O profeta do castigo divino - Pedro Almeida Vieira
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irmãos; que passara trabalhos e duras fadigas; em muitas noites<br />
não <strong>do</strong>rmira; que sofrera de fome e sede; que se atormentara em<br />
frequentes jejuns, frio e nudez. Concluiu o rol de queixumes com<br />
uma reivindicação:<br />
– Salvai este navio, pois a minha obra, para Tua glória, ainda<br />
não está completa.<br />
E foi, de facto, após esta frase que a nau se soltou <strong>do</strong><br />
roche<strong>do</strong> e subiu a vazante <strong>do</strong> Tejo com a popa a servir de proa.<br />
De mo<strong>do</strong> que Malagrida terá obti<strong>do</strong>, provavelmente <strong>do</strong>s céus,<br />
uma maior mercê <strong>do</strong> que a alcançada por São Paulo junto à ilha<br />
de Malta, porquanto o rabino converti<strong>do</strong>, para se salvar de um<br />
naufrágio, viu -se obriga<strong>do</strong> a nadar até à praia, enquanto o jesuíta<br />
nem os pés molhou para chegar a terra.<br />
A propagação de todas estas maravilhas que se operaram<br />
seguiu, assim, <strong>do</strong> porto até às ruas, das ruas até ao Terreiro <strong>do</strong><br />
Paço, <strong>do</strong> Terreiro <strong>do</strong> Paço até aos corre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Paço da Ribeira<br />
e <strong>do</strong>s corre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Paço da Ribeira até ao quarto <strong>do</strong> caquéctico<br />
Rei D. João V. Tu<strong>do</strong> em passo tão célere que a velocidade <strong>do</strong> som<br />
foi, neste século e em Portugal, quase batida pela rapidez na<br />
transmissão da chegada <strong>do</strong> Santo <strong>do</strong> Maranhão.<br />
Veloz foi também a ordem régia para que, em pessoa, Frei<br />
Gaspar da Encarnação – inútil ministro de D. João V – fosse ao<br />
encontro <strong>do</strong> padre Malagrida para o trazer, de imediato, ao Paço<br />
da Ribeira. Contu<strong>do</strong>, por causa da abundância de gentes que confluíram<br />
ao porto e encheram as ruas, aquele e o outro se perderam<br />
no meio da multidão. Somente no colégio de Santo Antão,<br />
noite já bem dentro, chegou à fala com Malagrida um novo mensageiro:<br />
o também jesuíta João Baptista Carbone, secretário particular<br />
<strong>do</strong> Rei – este, por acaso, de alguma utilidade. Após os<br />
cumprimentos da praxe de <strong>do</strong>is irmãos de Loyola, mais umas trocas<br />
de impressões por serem conterrâneos das terras de Itália, o<br />
padre Carbone informou Malagrida da facienda para a manhã<br />
seguinte:<br />
– Sua Majestade vos requisita a presença, logo pela alvorada,<br />
para uma visita de alívio e conforto espiritual. E pede que leveis a<br />
imagem de Nossa Senhora das Missões para a deixar a velar no<br />
seu quarto.<br />
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O <strong>profeta</strong> <strong>do</strong> <strong>castigo</strong> <strong>divino</strong>