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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Elizabeth Travassos / Manoel Aranha Correa do Lago<br />

perfeitamente superpostos como linhas em contraponto; e que <strong>de</strong>ssa superposição<br />

nasce a própria harmonia dos temas [...] Quanto a mim, procuro geralmente<br />

utilizar o maior número possível <strong>de</strong> temas.” (Milhaud, 1952, p. 90.)<br />

O mesmo tipo <strong>de</strong> empréstimo apareceria posteriormente em obras inspiradas<br />

em outros “folclores”, tais como Le Bal Martiniquais (1944-5), Suite Française<br />

(1944-5), Carnaval à la Nouvelle-Orléans (1947) e Kentuckiana (1948).<br />

A musicologia <strong>de</strong>bruça-se há tempos sobre empréstimos populares e extra-europeus<br />

na música erudita, concentrando-se na sua i<strong>de</strong>ntificação e na<br />

discussão da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> dos autores às fontes. 32 O modo <strong>de</strong> servir-se <strong>de</strong>las,<br />

aliás, <strong>de</strong>u origem a teorizações <strong>de</strong> músicos e musicólogos: da simples harmonização<br />

<strong>de</strong> cantigas e temas da tradição oral à transposição <strong>de</strong> elementos<br />

estruturais e daí à inefável absorção do “espírito” da música popular ou<br />

étnica, toda uma estética do empréstimo foi <strong>de</strong>senvolvida sobretudo pelos<br />

compositores das primeiras décadas do século XX. Naturalmente, aspectos<br />

políticos sempre estiveram em jogo para os nacionalistas militantes,<br />

que sonhavam com idiomas nacionalizados a partir <strong>de</strong> fundamentos populares.<br />

Para estes, mais do que uma opção estética, o aprendizado com a música<br />

popular era um <strong>de</strong>ver. 33 O tratamento que davam às fontes, porém,<br />

guiava-se freqüentemente pela idéia <strong>de</strong> anonimato. Os indivíduos concretos<br />

que haviam fornecido os documentos do populário eram meros transmissores<br />

e não criadores.<br />

A “aventura brasileira” <strong>de</strong> Milhaud ganhou uma atualida<strong>de</strong> inesperada neste<br />

momento em que se discutem o trânsito cultural global e os hibridismos resultantes.<br />

A apropriação <strong>de</strong> músicas não-européias e folclóricas por produtores da<br />

alta cultura oci<strong>de</strong>ntal adquiriu tonalida<strong>de</strong> política acentuada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que passou a<br />

ser percebida no quadro da crítica pós-colonialista aos “orientalismos”. 34<br />

32<br />

Ver Born e Hesmondhalgh (2000).<br />

33<br />

Muito claramente expresso, no Brasil, por Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.<br />

34<br />

Ver Said, 1978.<br />

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