strong>de</strong>rais, estaduais e<br />

municipais, setor <strong>em</strong>presarial e socieda<strong>de</strong> civil.<br />

96


no meio, <strong>em</strong> alguns ou <strong>em</strong> todos fatores componentes do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> ambiental. O<br />

mesmo autor justifica o estudo <strong>de</strong> impacto ambiental <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a investigação <strong>em</strong><br />

dois caminhos: a situação atual e a futura, <strong>de</strong>nominados respectivamente <strong>de</strong><br />

diagnóstico ambiental e prognóstico ambiental.<br />

Partindo do referido conceito e sendo observado o Impacto <strong>de</strong> suas ações no<br />

meio natural, po<strong>de</strong>-se então referendar o hom<strong>em</strong> como o principal agente<br />

transformador da natureza e dos seus recursos e portanto, torna-se o principal<br />

responsável pela revisão <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> comportamentos frente a utilização dos<br />

recursos naturais.<br />

O estudo <strong>de</strong> Impacto Ambiental não <strong>de</strong>ve apenas perpassar como um el<strong>em</strong>ento<br />

<strong>de</strong> pontuação espontânea <strong>de</strong> investigação, mas pela relevância dos dados<br />

apresentados, ele permite uma avaliação das conseqüências geradas pela<br />

intervenção antrópica no meio, ao passo que, <strong>em</strong> muitos momentos esta razão po<strong>de</strong><br />

ser irreversível face a limitação <strong>de</strong> recursos para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda crescente das<br />

cida<strong>de</strong>s, ou também por razão <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r por muitos anos uma única prática, s<strong>em</strong><br />

que tenha sido dado nenhum sinal <strong>de</strong> reversibilida<strong>de</strong> dos instrumentos ou<br />

procedimentos adotados, arrastando por muitas vezes um mo<strong>de</strong>lo produtivo erosivo<br />

para a manutenção da natureza e dos seus recursos. (SILVA & VIANA, 2006)<br />

O hom<strong>em</strong> do século XXI é um urbanita e vive <strong>em</strong> aglomerações cada vez<br />

maiores, o que <strong>de</strong>manda a utilização <strong>de</strong> recursos cada vez menos proporcional ao<br />

que a natureza dispõe e que, indiretamente, coaduna com a sobrevivência do<br />

hom<strong>em</strong> neste planeta, pelas necessida<strong>de</strong>s que por ele foram criadas ao longo do<br />

t<strong>em</strong>po (Philippi Jr, Romero, Bruna; 2004). Por sua vez, se não bastasse o consumo<br />

direto e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado no ambiente natural, há que se consi<strong>de</strong>rar <strong>em</strong> igual proporção<br />

a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduos, que retornam ao meio s<strong>em</strong> <strong>de</strong>stino a<strong>de</strong>quado ou<br />

reutilização correta.<br />

A questão ambiental, <strong>em</strong>bora seja palco <strong>de</strong> inúmeras referências e discussões, e<br />

a intervenção humana na natureza seja o principal agente <strong>de</strong> transformação do<br />

ambiente natural, e ainda que pese uma acentuada preocupação com o meio<br />

ambiente, é salutar dizer que, as pesquisas <strong>de</strong> impactos ambientais ainda são<br />

escassas no Brasil, exigindo uma preocupação mais específica sobre o t<strong>em</strong>a. A<br />

<strong>de</strong>gradação causada, apesar <strong>de</strong> ser vista, muitas vezes, <strong>de</strong> forma generalizada,<br />

afeta diretamente diversos <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>s e pela especificida<strong>de</strong> encontrada <strong>em</strong> cada um,<br />

96


é importante que sejam estudados individualmente. (Philippi Jr, Romero, Bruna;<br />

2004)<br />

As cida<strong>de</strong>s ou aglomerações urbanas, que inclu<strong>em</strong> os setores industrial,<br />

resi<strong>de</strong>ncial, comercial, <strong>de</strong> serviços públicos e <strong>de</strong> transporte, são organismos vivos e<br />

pulsantes e, como os próprios organismos humanos, necessitam <strong>de</strong> alimento, água<br />

e oxigênio, <strong>em</strong>itindo o processo <strong>de</strong> gás carbônico, entre outros, e produzindo<br />

resíduos. (Philippi Jr, Romero, Bruna; 2004)<br />

Essa perspectiva acima apresentada r<strong>em</strong>ete à gravida<strong>de</strong> acerca do Impacto<br />

Ambiental, aqui posto <strong>em</strong> discussão. Se o Impacto Ambiental é conseqüência<br />

imediata da intervenção do hom<strong>em</strong> no meio <strong>em</strong> que vive, gerando, conseqüente,<br />

novos ambientes – n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre os mais i<strong>de</strong>ais – como conviver com esta realida<strong>de</strong><br />

s<strong>em</strong> esgotar os recursos naturais disponíveis?<br />

Mo<strong>de</strong>los produtivos engendrados <strong>em</strong> posturas tradicionais, como é o caso do uso<br />

<strong>de</strong> agrotóxico, a monocultura, predação indireta <strong>de</strong> animais e da vegetação local,<br />

leva a necessida<strong>de</strong> atual <strong>de</strong> estudar com mais afinco a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns<br />

<strong>em</strong>preendimentos, que po<strong>de</strong>m a longo prazo comprometer a sustentabilida<strong>de</strong> do<br />

espaço que o dirige, das pessoas que <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> e do ambiente que o acolhe.<br />

(Philippi Jr, Romero, Bruna; 2004)<br />

3.3.1 – A sustentabilida<strong>de</strong> produtiva e os Impactos ambientais:<br />

um imperativo<br />

Com o passar do t<strong>em</strong>po, a humanida<strong>de</strong> se viu <strong>em</strong> uma gran<strong>de</strong> contradição do<br />

mundo mo<strong>de</strong>rno: cont<strong>em</strong>plar as necessida<strong>de</strong>s <strong>em</strong>ergenciais e transitórias do hom<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> bastante especulação consumista, ao passo que lhe era<br />

apresentada uma limitação <strong>de</strong> recursos, ou talvez, uma restrição na exploração dos<br />

insumos que até então lhe tinha sido facultada.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> expandia e intensificava o processo <strong>de</strong><br />

acumulação <strong>de</strong> riqueza e diversificação produtiva, ele mesmo se <strong>de</strong>parava com a<br />

eliminação sensível da biodiversida<strong>de</strong> natural, agora escassa e, portanto,<br />

merecedora <strong>de</strong> atenção diferenciada. Com a expansão e intensificação do padrão<br />

96


produtivo <strong>de</strong>predador da natureza e <strong>de</strong> seus recursos, logo ficou <strong>em</strong> evi<strong>de</strong>ncia suas<br />

disfunções. (BEKER, 2001)<br />

Já que os impactos como ressalvados por Alvarenga et. al (2000) <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

tomados como uma responsabilida<strong>de</strong> antrópica no meio, cabe portanto uma outra<br />

discussão mais pontual a qu<strong>em</strong> seria dada a outorga <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as ambientais<br />

causados por uma intervenção fora da homogeneização preterida pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Cabe portanto, suscitar os atores sociais, no presente estudo, no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>produção</strong> familiar como agente prepon<strong>de</strong>rante para reversibilida<strong>de</strong> das práticas<br />

inclusas nos mo<strong>de</strong>los produtivos <strong>em</strong>pregados (diversificação produtiva, lógica <strong>de</strong><br />

subsistência, nível <strong>de</strong> esclarecimento), tomando sua forma <strong>de</strong> relacionar com a<br />

natureza, tendo ou não as condições <strong>de</strong> se realizar a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

erosivo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> para uma base sustentável <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. (GÓMEZ apud<br />

BECKER, 2001, p. 95).<br />

Por longos anos, o mo<strong>de</strong>lo produtivo vigente no Brasil v<strong>em</strong> assentando <strong>em</strong><br />

mol<strong>de</strong>s erosivos do ecos<strong>sist<strong>em</strong>a</strong> e centrado <strong>em</strong> altas taxas <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>. O que<br />

se clama hoje, é por um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que tenha como objetivo<br />

central não somente a produtivida<strong>de</strong>, como meio <strong>de</strong> atendimento às necessida<strong>de</strong>s<br />

humanas, mas sobretudo que seja orientado a resgatar a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> alimentos,<br />

fibras, serviços, produtos preservando os agroecossit<strong>em</strong>as a fim <strong>de</strong> combinar<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e sustentabilida<strong>de</strong>. Em outras palavras, é preciso que coadune<br />

agricultura, <strong>produção</strong> e as diversas relações <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre<br />

produtivida<strong>de</strong>, consumo <strong>de</strong> energia, fauna, solos, florestas e seres humanos.<br />

(CAPRA, 1996, GÓMEZ apud BECKER, 2001, p. 95).<br />

Ainda que se postul<strong>em</strong> os atores sociais como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> supr<strong>em</strong>acia para<br />

melhoramento no uso dos recursos naturais, há que se consi<strong>de</strong>rar também que a<br />

situação atual <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração dos recursos não resulta apenas dos setores<br />

individuais da socieda<strong>de</strong>, e sim do fracasso do mercado <strong>em</strong> fornecer os índices<br />

a<strong>de</strong>quados para o acionamento correto dos agentes econômicos e fiscalizadores,<br />

b<strong>em</strong> como da ineficiência do Estado <strong>em</strong> programar intervenções que corrijam ou<br />

vigi<strong>em</strong> as situações <strong>de</strong> comprometimento do uso ina<strong>de</strong>quado do meio ambiente e<br />

dos seus recursos. (TRIGO, 1994)<br />

Há ainda que se consi<strong>de</strong>rar que para algumas correntes teóricas, o mercado<br />

po<strong>de</strong>ria ser um agente catalisador das referências erosivas do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>produção</strong><br />

96


vigente. Porém, centrados na mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>produção</strong> vigente, on<strong>de</strong> o preço é um<br />

agente regulador da lei <strong>de</strong> oferta e <strong>de</strong> procura, fundamento básico da economia<br />

clássica, que vê disponibilida<strong>de</strong> infinita <strong>de</strong> recursos e quando escassos o aumento<br />

do preço não centra <strong>em</strong> questões ambientais como el<strong>em</strong>ento regulador <strong>de</strong> política, o<br />

que além <strong>de</strong> comprometer o equilíbrio ambiental ameaça também a sustentabilida<strong>de</strong><br />

do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>. (GÓMEZ apud BECKER, 2001, p. 102).<br />

A questão que ora se conclama está no <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> preservar a natureza,<br />

enten<strong>de</strong>ndo que a redução dos <strong>de</strong>sgastes ambientais, não po<strong>de</strong> se limitar a um<br />

simples custo <strong>de</strong> reposição dos meios subtraídos, ou tentar estimar preços para<br />

avaliar <strong>em</strong> caráter <strong>de</strong> sondag<strong>em</strong> o que estimativamente po<strong>de</strong>ria ser alocado, uma<br />

vez que se trata <strong>de</strong> estragos nos mecanismos que asseguram a perpetuação da<br />

biosfera. O fim <strong>de</strong> uma floresta, <strong>de</strong> um mar, ou <strong>de</strong> uma espécie não é apenas o<br />

<strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> um eventual valor mercantil, mas, sobretudo, o fim <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminadas funções <strong>em</strong> um meio natural, comprometendo, <strong>de</strong>ssa forma a<br />

interação sistêmica que <strong>de</strong>ve existir entre todos os componentes do meio. (VEIGA,<br />

1994)<br />

3.3.2 – Mo<strong>de</strong>los produtivos<br />

Centrado <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>produção</strong> que visam o aumento da produtivida<strong>de</strong>, o<br />

<strong>de</strong>serto ver<strong>de</strong>, assim <strong>de</strong>nominado por alguns pesquisadores, <strong>de</strong>riva do fato <strong>de</strong> se<br />

comprometer a cobertura vegetal por uma única espécie – monocultura - mas s<strong>em</strong><br />

se ater para o comprometimento do solo com a implantação <strong>de</strong>ste e não <strong>de</strong> outro<br />

<strong>sist<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>produção</strong>, que primando pela combinação biológica, busca-se a<br />

preservação <strong>de</strong> várias espécies, maiores e menores.<br />

Quando se <strong>de</strong>rruba vastas extensões <strong>de</strong> terra uma gran<strong>de</strong> área ce<strong>de</strong> lugar a<br />

um mo<strong>de</strong>lo produtivo <strong>de</strong> exclusão, ou seja, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenas a gran<strong>de</strong>s espécies,<br />

ficam gran<strong>de</strong>s lacunas no abrigo natural, não lhe sendo ofertados a recuperação<br />

imediata ou retorno ao equilíbrio original. Dificilmente consegu<strong>em</strong> se reproduzir,<br />

invadindo áreas urbanas e tornando presas fáceis para gran<strong>de</strong>s predadores. Outro<br />

efeito é o esgotamento do solo: na maioria das colheitas retira-se a planta toda,<br />

interrompendo <strong>de</strong>sta maneira o processo natural <strong>de</strong> reciclag<strong>em</strong> dos nutrientes . O<br />

96


solo torna-se <strong>em</strong>pobrecido, diminui a produtivida<strong>de</strong> tornando-se necessária então a<br />

aplicação <strong>de</strong> adubos.<br />

O avanço da espécie humana no <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> produtivo, que prima pela<br />

quantida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> olhar para as questões ambientais, funda-se na <strong>de</strong>struição das<br />

florestas e no comprometimento do equilibrio natural.<br />

3.3.3 – Trabalho e aspecto operacional<br />

Por muito t<strong>em</strong>po o trabalho era visto como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> integração e <strong>de</strong><br />

transformação do hom<strong>em</strong> no meio <strong>em</strong> que vive. O <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho humano no trabalho<br />

<strong>em</strong> algumas instâncias foi <strong>de</strong>marcado historicamente pelo aspecto quantitativo, ou<br />

seja, a produtivida<strong>de</strong> era vista como el<strong>em</strong>ento métrico da eficiência (AMARU, 2002),<br />

ou ainda como uma ativida<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nada, <strong>de</strong> caráter físico ou intelectual,<br />

necessária á realização <strong>de</strong> qualquer tarefa, serviço ou <strong>em</strong>preendimento (BARBOSA<br />

FILHO, 2001).<br />

Na socieda<strong>de</strong> cont<strong>em</strong>porânea outros valores subjetivos têm norteado o<br />

trabalho <strong>em</strong> outras instâncias. O verda<strong>de</strong>iro valor do trabalho, enquanto agente <strong>de</strong><br />

transformação e <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, ainda que quantitativamente solicitada, <strong>em</strong>erge<br />

<strong>em</strong> outros el<strong>em</strong>entos mais subjetivos, como a competência, a habilida<strong>de</strong> e a atitu<strong>de</strong>,<br />

el<strong>em</strong>entos norteadores da gestão <strong>de</strong> pessoas postulada para <strong>em</strong>preendimentos que<br />

apostam na estratégia como fundamentação dos seus esforços (ARAUJO, 2006).<br />

Além dos el<strong>em</strong>entos que circundam a Administração Estratégica, postula-se<br />

que o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho humano no trabalho, <strong>de</strong> maneira or<strong>de</strong>nada, precisa ser vista pelo<br />

prisma do ambiente que o alberga, ou seja, as condições físicas perpassam,<br />

atualmente, como el<strong>em</strong>ento métrico <strong>de</strong> avaliação mediadora do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />

humano no trabalho, surgindo portanto, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar a a<strong>de</strong>quação das<br />

condições <strong>de</strong> trabalho e quais as consequencias danosas sobre a saú<strong>de</strong> individual,<br />

familiar e coletiva e, por que não dizer sobre a própria organização. (BARBOSA<br />

FILHO, 2001)<br />

Há que se consi<strong>de</strong>rar, portanto, que todas as ações que <strong>de</strong>terminam a nossa<br />

sobrevivência, realizadas voluntária ou involuntariamente por nosso corpo,<br />

traduz<strong>em</strong>-se como trabalho. (OMS apud BARBOSA FILHO, 2001)<br />

Retomando a discussão sobre o trabalho e sua importância BARBOSA FILHO<br />

(2001), chama atenção para el<strong>em</strong>entos essenciais que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> pontuar as condições<br />

96


<strong>de</strong> trabalho seguras para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>, seriam elas:<br />

segurança, higiene física, higiene mental, saú<strong>de</strong> ocupacional.<br />

Respeitar as condições <strong>de</strong> trabalho é tratar do respeito ao meio <strong>em</strong> que o<br />

indivíduo executa suas práticas profissionais, ou seja, <strong>em</strong> uma primeira or<strong>de</strong>m<br />

permitir pela compreensão dos mecanismos adotados a observação ou prevenção<br />

dos prováveis impactos que po<strong>de</strong>m ser ocasionados pela execução incorreta <strong>de</strong> um<br />

trabalho. (BARBOSA FILHO, 2001)<br />

Na realização <strong>de</strong> um trabalho, todo indivíduo ou toda coletivida<strong>de</strong>, estão<br />

expostos ao risco ou aos perigos <strong>em</strong>inentes da ação executada. Porém, o risco é o<br />

perigo r<strong>em</strong>ediado pela prevenção, pela probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento. Já o perigo<br />

se faz presente, quando as causas ou as consequências que o norteiam é<br />

<strong>de</strong>sconhecida para o agente executor.<br />

O uso <strong>de</strong> EPIs, normatizado pelo Ministério do Trabalho, <strong>em</strong> sua NR 6, induz<br />

pela obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu uso, nortear a execução do trabalho a ser realizado,<br />

como também <strong>de</strong>terminar que a ação voluntária ou involuntária, não venha a ser<br />

causadora <strong>de</strong> impactos negativos na execução das mesmas.<br />

Os riscos a que estarão expostos o indivíduo <strong>em</strong> seu trabalho estão classificados<br />

<strong>em</strong> alguns grupos, entre eles os químicos, os biológicos, os físicos, os aci<strong>de</strong>ntais e<br />

os ergonômicos. (BATISTA, 1974)<br />

Além dos riscos acima citados, o indivíduo ou uma coletivida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m estar<br />

expostos a outros riscos, como é o caso dos ruídos. O som po<strong>de</strong>, por diversas<br />

situações nos encaminhar a agradáveis sensações, porém quando o mesmo<br />

assume um caráter in<strong>de</strong>sejável, geralmente <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> ruídos, afetam o<br />

hom<strong>em</strong> nos planos físicos, <strong>em</strong>ocional, psicológico, gastrointestinal,<br />

cardiocirculatórias, neuropsíquica, habilida<strong>de</strong> e social, esta acrescenta-se as<br />

constantes dificulda<strong>de</strong>s introduzidas na comunicação entre pessoas provocadas por<br />

ruídos oriundos <strong>de</strong> diversas fontes. (BARBOSA FILHO, 2001)<br />

A exposição do hom<strong>em</strong> ao meio faz com que o mesmo s<strong>em</strong>pre busque manter<br />

com o espaço físico uma t<strong>em</strong>peratura que seja agradável a sua permanência. Muitos<br />

outorgam a ambiência favorável ao clima somente às condições física do meio,<br />

porém além <strong>de</strong>stas há que se consi<strong>de</strong>rar também, o esforço físico <strong>de</strong>sprendido pela<br />

execução <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong>. (COUTINHO, 1998).<br />

96


3.3.4 Avaliação <strong>de</strong> Impactos Ambientais<br />

Muitos <strong>em</strong>preendimentos têm promovido ativida<strong>de</strong>s econômicas que<br />

interfer<strong>em</strong> no meio ambiente, s<strong>em</strong> que possuam licenciamento ambiental para<br />

execução das mesmas.<br />

Segundo Ribeiro (apud Philippi Jr 2004, p. 761), a avaliação <strong>de</strong> IA <strong>de</strong>ve ser<br />

vista como parte integrante do planejamento ambiental. Segundo Cendrero 1982<br />

(apud Ribeiro, 2004), o planejamento ambiental ou territorial é <strong>de</strong>finido, <strong>de</strong> forma<br />

ampla e generalizada, como:<br />

...uma ativida<strong>de</strong> intelectual pela qual se analisam os fatores físico-naturais,<br />

econômicos, sociais e políticos <strong>de</strong> uma zona (um país, uma região, uma<br />

província, um município etc.) e se estabelec<strong>em</strong> as formas <strong>de</strong> uso que<br />

consi<strong>de</strong>ram a<strong>de</strong>quadas para ela, <strong>de</strong>finindo sua amplitu<strong>de</strong> e localização e<br />

fazendo recomendações sobre as normas que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> regulamentar o uso do<br />

território e <strong>de</strong> seus recursos na área consi<strong>de</strong>rada.<br />

Embora a Avaliação <strong>de</strong> Impacto Ambiental (AIA) não seja um procedimento<br />

uniforme no Brasil, compreen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os pequenos, os médios e gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>em</strong>preendimentos, tal instrumento <strong>de</strong> mensuração é consi<strong>de</strong>rado como um dos mais<br />

importantes para a proteção dos recursos ambientais (Braga et. al. 2002, p. 239).<br />

Como visto, anteriormente, no recorte da Legislação brasileira, entre as obras e<br />

ativida<strong>de</strong>s enumeradas pela respectiva legislação estão, incisivamente, todos<br />

aqueles consi<strong>de</strong>rados modificadores do meio ambiente, além <strong>de</strong>sses encontram-se<br />

os projetos urbanísticos acima <strong>de</strong> 100 ha ou áreas consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> importância<br />

ambiental a critério do IBAMA ou dos órgãos municipais e estaduais competentes,<br />

os distritos industriais e zonas estritamente industriais.<br />

São várias as metodologias que po<strong>de</strong>m ser <strong>em</strong>pregadas <strong>em</strong> uma Avaliação<br />

<strong>de</strong> Impacto Ambiental. Escolher a que t<strong>em</strong> melhor metodologia, consiste <strong>em</strong> <strong>de</strong>finir<br />

procedimentos lógicos, técnicos e operacionais capazes <strong>de</strong> permitir que o processo<br />

<strong>em</strong> questão seja completado. Cunha e Guerra (2000, p. 93). Em outras palavras,<br />

não existe métodos infalíveis ou <strong>de</strong>masiadamente completos, mas há o caminho que<br />

melhor se a<strong>de</strong>qua aos objetivos preteridos pela pesquisa (Fachini e Sant`Anna 2004<br />

), cabe a comissão ou ao técnico responsável ter a <strong>de</strong>streza necessária para se<br />

