neste período. Com isso, podemos perceber que não só a tecnologia e a mídia podem exercer influência sobre o <strong>Fandango</strong>, mas também a ideologia e os interesses econômicos e sociais. Há ainda o componente da religiosidade, pois a dança fandangueira já foi considerada herege, sendo censurada e reprimida em sermão dominical. A batida contundente do <strong>Fandango</strong> parecia representar uma abominação, um ritual de apologia subliminar à violência e à invocação das coisas do mal. A ingenuidade do discurso não é mais flagrada nas igrejas, mas não se sabe até que ponto ocorre algum desestímulo à prática do <strong>Fandango</strong> em religiões de conduta mais severa, como os templos evangélicos <strong>–</strong> que, aliás, juntamente com os bares, são o tipo de “estabelecimento” mais presente na Ilha de Valadares. Para dar maior alcance à disseminação do ritmo, e também para englobar uma nova possibilidade musical em seu estilo, o grupo Fato, um dos maiores expoentes artísticos do Paraná, adotou as marcas, os instrumentos e a tradição do <strong>Fandango</strong> a partir de seu terceiro disco, intitulado “O Que Lá Tá Que Lá Teje”. A inventividade foi muito bem recebida pela crítica, e uma das faixas, justamente chamada de “<strong>Fandango</strong>”, recebeu até uma versão de videoclip dirigido pela renomada cineasta Heloísa Passos. O vídeo foi veiculado no Brasil e exterior, sendo exibido em canais de TV a cabo da Europa e Estados Unidos. Nele, vemos Mestre Romão e outros fandangueiros participando de um baile que mais lembra uma rave. Até que ponto tal ousadia foi agressiva ou meramente uma fusão entre tradição e modernidade para tornar a música mais palatável ao público jovem, fica difícil de medir. Recentemente, comemorando seus 20 anos de história, o grupo Fato fez um show histórico no qual reuniu todos os colaboradores, integrantes e ex-integrantes que compuseram sua história, mais uma vez fazendo uso dos elementos percussivos do <strong>Fandango</strong>, dentre eles um bastante inusitado denominado “tamancália”: uma caixa de madeira que possui um acessório munido de diversos tamancos que, ao serem acionados, batem todos simultaneamente fazendo o efeito sonoro de um grupo de dançarinos sapateando simultaneamente. Tanta inventividade proporcionou ao Fato turnês a diversas localidades do Brasil e até mesmo para a França divulgando sua música. A validade da simbiose arrojada proposta pelo grupo por vezes entra em atrito com as concepções de muitos estudiosos do <strong>Fandango</strong>, mas fica difícil de negar que seu trabalho consiste no maior marco de repercussão das influências do ritmo gerado até hoje, isso ao ponto de o Fato ter suas músicas executadas junto à Orquestra Sinfônica do Paraná, em versão erudita regida pelo maestro Alessandro Sangiorgio. Se o futuro do <strong>Fandango</strong> será manter-se tradicional como o executado em Valadares ou modernizado como o apresentado por diversas partes através 84 Heloisa Garrett
do Fato, fica difícil de se saber. Porém, indiferente ao formato que terá daqui para a frente, o importante é que seu legado se perpetue pelas próximas gerações, e que o ritmos seja efetivamente, reconhecido, assimilado e tornado moti- vo de orgulho para todos os paranaenses. Mário Lopes Publicitário, pesquisador e roteirista. <strong>Fandango</strong>,o bailado de gerações 85
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