Historia da Educação Brasileira.p65 - Universidade Castelo Branco
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2- Respon<strong>da</strong> às questões a partir do texto de Maria Lúcia de Arru<strong>da</strong> Aranha, extraído de sua obra História <strong>da</strong><br />
<strong>Educação</strong>, pp. 92-3.<br />
O Ensino nos Colégios<br />
Na seqüência, fazemos o resumo <strong>da</strong>s práticas e conteúdos<br />
que os jesuítas desenvolveram de acordo com<br />
as regras codifica<strong>da</strong>s no Ratio Studiorum.<br />
Seus cursos se agrupam em:<br />
• Studia inferiora:<br />
– Letras humanas, de grau médio, com duração de<br />
três anos e constituído por gramática, humani<strong>da</strong>des e<br />
retórica. Forma o alicerce de to<strong>da</strong> a estrutura do ensino<br />
e se baseia exclusivamente na literatura clássica<br />
greco-latina.<br />
– Filosofia e ciências (ou curso de artes), também<br />
com duração de três anos, tem por finali<strong>da</strong>de formar o<br />
filósofo e oferece as disciplinas de lógica, introdução<br />
às ciências, cosmologia, psicologia, física, metafísica<br />
e filosofia moral.<br />
• Studia superiora:<br />
– Teologia e ciências sagra<strong>da</strong>s, com duração de<br />
quatro anos, coroa os estudos e visa à formação do<br />
padre.<br />
Nas classes de gramática, o latim é ensinado até o<br />
perfeito domínio <strong>da</strong> língua. Isso porque, mesmo que<br />
no dia-a-dia as pessoas fizessem uso <strong>da</strong> língua<br />
materna, ain<strong>da</strong> no Renascimento e início <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de<br />
Moderna persistia o costume de filósofos e cientistas<br />
usarem o latim, ultrapassando as fronteiras <strong>da</strong>s<br />
diversas nacionali<strong>da</strong>des e promovendo a<br />
universalização <strong>da</strong> cultura. Assim, os jesuítas tornaram<br />
obrigatório seu uso até na mais trivial conversação,<br />
de forma que os alunos pudessem assimilá-lo com<br />
a familiari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> língua vernácula. Num colégio em<br />
Paris no século XVII, pensaríamos estar em Roma de<br />
antes de Cristo: conversação exclusiva em latim e<br />
análise de autores latinos.<br />
Os alunos estu<strong>da</strong>m as principais obras greco-latinas<br />
e aperfeiçoam a capaci<strong>da</strong>de de expressão e estilo, mas<br />
permanecem muitos presos aos padrões clássicos.<br />
Voltados para o melhor <strong>da</strong> formação humanística, os<br />
jesuítas tentam conciliar as obras clássicas com o<br />
espírito religioso, utilizando textos de Cícero, Sêneca,<br />
Ovídio, Virgílio, Esopo, Paluto, Pín<strong>da</strong>ro e outros. Como<br />
esses autores são pagãos, procuraram adequá-los aos<br />
ideais cristãos, fazendo resumos, a<strong>da</strong>ptações e até<br />
suprimindo trechos considerados "perigosos para a<br />
fé". Proíbem as obras contemporâneas, sobretudo<br />
contos e romances, por serem "instrumentos de perversão<br />
moral e dissipação intelectual".<br />
Esse programa atende ao ideal de eloqüência latina<br />
do século XVI, e segundo o jesuíta e filósofo brasileiro,<br />
padre Leonel Franca, "a gramática visa a expressão<br />
clara e correta; as humani<strong>da</strong>des, a expressão bela e<br />
elegante; a retórica, a expressão enérgica e<br />
convincente".<br />
Com a didática, os jesuítas se mostram bastantes<br />
exigentes, recomen<strong>da</strong>ndo a repetição dos exercícios<br />
a fim de facilitar a memorização. Para praticá-la<br />
à exaustão, os mestres recebem auxílio dos melhores<br />
alunos, chamados decuriões, responsáveis por<br />
nove colegas, de quem tomam as lições de cor, recolhem<br />
os exercícios e marcam num caderno os erros<br />
e faltas diversas. Aos sábados, as classes inferiores<br />
repetem as lições <strong>da</strong> semana to<strong>da</strong>: vem <strong>da</strong>í<br />
a expressão sabatina, usa<strong>da</strong> durante muito tempo<br />
para indicar formas de avaliação. Para as classes<br />
mais adianta<strong>da</strong>s, são organizados ver<strong>da</strong>deiros torneios<br />
de erudição.<br />
Outra característica do ensino jesuítico é a emulação,<br />
ou seja, o estímulo à competição entre os indivíduos<br />
e as classes. Por exemplo, os alunos recebem<br />
títulos de imperador, ditador, cônsul, tribuno, senador,<br />
cavaleiro, decurião e edil. Para incentivá-los, as<br />
classes se dividem em duas facções: os romanos e<br />
os cartagineses.<br />
Os alunos que mais se destacam são incentivados à<br />
emulação com prêmios concedidos em soleni<strong>da</strong>des<br />
pomposas, para as quais são convoca<strong>da</strong>s as famílias,<br />
as autori<strong>da</strong>des eclesiásticas e civis, a fim de <strong>da</strong>r-lhes<br />
brilho especial. Os melhores estu<strong>da</strong>ntes mostram sua<br />
produção intelectual nas academias. Montam peças<br />
de teatro, recebendo os devidos cui<strong>da</strong>dos na seleção<br />
dos textos, desde simples diálogos até comédias e<br />
tragédias clássicas, sem deixar de privilegiar os dramas<br />
litúrgicos.<br />
Os jesuítas se tornam famosos pelo empenho em<br />
institucionalizar o colégio como local por excelência<br />
<strong>da</strong> formação religiosa, intelectual e moral <strong>da</strong>s crianças<br />
e jovens. A fim de atingir esses objetivos instauram<br />
rígi<strong>da</strong> disciplina, aplica<strong>da</strong> nos novos internatos criados<br />
para garantir proteção e vigilância. Além de controlar<br />
a admissão dos alunos, concedem férias bem curtas<br />
para evitar que o contato com a família afrouxasse os<br />
hábitos morais adquiridos.<br />
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