96


apropriar do melhor instrumento, propício a melhor quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> da<br />

informações a ser obtida.<br />

Como também a combinação entre métodos, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> fundamental<br />

importância no <strong>de</strong>senvolver do trabalho <strong>de</strong> AIA, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o objetivo final seja<br />

alcançar um resultado com menor conflito <strong>de</strong> interesses para os segmentos<br />

participantes, b<strong>em</strong> como não seja redundante auferir informações e dados<br />

<strong>de</strong>snecessários no processo.<br />

Entre os métodos <strong>de</strong> AIA encontra-se a matriz <strong>de</strong> interação, que pela<br />

interseção entre as ações e os impactos oriundos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong>.<br />

Po<strong>de</strong>-se avaliar os efeitos negativos e positivos que porventura tenha o<br />

<strong>em</strong>preendimento na alocação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado espaço físico. Po<strong>de</strong>-se, também,<br />

pelo mesmo instrumento, através <strong>de</strong> legenda, <strong>de</strong>terminas a área <strong>de</strong> influência do<br />

impacto <strong>em</strong> questão. A incidência dos impactos ambientais po<strong>de</strong> ser direta e<br />

indireta, cabendo também a matriz a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar esta avaliação.<br />

(CUNHA E GUERRA 2000; BRAGA et.al. 2002)<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se, também, neste instrumento a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar pontuando a<br />

incidência e a intensida<strong>de</strong> do impacto observado. Além do que, possibilita pelo<br />

estudo da reversibilida<strong>de</strong>, vê se há recuperação ou reversão <strong>de</strong> práticas,<br />

favorecendo ajustes <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po que diminua a ação erosiva no meio. Da relevância<br />

e magnitu<strong>de</strong> do impacto estudado, t<strong>em</strong>os a extensão clara do comprometimento da<br />

prevalência do impacto no espaço físico estudado. (CUNHA E GUERRA 2000;<br />

BRAGA et.al. 2002)<br />

O estudo <strong>de</strong> Impactos Ambientais no Brasil ainda se encontra muito restrito. A<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> do licenciamento ambiental ainda não apresenta um uso pontuado e<br />

exigido das esferas pública. Porém, enquanto, instrumento, a matriz <strong>de</strong> interação foi<br />

utilizada <strong>em</strong> dois <strong>em</strong>preendimentos significativos, o aeroporto <strong>de</strong> Londrina (PR) e a<br />

transposição do Rio São Francisco.<br />

Quanto ao aeroporto <strong>de</strong> Londrina (FACHINI e SANT`ANNA 2004), a matriz<br />

<strong>de</strong> interação <strong>em</strong> conjunto com a RIMA possibilitou um diagnóstico crítico,<br />

principalmente, sendo os aeroportos hoje um tipo <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimento que <strong>de</strong>manda<br />

infra-estrutura e <strong>de</strong>ve ser estabelecido com critério <strong>de</strong> muita precisão, por se tratar<br />

<strong>de</strong> um serviço público que visa a segurança dos usuários, mas também <strong>de</strong>ve prestar<br />

o mesmo cuidado as regiões circunvizinhas que converg<strong>em</strong> indiretamente para este<br />

tipo <strong>de</strong> construção. Além do que, os aeroportos converg<strong>em</strong> um foco <strong>de</strong><br />

96


<strong>de</strong>senvolvimento urbano, alterando condições ambientais e sócio-econômicas préexistentes.<br />

A transposição do Rio São Francisco t<strong>em</strong> causado divergências <strong>em</strong> diversos<br />

segmentos sociais, há qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>fenda e há qu<strong>em</strong> a con<strong>de</strong>ne. O Ministério da<br />

Integração Nacional, visando dirimir os impactos consensuais, fez recent<strong>em</strong>ente um<br />

estudo com auxílio <strong>de</strong> matriz <strong>de</strong> interação. Disposto <strong>em</strong> uma linguag<strong>em</strong> bastante<br />

enriquecida <strong>de</strong> dados, o relatório passou a ser um instrumento <strong>de</strong> relevância para o<br />

presente estudo e à disposição para a comunida<strong>de</strong>, permite que pelas informações<br />

obtidas, possa a socieda<strong>de</strong> ter o seu posicionamento fundamentado. (MIN, 2004).<br />

96


3.4 Casas <strong>de</strong> Farinha: Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> beneficiamento da mandioca<br />

3.4.1 A mandioca<br />

96<br />

“São as mandiocas, cultivadas por suas raízes<br />

ou tubérculos feculentos, que fornec<strong>em</strong> a importantíssima<br />

<strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mesa, o pão do Brasil.”<br />

(ZEHNTNER APUD CONCEIÇÃO, 1981)<br />

A essência capitalista s<strong>em</strong>pre foi fortalecida nos preâmbulos da história pelo<br />

mérito produtivo. Produzir, como via <strong>de</strong> regra, s<strong>em</strong>pre contextualizou a adjetivação<br />

precisa para expansão e consolidação <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo econômico.<br />

Ainda que não compactuasse diretamente com a expansão e fortalecimento do<br />

<strong>sist<strong>em</strong>a</strong> capitalista, foram os índios que diss<strong>em</strong>inaram alguns procedimentos<br />

produtivos <strong>em</strong> nossa cultura. As <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>sta intervenção<br />

(CONCEIÇÃO, 1981)<br />

A orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste <strong>em</strong>preendimento r<strong>em</strong>onta o cultivo da matéria-prima utilizada<br />

para fabricação <strong>de</strong> seus produtos: a mandioca. Seu nome t<strong>em</strong> uma particularida<strong>de</strong><br />

curiosa, batizada pelos índios, sua etimologia v<strong>em</strong> <strong>de</strong> Mandi (o nome da criança) e<br />

oca (casa do índio). Planta da família Eufrobiáceas, teve orig<strong>em</strong> no continente<br />

americano. O tubérculo foi <strong>de</strong>scoberto, cultivado e aproveitado pelos índios Tapuias<br />

e pelos Tupi-guaranis, que provavelmente partiram da bacia do Tapajós, afluente do<br />

Amazonas, dispersaram por intensas áreas do Litoral e Sul do Brasil e se <strong>de</strong>dicaram<br />

a cultura da mandioca, <strong>em</strong> plantações, por eles <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> mandiotuba.<br />

(Conceição 1981; RIBEIRO,1995)<br />

A utilização <strong>de</strong>sta planta é antiga. Na alimentação, foi introduzida pelos índios<br />

e <strong>de</strong>pois os portugueses, que aqui chegaram, difundiram-na <strong>em</strong> outros continentes.<br />

Segundo Conceição (1981), a mandioca <strong>em</strong>igrou, após o <strong>de</strong>scobrimento da<br />

América, para África e Ásia, on<strong>de</strong> constitui hoje extensas áreas <strong>de</strong> cultivo. Em toda a<br />

América Central, incluindo o México e as Antilhas, a cultura é explorada com vistas à


alimentação e à indústria. Na América do Sul, a cultura se difundiu por todos os<br />

países; na África é extensa a faixa <strong>de</strong> cultivo da mandioca; na Ásia <strong>de</strong>stacam-se a<br />

Tailândia e a Indonésia e <strong>em</strong> outros trechos territoriais ela também se faz presente,<br />

porém <strong>em</strong> menor proporção, seja pelo aspecto experimental, comercial ou <strong>de</strong><br />

pesquisa (Conceição, 1981; ABAM,2007).<br />

As razões <strong>de</strong>ssa difusão se <strong>de</strong>v<strong>em</strong>, principalmente, a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

adaptação a diferentes condições <strong>de</strong> clima e solo, à facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cultivo, ao seu<br />

rendimento, ao seu alto índice <strong>de</strong> regeneração e às variadas formas <strong>de</strong> utilização,<br />

colocando-se como principal planta <strong>de</strong> subsistência.<br />

“Não fosse o <strong>de</strong>scaso <strong>de</strong> que foi vítima durante séculos <strong>de</strong> exploração <strong>em</strong><br />

nosso meio – <strong>de</strong>vido principalmente ao seu tradicionalismo como cultura do<br />

hom<strong>em</strong> rural – por certo contaria hoje com dados <strong>de</strong> pesquisa que<br />

subsidiariam o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>produção</strong> racionais, baseados<br />

na alta produtivida<strong>de</strong>.” (CONCEIÇÂO, 1981, p. 123)<br />

A mandioca s<strong>em</strong>pre esteve presente <strong>em</strong> vários capítulos da história brasileira,<br />

cultivada praticamente por micro e pequenos produtores, <strong>em</strong> estabelecimentos <strong>de</strong><br />

100 hectares e <strong>de</strong>stinada ao consumo humano, animal e industrial (Montaldo 1991<br />

apud Rocha e Cerqueira 2006). Este tubérculo constitui a principal fonte <strong>de</strong><br />

carboidratos para uma população mundial <strong>de</strong> aproximadamente 500 milhões <strong>de</strong><br />

pessoas, consumida principalmente <strong>em</strong> países <strong>em</strong> vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento situados<br />

nos trópicos (COOPASUB, 2004).<br />

Estatisticamente (Buitrago, 1990), 65% da <strong>produção</strong> mundial <strong>de</strong> mandioca é<br />

<strong>de</strong>stinada ao consumo humano, isso levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a sua forma in natura<br />

quanto as suas feições <strong>de</strong>rivadas. Entre os produtos agrícolas é o mais calórico,<br />

<strong>de</strong>ixando para trás o arroz, o milho e a cana-<strong>de</strong>-açúcar.<br />

Além <strong>de</strong> se fazer presente no consumo humano, a mandioca t<strong>em</strong> a<br />

versatilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser utilizada na alimentação animal, além <strong>de</strong> ser alternativa<br />

para o uso <strong>de</strong> forragens, silag<strong>em</strong> ou ração balanceada industrial.<br />

Segundo a ABAM 6 , atualmente a mandioca é cultivada <strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 180<br />

países, <strong>de</strong>stacando-se o continente Africano e países da América Latina, entre eles<br />

está o Brasil, ocupando o segundo lugar da <strong>produção</strong> mundial, estimada <strong>em</strong> 20<br />

milhões <strong>de</strong> toneladas por hectare.<br />

6 ABAM – Associação Brasileira dos Produtores <strong>de</strong> Amido <strong>de</strong> Mandioca<br />

96


Em território Nacional, <strong>de</strong>staca-se o Estado da Bahia, como o segundo maior<br />

produtor <strong>de</strong> mandioca, com <strong>produção</strong> <strong>de</strong> 3,9 milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>em</strong> 2003,<br />

per<strong>de</strong>ndo apenas para o Estado do Pará com 4,47 milhões <strong>de</strong> toneladas. A Região<br />

Sudoeste da Bahia é <strong>de</strong>staque no cenário <strong>de</strong> <strong>produção</strong> estadual, responsável por<br />

9% <strong>de</strong>ssa <strong>produção</strong> que equivale a aproximadamente 350 mil toneladas (IBGE,<br />

2005). Em 1999 esta cultura foi a maior contribuinte do PIB do agronegócio da<br />

Bahia, com participação <strong>de</strong> 8,43 do total (SEAGRI, 2003).<br />

A região Sudoeste do Estado da Bahia aglomera uma <strong>produção</strong> significativa<br />

<strong>de</strong> mandioca, o que diretamente inci<strong>de</strong> também na cultura e na manutenção do<br />

<strong>em</strong>preendimento <strong>de</strong>nominado Casa <strong>de</strong> Farinha na região, <strong>de</strong>stacando-se o<br />

município <strong>de</strong> Cândido Sales, conforme <strong>de</strong>talhamento na Tabela 1. Atualmente, além<br />

da <strong>farinha</strong> tradicional, essas unida<strong>de</strong>s agroindustriais respon<strong>de</strong>m também pela<br />

matéria-prima utilizada <strong>em</strong> outras ca<strong>de</strong>ias produtivas, como é o caso da goma, da<br />

tapioca que são utilizadas na fabricação <strong>de</strong> biscoito. (SEAGRI, 2006 /SEAB, 1998)<br />

Tabela 1 – Produção <strong>de</strong> Mandioca na Região Sudoeste da Bahia<br />

Municípios Produção (t) Produtivida<strong>de</strong> (kg/ha) Área plantada (ha) Valor <strong>produção</strong><br />

Anagé 5.400 12.000 450 864<br />

Barra do Choça 1.560 12.000 130 234<br />

Belo Campo 25.200 12.000 2.100 3.654<br />

Cândido Sales 240.000 12.000 20.000 39.600<br />

Caraíbas 2.400 12.000 200 396<br />

Con<strong>de</strong>úba 10.800 12.000 900 1.836<br />

Encruzilhada 11.400 12.000 950 1.938<br />

Piripá 2.520 12.000 210 441<br />

Planalto 1.800 12.000 150 450<br />

Poções 2.400 12.000 200 600<br />

Ribeirão do Largo 5.160 12.000 430 903<br />

Tr<strong>em</strong>edal 14.280 12.000 1.190 2.428<br />

Vitória da Conquista 24.000 12.000 2.000 4.200<br />

TOTAL 346.920 - 28.910 57.544<br />

(mil reais)<br />

Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Ca<strong>de</strong>ia Produtiva da Mandioca na<br />

Região <strong>de</strong> Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)<br />

96


Porém, há que se consi<strong>de</strong>rar, que mesmo sendo enaltecida pela sua<br />

importância econômica para o Estado da Bahia, a ca<strong>de</strong>ia produtiva dos <strong>de</strong>rivados da<br />

mandioca enfrenta vários e sérios probl<strong>em</strong>as, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a esfera estadual,<br />

pontuando algumas regiões específica, como é o caso <strong>de</strong> Vitória da Conquista, on<strong>de</strong><br />

a mandiocultura ou as unida<strong>de</strong>s farinhieras são <strong>de</strong>senvolvidas por pequenos<br />

produtores, <strong>de</strong>scapitalizados, com acesso difícil ao financiamento e assistência<br />

técnica e que utilizam, massissamente, procedimentos tradicionais <strong>de</strong> cultivo ou <strong>de</strong><br />

<strong>produção</strong>, e que pela limitação <strong>de</strong> expansão é extr<strong>em</strong>amente reduzida se<br />

consi<strong>de</strong>rada a potencialida<strong>de</strong> que a cultura po<strong>de</strong>ria ter se fosse <strong>de</strong>vidamente<br />

<strong>sist<strong>em</strong>a</strong>tizado o seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho, ou sua efetiva alocação no espaço (ROCHA E<br />

CERQUEIRA 2006).<br />

Por essas e outras razões exist<strong>em</strong> sérios probl<strong>em</strong>as ambientais resultantes<br />

do <strong>de</strong>sgaste do solo, da <strong>de</strong>rrubada da mata nativa, da queima da lenha durante o<br />

beneficiamento da mandioca nas Casas <strong>de</strong> Farinha e da falta <strong>de</strong> gerenciamento e<br />

tratamento a<strong>de</strong>quados aos resíduos (ROCHA E CERQUEIRA 2006)<br />

Dentre os resíduos líquidos da mandioca consta a manipueira que <strong>em</strong> tupigarani<br />

quer dizer “o que brota da mandioca” (GRAVATA apud ROCHA E<br />

CERQUEIRA 2006). Entre tantas outras <strong>de</strong>mandas, a manipueira é um gran<strong>de</strong><br />

probl<strong>em</strong>a a ser revolvido quando da implantação das fecularias ou das Casas <strong>de</strong><br />

Farinha, principalmente tratando da poluição ambiental que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia o<br />

comprometimento <strong>de</strong> reservas ou mananciais <strong>de</strong> água doce, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> uso <strong>de</strong><br />

tecnologias inferiores, que compromet<strong>em</strong> o ambiente no qual estão inseridas. Uma<br />

tonelada <strong>de</strong> mandioca produz cerca <strong>de</strong> 300l <strong>de</strong> manipueira que, quando liberada<br />

livr<strong>em</strong>ente no espaço físico natural, formam verda<strong>de</strong>iros lagos, com <strong>em</strong>inência <strong>de</strong><br />

odores e aspectos físicos negativo. Comparativamente, tal ação equivale à poluição<br />

causada por uma população entre 150 a 250 pessoas. O escoamento <strong>de</strong>ste resíduo<br />

líquido po<strong>de</strong> trazer probl<strong>em</strong>as sérios <strong>de</strong> poluição dos rios e/ou mananciais. Por esta<br />

razão as indústrias <strong>de</strong> fecularia são consi<strong>de</strong>radas altamente poluidoras e uso <strong>de</strong><br />

tecnologias inferiores não a dirim<strong>em</strong> do impacto ambiental causado por estas.<br />

(ROCHA E CERQUEIRA 2006; FIORETTO, 1985).<br />

O resíduo líquido que sai da mandioca po<strong>de</strong> ser composto <strong>de</strong> 60% <strong>de</strong> água.<br />

Porém, no momento <strong>de</strong> prensag<strong>em</strong> ou cevação, po<strong>de</strong>-se eliminar 20 a 30% <strong>de</strong>sta<br />

água. Quando retirado, o líquido oriunda <strong>de</strong> pressão recebe o nome <strong>de</strong> manipueira,<br />

96


líquido <strong>de</strong> aspecto leitoso, composto <strong>de</strong> proteínas, glicose, restos <strong>de</strong> célula, mas<br />

principalmente do ácido cianídrico. Do ponto <strong>de</strong> vista sanitário, o lançamento direto<br />

<strong>de</strong>ste resíduo na natureza, po<strong>de</strong> acarretar danos <strong>de</strong> alta magnitu<strong>de</strong> ao ambiente ,<br />

pois é consi<strong>de</strong>rado como um dos mais violentos venenos conhecidos, é comparado<br />

ao esgoto doméstico quanto ao consumo <strong>de</strong> oxigênio dos cursos d`água. A sua<br />

infiltração no solo po<strong>de</strong> comprometer a qualida<strong>de</strong> dos lençóis freáticos (FIORETTO,<br />

1897).<br />

O plantio da mandioca <strong>em</strong> todas as localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> farinheiras <strong>de</strong> pequeno<br />

porte – Casas <strong>de</strong> Farinha – são precedidos da prática da queimada. O fogo, muitas<br />

vezes, é ateado s<strong>em</strong> que haja a observância da proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lagos, rios ou<br />

pequenos mananciais, a queima nestas proximida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m causar um impacto<br />

ambiental chamado <strong>de</strong> eutrofização, ou seja, os fertilizantes carreados para rios ou<br />

lagos po<strong>de</strong>m servir para o crescimento exagerado <strong>de</strong> algas que usam o oxigênio<br />

disponível <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outras espécies, dando orig<strong>em</strong> ao surgimento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sertificação aquática. A queimada é usada como mecanismo <strong>de</strong> economia com a<br />

mão-<strong>de</strong>-obra, que seria usada nas operações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbravamento ou roçag<strong>em</strong>, por<br />

outro lado o fogo é capaz <strong>de</strong> diminuir rapidamente a fertilida<strong>de</strong> natural do solo,<br />

eliminando a micro fauna e a microflora, além <strong>de</strong> acelerar os processos erosivos,<br />

porque a queimada não v<strong>em</strong> acompanhada <strong>de</strong> nenhuma prática <strong>de</strong> conservação<br />

(ROCHA E CERQUEIRA 2006).<br />

As queimadas seguidas do uso da lenha são nocivas a perpetuação <strong>de</strong> um<br />

ambiente s<strong>em</strong> erosão. O uso da lenha <strong>de</strong>stinada ao consumo das farinheiras<br />

provém, atualmente, <strong>em</strong> sua gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> fragmentos florestais <strong>de</strong> povoados<br />

circunvizinhos, posto que na se<strong>de</strong> a <strong>de</strong>vastação da área ver<strong>de</strong> antece<strong>de</strong>m anos e<br />

por isso buscam <strong>em</strong> outros territórios a fonte <strong>de</strong> energia para alimentar os fornos.<br />

Esse dado reflete a contribuição do quadro alarmante da <strong>de</strong>vastação da vegetação<br />

que a cada ano v<strong>em</strong> aumentando <strong>em</strong> várias regiões brasileiras <strong>em</strong> função da<br />

repetição exaustiva <strong>de</strong> práticas erosivas (GOMES, SILVA, SANTANA 2000).<br />

Os espaços territoriais <strong>de</strong>stinados a <strong>produção</strong> são espaços relativamente<br />

concentrados para habitação, trabalho, lazer, convívio social e <strong>de</strong>mais encargos<br />

humanos diários, <strong>em</strong> face da pontualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento, as cida<strong>de</strong>s vêm<br />

ao longo do t<strong>em</strong>po se distanciando cada vez do ver<strong>de</strong> e da natureza. A ausência <strong>de</strong><br />

florestas ou <strong>de</strong> reservas <strong>de</strong> vegetação nativas afasta o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> algumas<br />

vantagens benéficas como o clima, diminuição da poluição do ar, economia <strong>de</strong><br />

96


energia elétrica, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ajudar na obstrução e orientação do fluxo <strong>de</strong> ar,<br />

retenção <strong>de</strong> ruídos, barreira aos sulcos no solo. (CRISPIM e MAGALHAES , 2003)<br />

Segundo a COOPASUB (2005), 93% dos municípios não usam nenhuma<br />

prática <strong>de</strong> conservação do solo. Como também não utilizam culturas alternativas ou<br />

<strong>sist<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> rodízio para proteção do solo. As queimadas e a ausência <strong>de</strong> medidas<br />

preventivas para a conservação do solo po<strong>de</strong>m estar levando a um tipo <strong>de</strong><br />

agricultura prejudicial ao agricultor que não dispões <strong>de</strong> áreas suficientes para<br />

substituir as áreas exauridas pelas queimadas ou pela erosão (ROCHA E<br />

CERQUEIRA 2006).<br />

Ainda que se ressalt<strong>em</strong> tantos danos que porventura sejam causados pela<br />

manipueira há também, que se evi<strong>de</strong>nciar, que enquanto efluente ela po<strong>de</strong> ser<br />

usada como aproveitamento agrícola. Aplicada no solo <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada ela<br />

po<strong>de</strong> influir no equilíbrio do solo e po<strong>de</strong> extinguir algumas espécies <strong>de</strong> plantas<br />

daninhas. (FIORETTO, 1897).<br />

A manipueira, através da EMBRAPA, recebe constantes pedidos <strong>de</strong><br />

orientação sobre o aproveitamento <strong>de</strong>ste resíduo, para conter a poluição <strong>de</strong> rios,<br />

como é o caso do rio Jundiaí, foi <strong>de</strong>stinada a alimentação <strong>de</strong> bovino <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

processo <strong>de</strong> tratamento para diminuição do seu valor <strong>de</strong> toxida<strong>de</strong>. Hoje, a<br />

gastronomia também <strong>de</strong>stina o uso da manipueira <strong>em</strong> pratos regionais: vinagre, pato<br />

no tucupi; confecção <strong>de</strong> tijolos e tintas; insumo agrícola (herbicida, fungincida,<br />

n<strong>em</strong>aticida e adubo orgânico (DINIZ, 2005).<br />

O plantio da mandioca é sazonal e por ser uma cultura <strong>de</strong> subsistência s<strong>em</strong><br />

muita planificação da <strong>produção</strong> segue a oferta do mercado, é comum verificar que<br />

quando o seu preço está vantajoso, do pequeno ao médio produtor a maioria ganha<br />

impulso para o plantio, o que na <strong>de</strong>corrência do t<strong>em</strong>po afeta a queda <strong>de</strong> preço tanto<br />

da mandioca, quanto <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>rivados (EMBRAPA, 2005).<br />

