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Anne Caroline Nava Lopes - Outros Tempos

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3 PRÁTICAS FÚNEBRES: o império da lógica religiosa<br />

Na nossa sociedade atual, que está voltada para o culto do corpo, da<br />

beleza, de uma vida saudável, soa até estranho falar cotidianamente de defuntos,<br />

sepulturas e cemitérios. O medo que sentimos de nos depararmos com a morte<br />

também nos afasta dos moribundos, dos cemitérios, enterros e hospitais, e até é<br />

capaz de nos causar constrangimento no momento de dar os pêsames a alguém.<br />

Todo este panorama de interdição é resultado do que se convencionou chamar de<br />

“tabu da morte”.<br />

Mas, se fizermos referência ao Maranhão colonial, e mesmo imperial,<br />

assim como em todo território brasileiro, veremos que essa atitude de interdição,<br />

ocultamento e recusa da morte presentes nos dias de hoje, era uma exceção à regra<br />

naquelas épocas. Àquela época, a regra era a de que a morte e os moribundos<br />

também faziam parte do cotidiano.<br />

O medo da morte foi um dos pilares sobre os quais a Igreja Católica<br />

estruturou-se como instituição predominante no controle dos códigos da morte.<br />

Entendam-se tais códigos por expressões ritualísticas, imaginário, controle sobre os<br />

corpos e condutas incorruptíveis, sacramentos etc. Tais atitudes controladas pela<br />

igreja conferiam mais familiaridade e publicidade ao processo de morrer. Segundo<br />

Rodrigues (1981, p. 55):<br />

Todas estas questões nos possibilitam compreender a familiaridade entre<br />

vivos e mortos que havia tempos atrás. A proximidade física dos fiéis com<br />

os mortos, no período colonial e em parte do imperial, se fez acompanhar<br />

de rituais funerários que primavam pelos detalhes, pela publicidade e pela<br />

exterioridade, fazendo parte do que se convencionou chamar de<br />

“catolicismo barroco brasileiro”. Os costumes fúnebres de então foram muito<br />

apropriadamente denominados, por João José Reis, como “a morte<br />

enquanto festa”.<br />

Essa forma de morrer caracterizada pelo espetáculo fúnebre, pela<br />

festividade era bastante comum em épocas onde a morte era uma expressão da<br />

simbologia sagrada, na qual a publicidade era a regra.<br />

A sensibilidade religiosa católica sobre a morte, que prevaleceu até<br />

meados do século XIX, tanto no Brasil como na Europa era vista como uma espécie<br />

de rito de passagem entre a vida física e a vida espiritual eterna. Ordenados pelos<br />

rituais e crenças religiosas, o agir e o sentir em relação à morte eram profundamente<br />

orientados no sentido de garantir um bom lugar na vida eterna, no paraíso, no céu.

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