23.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Afonso Arinos, filho<br />

De lá, sonhou com o Paraguai e embarcou, passando pelo Rio <strong>de</strong> Janeiro e<br />

Buenos Aires, acompanhado da mulher e seis filhos. A lua-<strong>de</strong>-mel com Assunção<br />

durou cinco dias. Bernanos se encantara com o Rio durante o breve tempo<br />

em que o navio ali aportou, a caminho da Argentina, e regressaria com ânimo<br />

<strong>de</strong> permanecer em terras brasileiras.<br />

Em novembro <strong>de</strong> 1938, foi para Itaipava, com a família. E ali, por intermédio<br />

<strong>de</strong> Alceu Amoroso Lima, conheceu Virgílio <strong>de</strong> Melo Franco, que viria a<br />

ser o seu maior amigo e protetor por todo o tempo <strong>de</strong> permanência no Brasil.<br />

Não me move, aqui, qualquer intento <strong>de</strong> prestar um testemunho pessoal<br />

sobre o gran<strong>de</strong> escritor. Nem minhas recordações infantis autorizam a tanto.<br />

Como estas se mesclam, inextricavelmente, às dos irmãos Virgílio e Afonso<br />

Arinos <strong>de</strong> Melo Franco (nunca cheguei a ver Georges Bernanos <strong>de</strong>sacompanhado<br />

<strong>de</strong> um dos dois), tenciono apenas reunir, sem maiores pretensões, alguns<br />

<strong>de</strong>poimentos daqueles personagens sobre os laços estreitos que os aproximaram,<br />

física e espiritualmente.<br />

Possuo um belo retrato <strong>de</strong> Bernanos, assim <strong>de</strong>dicado a Virgílio e à esposa:<br />

“A Virgilio et Dulce Melo Franco, l’honneur, le charme et la douce amitié du Brésil. Bernanos.”<br />

E foi também a esse casal que ele <strong>de</strong>dicou o livro Les Enfants humiliés:<br />

“Pour Monsieur et Madame Virgilio <strong>de</strong> Melo Franco. Chers amis, je vous offre ces pauvres<br />

cahiers d’écoliers, achetés à la papeterie <strong>de</strong> Pirapora. Le texte en est à peine lisible parce<br />

qu’en prévision <strong>de</strong> leur envoi futur en Europe, je me suis efforcé <strong>de</strong> rapetisser mon écriture.<br />

N’importe! Même sans les lire, votre amitié y trouverait sans doute encore, grace au doux miracle<br />

<strong>de</strong> la sympathie, les mêmes qualités qu’elle croit trouver en leur auteur et que je voudrais<br />

être sûr <strong>de</strong> possé<strong>de</strong>r réellement, ne fût-ce que par affection et gratitu<strong>de</strong> pour vous. [...] Votre<br />

vieil et fidèle ami, G. Bernanos. 2 avril 1941.”<br />

De Itaipava Virgílio encaminhou Bernanos ao seu amigo Geraldo Resen<strong>de</strong>,<br />

chefe político em Juiz <strong>de</strong> Fora, que o instalou na fazenda Santa Inês. Ali,<br />

o escritor recusou, pela terceira vez (haveria uma quarta, após a guerra) a Legião<br />

<strong>de</strong> Honra, e fez fabricar as botas especiais com que calçava o pé aci<strong>de</strong>n-<br />

84

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!