96


Freqüências (%)<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

qualquer...<br />

<strong>de</strong>z<br />

nov<br />

out<br />

set<br />

ago<br />

jul<br />

jun<br />

mai<br />

abr<br />

mar<br />

fev<br />

jan<br />

FIGURA 2 – Época <strong>de</strong> plantio da mandioca na região Sudoeste da Bahia<br />

Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Ca<strong>de</strong>ia Produtiva da Mandioca<br />

na Região <strong>de</strong> Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)<br />

O <strong>em</strong>pobrecimento do solo <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento das queimadas, da erosão po<strong>de</strong><br />

ser um fator como salienta Rocha e Cerqueira (2006), um dos fatores <strong>de</strong> constante<br />

imigração <strong>de</strong> plantio, segundo a COOPASUB cerca <strong>de</strong> 44% dos agricultores não<br />

voltam a plantar na mesma área.<br />

Segundo o CEPEA, o impacto negativo <strong>de</strong>ssa <strong>produção</strong> pouco planificada,<br />

po<strong>de</strong>ria ser dirimido com ações governamentais, mas o próprio órgão <strong>em</strong> questão<br />

admite que ação fe<strong>de</strong>ral é ainda pequena, visa apenas garantir o preço mínimo, pois<br />

além <strong>de</strong> ser um produto presente na cesta básica, sua <strong>produção</strong> <strong>em</strong>prega um<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregadores. Quando ocorre interferência <strong>de</strong>ste tipo, o correto<br />

seria o <strong>em</strong>prego da AGF 7 , porém o programa mais utilizado para essa modalida<strong>de</strong> é<br />

o da CDAF 8 .<br />

Diss<strong>em</strong>inada por todo território brasileiro, a mandioca sobressai não somente<br />

pela proporção quantitativa, mas pelo uso qualitativo e diversificado. Do total da<br />

mandioca produzida no Brasil, 20% são <strong>de</strong>stinadas para as fecularias e a quase<br />

7 AGF : Aquisição do Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />

8 CDAF: Compra Direta da Agricultura Familiar<br />

96


totalida<strong>de</strong>s dos <strong>de</strong>mais 80% t<strong>em</strong> seu uso para a fabricação <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>. (ALMEIDA &<br />

SILVA, 2004)<br />

Como salienta (Lastres & Cassiolato, 2003), <strong>em</strong>bora a mandioca faça parte da<br />

agricultura <strong>de</strong> todo o país, a sua maior expressivida<strong>de</strong> encontra-se nas regiões Norte<br />

e Nor<strong>de</strong>ste, que abarcam mais <strong>de</strong> 50% do total gerado pela economia brasileira<br />

(Figura 3). A região centro-sul, segundo a mesma referência, <strong>de</strong>staca-se pelo<br />

tamanho e expressivida<strong>de</strong> das raízes, as quais são <strong>de</strong>stinadas a uma <strong>produção</strong> mais<br />

tecnificada <strong>de</strong>stinada à aquisição <strong>de</strong> amido, dando aos Estados do Paraná, Mato<br />

Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina a outorga <strong>de</strong>sta referida <strong>produção</strong>.<br />

Su<strong>de</strong>ste; 9,70%<br />

Centro-Oeste; 7,30%<br />

Sul; 22,10%<br />

Nor<strong>de</strong>ste; 24,60%<br />

Norte; 36,40%<br />

Figura 3: Participação na <strong>produção</strong> estimada <strong>de</strong> raiz <strong>de</strong> mandioca <strong>em</strong> 2005<br />

Fonte: Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE/2005)<br />

É certo que o Brasil nas últimas décadas, e, principalmente com a vinda do<br />

novo século t<strong>em</strong> imprimido <strong>em</strong> sua história mudanças significativas, que provocam<br />

um quadro <strong>de</strong> efervescência social. Por outro lado, algumas questões ainda não<br />

repassam pela notória sustentabilida<strong>de</strong>, e <strong>em</strong>bora algumas regiões, como é o caso<br />

do Nor<strong>de</strong>ste se <strong>de</strong>staqu<strong>em</strong> <strong>em</strong> alguns aspectos produtivos e culturais, é bom que se<br />

ressalte que <strong>em</strong> outras esferas sua limitação é muito questionada, e quando se<br />

propõe discutir <strong>de</strong>senvolvimento este chamado <strong>de</strong>veria ser para todo o território,<br />

s<strong>em</strong> exceção <strong>de</strong> causa. (ANDRADE, TACHIZAWA, CARVALHO 2000; ANDRADE,<br />

1986)<br />

Resgatando a fala da primeira ministra da Índia, na Conferência sobre<br />

Biosfera <strong>em</strong> 1968: “A pobreza é a maior das poluições” (in ANDRADE, TACHIZAWA,<br />

CARVALHO 2000; p. 2), a sustentabilida<strong>de</strong> perpassa pelo ser humano e este <strong>de</strong>ve<br />

ser el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> suma importância para a transformação do meio ambiental.<br />

96


Somente, através, <strong>de</strong> um envolvimento e participação efetivos que po<strong>de</strong>-se propor<br />

ações <strong>de</strong> integração diferenciadas.<br />

3.4.2 Caracterização das Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

96<br />

“ Se <strong>farinha</strong> fosse americana<br />

Mandioca importada<br />

Banquete <strong>de</strong> bacana<br />

Era <strong>farinha</strong>da”<br />

Jurail<strong>de</strong>s da Cruz e Xangai<br />

Como macaxeira, aipim, pão <strong>de</strong> pobre, macamba, uaipi, pau <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>, ou<br />

simplesmente, mandioca, ela se faz presente <strong>em</strong> todo território brasileiro,<br />

caracterizada por duas vertentes produtivas <strong>de</strong> transformação: as indústrias com<br />

alto nível <strong>de</strong> tecnificação, localizadas no Centro-sul do país e as unida<strong>de</strong>s industriais<br />

ainda pouco tecnificadas, concentradas no Norte e Nor<strong>de</strong>ste do Brasil, que são as<br />

maiores produtoras e consumidoras <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca (CEPEA) 9 .<br />

Especificamente nesta pesquisa, há uma intenção <strong>em</strong> se r<strong>em</strong>eter ao segundo<br />

estilo <strong>de</strong> <strong>produção</strong>. Tal <strong>em</strong>preendimento é <strong>de</strong>nominado na região como Casa <strong>de</strong><br />

Farinha, local on<strong>de</strong> se transforma a mandioca <strong>em</strong> <strong>farinha</strong>, ingrediente usado na<br />

alimentação <strong>de</strong> várias pessoas, além <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> subtraídos outros <strong>de</strong>rivados como a<br />

goma, que dá orig<strong>em</strong> a outros produtos como por ex<strong>em</strong>plo o beiju e a tapioca, que<br />

<strong>em</strong> 1551, como resgata Araújo (1982, p. 170), já era um produto que recebia o<br />

apreço do padre Jesuíta Manoel da Nóbrega, quando <strong>em</strong> visita a Pernambuco, já<br />

falava sobre ambos e contextualizava a importância indígena no fabrico <strong>de</strong>stes<br />

<strong>de</strong>rivados.<br />

Acelerada a história brasileira, a <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca foi por muito t<strong>em</strong>po<br />

utilizada na alimentação dos escravos que eram mantidos nas fazendas e nos<br />

engenhos, além <strong>de</strong> servir também como suprimento alimentar dos portugueses que<br />

9 CEPEA: Centro <strong>de</strong> Estudos Avançados <strong>em</strong> Economia Aplicada


faziam viagens longínquas. Levadas <strong>em</strong> farnéis pelos referidos viajantes, conta-se<br />

que para evitar que foss<strong>em</strong> menos perecível, misturava-se a <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca a<br />

<strong>farinha</strong> <strong>de</strong> peixe seco, socada <strong>em</strong> pilão (CONCEIÇÃO, 1981)<br />

A mandioca é um produto que sofre oscilações consi<strong>de</strong>ráveis quanto ao seu<br />

preço no mercado, isso se <strong>de</strong>ve entre outras razões, como salienta (Santos &<br />

Men<strong>de</strong>s, 1997) ao estilo utilizado como balcão comercial. Neste mo<strong>de</strong>lo, na maioria<br />

das vezes o agricultor é também o fabricante, seu perfil comercial b<strong>em</strong> característico<br />

não lhe <strong>de</strong>tém um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha frente ao mercado; por outro lado, no que se<br />

refere à entrada <strong>de</strong> novos negócios concorrentes, a estrutura é bastante flexível e<br />

não se encontram barreiras. Em outras palavras, a concorrência não é tida como<br />

uma ameaça, <strong>de</strong> forma tão categórica e específica como aquelas verificadas <strong>em</strong><br />

estruturas <strong>de</strong> mercado mais fortalecidas. Em outras palavras, na estrutura capitalista<br />

a matiz <strong>de</strong> funcionamento do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> está s<strong>em</strong>pre interligado a uma interação <strong>de</strong><br />

formas e procedimentos <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> sucessivas mudanças, <strong>em</strong> função <strong>de</strong><br />

estratégias <strong>de</strong> competição, on<strong>de</strong> se amplia a importância <strong>de</strong> valorização do capital<br />

na medida <strong>em</strong> que se pontua a relação <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> entre a estrutura industrial e as<br />

fontes estratégicas <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>. (Porter 1991 e Shumpeter 1997).<br />

Também caracterizando o produto <strong>em</strong> questão, é bom que se saliente que a<br />

mandioca não po<strong>de</strong> ser trabalhada <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> commotiditie como ocorre com<br />

outros produtos, como é o caso do trigo e do milho tomados por ex<strong>em</strong>plo.<br />

Sintetizando, não há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estocag<strong>em</strong>. Fora da terra, o tubérculo não<br />

mantém sua qualida<strong>de</strong> por mais <strong>de</strong> 48 horas, portanto, tanto no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>produção</strong><br />

do centro-sul e/ou do norte-nor<strong>de</strong>ste do país, a mandioca que representa 60% dos<br />

custos <strong>de</strong> <strong>produção</strong> exige uso imediato, quer seja para o consumo in natura ou para<br />

obtenção <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>rivados: fécula, amido, <strong>farinha</strong>, goma, beiju, tapioca.<br />

(LASTRES & CASSIOLATO, 2002)<br />

96


Figura 4: Principais <strong>de</strong>rivados da Lavoura <strong>de</strong> Mandioca<br />

Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Ca<strong>de</strong>ia Produtiva da Mandioca<br />

na Região <strong>de</strong> Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)<br />

A tapioca, <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> goma ou <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> tapioca, é um produto <strong>de</strong>rivado do<br />

amido recém extraído, muito tradicional no Brasil, e muito particular na região <strong>de</strong><br />

Nor<strong>de</strong>ste e mais especificamente no Planalto <strong>de</strong> Conquista, produto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

aceitação no mercado e é ingrediente <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pratos da cozinha<br />

regional, como por ex<strong>em</strong>plo o chimango (tipo <strong>de</strong> biscoito), cuscuz, <strong>farinha</strong><br />

t<strong>em</strong>perada, bolos, mingaus. Seu uso diversificado e pontualmente verificado na<br />

Figura 4, reflete a diversida<strong>de</strong> produtiva que po<strong>de</strong> ser subtraída da mandioca.<br />

Por outro lado, a mandioca po<strong>de</strong> ser colhida, <strong>em</strong> qualquer t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

seis meses <strong>de</strong> plantada, po<strong>de</strong>ndo ficar no solo por mais três anos até o momento <strong>em</strong><br />

que se espera a sua colheita s<strong>em</strong> que se apodreça. Não é preciso o uso <strong>de</strong><br />

s<strong>em</strong>entes, a plantação é feita pelos próprios talos da planta, <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> maniva.<br />

Por possuir gran<strong>de</strong> resistência a doenças e pragas, o não uso <strong>de</strong> agrotóxicos e<br />

pesticidas tornam bastante saudáveis os alimentos <strong>de</strong>rivados da mandioca. Quando<br />

são vulneráveis às pragas, as mais comuns são lagartas e formigas, que são<br />

combatidas com a própria manipueira 10 .<br />

10 Líquido <strong>de</strong> alto teor alcoólico retirado das raízes da mandioca<br />

96


Quando é t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> chuva e a terra se encontra úmida, as raízes são<br />

arrancadas manualmente, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> seca a colheita é realizada com ajuda <strong>de</strong><br />

enxadas, s<strong>em</strong>pre puxando as raízes s<strong>em</strong> que haja o comprometimento <strong>de</strong> sua<br />

retirada. Quando retiradas são colocadas na ruma 11 , posteriormente são conduzidas<br />

às Casas <strong>de</strong> Farinha com ajuda <strong>de</strong> caminhões, contratados antecipadamente para o<br />

transporte da matéria-prima comprada <strong>em</strong> roçados próximo à comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campinhos.<br />

A <strong>farinha</strong> incorporou à alimentação do hom<strong>em</strong> arrastando-se por longos anos<br />

<strong>de</strong> história. Há inclusive um dito popular <strong>em</strong> que a <strong>farinha</strong> aparece como r<strong>em</strong>ediador<br />

da fome, pois ela “aumenta o que `tá pouco, engrossa o fino e esfria o que `tá<br />

quente. “ Questiona-se, também, o seu valor nutritivo. Segundo Freyre (1999,p.82),<br />

a <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca, <strong>em</strong>bora mística no território nacional, não passa <strong>de</strong> uma<br />

alimento hidrocarbonado, com proteína <strong>de</strong> segunda classe e pobre <strong>de</strong> vitaminas e<br />

sais minerais.<br />

Produto rico <strong>em</strong> valor nutritivo ou não, o certo é que a <strong>farinha</strong> compreen<strong>de</strong> a<br />

principal opção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas comunida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras, que tradicionalmente mantêm este <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>em</strong> seu<br />

espectro.<br />

As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nas farinheiras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser caracterizadas pelos<br />

núcleos que a <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>: masculino e f<strong>em</strong>inino. Aos homens cabe a cocção, a<br />

ação <strong>de</strong> cevar a massa, alternativamente po<strong>de</strong>m tirar a goma da massa lavada,<br />

po<strong>de</strong>m ser prenseiros. As mulheres são encarregadas pela raspag<strong>em</strong> da mandioca,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ida<strong>de</strong> que tenham. Em muitos casos, pessoas idosas, mesmo<br />

sendo aposentadas pelo requisito faixa etária ou invali<strong>de</strong>z, com intuito <strong>de</strong> ampliar a<br />

renda familiar <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> trabalhos nas <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>. (ALCÂNTARA e<br />

BARRETO 1999)<br />

3.4.3 Casas <strong>de</strong> Farinha: aspectos produtivos e comerciais<br />

11 Termo utilizado pela população local para <strong>de</strong>signar o amontoado <strong>de</strong> mandioca que será <strong>de</strong>stinado a <strong>produção</strong> das Casas<br />

<strong>de</strong> Farinha.<br />

96


A estrutura produtiva e <strong>de</strong> mercado das Casas <strong>de</strong> Farinha alocadas na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos não foge a regra da caracterização verificada na região<br />

Norte e Nor<strong>de</strong>ste do país, ou seja, sustentam na alta informalida<strong>de</strong>, apresentam<br />

estrutura pouco profissionalizada, baseiam-se na mão-<strong>de</strong>-obra familiar, com a<br />

<strong>produção</strong> voltada ainda para o caráter <strong>de</strong> subsistência e os <strong>de</strong>rivados da mandioca,<br />

<strong>em</strong> especial a <strong>farinha</strong>, é vendida, geralmente nas feiras livres, por conta disso não<br />

há uma preocupação maior com beneficiamento <strong>em</strong> aspectos comerciais no que diz<br />

respeito ao produto.<br />

Devido a mo<strong>de</strong>rnização dos hábitos alimentares verificados na socieda<strong>de</strong><br />

cont<strong>em</strong>porânea, pelo próprio avanço da industrialização nos gran<strong>de</strong>s centros<br />

urbanos, antigos costumes alimentares estão sendo substituídos por outros mais<br />

práticos, nutritivos, o que diretamente acaba afetando o consumo <strong>de</strong> produtos<br />

tradicionais, como é o caso da <strong>farinha</strong>, que apresenta uma trajetória <strong>de</strong> queda <strong>em</strong><br />

todas as regiões do país (IBGE, 2005). Embora isso um fato, a região Nor<strong>de</strong>ste<br />

resiste ainda ao tradicional consumo, sendo responsável por cerca <strong>de</strong> 29% da<br />

consumação nacional, conforme <strong>de</strong>monstra a tabela 2 :<br />

Tabela 2 – Aquisição alimentar domiciliar per capita anual por gran<strong>de</strong>s regiões<br />

Regiões Fisiográficas Consumo per capita<br />

(KG)<br />

Norte 33,827 63%<br />

Nor<strong>de</strong>ste 15,333 29%<br />

Su<strong>de</strong>ste 1,427 3%<br />

Sul 1,040 2%<br />

Centro-Oeste 1,359 3%<br />

Fonte: IBGE (2005) / Pesquisa <strong>de</strong> Orçamento Familiar (POF)<br />

Representação no<br />

consumo total<br />

96


Insumos da<br />

agricultura<br />

Mandiocultore<br />

s<br />

Unida<strong>de</strong><br />

Agroindustrial<br />

Figura 5: Sist<strong>em</strong>a agroindustrial da mandioca<br />

Fonte: EMBRAPA (2005)<br />

Intermediári<br />

o<br />

Casas <strong>de</strong> <strong>farinha</strong><br />

1<br />

Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

2<br />

Feira<br />

Livre<br />

Intermediário<br />

s<br />

Indústria<br />

s<br />

Pecuarista<br />

s<br />

A ca<strong>de</strong>ia agroindustrial acima especificada pela Figura 5, <strong>em</strong>bora aparent<strong>em</strong>ente<br />

simples, <strong>de</strong>monstra uma complexida<strong>de</strong> <strong>em</strong> função do mercado, que po<strong>de</strong> ser<br />

caracterizado por um conjunto interligado <strong>de</strong> interesses econômicos e sociais<br />

distintos envolvidos no processo produtivo, que vai da transformação até a<br />

distribuição dos <strong>de</strong>rivados da mandioca e mesmo por que os resíduos <strong>de</strong>sta<br />

ativida<strong>de</strong> produtiva não têm recebido atenção merecida no que tange aos aspectos<br />

ambientais. Além dos aspectos produtivos, po<strong>de</strong>-se notar na figura acima a<br />

importância dos atores sociais, que constitu<strong>em</strong> pontos fundamentais da ativida<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>preendida.<br />

a) Insumos da agricultura: os insumos utilizados na ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong>scrita<br />

são provenientes <strong>de</strong> fornecedores responsáveis pela montag<strong>em</strong> da estrutura<br />

das <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>, contando com os equipamentos, maquinários. Por<br />

96


prevalecer ainda um <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> produtivo pouco tecnificado, a sua atuação<br />

também é restrita.<br />

b) Mandiocultores: pequenos e médios produtores rurais que alimentam o<br />

<strong>sist<strong>em</strong>a</strong> produtivo das Casas <strong>de</strong> Farinha. Atualmente se faz<strong>em</strong> presente <strong>em</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s circunvizinhas, pois a <strong>produção</strong> verificada <strong>em</strong> Campinhos não<br />

aten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>manda local.<br />

c) Intermediários ou atravessadores: atores sociais que se faz<strong>em</strong> presentes<br />

na ca<strong>de</strong>ia produtiva, como comerciantes paralelos, com maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

barganha e que dirime a lucrativida<strong>de</strong> tanto dos mandiocultores, quanto dos<br />

proprietários das Casas <strong>de</strong> Farinha.<br />

d) Unida<strong>de</strong>s agroindustriais<br />

a. Casas <strong>de</strong> Farinha (1): <strong>de</strong>stina-se a uma <strong>produção</strong> mais voltada para o<br />

mercado, aten<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mercado atacadista das feiras livres,<br />

perpassando pelos intermediários que aten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> outras<br />

cida<strong>de</strong>s regionais e chegando finalmente às industrias <strong>de</strong> biscoitos.<br />

b. Casas <strong>de</strong> Farinha (2): <strong>produção</strong> com menor exigência tecnológica e<br />

qualitativa, aten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>manda dos pecuaristas com a <strong>produção</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>farinha</strong> <strong>de</strong> segunda, grolões e raspas, <strong>de</strong>stinados à ração animal.<br />

e) Feiras livres: espaços comerciais públicos on<strong>de</strong> pequenos e médios<br />

produtores se reún<strong>em</strong> para ven<strong>de</strong>r seus produtos (atacado e varejo).<br />

f) Pecuaristas: criadores <strong>de</strong> animais, compradores <strong>de</strong> raspa para ração animal,<br />

principalmente <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> estiag<strong>em</strong>, quando pela escassez do capim na<br />

região, a raspa da mandioca <strong>de</strong>stina-se a uma compensação pela falta<br />

daquele. A oferta e o preços são irregulares por não caracterizar<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong><br />

principal das unida<strong>de</strong>s agroindustriais.<br />

Resgatando ainda Conceição (1981), a <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca ou <strong>de</strong> mesa é um<br />

dos produtos mais fabricados no Brasil e quase que totalmente <strong>de</strong>stinado à<br />

alimentação humana, principalmente das populações <strong>de</strong> menor po<strong>de</strong>r aquisitivo do<br />

Norte e Nor<strong>de</strong>ste do país. Sua oscilação produtiva, no que diz respeito ao preço e a<br />

oferta estão ligadas aos períodos <strong>de</strong> estiag<strong>em</strong>, principalmente nesta última Região.<br />

