Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Alexei Bueno<br />
Mais para fora <strong>de</strong>sse centro geográfico do primeiro Mo<strong>de</strong>rnismo, po<strong>de</strong>mos<br />
lembrar um <strong>de</strong>poimento do gaúcho Augusto Meyer, em sua carta aberta “O<br />
fenômeno Quintana”:<br />
“A verda<strong>de</strong> é que, em 24 ou 25, <strong>de</strong>vorávamos na província alguns poetas<br />
europeus <strong>de</strong> expressão mais avançada: Apollinaire, Aragon, Cendrars, Max<br />
Jacob, Salmon, Govoni, Folgore, Palazzeschi, etc... A essas influências convém<br />
acrescentar a do gran<strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira, com o Ritmo Dissoluto, que todos<br />
nós seríamos capazes <strong>de</strong> reproduzir <strong>de</strong> memória, mesmo dormindo.”<br />
Como se po<strong>de</strong> ver, os mesmos nomes e a mesma ascendência da poesia francesa,<br />
dividida com a dos futuristas italianos. E será <strong>de</strong> fato com essa última classificação<br />
que o sempre agitador Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> lançará na imprensa o nome do autor<br />
<strong>de</strong> Paulicéia Desvairada, através do conhecido artigo “Meu poeta futurista”.<br />
No caso <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira, poeta que a partir do recém-mencionado terceiro<br />
livro, Ritmo Dissoluto, a<strong>de</strong>riu explicitamente ao Mo<strong>de</strong>rnismo, as influências francesas<br />
se casam a uma imensa cultura poética, a uma ligação muito forte com as<br />
raízes lusitanas da poesia brasileira – as referências a António Nobre são claras<br />
no começo da obra – <strong>de</strong> maneira que é difícil limitar um caminho específico <strong>de</strong><br />
recepção. Ban<strong>de</strong>ira escreveu, aliás, uns poucos e belos poemas em francês, surgidos<br />
involuntariamente na língua, <strong>de</strong> acordo com seu <strong>de</strong>poimento pessoal. Em<br />
Cecília Meireles, outra criadora surgida diretamente do Simbolismo, sem nunca<br />
o renegar – esquecendo-se a estréia parnasiana repudiada <strong>de</strong> Espectros – encontramos<br />
condições semelhantes às que mencionamos a respeito <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira, e ainda<br />
mais carregadas. A presença do lirismo lusitano é ainda mais visível nessa neta <strong>de</strong><br />
açorianos, junto com uma forte componente ibérica – a forma do romance viejo<br />
com que construirá o monumento do Romanceiro da Inconfidência – e uma índole<br />
rilkeana das mais autênticas, alcançando o seu apogeu na “Elegia” do final <strong>de</strong><br />
Mar Absoluto. Em Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, poeta fortemente sui generis,<br />
toda a presença francesa é <strong>de</strong> muito difícil <strong>de</strong>tecção específica, embora se sinta<br />
algo <strong>de</strong> Paul Valéry, assim como <strong>de</strong> Fernando Pessoa, em alguns dos gran<strong>de</strong>s<br />
poemas aparecidos a partir <strong>de</strong> Claro Enigma. Em Jorge <strong>de</strong> Lima, que começou<br />
152