You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Fandango</strong>, as pessoas com as quais eu convivo ainda achavam que <strong>Fandango</strong><br />
era uma dança gaúcha. Não deixava de ser, mas o <strong>Fandango</strong> a que eu me referia<br />
era o <strong>Fandango</strong> caiçara, característico do litoral paranaense.<br />
Quando comecei o levantamento teórico para entender mais sobre as peculiaridades<br />
do folclore e da cultura popular, fui descobrindo um universo fascinante<br />
que me deixou perplexa na vontade de querer conhecer mais, não só<br />
sobre o <strong>Fandango</strong>, mas sobre as outras manifestações culturais do Paraná, em<br />
estado que tem sua riqueza cultural bastante diversificada com a contribuição de<br />
várias etnias.<br />
Começando a me aprofundar na pesquisa sobre o <strong>Fandango</strong>, tive contato<br />
com muitas pessoas que me ajudaram a encontrar os personagens certos, dispuseram<br />
de tempo para relatar suas experiências, indicaram bibliografia e me<br />
ajudaram a encontrar a direção para a minha pesquisa.<br />
Esta direção me fez chegar a casas humildes no litoral paranaense. Seja<br />
em Paranaguá, Valadares ou Guaraqueçaba, sempre fui recebida com muito<br />
carinho, e quem me avisou antes que os mestres eram machistas se engana redondamente.<br />
Nesses meses de pesquisa encontrei pessoas doces, que, mesmo<br />
cansadas de contar já tantas vezes suas histórias para pesquisadores, não se<br />
incomodaram em gastar do seu tempo comigo.<br />
Aprendi que o <strong>Fandango</strong> não é só música e dança; ele é uma vivência,<br />
uma história que persiste ao tempo, às revoluções históricas, à discriminação e<br />
se mantém viva, cada vez mais viva no coração dos velhos mestres fandangueiros,<br />
e ressurge nos dedos finos e franzinos dos meninos que estão resgatando a<br />
cultura de seus pais e avós.<br />
O <strong>Fandango</strong> por muito tempo foi o único divertimento no litoral paranaense.<br />
Tanto os livros como os próprios fandangueiros relatam que a origem dessa<br />
manifestação artística e cultural é ligada à agricultura, ao trabalho no campo.<br />
Uma das formas de bailar <strong>Fandango</strong> era o mutirão. As famílias caiçaras sobreviviam<br />
da troca de produtos, e muitas vezes o pagamento para o dia de trabalho<br />
era uma noite com mesa farta, animada pelo batido dos tamancos e pelo som<br />
das rabecas e violas.<br />
Quando tinha um batizado ou um casamento, o que eles iam fazer? Um<br />
<strong>Fandango</strong>. Quando não tinha nada, o que eles iam fazer? Um <strong>Fandango</strong>. Se não<br />
tinha serviço, cada uma das pessoas trazia alguma coisa: uns traziam arroz outros<br />
traziam feijão, banana; surgiam assim vários motivos para promover um<br />
baile de <strong>Fandango</strong>. Oportunidade para comemorar não faltava, e essa festa<br />
além de envolver música e dança, congregava pessoas que cultivavam a vivência<br />
na comunidade.<br />
12 Heloisa Garrett