Ainda que se apresente, assiduamente, nos processos produtivos das Casas <strong>de</strong><br />

Farinha, há maneiras diferenciadas <strong>de</strong> aquisição do produto final, ou seja, o mo<strong>de</strong>lo<br />

padrão elaborado pela EMBRAPA-AC (IT, Embrapa Acre, <strong>de</strong>z/2001, p.3) não é<br />

96


seguido à risca <strong>em</strong> algumas regiões brasileiras, seja pela ausência <strong>de</strong> tecnificação,<br />

seja pela falta <strong>de</strong> capacitação e treinamento, o que po<strong>de</strong> pela omissão <strong>de</strong> algumas<br />

etapas comprometer a qualida<strong>de</strong> e/ou a higienização do processo.<br />

Preparação das raízes para industrialização<br />

Descascamento das Raízes<br />

Ralação das Raízes<br />

Prensag<strong>em</strong> da raspa ralada<br />

Esfarelamento da raspa ralada<br />

Torração<br />

Peneirag<strong>em</strong> da Farinha<br />

Acondicionamento da <strong>farinha</strong><br />

Figura 6: Fluxograma para obtenção <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca utilizando prensag<strong>em</strong><br />

mecânica<br />

Fonte: EMBRAPA-AC, IT, Dez/2001<br />

Segundo a EMBRAPA (2005), para se obter a <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca, seguindo os<br />

parâmetros <strong>de</strong> higienização a<strong>de</strong>quada, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser efetivadas as etapas dispostas no<br />

fluxograma <strong>de</strong>scrito na Figura 6, para maior <strong>de</strong>talhamento da mesma apresenta-se a<br />

seguir a <strong>de</strong>scrição do procedimento <strong>em</strong> questão:<br />

96


a) Preparação das raízes para industrialização: as raízes, quando<br />

encaminhadas às Casas <strong>de</strong> Farinha, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser lavadas <strong>em</strong> água corrente<br />

para eliminar as impurezas, evitando incorporação <strong>de</strong> materiais in<strong>de</strong>sejados à<br />

operação produtiva, que contribu<strong>em</strong> para a contaminação através <strong>de</strong><br />

microorganismos, <strong>de</strong>sgaste dos equipamentos e o aparecimento <strong>de</strong> sujida<strong>de</strong><br />

nos produtos acabados.<br />

b) Descascamento <strong>de</strong> raízes: feito manualmente, <strong>de</strong>vendo ser utilizadas facas<br />

<strong>de</strong> aço inoxidável, seguido da lavag<strong>em</strong> para a retirada <strong>de</strong> cascas e impurezas<br />

ainda r<strong>em</strong>anescentes. As raízes <strong>de</strong>scascadas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser acondicionadas <strong>em</strong><br />

tambores plásticos <strong>de</strong>vidamente higienizados.<br />

c) Ralação das raízes: as raízes limpas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser levadas para o ralador<br />

constituído <strong>de</strong> um cilindro <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira provido <strong>de</strong> lâminas <strong>de</strong> aço serrilhadas.<br />

Neste estágio, as raízes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>em</strong>purradas <strong>em</strong> direção ao cilindro por<br />

meio <strong>de</strong> braços <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>em</strong> movimentos alternados, a fim <strong>de</strong> produzir uma<br />

raspa fina. Normalmente, a alternâncias das raízes é feita manualmente, s<strong>em</strong><br />

ajuda acessória, o que acomete muitos trabalhadores <strong>em</strong> aci<strong>de</strong>ntes.<br />

d) Prensag<strong>em</strong> da raspa ralada: a raspa obtida no procedimento anterior,<br />

conforme dados da EMBRAPA condicionam 67% <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>. Deve ser<br />

condicionada <strong>de</strong> forma uniforme e nivelada <strong>em</strong> sacos <strong>de</strong> aniag<strong>em</strong> ou <strong>de</strong> tela<br />

<strong>de</strong> náilon <strong>em</strong>pilhados sobre a prensa. A cada 15 cm colocar-se-á uma<br />

divisória <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira para otimizar o processo <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>,<br />

realizado pela pressão <strong>de</strong> um torriquete, com esforço humano, que <strong>em</strong><br />

movimentos circulares <strong>de</strong>termina que a roldana suprima o liquido retirado da<br />

massa (45 a 50 min): a manipueira. Tal resíduo, <strong>em</strong> algumas regiões<br />

brasileiras é comercializado, na região <strong>em</strong> questão <strong>em</strong> <strong>de</strong>sprezado e<br />

<strong>de</strong>spejado livr<strong>em</strong>ente na natureza.<br />

e) Esfarelamento da raspa ralada: ao sair da prensa, a massa obtida está toda<br />

encorpada, apresentando-se <strong>em</strong> blocos compactados <strong>em</strong> função da pressão<br />

sofrida. Antes da cocção, <strong>de</strong>ve-se efetuar o esfarelamento por meio <strong>de</strong> um<br />

ralador comum ou por intermédio <strong>de</strong> peneiras. Nesse momento, <strong>de</strong>ve-se<br />

realizar também a separação <strong>de</strong> fibras, pedaços <strong>de</strong> cascas e raízes<br />

r<strong>em</strong>anescentes do processo <strong>de</strong> ralação.<br />

f) Torração: operação particular, <strong>de</strong>licada e precisa porque <strong>de</strong>termina o teor <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> do produto final. A cor, o sabor e a conservação durante o<br />

96


transporte e armazenamento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ssa fase <strong>de</strong> processamento. Por<br />

isso, notoriamente, <strong>de</strong>stina-se um hom<strong>em</strong> na Casa <strong>de</strong> Farinha como forneiro,<br />

contando a sua experiência e a sua acuida<strong>de</strong> com a <strong>produção</strong>. Essa etapa,<br />

na maioria das Casas <strong>de</strong> Farinha, é realizada entre 30 a 40 minutos.<br />

Figura 7 – Fornos utilizados na <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong><br />

Fonte: dados da pesquisa<br />

g) Peneirag<strong>em</strong> da <strong>farinha</strong>: após a cocção ou torração, a <strong>farinha</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

passada <strong>em</strong> peneiras, a fim <strong>de</strong> se promover a separação <strong>de</strong> alguma parte<br />

que seja in<strong>de</strong>sejável ao produto final. A granulometria das peneiras<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do tipo <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> que se preten<strong>de</strong> comercializar.<br />

h) Acondicionamento: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> classificada, a <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> mandioca <strong>de</strong>ver ser<br />

acondicionada <strong>em</strong> sacos plásticos ou <strong>de</strong> aniag<strong>em</strong>, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

armazenados sobre estrados <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>em</strong> locais não úmidos e ventilados<br />

para posterior comercialização.<br />

As Casas <strong>de</strong> Farinha <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s s<strong>em</strong>i-industriais on<strong>de</strong> a lenha,<br />

<strong>em</strong>bora atualmente ajustada a uma compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> com a energia elétrica<br />

disponível na comunida<strong>de</strong>, ainda é a principal fonte energética do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> produtivo,<br />

96


por ter um custo menor, porém inevitavelmente, gera um custo ambiental altíssimo,<br />

<strong>em</strong> função das razões acima especificadas. Hoje, a reserva nativa, po<strong>de</strong>-se dizer, é<br />

praticamente muito reduzida. (GOMES, SILVA & SANTANA 2000).<br />

FIGURA 8: Orig<strong>em</strong> da Lenha utilizada no Sudoeste da Bahia<br />

Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Ca<strong>de</strong>ia Produtiva<br />

da Mandioca na Região <strong>de</strong> Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)<br />

Como já referendado anteriormente, o banco comercial dos <strong>de</strong>rivados da<br />

mandioca não é b<strong>em</strong> estruturado. O agricultor, como b<strong>em</strong> salienta Santos (1997),<br />

faz o papel do produtor, do fabricante e do comerciante, o que não é diferente na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos. Com altos custos produtivos, falta <strong>de</strong> incentivo as<br />

Casas <strong>de</strong> Farinha no povoado <strong>em</strong> questão t<strong>em</strong> diminuído, atualmente conta com<br />

apenas 25 <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 45 a 50, conforme dados do coletados junto a<br />

comunida<strong>de</strong> neste projeto <strong>de</strong> pesquisa.<br />

A ausência <strong>de</strong> uma associação dos proprietários <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

enfraquece sumariamente o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong>stes pequenos produtores, pois<br />

com a prevalência dos “atravessadores” , o grupo per<strong>de</strong> a sua consolidação no<br />

mercado, s<strong>em</strong> contar a dificulda<strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a <strong>de</strong> renovação e evolução dos<br />

<strong>em</strong>preendimentos ora verificados no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pouca tecnificação e como<br />

<strong>de</strong>mosntra o diagnóstico da COOPASUB (2005), os donos <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha têm<br />

pouco acompanhamento técnico ou recebe incentivos para capacitação, baseando-<br />

96


se a sua gestão no exercícios <strong>de</strong> práticas tradicionais ou da experiência individual e<br />

coletiva.<br />

FIGURA 9 – Assistencia tecnica para os proprietarios <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

Fonte: Diagnóstico Socioambiental da Agricultura Familiar na Ca<strong>de</strong>ia Produtiva da Mandioca na<br />

Região <strong>de</strong> Vitória da Conquista - COOPASUB (2005)<br />

96


4.0 METODOLOGIA<br />

Como salienta Gil (2002, p. 42), as pesquisas exploratórias têm como objetivo<br />

proporcionar maior familiarida<strong>de</strong> com o probl<strong>em</strong>a, com vistas a torná-lo mais claro,<br />

aprimorando idéias ou a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> intuições.<br />

Para edificação <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> cunho exploratório, foram utilizados o<br />

levantamento <strong>de</strong> dados a partir <strong>de</strong> fontes primárias e fontes secundárias. Para a<br />

realização da 1ª etapa da pesquisa, utilizou-se da constituição do primeiro<br />

instrumento: visitas a comunida<strong>de</strong> e entrevistas, via aplicação <strong>de</strong> questionários com<br />

os proprietários <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha, <strong>em</strong> funcionamento no período <strong>em</strong> que ocorria<br />

a investigação – maio e junho <strong>de</strong> 2007. Para as fontes secundárias foram<br />

priorizados documentos, dados disponíveis <strong>em</strong> relatórios e estatísticas, ouvidas<br />

pessoas especialistas ou moradores antigos da região para coletar dados que<br />

possivelmente não po<strong>de</strong>riam ser edificados s<strong>em</strong> a participação <strong>de</strong>stes.<br />

Portanto, a pesquisa que norteou o presente estudo, caracteriza-se, por sua<br />

natureza, como exploratória através <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> dados, procurando na<br />

primeira etapa da mesma, através <strong>de</strong> aplicação direta <strong>de</strong> questionários, observar,<br />

<strong>de</strong>screver, analisar e correlacionar os dados e especificações obtidos a fim <strong>de</strong><br />

caracterizar o processo produtivo <strong>em</strong>pregado pelas Casas <strong>de</strong> Farinha e<br />

indiretamente possibilitar que a Comunida<strong>de</strong> possa ser adjetivada também pelos<br />

dados ora expostos.<br />

Para viabilização <strong>de</strong>sta pesquisa, tomou-se como objeto <strong>de</strong> estudo 25 Casas<br />

<strong>de</strong> Farinha, que se apresentavam <strong>em</strong> funcionamento no período <strong>de</strong> sua aplicação:<br />

maio e junho <strong>de</strong> 2007. Embora, não havendo registros acerca <strong>de</strong>sta unida<strong>de</strong>s<br />

agroindustriais, seja na comunida<strong>de</strong> ou <strong>em</strong> órgãos específicos, pela informalida<strong>de</strong><br />

que as cerca, foram pontuadas <strong>em</strong> 100% no território <strong>em</strong> estudo, não, havendo,<br />

portanto, nenhum critério seletivo para que foss<strong>em</strong> abordadas.<br />

96


Os três primeiros objetivos específicos <strong>de</strong>ste trabalho foram cont<strong>em</strong>plados<br />

pela pesquisa exploratória, através <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> informações, neste caso<br />

pelo instrumento <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>nominado questionário. Levantamento <strong>de</strong> dados<br />

caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento <strong>de</strong>seja<br />

conhecer, buscando-se pela solicitação <strong>de</strong> um grupo significativo <strong>de</strong> pessoas uma<br />

abrangência consi<strong>de</strong>rada acerca do probl<strong>em</strong>a estudado Gil, (2004, p. 50). Quando o<br />

levantamento recolhe informações <strong>de</strong> todos os integrantes do universo pesquisado,<br />

t<strong>em</strong>-se um censo (MEDEIROS 2004,p. 63). Embora seja pouco peculiar pesquisar<br />

todos os integrantes <strong>de</strong> uma população estudada pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se agregar<br />

todos os envolvidos, no caso especificado fez-se a abrangência a totalida<strong>de</strong>, por ser<br />

um número pequeno e que uma vez tendo abrangência do universo, validaria melhor<br />

a presente pesquisa. Para tanto, a priorida<strong>de</strong> e o direcionamento do questionário era<br />

dado ao proprietário da Casa <strong>de</strong> Farinha.<br />

Em um segundo momento, visando pontuar o estudo dos impactos ambientais<br />

oriundos das Casas <strong>de</strong> Farinha, adotou-se como metodologia particular e específica,<br />

a construção <strong>de</strong> matriz <strong>de</strong> impactos ambientais, que t<strong>em</strong> segundo Braga et.al (2002,<br />

p. 257), mediante comparativo entre outros métodos <strong>de</strong> mensuração <strong>de</strong> impactos<br />

ambientais, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disciplinar os raciocínios e os procedimentos<br />

<strong>de</strong>stinados a i<strong>de</strong>ntificar os agentes causadores e as respectiva modificações<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada ação ou conjunto <strong>de</strong> ações, b<strong>em</strong> como apresentar<br />

com parte compl<strong>em</strong>entar do processo ações mitigadoras para dirimir os impactos<br />

oriundos <strong>de</strong> um referido tipo <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimento. As matrizes atuais estão entre os<br />

instrumentos mais utilizados para avaliar os IAs oriundos <strong>de</strong> alguma ativida<strong>de</strong><br />

econômica que venha porventura causar danos ao ambiente, permitindo, ainda, a<br />

atribuição <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> e importância para cada tipo <strong>de</strong> impacto.<br />

(CUNHA & GUERRA, 2000,p. 90, FACHINI e SANT`ANNA, 2004)<br />

É importante salientar que nenhum método <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> impactos<br />

ambientais é infalível ou <strong>de</strong>va ser consi<strong>de</strong>rado perfeito, como também não existe<br />

método convencional ou padrão que seja apropriado a avaliação <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>preendimento, ressalta Fachini e Sant`Anna (2004).<br />

Em razão da especificida<strong>de</strong> e da enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variáveis que<br />

permeiam a ativida<strong>de</strong> das farinheiras, adotou-se neste trabalho o método <strong>de</strong> matriz<br />

<strong>de</strong> interação, on<strong>de</strong> cada célula <strong>de</strong> interseção representa a relação <strong>de</strong> causa e efeito<br />

dos impactos diretos, sendo feitas as análises dos dados apresentados pela equipe<br />

96


multidisciplinar que acompanhou a composição da mesma através <strong>de</strong> discussões<br />

pontuadas.<br />

Como a Matriz parte do pressuposto <strong>de</strong> que a interpretação dos dados <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

partir <strong>de</strong> uma equipe multidisciplinar, a mesma foi composta por profissionais <strong>de</strong><br />

formação acadêmica e profissional diferenciada, permitindo que foss<strong>em</strong> elencados o<br />

maior número <strong>de</strong> interpretações possíveis, b<strong>em</strong> como diferentes pontos <strong>de</strong> vista dos<br />

profissionais envolvidos neste processo. A equipe multidisciplinar foi composta por<br />

um bioquímico, dois administradores, um técnico <strong>em</strong> meio ambiente, biossegurança<br />

e gestão <strong>de</strong> resíduos, um biólogo, um enfermeiro e um mestre <strong>em</strong> gestão ambiental<br />

e gerenciamento <strong>de</strong> resíduos e um mestre <strong>em</strong> agronomia.<br />

Embora, não existam métodos infalíveis <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> impacto ambiental,<br />

há que se ressaltar que a matriz <strong>de</strong> interação, como ressalta Cunha & Guerra, 2000,<br />

é consi<strong>de</strong>rado como uma das metodologias mais completas e é utilizada como<br />

instrumento <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> diagnósticos importantes, como foi o caso da<br />

construção do aeroporto <strong>de</strong> Londrina e o Projeto <strong>de</strong> Integração do Rio São<br />

Francisco, elaborado <strong>em</strong> 2004, pelo Ministério da Integração Nacional.<br />

Inicialmente, para dar início ao trabalho <strong>de</strong> mapeamento <strong>de</strong> impactos e ações,<br />

pontuaram-se os principais impactos e ações, que <strong>de</strong>veriam pela intersecção ser<strong>em</strong><br />

analisados <strong>de</strong> forma concisa, porém primando pela crítica e veracida<strong>de</strong> das<br />

observações realizadas. Tais el<strong>em</strong>entos foram dispostos pela freqüência <strong>de</strong><br />

conhecimento oriunda dos profissionais envolvidos.<br />

Como salienta Lakatos & Marconi (1991, p. 158), a pesquisa que surge <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>trimento do levantamento <strong>de</strong> dados, po<strong>de</strong>rá surgir <strong>de</strong> três fontes básicas:<br />

pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e contatos diretos. Os contatos diretos<br />

são realizados com pessoas que po<strong>de</strong>m fornecer dados ou sugerir possíveis fontes<br />

<strong>de</strong> informações úteis.<br />

O levantamento <strong>de</strong> dados, nesta pesquisa ocorreu concomitant<strong>em</strong>ente<br />

através do procedimento documental, para apresentação <strong>de</strong> dados estatísticos e<br />

históricos; como também pela entrevista direta com as representações sociais<br />

envolvidas diretamente nos <strong>em</strong>preendimentos das Casas <strong>de</strong> Farinha alocadas na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos, uma vez o t<strong>em</strong>a central aqui apresentado – Casas <strong>de</strong><br />

Farinha – dispõe <strong>de</strong> literatura reduzida sobre o mesmo, daí para que haja a<br />

contextualização <strong>de</strong> alguns pontos <strong>de</strong> relevância, a comunida<strong>de</strong> e seus participantes<br />

são fontes precípuas <strong>de</strong> informações, quando estas não estão documentadas.<br />

96


5.0 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO<br />

A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos está localizada no Sudoeste baiano, na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Vitória da Conquista. Consi<strong>de</strong>rada como metrópole regional, Vitória da Conquista,<br />

fundada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1840, possui uma extensão territorial <strong>de</strong> 3.204,257 km², hoje t<strong>em</strong><br />

aproximadamente 308.200 habitantes – terceira maior da Bahia, distanciando da<br />

capital <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 510 quilômetros. Estrategicamente alocada, a cida<strong>de</strong><br />

conquistense faz divisa com vários municípios, entre eles estão: Anagé, Barra do<br />

Choça, Cândido Sales, Itambé, Encruzilhada, Ribeirão do Largo, Planalto e Belo<br />

Campo, tendo por esta e outras razões uma função político-sócio-econômica <strong>de</strong><br />

suma importância para o <strong>de</strong>senvolvimento regional, como especifica a Figura 9.<br />

Figura 10 – Localização geográfica - Vitória da Conquista (BA)<br />

Fonte: Google (2007) – dados cartográficos / Mapa Links/ Tele Atlas<br />

96


Vitória da Conquista possui, segundo dados do IBGE (2007) um PIB per<br />

capita na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$ 3.678,51, relativamente expressivo se comparado com outros<br />

ditames no resto do Estado da Bahia, quiçá o brasileiro. O IDH - Índice <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Humano também saltou do 30º lugar <strong>em</strong> 1991 para 18º <strong>em</strong> 2000.<br />

Dos 20 melhores IDHs baianos, Vitória da Conquista foi o que mais melhorou<br />

(PNUD, 2000)<br />

Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos<br />

Figura 11 – Localização espaço geográfica da Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos / Vitória da<br />

Conquista (BA)<br />

Fonte: Google (2007) – dados cartográficos / Mapa Links/ Tele Atlas<br />

Campinhos, consi<strong>de</strong>rado atualmente como bairro <strong>de</strong> Vitória da Conquista, <strong>em</strong><br />

função da Lei Municipal n 1385; 2006, do Plano Diretor urbano <strong>de</strong> 26/12/2006-PDU<br />

<strong>em</strong> que fica estabelecido, a partir do mesmo, o reconhecimento público do bairro<br />

enquanto unida<strong>de</strong> integrante do território <strong>em</strong> questão, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser a partir da<br />

mesma data distrito do município. Segundo dados do IBGE (2002) a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campinhos possui uma população <strong>de</strong> 3.757 moradores, sendo 1.934 homens e<br />

1923 mulheres, do universo populacional retira-se 487 crianças entre 0 a 4 anos e<br />

394 <strong>de</strong> 5 a nove anos.<br />

O bairro <strong>de</strong> Campinhos está entre os maiores beneficiadores da mandioca na<br />

região, gerando <strong>em</strong>pregos diretos, além dos indiretos <strong>em</strong> função da lavoura e<br />

comercialização dos produtos oriundos (Santos, 2001). Distanciado do centro da<br />

96


cida<strong>de</strong> por aproximadamente 9 km, a comunida<strong>de</strong> <strong>em</strong> 1946 - Distrito do município <strong>de</strong><br />

Vitória da Conquista, começou a se <strong>de</strong>stacar <strong>em</strong> uma nova ativida<strong>de</strong> econômica:<br />

Casa <strong>de</strong> Farinha. A localização espaço-geográfica das mesmas está pontuada por<br />

duas vias rodoviárias <strong>de</strong> sua importânca: a BA 262 e a BA 407, a primeira permite,<br />

pelo lado oeste da cida<strong>de</strong>, o acesso ao extr<strong>em</strong>o sul do Estado; a segunda liga o<br />

município a várias cida<strong>de</strong>s do sertão (Brumado, Guanambi, Caetité, Anagé).<br />

A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos teve início com um projeto <strong>de</strong>senvolvido pelos<br />

amigos Gerônimo Almeida Silva, Paulino Gomes, Joaquim <strong>de</strong> Rita e Germínio<br />

