Anne Caroline Nava Lopes - Outros Tempos
Anne Caroline Nava Lopes - Outros Tempos
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Segundo o referido autor, a época moderna representa a morte como mais<br />
selvagem, temida e privativa. No que concordamos.<br />
Desse modo, pensando as determinações da dinâmica do processo de<br />
“morrer”, o imaginário sagrado do fenômeno da morte adquire particularidades em<br />
razão do tipo de organização e sistema de significação religioso que o determina.<br />
Constata-se que foi dentro do campo religioso católico, que se instituiu um<br />
imaginário fúnebre principalmente no contexto medieval do qual herdamos os<br />
códigos sagrados de significação da morte.<br />
A Igreja Católica como instituição reguladora se constituía como um<br />
espaço social que exercia controle disciplinar sobre os indivíduos. A tradição católica<br />
tinha como base a expectativa da vida eterna ao lado de Deus, dos anjos e santos<br />
católicos. A salvação da alma era a essência do viver e do morrer.<br />
Não restam dúvidas de que morte e religião estão diretamente<br />
conectadas. A questão é que, na história dos homens, os mitos e mesmo a própria<br />
religião surgiram da necessidade de se dar explicações para os acontecimentos que<br />
a razão humana não conseguia explicar.<br />
Assim, a morte ao que tudo indica, parece ter encontrado na religião sua<br />
forma mais eficaz de ser organizada. Desse modo, a sensibilidade religiosa, seus<br />
rituais, crenças e explicações permearam o morrer com a sua própria lógica<br />
sagrada.<br />
Ainda que tais explicações míticas e, sobretudo, religiosas tenham tido<br />
uma determinante influência sobre a forma de pensar e agir das pessoas e ainda<br />
que elas tenham sido modeladas pelas inspirações religiosas, não se pode, contudo,<br />
afirmar que morriam serenamente.<br />
No intuito de superar a perspectiva de que no passado as pessoas<br />
morriam serenas e tranqüilas e pensando o “morrer” como tormento, dor e agonia<br />
para todos que o vivenciaram, tenta-se ultrapassar uma visão romântica daquilo que<br />
pode ser em última análise um momento de inúmeras intranqüilidades e pavor, ainda<br />
que anteriormente esse momento fosse vivenciado mais publicamente. Segundo<br />
Elias (2001, p. 23):<br />
Em resumo, a vida na sociedade medieval era mais curta; os perigos menos<br />
controláveis; a morte, muitas vezes mais dolorosa; o sentido da culpa e o<br />
medo da punição depois da morte, determinados pela doutrina oficial.<br />
Porém, em todos os casos, a participação dos outros na morte de um<br />
indivíduo era muito mais comum.