Machado. Até então, a comunida<strong>de</strong> sobrevivia apenas <strong>de</strong> pequenas olarias, que<br />

pelas dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas <strong>em</strong> nível <strong>de</strong> comercialização foram sendo aos poucos<br />

fechadas, surgindo, portanto, um novo viés econômico na região: as farinheiras,<br />

conforme relato <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança tradicionais na comunida<strong>de</strong>.<br />

Na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, encontrou-se na região <strong>de</strong> Campinhos<br />

duas gran<strong>de</strong>s glebas <strong>de</strong> terra: a fazenda São Pedro e a fazenda Campinhos. Esses<br />

dois imóveis foram <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brados e <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> a fazenda Bateias, hoje área<br />

urbana <strong>de</strong> Vitória da Conquista. Provavelmente, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros apud<br />

Alcântara e Barreto (1999), essas duas áreas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter tido uma gran<strong>de</strong><br />

importância para Vitória da Conquista, porque se percebe daí a primeira estrada que<br />

surgiu ligando o centro a Vitória da Conquista, hoje na área urbana conquistense, a<br />

estrada <strong>de</strong> Campinhos t<strong>em</strong> o nome <strong>de</strong> Rua Fernando Spínola. Ainda segundo o<br />

autor, a região sai da Mata <strong>de</strong> Cipó e gradativamente vai se aproximando da<br />

caatinga, não é propriamente caatinga, mas está próxima <strong>de</strong> suas especificações; é<br />

uma região servida <strong>de</strong> água, é circundada pela Lagoa das Bateias, o afluente<br />

indireto do Rio Verruga.<br />

Praticamente, como ressalta Alcântara e Barreto (1999), há quase um século<br />

a área v<strong>em</strong> sendo ocupada <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada e número <strong>de</strong> moradores se<br />

tornou mais expressivo na década <strong>de</strong> 60 e 70. Campinhos, atualmente, continua<br />

sendo um núcleo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> dos <strong>de</strong>rivados da mandioca. As <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>,<br />

local <strong>de</strong> beneficiamento da mandioca fornec<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregos informais a toda a família<br />

e também gera indiretamente o envolvimento <strong>de</strong> outras pessoas, são os<br />

caminhoneiros, carroceiros responsáveis pelo tráfego da lenha e dos produtos<br />

acabados que vão para os pontos <strong>de</strong> venda.<br />

Além das farinheiras, a comunida<strong>de</strong> também se <strong>de</strong>dica, s<strong>em</strong> maior relevância,<br />

a outros produtos <strong>de</strong> subsistência como é o caso do milho e do feijão que não são<br />

96


<strong>de</strong>stinados ao comercio. Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong> outras ativida<strong>de</strong>s econômicas <strong>de</strong><br />

menor expressão como bares, padarias e mercearias.<br />

A pecuária se faz presente. Há criação <strong>de</strong> bovinos e suínos <strong>em</strong> pequena<br />

escala, os eqüinos também se configuram <strong>em</strong> pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinados para<br />

o transporte da mandioca, da <strong>farinha</strong> e da lenha. A comunida<strong>de</strong> conta também com<br />

uma <strong>produção</strong> incipiente <strong>de</strong> tijolos e telhas, que se apropria da matéria-prima<br />

encontrada nas áreas alagadas ou úmidas.<br />

Recent<strong>em</strong>ente e s<strong>em</strong> maior expressivida<strong>de</strong>, o bairro t<strong>em</strong> se <strong>de</strong>dicado a<br />

<strong>produção</strong> do corante advindo do urucum.<br />

No bairro, encontra-se, <strong>em</strong> estágio avançado <strong>de</strong> contaminação, um pequeno<br />

riacho <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Riacho <strong>de</strong> Santa Rita, um dos formadores do Rio Verruga. A<br />

área apresenta clima local do tipo s<strong>em</strong>i-árido a sub-úmido, solo vermelho amarelado,<br />

com área aproximada <strong>de</strong> 13.292 ha, t<strong>em</strong> como comunida<strong>de</strong>s ribeirinhas os núcleos<br />

comunitários <strong>de</strong> Campinhos e Simão (ALCÂNTARA e BARRETO 1999).<br />

Verificada a bacia, sérios probl<strong>em</strong>as são <strong>de</strong>tectados no Riacho <strong>de</strong> Santa Rita,<br />

pois gran<strong>de</strong> parte dos <strong>de</strong>jetos e dos resíduos da mandioca são jogados neste<br />

reservatório. A poluição segue para outros afluentes, como é o caso do Riacho São<br />

Pedro e da própria comunida<strong>de</strong> que recebe direta ou indiretamente todo escoamento<br />

<strong>de</strong>ste resíduo (MEDEIROS apud ALCÂNTARA e BARRETO 1999)<br />

96


6 DISCUSSÃO DE RESULTADOS<br />

A pesquisa ora apresentada, como b<strong>em</strong> ressaltada <strong>em</strong> capítulos anteriores, terá<br />

como objeto <strong>de</strong> estudo a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos já caracterizada e localizada<br />

anteriormente, mas que aqui <strong>em</strong> função do repto estabelecido, será discriminada<br />

sob a ótica <strong>de</strong>scritiva sócio-econômica pleiteada por esta investigação.<br />

6.1 Descrição <strong>de</strong> Estrutura Física e Métodos <strong>de</strong> Produção Empregados<br />

O espaço físico abaixo discriminado pela Figura 12 reflete as dimensões<br />

territoriais do trabalho f<strong>em</strong>inino e masculino, como também referenda a essência <strong>de</strong><br />

um trabalho solidário e coletivo. Dispondo <strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong> divisão <strong>de</strong> tarefas e<br />

especialização do trabalho b<strong>em</strong> <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>tizada, a linha <strong>de</strong> <strong>produção</strong> é um elo entre o<br />

findar do trabalho <strong>de</strong> um e a continuida<strong>de</strong> da tarefa do outro.<br />

A <strong>farinha</strong>da ou a <strong>produção</strong> dos subprodutos da mandioca sela entre os<br />

participantes da <strong>produção</strong> a reafirmação entre os laços, que vão além do caráter<br />

produtivo, mas extrapola para os laços da amiza<strong>de</strong>, da confiança, do respeito, da<br />

lealda<strong>de</strong> na pessoa que o contratou e na equipe que toma para si o trabalho <strong>em</strong><br />

execução.<br />

96


4 5<br />

Quintal<br />

2<br />

1c 3a 3b 7<br />

1a<br />

1b<br />

Espaços f<strong>em</strong>ininos<br />

Espaços masculinos<br />

Espaços coletivos<br />

8<br />

9<br />

6 10<br />

Figura 12.: Divisão das etapas produtivas da Casa <strong>de</strong> Farinha – Planta Ilustrativa 12<br />

Fonte: Dados da pesquisa<br />

6.1.1 Espaço Físico e Divisão <strong>de</strong> Tarefas<br />

1a – Amontoado <strong>de</strong><br />

mandioca quando chega<br />

do roçado<br />

1b – Mulheres <strong>em</strong> s<strong>em</strong>icírculo<br />

1c – Espaço reservado<br />

para mandioca raspada<br />

2 – Cevador: máquina <strong>de</strong><br />

processamento da<br />

mandioca<br />

3a – Tanque on<strong>de</strong> a<br />

massa é misturada com<br />

água: 1ª lavag<strong>em</strong><br />

3b – Tanque <strong>de</strong>stinado ao<br />

trabalho <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong> pelas<br />

mulheres sobre um pano<br />

4 – Tanque <strong>de</strong> apuração<br />

do líquido<br />

5 – Prensa<br />

6 – Peneira<br />

7 – Forno<br />

8 – Quintal<br />

9 – Depósito<br />

10 – Forno 2: Beiju e<br />

tapioca<br />

A <strong>produção</strong> das Casas <strong>de</strong> Farinha começa muito cedo, ao nascer do sol e se<br />

esten<strong>de</strong> até o entar<strong>de</strong>cer. T<strong>em</strong> início celebrado com o cantarolar e as falácias da<br />

mão-<strong>de</strong>-obra f<strong>em</strong>inina, que munidas <strong>de</strong> uma boa faca amolada se preparam para a<br />

função da raspa, etapa que influencia todo o andamento da <strong>farinha</strong>da. Se houver<br />

qualquer atraso neste estágio, todos os outros procedimentos seguintes estão<br />

comprometidos.<br />

12 O mo<strong>de</strong>lo acima apresentado não se refere a nenhum padrão comunitário <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>, mas respon<strong>de</strong> a um<br />

arranjo mais próximo daquele que se repete entre as unida<strong>de</strong>s visitadas.<br />

96


Figura 13 – O trabalho f<strong>em</strong>inino nas Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

Fonte: Dados da Pesquisa<br />

A participação do trabalho f<strong>em</strong>inino - (Figura 13) - na <strong>produção</strong> é <strong>de</strong><br />

fundamental importância, cabendo a elas como segue ao que estar exposto no<br />

anexo o papel da raspa<strong>de</strong>ira e da tira<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> goma, reafirmando-se, portanto, o<br />

que foi referendado anteriormente quando da caracterização das Casas <strong>de</strong> Farinha,<br />

<strong>em</strong> que oportunamente, <strong>de</strong>screveu-se o papel f<strong>em</strong>inino como prioritário: caso elas<br />

não inici<strong>em</strong> as suas ativida<strong>de</strong>s, todo o restante do processo produtivo está<br />

comprometido.<br />

O trabalho masculino está direcionado a outras funções específicas, que<br />

normalmente, exig<strong>em</strong> força e <strong>de</strong>streza maior, pelos perigos <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente altos,<br />

são elas: forneiro, cevador, prenseiro. A divisão <strong>de</strong> tarefas entre homens e mulheres<br />

é bastante claro nas Casas <strong>de</strong> Farinha, porém essa segmentação também é<br />

percebida nas pontuações dos espaços físicos, <strong>de</strong>ixando claro on<strong>de</strong> homens e<br />

mulheres <strong>de</strong>v<strong>em</strong> exercer as suas funções.<br />

96


A agilida<strong>de</strong> e presteza <strong>de</strong>ste trabalho confer<strong>em</strong> a essas mulheres um papel<br />

<strong>de</strong> fundamental importância neste estágio do processo produtivo. Sentadas <strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>icírculo, <strong>em</strong> pedras, no assoalho do chão batido ou <strong>em</strong> pequenos tamboretes e<br />

s<strong>em</strong> apoio nas costas, conforme <strong>de</strong>monstração feita na Figura 1, anteriormente<br />

fixada, se divi<strong>de</strong>m <strong>em</strong> capoteiras ou tira<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> capotes, ou seja, algumas raspam<br />

a “cabeça” da mandioca até a meta<strong>de</strong> – capoteiras - e repassam para outra que<br />

sequencialmente <strong>de</strong>stituí o resto da raiz – tira<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> meia, no entanto, <strong>em</strong><br />

qualquer estágio são <strong>de</strong>nominadas, <strong>de</strong> forma generalizada <strong>de</strong> raspa<strong>de</strong>iras, s<strong>em</strong>pre<br />

no f<strong>em</strong>inino, porque os homens não participam <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>. Para armazenar a<br />

sua <strong>produção</strong> são utilizados cestos ou caçuás 13 , reafirmando a tendência <strong>de</strong>scrita<br />

por Alcântara e Barreto 1999.<br />

É muito comum neste momento presenciar falácias entre o mulherio,<br />

conversando <strong>de</strong> maneira animada sobre assuntos pertinentes a comunida<strong>de</strong>; entre<br />

um t<strong>em</strong>po e outro, surg<strong>em</strong> ações alternativas como o cantarolar <strong>de</strong> músicas<br />

regionais, antigas ou conhecidas. Em média, realizam este trabalho por 10 horas<br />

diárias <strong>de</strong> trabalho, com pequenos intervalos para alimentação, l<strong>em</strong>brando que é<br />

facultado horários alternativos, <strong>em</strong> função da <strong>de</strong>manda, para homens e mulheres.<br />

Ao findar do dia, pelo ritmo e posição dos trabalhos oferecidos, é comum verificar a<br />

diminuição no ritmo das conversas, mas ainda sobressai, até o último instante, o<br />

tilintar das facas que ainda perseveram para terminar o trabalho da ruma <strong>de</strong><br />

mandioca.<br />

Depois <strong>de</strong> raspadas, as raízes são colocadas <strong>em</strong> cestos para transporte<br />

interno, <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> caçuás, é neste momento que a mão-<strong>de</strong>-obra masculina<br />

também se faz presente. O ritmo suave e a musicalida<strong>de</strong> das facas amoladas são<br />

interrompidos pelo fervoroso e estri<strong>de</strong>nte som da máquina <strong>de</strong> moag<strong>em</strong>. Neste<br />

momento, o trabalhador masculino recebe o nome <strong>de</strong> cevador, triturando a<br />

mandioca e <strong>de</strong>ixando-a <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> massa. Obtido o processamento <strong>de</strong>ssa massa,<br />

a mesma é colocada <strong>em</strong> um primeiro tanque com água para que seja realizada uma<br />

primeira lavag<strong>em</strong>, reafirmando a fala <strong>de</strong> Alcântara e Barreto (1999)<br />

13 Compartimento feito <strong>de</strong> cipó, espécie <strong>de</strong> cesto, também utilizado para transporte <strong>em</strong> animais <strong>de</strong> carga.<br />

96


Intermediando o processo produtivo, entra <strong>em</strong> cena a mão-<strong>de</strong>-obra f<strong>em</strong>inina,<br />

que retira a massa que está submersa <strong>em</strong> água com ajuda <strong>de</strong> um bal<strong>de</strong>, e vai<br />

colocando sobre um tecido: é o momento <strong>de</strong> retirar a goma – caso o objetivo não<br />

seja a <strong>farinha</strong>. Se há como <strong>de</strong>finir este estágio fugindo das especificações técnicas,<br />

mas aproximando <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> mais <strong>de</strong>scritiva e adjetivada, po<strong>de</strong>mos dizer<br />

que é um momento <strong>de</strong> arte, se assim compreen<strong>de</strong>-se um bailado, on<strong>de</strong> entre duas<br />

mulheres, há alternância dos movimentos das mãos, e rapidamente, com ações para<br />

a esquerda e para a direita, sucumbe-se o líquido, escorrendo-o completamente e<br />

obtendo uma nova massa, que dará orig<strong>em</strong> a <strong>farinha</strong>.<br />

Nota-se pela <strong>de</strong>scrição, uma expressivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho artesanal, s<strong>em</strong><br />

maiores ações tecnificadas para a unida<strong>de</strong> industrial das Casas <strong>de</strong> Farinha, como<br />

b<strong>em</strong> ressalta o CEPEA (2005)<br />

Dando continuida<strong>de</strong> ao processo produtivo, a mandioca raspada, po<strong>de</strong><br />

também, ao ser conduzida para a máquina <strong>de</strong> moag<strong>em</strong> com motor elétrico ser<br />

enviada diretamente para a prensa, que t<strong>em</strong> como forma uma gran<strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ja, que<br />

são servidas por alguns sacos <strong>de</strong> náilon, que condicionam massa <strong>de</strong> 25 a 30 cm <strong>de</strong><br />

altura, vindo logo <strong>de</strong>pois uma outra tábua para repetição do mesmo processo.<br />

Depois <strong>de</strong> escorrida a massa, obtém-se uma altura <strong>de</strong> 10 a 15 cm.<br />

Ao lado, dois mourões serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> base para o condicionamento dos sacos<br />

que conterão a mandioca ralada ou cevada. Acima <strong>de</strong>sta estrutura, há um mourão<br />

com furos que é movimentado por um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> estrutura física forte, que com<br />

ajuda <strong>de</strong> uma torriquete espr<strong>em</strong>e a massa contida, por no mínimo oito horas, e <strong>de</strong>la<br />

escorre o líquido amarelado (manipueira), quanto mais a massa é pressionada, mais<br />

ela fica enxuta. Ao ficar seca, os torrões são <strong>de</strong>smanchados e passados <strong>em</strong> uma<br />

peneira enorme e acumulada <strong>em</strong> uma gran<strong>de</strong> caixa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira - cocho, enquanto a<br />

crueira 14 vai ficando retida na peneira, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong>stinada para alimentação <strong>de</strong><br />

porcos e galinhas (EMPBRAPA, 2005).<br />

14 Pedaços pequenos <strong>de</strong> mandioca que não foram cevados, ralados.<br />

96


A massa peneirada passa para os fornos no mesmo dia <strong>em</strong> que foi retirada da<br />

prensa para ser torrada e assim obter uma <strong>farinha</strong> <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>. Se a massa<br />

peneirada for <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> um dia para o outro, a <strong>farinha</strong> azeda e compromete-se a<br />

qualida<strong>de</strong> da mesma. Esta ativida<strong>de</strong> e a anterior é reservada apenas aos homens,<br />

como <strong>de</strong>monstra a Figura 14, chamados <strong>de</strong> forneiros. A mulher não <strong>de</strong>ve sequer<br />

subir nos fornos, porque é preciso <strong>de</strong>streza ao pisá-lo, argumenta-se ainda, que o<br />

forno por ser muito quente po<strong>de</strong> trazer sérios probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> à mulher,<br />

inclusive no <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> reprodutor, fala <strong>de</strong> um dos proprietários <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> <strong>farinha</strong><br />

J.P.S. 15<br />

Figura 14 Caracterização do Trabalho Masculino<br />

Fonte: Dados da Pesquisa<br />

Depois <strong>de</strong> torrada a <strong>farinha</strong> é condicionada <strong>em</strong> um resfriador – espécie <strong>de</strong><br />

prolongamento fechado do forno - para <strong>de</strong>pois ser ensacada. Para não <strong>de</strong>ixar<br />

resquícios algum da <strong>farinha</strong>da feita, um hom<strong>em</strong>, jamais uma mulher, sobe no forno e<br />

15 J.P.S dono <strong>de</strong> pequena casa <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>. Comentário adquirido enquanto se aplicava o instrumento <strong>de</strong> pesquisa.<br />

96


com ajuda <strong>de</strong> uma vassoura varre todo o perímetro, aproveitando ao máximo a<br />

<strong>produção</strong> obtida.<br />

Po<strong>de</strong>-se também utilizar o forno ainda quente para a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> beijus e<br />

tapioca. Esses <strong>de</strong>rivam da massa lavada no primeiro estágio e que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

suprimida e fermentada lhe é retirada a goma, nesse estágio é comum verificar tanto<br />

a presença masculina, quanto a f<strong>em</strong>inina.<br />

O trabalho nas Casas <strong>de</strong> Farinha, ainda que adjetivado por Simmel (1983),<br />

como uma ativida<strong>de</strong> coletiva e solidária, há que se consi<strong>de</strong>rar que pela natureza do<br />

trabalho <strong>em</strong>preendido, pela qualida<strong>de</strong> das condições <strong>de</strong> trabalho oferecidas, não<br />

<strong>de</strong>va ser consi<strong>de</strong>rado utopicamente a partir <strong>de</strong> relações interpessoais <strong>em</strong>preendidas<br />

<strong>de</strong> ajuda mútua, caracterizando a <strong>farinha</strong>da como um acontecimento intensivo na<br />

vida comunitária, muitas vezes pondo <strong>em</strong> evidência aspectos como amiza<strong>de</strong>,<br />

cordialida<strong>de</strong>, sociabilida<strong>de</strong> como fatores afins da continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sumana da<br />

execução <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> econômica .<br />

Como a <strong>farinha</strong>da acontece na Casa <strong>de</strong> Farinha, ela se torna o espaço social<br />

<strong>de</strong> maior expressivida<strong>de</strong> na vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>. Homens e/ou mulheres, neste<br />

momento, representam, como b<strong>em</strong> contextualiza Simmel (1983, p.178), parte <strong>de</strong><br />

uma coletivida<strong>de</strong> para a qual vive, mas da qual retira seus próprios valores e<br />

contribuições. O <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> valores, po<strong>de</strong> ser também entendido, segundo Robbins<br />

(2004, p.16), como a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> importância que se atribui a itens como<br />

liberda<strong>de</strong>, prazer, cultura, auto-respeito, honestida<strong>de</strong>, obediência e justiça, <strong>de</strong> uma<br />

maneira específica <strong>de</strong> condutas ou <strong>de</strong> concepções individuais ou socialmente<br />

preferíveis a um modo oposto.<br />

A Casa <strong>de</strong> Farinha funciona como agente caracterizador <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>produção</strong> agroindustrial. Os laços consangüíneos, a amiza<strong>de</strong>, o parentesco, ainda<br />

que r<strong>em</strong>otos, caracterizam a contratação das pessoas, que <strong>em</strong> equipe se<br />

consolidam com agentes co-responsáveis <strong>de</strong> uma <strong>produção</strong> que é coletiva. Talvez<br />

daí venha o referendar <strong>de</strong> Casa e não <strong>de</strong> indústria, por se r<strong>em</strong>eter,<br />

preferencialmente ao lócus <strong>de</strong> morada, <strong>de</strong> família, <strong>de</strong> espaço, <strong>de</strong> união. E como é<br />

salutar dizer que durante essas ativida<strong>de</strong>s profissionais, as histórias antigas e<br />

96


cotidianas se misturam num patrimônio uno e indivisível, apenas b<strong>em</strong> próximo e<br />

característico do comunitário Simmel (1983, p.178).<br />

Campinhos conta com pequenos produtores, possuidores <strong>de</strong> uma base<br />

produtiva agroindustrial familiar, caracterizada, a priori, como ativida<strong>de</strong> econômica<br />

responsável pela renda principal gerada pela comunida<strong>de</strong>. A <strong>produção</strong> aten<strong>de</strong> às<br />

solicitações <strong>de</strong> mercado, não há planificação mais precisa, respon<strong>de</strong> também como<br />

matéria-prima <strong>de</strong> outras ca<strong>de</strong>ias produtivas da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> municípios próximos à<br />

Região. A <strong>produção</strong> ainda se ass<strong>em</strong>elha aos mo<strong>de</strong>los antigos <strong>de</strong> <strong>produção</strong>,<br />

prevalecendo <strong>em</strong> todas as Casas <strong>de</strong> Farinha a ambiência artesanal e primária que<br />

vai do início da ca<strong>de</strong>ia produtiva até o escoamento dos <strong>de</strong>rivados para o consumo<br />

direto 16 e indireto 17 .<br />

A ativida<strong>de</strong> produtiva que lograva espaço possuía um caráter artesanal mais<br />

acentuado do este que se vê atualmente, o forno contava com a tração animal e a<br />

mandioca para ser cevada contava com ralos enormes e com o esforço humano<br />

para obtenção da massa, produto principal da ca<strong>de</strong>ia produtiva dos <strong>de</strong>rivados da<br />

mandioca.<br />

Como extensão das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> algumas proprieda<strong>de</strong>s rurais, as Casas <strong>de</strong><br />

Farinha foram aos poucos compondo o cenário da comunida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> registro prévio<br />

nos órgãos controladores e fiscalizadores da ativida<strong>de</strong> econômica, imperou-se a<br />

informalida<strong>de</strong> que se esten<strong>de</strong> até os dias atuais. Não há registro <strong>de</strong>stas unida<strong>de</strong>s<br />

agroindustriais, como também a relação entre o capital e o trabalho se dá na base<br />

da confiança e no relacionamento mútuo, ou seja, não há qualquer forma <strong>de</strong> contrato<br />

legal <strong>de</strong> trabalho ou <strong>de</strong> cooperação, ficando s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> evidência a<br />

proporcionalida<strong>de</strong> dos elos familiares que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam a relação produtiva. Há,<br />

que, portanto, se consi<strong>de</strong>rar um risco pr<strong>em</strong>ente da continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um processo<br />

produtivo, que t<strong>em</strong> como base a confiança e o parentesco, itens vulneráveis levando<br />

<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a própria construção histórica das classes sociais.<br />

16 Consumo direto: diz respeito aos <strong>de</strong>rivados da mandioca que vão para o consumidor final (<strong>farinha</strong>, beiju, tapioca, goma)<br />

17 Consumo indireto: refer<strong>em</strong>-se aos <strong>de</strong>rivados da mandioca que geram entradas para ca<strong>de</strong>ias produtivas <strong>de</strong> fábricas <strong>de</strong><br />

biscoito, panificadoras.<br />

96


No início, a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> mandioca, que era gerada nas proprieda<strong>de</strong>s rurais<br />

por pequenos produtores, era suficiente para abastecer as Casas <strong>de</strong> Farinha, que<br />

até então não se apresentavam tão numerosas. Com o passar do t<strong>em</strong>po, a ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser exclusiva do pioneirismo <strong>de</strong> alguns e passou a fazer parte da tradição<br />

dos Campinhos. Hoje, é necessário contar com a <strong>produção</strong> oriunda <strong>de</strong> outras<br />

cida<strong>de</strong>s circunvizinhas à região, buscando aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda das Casas <strong>de</strong><br />

Farinha existentes.<br />

Por muito t<strong>em</strong>po utilizou-se a energia natural, principalmente a lenha, como<br />

combustível <strong>de</strong> viabilização do processo produtivo e até, hoje, a comunida<strong>de</strong> insiste<br />

na utilização do mesmo mecanismo <strong>de</strong> energia, pelo “baixo custo”, como ocorre <strong>em</strong><br />

alguns relatos. Segundo relatos <strong>de</strong> N.M.T 18 , na região havia uma gran<strong>de</strong> reserva<br />

florestal, mas com uso ininterrupto da lenha como combustível dos fornos utilizados<br />

na <strong>produção</strong> da <strong>farinha</strong>, a região é <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> reserva <strong>de</strong>ste tipo, o que torna-se<br />

uma ação preocupante, via que hoje ainda se utiliza do mesmo instrumento, porém<br />

<strong>de</strong>vasta-se outras áreas próximas ao bairro <strong>em</strong> questão, confirmando diagnóstico<br />

apresentado pela COOPASUB (2005) on<strong>de</strong> as matas regionais são as maiores<br />

fontes <strong>de</strong> energia natural – lenha – na região (Figura 11) e para maior<br />

expressivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste dado analisa-se que os povoados e cida<strong>de</strong>s circunvizinhas têm<br />

servido <strong>de</strong> base para o fornecimento <strong>de</strong>ste el<strong>em</strong>ento (Figura 10)<br />

18 Comerciante e proprietário <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>, 63 anos, morador antigo da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos<br />

96


FIGURA 15 – Predominância da utilização da lenha nos fornos das Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

Fonte: dados da pesquisa<br />

Em um outro relato, coletado junto à comunida<strong>de</strong> com J.F.F.S 19 , espécies<br />

nativas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras, anteriormente vistas, hoje são mais do que relíquias na região,<br />

tornaram-se espécies lendárias, por não mais ser<strong>em</strong> vistas como eram <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos<br />

idos, é o caso do angico, da baraúna, do pau d`arco, caboclo, canela, catuá, <strong>de</strong>ntre<br />

outras.<br />

Na região Nor<strong>de</strong>ste, há uma forte <strong>de</strong>pendência da população rural pela lenha.<br />

Ela sustenta milhares <strong>de</strong> famílias que trabalham <strong>em</strong> sua retirada, além <strong>de</strong> manter a<br />

<strong>produção</strong> <strong>de</strong> vários <strong>em</strong>preendimentos regionais, como é o caso específico das<br />

Casas <strong>de</strong> Farinha, ativida<strong>de</strong> s<strong>em</strong>i-industrial on<strong>de</strong> a lenha é a principal fonte<br />

energética dos seus <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> <strong>de</strong> <strong>produção</strong> (GOMES, 2000, p. 26 & NOGUEIRA,<br />

2001, p. 31).<br />

19 Filho da região, 61 anos, comerciante conquistense, viveu boa parte da infância nesta região e na comunida<strong>de</strong> por ter<br />

um pai proprietário também <strong>de</strong> Casa <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>.<br />

96


6.1.2 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> R<strong>em</strong>uneração adotado pelas Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

7%<br />

21%<br />

34%<br />

7%<br />

17%<br />

14%<br />

O lucro é dividido R$ 8,00/dia (mulher) - R$ 15,00/dia (hom<strong>em</strong>)<br />

Não respon<strong>de</strong>u R$ 8,00/dia (mulher) - R$ 12,00/dia (hom<strong>em</strong>)<br />

R$ 10,00/dia (hom<strong>em</strong> e mulher) R$ 7,00/dia (mulher) - R$ 10,00/dia (hom<strong>em</strong>)<br />

FIGURA16 - Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> R<strong>em</strong>uneração Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

Fonte: Dados obtidos <strong>em</strong> pesquisa <strong>de</strong> campo realizada entre maio e junho <strong>de</strong> 2007 na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos: Vitória da Conquista - BA<br />

Há uma distinção entre o valor r<strong>em</strong>uneratório pago aos homens e às<br />

mulheres pelo trabalho realizado por um ou pelo outro.<br />

As mulheres, seguindo outras tendências profissionais, são r<strong>em</strong>uneradas por<br />

um valor menor. Ainda que as horas trabalhadas por ambos sejam as mesmas - 10<br />

horas diárias <strong>em</strong> média – predomina a diferenciação da mão <strong>de</strong> obra contratada.<br />

Esse valor, no momento <strong>de</strong> realização <strong>de</strong>ste pleito, variava entre R$ 8,00 a R$9,00<br />

pelo trabalho f<strong>em</strong>inino e R$ 10,00 a R$ 12,00 para o trabalho masculino.<br />

Havendo uma variação entre a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dias trabalhados, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> fatores, entre eles a oferta da mandioca, o preço do mercado, os<br />

dias <strong>em</strong> que a mandioca chega à comunida<strong>de</strong>, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra,<br />

entre outros, a r<strong>em</strong>uneração é variável.<br />

96


Tomando por média um número <strong>de</strong> 5 dias, que correspon<strong>de</strong> a maior<br />

estimativa encontrada na pesquisa referente a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dias <strong>de</strong>stinados a<br />

<strong>produção</strong> nas Casas <strong>de</strong> Farinha e comparando os mesmos a melhor r<strong>em</strong>uneração<br />

<strong>de</strong>stinada a ambos, teríamos <strong>em</strong> freqüência produtiva linear os seguinte valores<br />

sendo pagos aos trabalhadores das farinheiras:<br />

TABELA 3: R<strong>em</strong>uneração do Trabalhador das Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

Trabalho Horas Dias Valor R<strong>em</strong>uneração R<strong>em</strong>uneração<br />

Trabalhadas Trabalhados<br />

S<strong>em</strong>anal Mensal<br />

F<strong>em</strong>inino 10 5 R$ 9,00 R$ 45,00 R$ 180,00<br />

Masculino 10 5 R$ 12,00 R$ 60,00 R$ 240,00<br />

Fonte: Dados oriundos <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> campo realizada entre maio e junho <strong>de</strong> 2007 na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos: Vitória da Conquista - BA<br />

Partindo da analogia dos dados acima apresentados, e consi<strong>de</strong>rada a<br />

r<strong>em</strong>uneração mínima paga no Brasil, que atualmente é <strong>de</strong> R$ 380,00 (DOU,<br />

1/04/07), o nível <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração estabelecido está abaixo do valor que é<br />

consi<strong>de</strong>rado como o justo mínimo a ser pago a um trabalhador no Brasil. Por outra<br />

razão, o baixo nível <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração exige um maior elo entre vários el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong><br />

uma mesma família, como maneira inexeqüível <strong>de</strong> proporcionar aumento na renda<br />

familiar, s<strong>em</strong> contar que o número <strong>de</strong> horas trabalhadas exce<strong>de</strong> o limite permitido<br />

<strong>em</strong> lei, que são <strong>de</strong> oito horas diárias.<br />

Os laços familiares é outra característica <strong>de</strong> relevância que <strong>de</strong>ve ser<br />

consi<strong>de</strong>rada na análise <strong>de</strong>stes <strong>em</strong>preendimentos. Nas Casas <strong>de</strong> Farinha, as<br />

contratações pelos laços consangüíneos são relativamente altas, até pela própria<br />

natureza do <strong>em</strong>preendimento <strong>em</strong> questão. Consi<strong>de</strong>rando-se a relação familiar e a<br />

contratação fixa, soma-se um percentual significativo (SIMMEL 1983, p.178).<br />

Baseando-se, também, nos dados registrados no apêndice A <strong>de</strong>sta pesquisa,<br />

chega-se a conclusão que, aproximadamente, 69% das pessoas que trabalham nas<br />

farinheiras possu<strong>em</strong> laços consangüíneos, daí a <strong>de</strong>pendência econômica criada<br />

para subsidiar a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste <strong>em</strong>preendimento, <strong>em</strong> outra análise, po<strong>de</strong>mos<br />

concluir que a <strong>produção</strong> é gerada <strong>em</strong> torno da família, portanto o índice <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência econômica entre os m<strong>em</strong>bros e sua ativida<strong>de</strong> é relativamente alta.<br />

96


Além dos laços consangüíneos, há que se consi<strong>de</strong>rar também, o nível <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> das pessoas envolvidas no processo produtivo, pois este passa a<br />

coadunar junto com o primeiro um outro fator <strong>de</strong> relevância para a submissão a<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida, frente a outros mercados que <strong>de</strong>marcam exigências<br />

diferenciadas, e o grau <strong>de</strong> instrução é uma <strong>de</strong>las.<br />

Na comunida<strong>de</strong>, exist<strong>em</strong> duas escolas públicas, com pouca incidência <strong>de</strong><br />

aulas vagas ou falta <strong>de</strong> professor, como atesta 76 % dos entrevistados. Há um<br />

número significativo <strong>de</strong> jovens, entre 17 e 25 anos que trabalham nas Casas <strong>de</strong><br />

Farinha, correspon<strong>de</strong>ndo a um percentual <strong>de</strong> 37,9% das pessoas <strong>em</strong>pregadas<br />

diretamente na <strong>produção</strong> (APENDICE A). Entre os entrevistados, apenas 10% da<br />

mão-<strong>de</strong>-obra não estão na escola ou não terminaram seus estudos. Entre aqueles<br />

que não estudam, 49% resi<strong>de</strong>m entre a qualificação básica da 1ª a 4ª série, 31%<br />

estão na faixa da 5ª a 8ª série.<br />

Embora, não tenha sido pontuada a existência da inserção do trabalho infantil<br />

nas Casas <strong>de</strong> Farinha, é bom salientar que na pesquisa foram pontuados 3% <strong>de</strong><br />

menores entre e 15 e 16 anos que trabalham nas Casas , s<strong>em</strong> nenhum registro<br />

prévio e aí, estão para compl<strong>em</strong>entar a renda familiar, além <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> com grau <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> abaixo da faixa etária que possu<strong>em</strong>.<br />

6.1.3 Estrutura funcional das Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

Todas a <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> que exist<strong>em</strong> <strong>em</strong> funcionamento na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campinhos operam <strong>em</strong> regime <strong>de</strong> informalida<strong>de</strong>, porque nenhuma Casa <strong>de</strong> Farinha<br />

é registrada, nos órgãos competentes públicos como pessoa jurídica, portanto não é<br />

configurada como tal. De certa forma, todas assum<strong>em</strong> uma espécie <strong>de</strong> anonimato<br />

jurídico, <strong>em</strong>bora falar na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos, é falar <strong>em</strong> <strong>produção</strong> <strong>de</strong> Casas<br />

<strong>de</strong> Farinha. Devendo ser salientado que a comunida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> como fundamento<br />

econômico as ativida<strong>de</strong>s das farinheiras. Essa informalida<strong>de</strong> é ainda mais acentuada<br />

pela ausência <strong>de</strong> qualquer registro na comunida<strong>de</strong> das Casas <strong>de</strong> Farinha existentes<br />

96


ou que já fizeram parte no arranjo produtivo local <strong>em</strong> anos anteriores. Não exist<strong>em</strong><br />

associações representativas dos produtores, não há formalização <strong>de</strong> sindicatos ou<br />

qualquer outro tipo <strong>de</strong> instituição que po<strong>de</strong>ria estar sendo o agente catalogador dos<br />

dados pertinentes a este <strong>em</strong>preendimento.<br />

Ao ser<strong>em</strong> interrogados, quanto ao probl<strong>em</strong>a da informalida<strong>de</strong>, 3% dos<br />

proprietários <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha, afirmam ser inviável adotar o procedimento <strong>de</strong><br />

registro, tanto <strong>em</strong> relação ao <strong>em</strong>preendimento, quanto no que diz respeito aos<br />

funcionários que trabalham para eles, pois o ônus <strong>de</strong> tal exigência é incompatível<br />

com as receitas geradas pelas farinheiras. Para 10% dos entrevistados, pelo fato <strong>de</strong><br />

se trabalhar <strong>em</strong> família, este requisito torna-se <strong>de</strong>snecessário, prevalecendo na<br />

contratação a fundamentação da confiança. 14% dos pesquisados acreditam que o<br />

fato do trabalhador ser contratado <strong>em</strong> regime <strong>de</strong> diárias, não seria justo contratá-los<br />

por t<strong>em</strong>po in<strong>de</strong>terminado. Porém, surpreen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, 73% dos proprietários <strong>de</strong><br />

Casas <strong>de</strong> Farinha se negaram a respon<strong>de</strong>r a referida indagação, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

subtraídos <strong>de</strong> forma induzida <strong>de</strong>sta postura, fundamentação indireta <strong>de</strong><br />

reconhecimento do peso que a informalida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> perante os órgãos fiscalizadores e<br />

o próprio mercado <strong>em</strong> si.<br />

Segundo dados coletados, mediante o instrumento <strong>de</strong> pesquisa utilizado<br />

nesta investigação, a comunida<strong>de</strong> nasceu com o surgimento dos primeiros<br />

<strong>em</strong>preendimentos farinheiros. Entre as Casas que permanec<strong>em</strong> <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>,<br />

apenas 3% apresentam menos <strong>de</strong> 05 anos <strong>de</strong> funcionamento, 34% - maior marg<strong>em</strong><br />

consi<strong>de</strong>rada – têm aproximadamente 15 a 20 anos <strong>de</strong> operação. Mesmo com a falta<br />

<strong>de</strong> estrutura e pouco dimensionamento hoje para as exigências <strong>de</strong> mercado,<br />

encontramos ainda um percentual consi<strong>de</strong>rável <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 14% para Casas <strong>de</strong><br />

Farinha que sobreviveram a 30 anos <strong>de</strong> existência e provavelmente, são e foram<br />

multiplicadoras entre familiares e/ou entre pessoas da própria comunida<strong>de</strong> para que<br />

surgiss<strong>em</strong> outras unida<strong>de</strong>s farinheiras na região. Reafirmando, o que foi citado por<br />

Simmel (1983, p.178), <strong>em</strong> que a comunida<strong>de</strong> passa a referenciar os valores e as<br />

contribuições <strong>de</strong> seus participantes, ainda mais quando são tão impregnados por<br />

uma i<strong>de</strong>ntificação local que está diss<strong>em</strong>inada nas práticas e vivências <strong>de</strong> uma<br />

população que vive <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> costumes arraigados <strong>em</strong> seu cotidiano.<br />

96


A maioria dos proprietários das Casas <strong>de</strong> Farinha são homens,<br />

correspon<strong>de</strong>ndo a 69%. Embora, há que se consi<strong>de</strong>rar que o percentual f<strong>em</strong>inino<br />

também é representativo, estando na marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> 31%. Quanto ao grau <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong>, as mulheres, como donas <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha, assum<strong>em</strong> um grau <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> um pouco superior ao dos homens, cerca <strong>de</strong> 67%, <strong>em</strong> contraposição<br />

ao masculino que se aproxima <strong>de</strong> 65%. Porém, analisado, pelo maior grau <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong>, as mulheres sobressa<strong>em</strong> aos homens, ou seja, 35% dos proprietários<br />

masculinos <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha, possu<strong>em</strong> da 5ª a 8ª séries, já para o universo<br />

f<strong>em</strong>inino este grau sobe para quase 45%.<br />

Reafirma-se, portanto, o que foi citado por (Santos & Men<strong>de</strong>s, 1997), que por<br />

ter um grau <strong>de</strong> instrução baixo e pouco inserido nas performances <strong>de</strong> mercado, os<br />

dono <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que é fabricante, é também o<br />

agricultor, o comerciante, on<strong>de</strong> o balcão da barganha favorece mais ao consumidor<br />

direto ou indireto.<br />

Ao ser<strong>em</strong> interrogados sobre a escolha da ativida<strong>de</strong> produtiva, os<br />

proprietários <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha, reconhec<strong>em</strong> que a tradição familiar é a estimativa<br />

mais alta para justificar a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste processo, chegando a 60%. Em<br />

contrapartida, 34% diz<strong>em</strong> que na continuida<strong>de</strong> se dá porque não há outras<br />

perspectivas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego ou oportunida<strong>de</strong>s oferecidas na comunida<strong>de</strong>, portanto,<br />

sendo mais cômodo trabalhar com o que é mais comum a ser encontrado. Os 6%<br />

restantes, divi<strong>de</strong>m-se <strong>em</strong> 3% <strong>de</strong> pessoas que reconhec<strong>em</strong> que não saberiam fazer<br />

outra coisa diferente, e 3% ainda consi<strong>de</strong>ram a Casa <strong>de</strong> Farinha como um negócio<br />

rentável.<br />

As Casas <strong>de</strong> Farinha presentes na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos aproximam-se<br />

muito do mo<strong>de</strong>lo perpetuado no Nor<strong>de</strong>ste brasileiro (CEPEA). São <strong>casas</strong> <strong>de</strong><br />

estrutura artesanal, maquinários rústicos, que estão próximos do método tradicional<br />

<strong>de</strong> <strong>produção</strong>. Tradicional, porque se aproxima <strong>em</strong> muito da contribuição indígena<br />

para o surgimento das Casas <strong>de</strong> Farinha, sendo pouco tecnificadas: pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

adobão – tipo <strong>de</strong> tijolo usados <strong>em</strong> construções do s<strong>em</strong>i-árido nor<strong>de</strong>stino – pare<strong>de</strong>s<br />

caiadas, chão batido, telhados rústicos.<br />

96


7%<br />

7%<br />

14%<br />

34%<br />

3%<br />

21%<br />

14%<br />

Menos <strong>de</strong> 05 anos Entre 05 e 10 anos Entre 10 e 15 anos Entre 15 e 20 anos<br />

Entre 20 e 25 anos Entre 25 e 30 anos Acima <strong>de</strong> 30 anos<br />

Figura 17 – T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> funcionamento das Casas <strong>de</strong> <strong>farinha</strong><br />

Fonte: Dados obtidos <strong>em</strong> pesquisa <strong>de</strong> campo realizada entre maio e junho <strong>de</strong> 2007 na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos: Vitória da Conquista - BA<br />

Além dos aspectos rústicos e das formas tradicionais na aplicação dos<br />

processos produtivos <strong>em</strong>pregados, as Casas <strong>de</strong> Farinha da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Campinhos operam pela predominância do uso da lenha na combustão dos fornos<br />

utilizados nas farinheiras. Pela perda pontual ocorrida nos aproximados 50 anos <strong>de</strong><br />

implantação <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> na região, a redução da mata nativa é consi<strong>de</strong>rável,<br />

sendo observadas extensas faixas <strong>de</strong> terra <strong>de</strong>stinadas a pastag<strong>em</strong>, ou quando muito<br />

abandonadas pela imigração natural para outras áreas on<strong>de</strong> servirão para plantio. O<br />

uso da lenha <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou na comunida<strong>de</strong> intensas ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento e hoje,<br />

compromete reservas <strong>de</strong> outras comunida<strong>de</strong>s e povoados próximos a ativida<strong>de</strong> das<br />

farinheiras, ação pontuada por Fioretto (1985), Alcântara e Barreto (1999),<br />

COOPASUB (2005) e Rocha e Cerqueira (2006) e mais uma vez confirmado pelos<br />

dados <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong>sta pesquisa conforme dados expressos na figura 18, abaixo<br />

apresentada:<br />

96


17%<br />

7%<br />

3%<br />

7%<br />

14%<br />

3%<br />

Figura 18 – Orig<strong>em</strong> da lenha utilizada na <strong>produção</strong> das Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

Fonte: Dados obtidos <strong>em</strong> pesquisa <strong>de</strong> campo realizada entre maio e junho <strong>de</strong> 2007 na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos: Vitória da Conquista - BA<br />

Há que se consi<strong>de</strong>rar também que 83% dos proprietários <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha<br />

utilizam a lenha como fonte natural <strong>de</strong> energia a ser utilizada no processo produtivo<br />

<strong>de</strong>ste <strong>em</strong>preendimento. Estima-se, pelos dados coletados nesta pesquisa, que<br />

aproximadamente que entre a 5 a 10 m3 s<strong>em</strong>anais <strong>de</strong> lenha são utilizados por cada<br />

uma das 25 farinheiras alocadas na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos. Em dados mais<br />

precisos, isso significaria, que <strong>em</strong> caminhões <strong>de</strong> eixo 2, como os que circulam na<br />

comunida<strong>de</strong>, cada caminhão transportaria 20 m³ <strong>de</strong> lenha. Consi<strong>de</strong>radas 25<br />

<strong>em</strong>preendimentos e tomados por média um consumo s<strong>em</strong>anal <strong>de</strong> 8m3 <strong>de</strong> lenha, ter-<br />

se-ia um consumo s<strong>em</strong>anal estimado <strong>em</strong> 200m³, necessitando, portanto <strong>de</strong> 10<br />

caminhões s<strong>em</strong>analmente carregados para aten<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combustão<br />

dos fornos. Compromete-se portanto, <strong>de</strong> forma bastante significativa o resto <strong>de</strong> mata<br />

nativa existente na região, a biota local, a qualida<strong>de</strong> do solo, a qualida<strong>de</strong> do ar<br />

atmosférico, entre outros fatores, o que v<strong>em</strong> para reafirmar o que foi discutido<br />

anteriormente com Alcântara e Barreto (1999), COOPASUB (2005) e Rocha e<br />

Cerqueira (2006).<br />

3%<br />

25%<br />

21%<br />

Iguá Nas proximida<strong>de</strong>s Dantelância<br />

Veredinha São João da Vitória Quati<br />

Não sabe informar Não utiliza lenha Lagoa <strong>de</strong> Timóteo<br />

96


6.2 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA ATIVIDADE<br />

6.2.1 Efeito e extensão dos impactos<br />

Com o intuito <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar os principais impactos ambientais oriundos da<br />

<strong>produção</strong> das Casas <strong>de</strong> Foram e mediado pelo instrumento <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong><br />

Impactos Ambientais – Matriz <strong>de</strong> Interação – foram catalogados 19 ações humanas,<br />

que <strong>em</strong> disposição <strong>de</strong> intersecção foram comparadas concomitant<strong>em</strong>ente com 13<br />

impactos físicos, 9 impactos antrópicos e 3 impactos bióticos.<br />

Posto <strong>em</strong> evi<strong>de</strong>ncia os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> estudo, verificou-se, enquanto<br />

<strong>em</strong>preendimento, uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> ação erosiva ao meio sendo pontuado <strong>em</strong><br />

torno <strong>de</strong> 95% os efeitos negativos oriundos da ativida<strong>de</strong> econômica.<br />

Os Impactos positivos encontrados situam-se <strong>em</strong> sua maioria <strong>em</strong> torno <strong>de</strong><br />

5%, e estão mais concentrados entre os geradores <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e renda.<br />

Notoriamente, chama-se a atenção para as ativida<strong>de</strong>s diretas e indiretas que são<br />

consumadas como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong> do trabalhador. As ativida<strong>de</strong>s que<br />

envolv<strong>em</strong> o <strong>de</strong>smatamento, a monocultura, o trabalho juvenil, as queimadas e a<br />

aplicação <strong>de</strong> agrotóxicos <strong>em</strong>bora incidam uma r<strong>em</strong>uneração direta, mas<br />

indiretamente, proporcionam uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> erosão ao meio (GOMES apud<br />

BECKER, 2001, p.95)<br />

Os impactos negativos estão presentes <strong>em</strong> toda a extensão da análise, o que<br />

<strong>de</strong>monstra que o <strong>em</strong>preendimento analisado, ao longo do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> instauração se<br />

apropriou das técnicas produtivas s<strong>em</strong> que se <strong>de</strong>sse importância a uma formatação<br />

concisa preocupada com as questões ambientais e do espaço físico on<strong>de</strong> se<br />

estruturava. Quando o assunto é a <strong>de</strong>marcação do espaço físico observam-se<br />

efeitos negativos pela forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> ocupação, seja esta humana ou da<br />

instalação das Casas <strong>de</strong> Farinha ou <strong>de</strong> outros <strong>em</strong>preendimentos comerciais, ainda<br />

que irrisórios, mas que se faz<strong>em</strong> presentes no espaço, reafirma-se, portanto a<br />

discussão trazida por Becker (2001).<br />

96


Além da ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada da área, pontua-se também a ausência <strong>de</strong><br />

saneamento básico, que torna-se agente causador direto <strong>de</strong> algumas doenças,<br />

além <strong>de</strong> pontuar negativamente aspectos <strong>de</strong> higiene na área ou paisagens erosivas<br />

pela <strong>de</strong>gradação visual da mesma. Parece que, pela ausência <strong>de</strong> políticas públicas<br />

direcionadas a regulamentação ou intervenção direta no ambiente <strong>em</strong> questão, as<br />

práticas passam a ser rotineiras e a acomodação com a paisag<strong>em</strong> perpassa pelo<br />

el<strong>em</strong>ento do costume.<br />

O lixo acumulado e os resíduos oriundos do funcionamento das farinheiras<br />

<strong>de</strong>notam mais um impacto negativo a ser observado. Afetam toda a extensão<br />

territorial, contaminam os solos e os lençóis freáticos pela incidência <strong>de</strong> uma enorme<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manipueira que é liberada livr<strong>em</strong>ente no solo e causam além <strong>de</strong> um<br />

aspecto negativo na paisag<strong>em</strong>, a diss<strong>em</strong>inação evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um odor agressivo que<br />

se percebe na comunida<strong>de</strong>.<br />

Ações humanas como <strong>de</strong>smatamento, monocultura, queimadas pertenc<strong>em</strong> a<br />

um mo<strong>de</strong>lo tradicionalista <strong>de</strong> <strong>produção</strong>. Além <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> recursos imediatistas para<br />

usar os recursos ambientais disponíveis, eles acabam <strong>de</strong>teriorando o entorno que<br />

constitui o espaço físico que sofre a <strong>de</strong>gradação do meio que perece. Presentes na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos, todos os el<strong>em</strong>entos acima dispostos são alvo, também,<br />

<strong>de</strong> impactos negativos não somente na paisag<strong>em</strong> que a dispõe, mas, sobretudo na<br />

biodiversida<strong>de</strong> que está comprometida, ou para estudos mais específicos talvez<br />

ausentes daquilo que era encontrado <strong>em</strong> anos anteriores. A ausência <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<br />

bióticos, compromet<strong>em</strong> o equilíbrio e impe<strong>de</strong>m que funções sistêmicas do meio<br />

natural esteja comprometido, como recorda Veiga (1994).<br />

Em relação a execução do trabalho e as condições legais e físicas que estão<br />

dispostos os trabalhadores das Casas <strong>de</strong> Farinha, os impactos também são<br />

negativos e quanto a extensão dos mesmos po<strong>de</strong>mos dizer que se esten<strong>de</strong> por toda<br />

a área da comunida<strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> higiene, a exposição a um ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />

insalubre, a exposição a riscos físicos, a falta <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ocupacional compromete<br />

seriamente a integrida<strong>de</strong> dos trabalhadores <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>. (BARBOSA FILHO,<br />

2001)<br />

96


O trabalho, diferent<strong>em</strong>ente do que pensa Araujo (2006), nas <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong><br />

está distante <strong>de</strong> ser promulgado pela competencia ou habilida<strong>de</strong> da pessoas<br />

envolvidas, ele passa a ser um mero reprodutor <strong>de</strong> ações quantitativas que visam<br />

aten<strong>de</strong>r o mercado <strong>em</strong> seu espectro <strong>de</strong> venda e não se preocupa, ou ainda não se<br />

alertou para o individuo, el<strong>em</strong>ento gerenciador <strong>de</strong>ste <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>.<br />

6.2.2 Natureza e t<strong>em</strong>porarieda<strong>de</strong> dos Impactos Ambientais<br />

Os impactos ambientais observados são, <strong>em</strong> sua gran<strong>de</strong> maioria, <strong>de</strong><br />

inci<strong>de</strong>ncia direta <strong>em</strong> relação aos efeitos por ele causados. Quanto a t<strong>em</strong>porarieda<strong>de</strong>,<br />

há predominância t<strong>em</strong>porária imediata, o que uma vez analisados os impactos,<br />

coaduna com uma preocupação <strong>em</strong>ergencial frente ao quadro <strong>de</strong> estudo que ora se<br />

apresenta.<br />

6.2.3 Periodicida<strong>de</strong> e Intensida<strong>de</strong> dos Impactos Ambientais<br />

Prevalec<strong>em</strong> neste el<strong>em</strong>ento a peridiocida<strong>de</strong> contínua <strong>de</strong>terminando a<br />

constãncia <strong>de</strong> alguns procedimentos. Ressalva-se, porém, alguns el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong><br />

estudo, como é o caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento, da monocultura e das queimadas, visto<br />

que esses impactos respon<strong>de</strong>m por uma sazonalida<strong>de</strong> própria <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento,<br />

principalmente, do período <strong>em</strong> que os pequenos produtores locais se <strong>de</strong>dicam ao<br />

plantio ou preparação da terra para a execução do mesmo. (COOPASUB, 2005)<br />

Há que se consi<strong>de</strong>rar também, que a matéria-prima, hoje v<strong>em</strong> <strong>de</strong> várias<br />

regiões próximas, como <strong>de</strong>limitou-se na primeira parte <strong>de</strong>sta pesquisa e a lenha<br />

utilizada na combustão dos fornos é oriunda, <strong>em</strong> sua maioria, <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s e<br />

povoados, o que por caracterizar uma continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> processos, r<strong>em</strong>ete-se a uma<br />

preocupação <strong>em</strong>ergencial, posto que não havendo reservas ver<strong>de</strong>s na comunida<strong>de</strong>,<br />

indiretamente Campinhos contribui para que outros <strong>de</strong>sertos ver<strong>de</strong>s surjam <strong>em</strong><br />

regiões próximas.<br />

96


Levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a intensida<strong>de</strong> dos impactos ambientais, verificouse<br />

que se põe <strong>em</strong> evidência o el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> força, significativamente representando o<br />

teor que os impactos estão tendo na re<strong>produção</strong> do mo<strong>de</strong>lo produtivo ora<br />

<strong>em</strong>pregado e que reproduz um ambiente alvo <strong>de</strong> erosão ambiental, social e humana,<br />

confirmando o que foi <strong>de</strong>fendido anteriormente por Gómez apud Becker, 2001, p.<br />

102.<br />

6.2.4 Reversibilida<strong>de</strong> e probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência dos Impactos Ambientais<br />

Como a questão ambiental é um chamado e um exercício <strong>de</strong> adaptação<br />

proposto a humanida<strong>de</strong> neste século, e que o momento vivido perpassa pela<br />

reconstrução <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> viver no planeta com reflexão profunda,<br />

generalizada e consistente, o observado por esta pesquisa v<strong>em</strong> a convalidar o<br />

discurso <strong>de</strong> Guimarães apud Viana, Silva e Diniz, pois se tratando <strong>de</strong> reversibilida<strong>de</strong>,<br />

para perspectivas futuras próximas, há como contornar algumas das ações ou dos<br />

impactos que atualmente adjetivam a Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos como um<br />

ambiente erosivo, salientando Gómez apud Becker, 2001, p. 95.<br />

A reversibilida<strong>de</strong> conforme analogia feita é alta, o que confere a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que, através <strong>de</strong> uma intervenção precisa, provavelmente pelas entida<strong>de</strong>s<br />

públicas, visto que por estar<strong>em</strong> na informalida<strong>de</strong> e não possuir<strong>em</strong> estrutura forte<br />

para competição no mercado, é necessário a injeção <strong>de</strong> alternativa que venham a<br />

promulgar a sustentabilida<strong>de</strong> comunitária, ressalvando mais uma vez o discurso<br />

propalado por Gómez apud Becker, 2001, p. 102.<br />

6.2.5 Relevância e Magnitu<strong>de</strong> dos Impactos Ambientais<br />

Mais uma vez verificados os impactos ambientais e as ações pertinentes aos<br />

mesmos, chega-se a um conclusão alarmante acerca das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas<br />

pelas Casas <strong>de</strong> Farinha na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos. Em sua maioria, 81,76% dos<br />

96


impactos observados estão classificados na linha <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> elevada, 18%<br />

concentram-se no núcleo mediando e menos <strong>de</strong> 1% po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>rados<br />

como irrelevantes.<br />

Na estimativa mais baixa, no que diz respeito a magnitu<strong>de</strong> foi classificada a<br />

proliferação <strong>de</strong> pragas pelo uso <strong>de</strong> agrotóxicos. Compreen<strong>de</strong>ndo que o agrotóxico é<br />

utilizado para conter pragas, sua magnitu<strong>de</strong> <strong>em</strong> relaçao ao fato é <strong>de</strong>masiadamente<br />

pequena.<br />

Entre as medianas, po<strong>de</strong>-se referendar para análise a contaminação do solo,<br />

a presença <strong>de</strong> fulig<strong>em</strong>, o surgimento <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos locais. Há que se<br />

consi<strong>de</strong>rar que tais pontos <strong>em</strong> observação perpassam por impactos <strong>de</strong> menor<br />

dimensão, posto a sua evidência frente a outros impactos mais expressivos.<br />

O <strong>de</strong>smatamento, a manipueira, a monocultura, as queimadas, o uso da<br />

lenha para combustão dos fornos são el<strong>em</strong>entos impactantes <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> alta.<br />

Além <strong>de</strong> fundir<strong>em</strong> uma prática erosiva no meio, eles indiretamente proporcionam<br />

efeitos concominantes <strong>de</strong> efeitos negativos também. O <strong>de</strong>smatamento provoca a<br />

redução da biodiversida<strong>de</strong>, extirpa o ver<strong>de</strong>, compromete as reservas nativas e<br />

consequent<strong>em</strong>ente compromete a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> seu território<br />

físico. O uso <strong>de</strong> máquina <strong>de</strong> cevação, com motores com sons estri<strong>de</strong>ntes, expõe o<br />

indivíduo ao exercício profissional dirimido <strong>de</strong> condições apropriada <strong>de</strong> trabalho, a<br />

ausência <strong>de</strong> reservas ver<strong>de</strong>s também impactam porque não permitir<strong>em</strong> o combate a<br />

poluição sonora, uma vez que as plantas po<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> barreiras para um redução<br />

significativa <strong>de</strong> ruídos. O espaço físico <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> vegetação inibe ou dificulta<br />

ações <strong>de</strong> lazer ou ativida<strong>de</strong>s lúdicas que po<strong>de</strong>m ser direcionadas para velhos,<br />

crianças e até mesmo as pessoas que estão diretamente ligadas ao processo<br />

produtivo das farinheiras, portanto, revalida-se nesta discussão os pensamentos dos<br />

autores Crispim e Magalhães (2003); Fioreto 1985; Barbosa Filho 2001.<br />

A não <strong>de</strong>stinação correta dos resíduos <strong>de</strong>rivados da <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> e<br />

outros <strong>de</strong>rivados da mandioca, b<strong>em</strong> como a ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada da área e do<br />

ambiente físico implicam <strong>em</strong> outros probl<strong>em</strong>as, que precisam ser gerenciados pela<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos. A manipueira, postulada por Fioretto (1985) como um<br />

96


dos mais perigosos venenos existentes, está sendo lançado livr<strong>em</strong>ente no solo da<br />

comunida<strong>de</strong> infiltrando s<strong>em</strong> que se possa estabelcer nenhum controle neste, já<br />

estando comprometidos o Riacho <strong>de</strong> Santa Rita, provavelmente os lençóis freáticos<br />

do espaço físico. A manipueira eliminada s<strong>em</strong> nenhum controle no meio físico, é<br />

causadora <strong>de</strong> odores <strong>de</strong>sagradáveis, <strong>de</strong>grada o solo, compromete a saú<strong>de</strong> dos<br />

animais domésticos criados na comunida<strong>de</strong> para consumo familiar, reafirma o<br />

discurso propalado pelo historiador conquistente Me<strong>de</strong>iros apud Alcantara e Barreto<br />

(1999).<br />

As tecnicas tradionais que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o plantio até o <strong>sist<strong>em</strong>a</strong> produtivo das<br />

Casas <strong>de</strong> Farinha, não possibilitam ajuste <strong>de</strong> ações para melhoramentos dos<br />

impactos erosivos que coadunam da ativida<strong>de</strong> das farinheiras. A ausência <strong>de</strong> rodízio<br />

<strong>de</strong> cultivo, o plantio conjugado <strong>de</strong> espécies, a imparcialida<strong>de</strong> e a migração <strong>de</strong> área<br />

para plantio <strong>de</strong>notam como os atores sociais <strong>de</strong>monstram passivida<strong>de</strong> nas posturas<br />

tomadas diante do meio <strong>em</strong> que vive. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> políticas públicas que<br />

<strong>em</strong>erjam uma conscientização e um envolvimento participativo <strong>de</strong> educação<br />

ambiental, provavelmente, po<strong>de</strong> ser uma das alternativas para melhoria da situação<br />

apresentada. Mais uma vez, os autorez Gómez apud Becker está com a razão<br />

quando insere no contexto ambiental, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> envolver o Estado como<br />

agente interveniente <strong>de</strong> melhoria <strong>em</strong> um quadro, que pelo próprio assolamento do<br />

t<strong>em</strong>po e a falta <strong>de</strong> supervisão a<strong>de</strong>quados compromete a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> que está agindo como espécie <strong>de</strong> bloqueio ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

viável e sustentável da comunida<strong>de</strong>.<br />

Outro el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> observação na elaboração da matriz, trata-se do trabalho<br />

<strong>de</strong>senvolvido por homens, mulheres e jovens (15 a 17 anos). Diante <strong>de</strong> um ambiente<br />

insalubre, composto por solo socado e pela umida<strong>de</strong> proveniente da manipueira que<br />

escoa livr<strong>em</strong>ente nas farinheiras, o indivíduo <strong>de</strong>senvolve seu trabalho nas Casas <strong>de</strong><br />

Farinha <strong>em</strong> um ambiente <strong>de</strong>gredado pela própria ativida<strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> condições<br />

mínimas <strong>de</strong> trabalho, a não utilização <strong>de</strong> equipamento <strong>de</strong> segurança (EPIs), expõe o<br />

trabalhor a inúmeros riscos entre eles ambientais pela disposição incorreta <strong>de</strong><br />

ferramentas, maquinários e posturas físicas assumidas para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho das<br />

suas ativida<strong>de</strong>s. O trabalho f<strong>em</strong>inino, <strong>em</strong> particular, é executado com posturas<br />

incorretas, as mulheres sentam-se por longas jornadas no chão, ou <strong>em</strong> pedras e<br />

96


utilizam por horas seguidas a faca como instrumento <strong>de</strong> trabalho para raspas da<br />

mandioca, s<strong>em</strong> que haja proteção a sua integrida<strong>de</strong> física e a sua saú<strong>de</strong>. No<br />

trabalho masculino, o uso da máquina <strong>de</strong> cevação e o forno que o ajuda no<br />

momento <strong>de</strong> cocção da massa são manuseados s<strong>em</strong> qualquer preocupação com a<br />

<strong>em</strong>inente com o risco que o trabalhador está exposto. Os jovens, ainda mais<br />

alarmante, <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s s<strong>em</strong> fiscalização da legalida<strong>de</strong> ou não do<br />

trabalho por ele executado. Nas três instâncias <strong>de</strong> execução todos estão expostos a<br />

carga horária extensa <strong>de</strong> trabalho, chegando a ultrapassar 10 horas diárias <strong>de</strong><br />

trabalho e por conta do ambiente físico apresentar alta insalubrida<strong>de</strong> estão também<br />

facilmente dispostos a um alto índice <strong>de</strong> poeira, o que indiretamente po<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar doenças respiratórias, reforçando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições <strong>de</strong><br />

trabalho a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong>fendidas por Barreto Filho (2001).<br />

Há que se consi<strong>de</strong>rar também a exposição frequente a ruídos pelo uso<br />

constante da máquina <strong>de</strong> cevação. O som <strong>de</strong> tal maquinário assume um caráter<br />

in<strong>de</strong>sejável e além <strong>de</strong> ser incômodo, como salieta Barreto Filho (2001) afeta<br />

simultaneamente o plano físico, psicológico e social do <strong>em</strong>pregado. A poluição visual<br />

também é um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> relevante tratando-se do funcionamento das<br />

farinheiras nos mol<strong>de</strong>s <strong>em</strong> que v<strong>em</strong> acontecendo na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos, o<br />

ambiente físico está tomado por requisitos <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> higiene <strong>de</strong>ntro e fora das<br />

farinheiras, e somados a este conta-se ainda com o risco elétrico pela exposição<br />

constante <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> estrutura correta das instalações elétricas dispostas nas <strong>casas</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>farinha</strong>. O choque elétrico ou o contato no organismo humano pelas correntes<br />

elétricas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar alguns probl<strong>em</strong>as sérios como cãimbras, tetanijação (<br />

enrijecimento muscular), parada respiratória, fibrilização (comprometimento do<br />

<strong>sist<strong>em</strong>a</strong> cardiovascular), queimaduras. Há também nas Casas <strong>de</strong> Farinha a<br />

exposição direta a riscos químicos por conta principalmente da manipueira, que<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar <strong>em</strong> alguns organismos reações alérgicas, pelo seu alto teor <strong>de</strong><br />

toxida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração do aparelho respiratório ou das mucosas expostas<br />

ao líquido ou espaço atmosférico que inclu<strong>em</strong> o funcionamento das farinheiras,<br />

alerta discriminado por Fioretto (1985) e Barreto Filho (2001).<br />

Reportando-se mais uma vez ao tópico “falta <strong>de</strong> higiene” e eten<strong>de</strong>ndo neste<br />

it<strong>em</strong> uma magnitu<strong>de</strong> alta, uma vez postulado o que direta e indiretamente este<br />

96


el<strong>em</strong>ento po<strong>de</strong> ocasionar <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> perigo e riscos, é bom que se evi<strong>de</strong>ncie que<br />

o mesmo começa pelo próprio início dos trabalhos das farinheiras que não aten<strong>de</strong>m<br />

as especificações técnicas <strong>de</strong> funcionamento das <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong> propostas pela<br />

EMBRAPA-AC (2001). A utilização ina<strong>de</strong>quada dos equipamentos, b<strong>em</strong> como o não<br />

cumprimento <strong>de</strong> estapas do processo produtivo (preparação da raízes (lavag<strong>em</strong>);<br />

<strong>de</strong>scascamento com facas inoxidável) infere diretamente na qualida<strong>de</strong> do ambiente<br />

e no produto final (<strong>farinha</strong>, beiju, a tapioca, a goma) que se propõe como fim das<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhadas pelas farinheiras.<br />

A biota local apresenta-se comprometida já alguns anos. Consi<strong>de</strong>rada por<br />

Me<strong>de</strong>iros apud Alcantara e Barreto (1999) que a comunida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> uma faixa etária<br />

superior a um século e que as Casas <strong>de</strong> Farinha provavelmente ultrapassam <strong>em</strong><br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> execução a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong>po, os 50 anos são e foram suficientes para<br />

que pela exposição constante do solo, dos mananciais, dos riachos ao<br />

<strong>de</strong>smatamento, à monocultura, às queimadas, à ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada da área, ao<br />

escoamento livre da manipueira e à falta <strong>de</strong> gerenciamento a<strong>de</strong>quado dos resíduos<br />

sólidos e do lixo local, houvesse por estes el<strong>em</strong>entos o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> fatores<br />

nocivos a manutenção ou preservação da fauna e da flora da região, reafirmando<br />

mais uma vez os propalados <strong>de</strong>fendidos por Rocha e Cerqueira (2006), Fioretto<br />

(1985) e Barreto Filho (2001).<br />

96


7 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O hom<strong>em</strong> e o meio ambiente no século XXI tentam estabelecer um<br />

redirecionamento <strong>de</strong> postura <strong>de</strong> convivência entre ambos. O primeiro s<strong>em</strong>pre<br />

imperou sobre os recursos naturais, ignorando as limitações que o <strong>de</strong>tinham tanto<br />

<strong>em</strong> relação a própria natureza, quanto a si próprio. O segundo, por muito t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

silêncio, coadunou com as expectativas humanas e hoje conclama esforços, e<br />

solicita posicionamentos diferenciados. O acúmulo <strong>de</strong> conhecimento e a<br />

tranformação do espaço físico sugere uma reestruturação do que v<strong>em</strong> circundando<br />

a socieda<strong>de</strong>.<br />

A sustentabilida<strong>de</strong> social e econômica, <strong>em</strong>erge <strong>em</strong> um novo saber: o saber<br />

ambiental. Este novo saber surge <strong>de</strong> uma reflexão dos propósitos a cerca da<br />

construção do novo mo<strong>de</strong>lo social que se propõe para construção <strong>de</strong> uma ambiente<br />

mais justo, mais humano e principalmente, mais sustentável. A construção do novo<br />

permite o <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar, o modificar <strong>de</strong> posturas, o re-construir, porque as<br />

mudanças são necessárias e convocam para uma complexida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve amalgar<br />

a natureza, a tecnologia, o hom<strong>em</strong>, a ciência, <strong>em</strong> um novo significado da vida.<br />

Quando muitos discuros atuais refer<strong>em</strong>-se a essencia do agir local <strong>em</strong><br />

consonância com as preocupações globais, essa linha <strong>de</strong> ação permite albergar<br />

ações mais próximas do contexto preterido por alguns que preteiam melhorias no<br />

seu território. Enquanto cidadãos todos são co-responsáveis pelo <strong>de</strong>spertar e pelo<br />

construir <strong>de</strong>ste novo saber e pela construção <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo social mais justo,<br />

equitativo e sustentável.<br />

Em todos os espaços físicos <strong>de</strong>ste planeta, haverá s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> revisão<br />

das posturas humanas diante do meio <strong>em</strong> que se viveu por muitos anos, s<strong>em</strong> que,<br />

96


na maioria das vezes, tivesse a oportunida<strong>de</strong> e o senso <strong>de</strong> avaliar suas atitu<strong>de</strong>s e<br />

se, <strong>de</strong> alguma forma, o formato <strong>de</strong> suas ações po<strong>de</strong>ria comprometer a sua<br />

sobrevivência ou <strong>de</strong> outras gerações vindouras.<br />

Enquanto objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho, as Casas <strong>de</strong> Farinhas, seu mo<strong>de</strong>lo<br />

produtivo, seus atores sociais, a comunida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>senvolvimento e a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> fizeram, aqui, parte <strong>de</strong> uma discussão <strong>de</strong> pesquisa, que não<br />

preten<strong>de</strong> esgotar enquanto assunto e conclama estudos, ações, projetos que<br />

venham a viabilizar um revisão pontuada nas práticas que hoje são <strong>em</strong>pregadas<br />

pelas farinheiras <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong>.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo que a sustentabilida<strong>de</strong> é um projeto coletivo, a continuida<strong>de</strong><br />

esperada das ações e a perpetuação da comunida<strong>de</strong>, engendrada <strong>em</strong> uma política<br />

<strong>de</strong> melhoria na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho dos seus moradores, requer que<br />

esferas maiores, como as instâncias públicas, antecip<strong>em</strong> intervenções que venham<br />

para justificar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> assentado não apenas na produtivida<strong>de</strong>, mas<br />

sobretudo na vida humana, tomada <strong>em</strong> essência.<br />

Diante dos dados apresentados e da analogia dos mesmos, consi<strong>de</strong>ra-se<br />

importante viabilizar a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos como objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> outras<br />

perspectivas investigatórias. A comunida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> questão, t<strong>em</strong> sobressaído mais por<br />

uma resistência histórica e um forte tradicionalismo nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas, do<br />

que pelo referendar da sua ação produtiva, ou seja, pelo costume se t<strong>em</strong> permitido a<br />

sobrevivência <strong>de</strong> uma gleba, mas não pela sustentabilida<strong>de</strong> e perspectiva, hoje, <strong>de</strong><br />

manutenção, exploração e melhoramento do <strong>sist<strong>em</strong>a</strong>.<br />

O momento que viv<strong>em</strong>os é <strong>de</strong> transição, uma tranisção que revela múltiplas<br />

dimensões e revela uma antítese porque o que é múltiplo provém do esgotamento<br />

do paradigma da dominação do hom<strong>em</strong> na natureza. Os sinais <strong>em</strong>itidos pela<br />

comunida<strong>de</strong>, pelo presente estudo, são claros e ecoa gritos solicitando revisão das<br />

posturas <strong>em</strong> muitos sentidos (lixo, resíduo, escolarida<strong>de</strong>, biota, higiene, o trabalho,<br />

as condições físicas, o <strong>de</strong>smatamento, a perda da vegetação nativa, as queimadas,<br />

a poluição sonora, a vida humana, o ar...), enfim, é necessário que se faça algo e<br />

que neste t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> informação rápida, porém, às vezes, superficial e excessiva,<br />

96


possa-se enquanto agentes reflexivos proporcionar avaliações e com auxílios <strong>de</strong><br />

telescópios profissionais, queira-se enxergar longe o inventos e os eventos capazes<br />

<strong>de</strong> acelerar os fluxos <strong>de</strong> mudanças que a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos espera, agora<br />

já é contag<strong>em</strong> regressiva. Morin apud Becker (2001), diz sabiamente, um passado<br />

está morto e um futuro nascente não consegue nascer.<br />

È preciso, portanto, valer <strong>de</strong> teses práticas e operacionais, com resolutivida<strong>de</strong><br />

crescentes e propostas a mudança. A Ministra do Meio Ambiente Marina Silva apud<br />

Trigueiro (2005) permite uma reflexão, quando diz não ser mais possível viver <strong>de</strong> um<br />

consumismo i<strong>de</strong>ológico, ou seja, um acúmulo <strong>de</strong> conhecimento, é preciso que este<br />

circule mais na socieda<strong>de</strong> e permita que as mudanças ocorram.<br />

Revendo as discussões propostas e o que elas po<strong>de</strong>m representar enquanto<br />

subsídios alternativos para a melhoria da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos, sendo ela<br />

fortalecida pelos traços históricos, mas também pelas ações direcionadas a sua<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, faz-se <strong>de</strong>ste trabalho um ponto <strong>de</strong> reflexão para várias<br />

segmentações sociais e que possa ele contribuir para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida na região, na medida <strong>em</strong> que se aposta na revisão do mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>produção</strong><br />

atualmente alocados nesta Comunida<strong>de</strong>.<br />

Por fim, é preciso que se veja a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos, não apenas<br />

como um território-mor, mas sobretudo como um albuergue natural <strong>de</strong> questões<br />

relvantes sociais, econômicas, políticas e sobretudo culturais. A valorização <strong>de</strong>stes<br />

apectos no que concerne a sua continuida<strong>de</strong> ou a sua melhoria, para um ou para<br />

outro, é o que po<strong>de</strong> orientar toda investigação proposta a melhorar o espaço que<br />

extrapola o território físico da comunida<strong>de</strong> e inci<strong>de</strong> um responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos,<br />

enquanto agentes transformadores. Este é o chamado. Esta é a convocatória.<br />

96


8 REFERÊNCIAS<br />

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96


ANEXOS<br />

96


Nome <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação: .................................................................................<br />

→ T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> funcionamento da Casa <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>:<br />

Menos <strong>de</strong> 2 anos<br />

Entre 8 e 10 anos<br />

Entre 2 e 4 anos<br />

Entre 10 e 15 anos<br />

Entre 4 e 6 anos<br />

Entre 15 e 20 anos<br />

Entre 6 e 8 anos<br />

Acima <strong>de</strong> 25 anos<br />

→ Proprietário da unida<strong>de</strong> produtiva: Hom<strong>em</strong> Mulher<br />

→ Grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> do proprietário:<br />

Analfabeto<br />

Assina o nome<br />

Primeiro grau incompleto<br />

Primeiro grau completo<br />

Segundo grau incompleto<br />

Segundo grau completo<br />

→ Por que trabalhar com Casa <strong>de</strong> Farinha?<br />

Porque é um negócio rentável.<br />

Porque é uma tradição <strong>de</strong> minha família.<br />

Porque não há oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego nesta comunida<strong>de</strong>.<br />

Porque não saberia fazer outra coisa.<br />

Outro: ................................................................................................................<br />

→ Quantas escolas possu<strong>em</strong> a sua comunida<strong>de</strong>?<br />

1 2 3 4 5 6 7<br />

Escola(s): pública privada<br />

Aulas freqüentes? SIM NÃO<br />

Quantos funcionários <strong>de</strong>sta CF estudam? .......................................................<br />

Entre os que não estudam, qual o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>:<br />

( ) Analfabeto<br />

( ) Primeiro grau completo<br />

( ) Assina o nome<br />

( ) Segundo grau incompleto<br />

( ) Primeiro grau incompleto<br />

( ) Segundo grau completo<br />

96


→ Em quantos dias da s<strong>em</strong>ana é executada a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> sua Casa <strong>de</strong><br />

Farinha:<br />

1 2 3 4 5 6 7<br />

Citar os principais dias utilizados para a <strong>produção</strong> e por quê?<br />

....................................................................................................................<br />

→ Tipo <strong>de</strong> energia utilizada:<br />

elétrica natural (lenha) motora<br />

No caso do uso da lenha, solicitar o número médio <strong>de</strong> m³ utilizados na<br />

<strong>produção</strong> diária: .......................<br />

Orig<strong>em</strong> da lenha utilizada....................................................................................<br />

→ Número <strong>de</strong> funcionários <strong>em</strong>pregados: ...................................................<br />

Quantificar: Homens .................. Mulheres................ Crianças ................<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

→ Há registros legal dos funcionários? .........................................................<br />

Por quê? ..............................................................................................................<br />

→ Como ocorre a contratação da mão-<strong>de</strong>-obra? ............................................<br />

...............................................................................................................................<br />

→ Pagamento pelo trabalho executado:<br />

diário s<strong>em</strong>anal mensal<br />

Há pagamento diferenciado na <strong>produção</strong>? SIM NÃO<br />

96


Em caso afirmativo listar o valor pago e mão-<strong>de</strong>-obra correspon<strong>de</strong>nte ........<br />

→ Que tipo <strong>de</strong> imposto é pago pela sua Casa <strong>de</strong> Farinha? .......................<br />

→ Sua Casa <strong>de</strong> Farinha possui CGC? SIM NÃO<br />

Por quê? ...................................................................................................................<br />

→ Produção média s<strong>em</strong>anal: (utilizar a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>produção</strong> kg, un, sacos, ...)<br />

Farinha<br />

Beiju<br />

Goma Fresca<br />

Goma Seca<br />

Puba<br />

Tapioca<br />

Raspa<br />

Ração<br />

Grolão<br />

Produto Unida<strong>de</strong> S<strong>em</strong>anal $ Preço <strong>de</strong> mercado<br />

Outro ( )<br />

⇒ Destino da Produção: ......................................................................................<br />

96


Apêndice<br />

96


Catalogação das Casas <strong>de</strong> Farinha/ Campinhos: instrumento <strong>de</strong> Pesquisa<br />

PESQUISA CASAS DE FARINHA<br />

FARINHEIRA: 01 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 27 Não 4ª Forno/prensa Nenhum<br />

B M 40 Não Alfabetização Cevador Irmão<br />

C F 52 Não Alfabetização Raspa Mãe<br />

D F 28 Não 2ª Raspa Cunhada<br />

E F 36 Não 3ª Raspa Nenhum<br />

FARINHEIRA: 02 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 26 Sim 8ª Cevador Primo<br />

B M 30 Não 4ª Forno Sobrinho<br />

C M 28 Não 3ª Prensa Sobrinho<br />

D M 34 Não 6ª Fornalha Cunhado<br />

E M 21 Sim 1º Prensa Nenhum<br />

F F 28 Sim 2º Raspa Cunhada<br />

G F 28 Não 7ª Raspa Nenhum<br />

FARINHEIRA: 03 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 17 Sim 5ª Prensa Nenhum<br />

B F 50 Não Alfabetização Raspa Nenhum<br />

C F 33 Não 3ª Raspa Nenhum<br />

D F 37 Não Alfabetização Raspa Filha<br />

E F 40 Não 2ª Raspa Filha<br />

FARINHEIRA: 04 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 18 Não 3ª Forno/<br />

cevador<br />

Filho<br />

B M 26 Não 4ª Goma/Prensa Nenhum<br />

C M 17 Não 2ª Goma/Prensa Primo<br />

D F 30 Não 1ª Raspa Cunhada<br />

E F 19 Sim 7ª Raspa Cunhada<br />

96


FARINHEIRA: 05 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 32 Não - Prensa Primo<br />

B M 26 Não - Forno Primo<br />

C M 20 Sim 4 Forno Filho<br />

D F 31 Não - Raspa Nenhum<br />

E F 15 Sim 6 Raspa Prima<br />

F F 28 Sim 7 Raspa Prima<br />

G F 23 Sim 8 Raspa Nenhum<br />

FARINHEIRA: 06 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A F 33 Sim 1ª Raspa Nenhum<br />

B F 42 Sim 1ª Raspa Cunhada<br />

C F 60 Não Analfabeta Raspa Nenhum<br />

D F 23 Sim 5ª Raspa Nenhum<br />

E M 24 Não 6ª Prensa Nenhum<br />

F M 17 Sim 7ª Tirador Nenhum<br />

FARINHEIRA: 07 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A F 38 Não 1ª Raspa Cunhada<br />

B F 40 Não Analfabeta Raspa Esposa<br />

C F 20 Não 1ª Raspa Sobrinha<br />

D M 17 Sim 8ª Prensa Sobrinho<br />

E M 47 Não 1ª Forno Proprietário<br />

FARINHEIRA: 08 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 17 Sim 6 Tira Goma Primo<br />

B M 18 Não 5 Tira goma Nenhum<br />

C M 27 Não 4 Prensa/forno Filho<br />

D F 23 Terminou 2º grau Raspa Nora<br />

E F 29 Não 7 Raspa Sobrinha<br />

F F 67 Não 5 Raspa Prima<br />

G F 45 Não 6 Raspa Prima<br />

96


FARINHEIRA: 09 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 26 Não - Cevador Nenhum<br />

B M 23 Terminou 2º grau Forno Filho<br />

C F 44 Não - Raspa Nenhum<br />

D F 30 Não - Raspa Nenhum<br />

E F 35 Não - Raspa Nenhum<br />

F F 56 Não - Raspa Nenhum<br />

FARINHEIRA: 10 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 23 Não Terminou Prensa Filho<br />

B M 16 Sim 4ª Cevador Nenhum<br />

C F 50 Não 5ª Raspa Irmã<br />

D F 38 Não 5ª Raspa Irmã<br />

E F 27 Sim 8ª Raspa Nenhum<br />

F F 28 Sim 8ª Raspa Nenhum<br />

FARINHEIRA: 11 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 20 Sim 3º Cevador Nenhum<br />

B M 21 Sim 3º Forno Nenhum<br />

C M 19 Sim 1º Prensa Primo<br />

D F 34 Não 4ª Raspa Nora<br />

E M 30 Não Analfabeto Prensa Filho<br />

F F 38 Não 5ª Tirador Filho<br />

G M 36 Não 1ª Prensa Filho<br />

FARINHEIRA: 12 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 20 Não 8ª Prensa/forno Filho<br />

B F 31 Não 5ª Supletivo Raspa Filha<br />

C F 31 Não 7ª Raspa Nora<br />

FARINHEIRA: 13 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 57 Não Analfabeta Proprietário -<br />

B M 28 Não Analfabeta Forno Filho<br />

C F 18 Não 2 Raspa Nora<br />

D F 25 Não 5 Raspa Nora<br />

E F 54 Não Analfabeto Raspa Esposa<br />

96


FARINHEIRA: 14 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 23 Não Analfabeto Cessador Nenhum<br />

B M 27 Não 4ª Prensa Filho<br />

C M 21 Não 4ª Forno Nenhum<br />

D F 54 Não Analfabeta Raspa Cunhada<br />

E F 19 Sim 7ª Raspa Sobrinha<br />

F F 36 Não 6ª Raspa Cunhada<br />

G F 17 Sim 3º Raspa Sobrinha<br />

H F 18 Sim 5ª Raspa Filha<br />

I F 38 Não Analfabeta Raspa Sobrinha<br />

J F 43 Não 4ª Raspa Cunhada<br />

FARINHEIRA: 15 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 45 Term 2º grau Prensa Genro<br />

B M 18 Sim 2º Prensa Nenhum<br />

C M 40 Não 7ª Prensa Genro<br />

D F 17 Sim 2º Raspa Sobrinha<br />

E F 33 Não 6ª Raspa Filha<br />

F F 34 Não 6ª Raspa Nenhum<br />

FARINHEIRA: 16 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A F 58 Não Analfabeta Raspa Nenhum<br />

B F 32 Não Alfabetizada Raspa Cunhada<br />

C F 33 Não Alfabetizada Raspa Nenhum<br />

D F 49 Não 2ª Raspa Nenhum<br />

E M 18 Sim 7ª Prensa Sobrinho<br />

F M 37 Não 7ª Goma/forno Marido<br />

G M 21 Não 4ª Goma Nenhum<br />

FARINHEIRA: 17 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador<br />

SEXO<br />

IDADE<br />

ESTUDA<br />

GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A F 36 - - Raspa Esposa<br />

B F 28 - - Raspa Irmã<br />

C M 28 - - Prensa Irmão<br />

D M 17 - - Goma Primo<br />

96


FARINHEIRA: 18 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A F 38 Não 4ª Raspa Irmã<br />

B M 30 Não 3ª Prensa/forno Nenhum<br />

C M 26 Não 4ª Goma Sobrinho<br />

D M 20 Sim 8ª Raspa Primo<br />

E F 22 Sim 1º Raspa Sobrinha<br />

FARINHEIRA: 19 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 20 Sim 1º Cevador Sobrinho<br />

B F 22 Sim 3º Raspa Filha<br />

FARINHEIRA: 20 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 38 Não Analfabeta Cevador Cunhado<br />

B M 18 Sim 6ª Forno Sobrinho<br />

C M 30 Não 4ª Goma Nenhum<br />

D M 17 Sim 5ª Prensa Primo<br />

E F 38 Não Analfabeta Raspa Esposa<br />

F F 40 Não 4ª Raspa Nenhum<br />

G F 17 Sim 5ª Raspa Sobrinha<br />

H F 26 Sim 7ª Raspa Prima<br />

FARINHEIRA: 21 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 28 Não 7ª Cevador Irmão<br />

B F 26 Sim 1º Raspa Sobrinha<br />

C F 21 Não 6ª Raspa Cunhada<br />

FARINHEIRA: 22 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 28 Não 4ª Cevador Irmão<br />

B F 22 Não 4ª Raspa Cunhada<br />

C F 30 Não 2ª Raspa Cunhada<br />

D M 27 Não 8ª Prensa Primo<br />

96


FARINHEIRA: 23 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 33 Não 5ª Prensa Nenhum<br />

B M 20 Sim 7ª Forno Sobrinho<br />

C F 18 Sim 7ª Raspa Nenhum<br />

D F 21 Não 6ª Raspa Cunhada<br />

E F 32 Não 4ª Raspa Esposa<br />

FARINHEIRA: 24 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 26 Sim 7ª Prensa Nenhum<br />

B M 26 Sim 8ª Forno Filho<br />

C F 21 Sim 7 Raspa Sobrinha<br />

D F 30 Não 5 Raspa Irmã<br />

FARINHEIRA: 25 LOCALIDADE: Campinhos<br />

Trabalhador SEXO IDADE ESTUDA GRAU DE<br />

ESCOLARIDADE<br />

FUNÇÃO NA<br />

FARINHEIRA<br />

GRAU DE<br />

PARENTESCO<br />

A M 18 Sim 8ª Forno Filho<br />

B M 32 Não 6ª Prensa Cunhado<br />

C M 30 Não 2ª Cevador Primo<br />

D F 17 Sim 2ª Raspa Filha<br />

E F 26 Sim 8ª Raspa Nenhum<br />

F F 30 Não 4ª Raspa Irmã<br />

96


S676 Soares, Marisa Oliveira Santos.<br />

Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>produção</strong> <strong>em</strong> <strong>casas</strong> <strong>de</strong> <strong>farinha</strong>: uma lei-<br />

tura <strong>de</strong>scritiva na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinhos - Vitória<br />

da Conquista / Marisa Oliveira Santos Soares. – Ilhéus,<br />

BA: UESC, PRODEMA, 2007.<br />

xvi, 96f. : il.; anexos.<br />

Orientador: Max <strong>de</strong> Menezes.<br />

Dissertação (Mestrado) – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />

Santa Cruz. Programa Regional <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

<strong>em</strong> Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.<br />

Inclui bibliografia e apêndice<br />

1. Desenvolvimento sustentável. 2. Comunida<strong>de</strong> - Or-<br />

ganização - Vitória da Conquista (BA). 3. Farinha <strong>de</strong><br />

mandioca - Indústria. I. Título.<br />

CDD 363.7

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