Anne Caroline Nava Lopes - Outros Tempos
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eram ali sepultados. Sendo essa aproximação uma das principais causas de surtos<br />
e doenças aos vivos, houve uma real necessidade de combater tudo que poderia ser<br />
nocivo à saúde das pessoas.<br />
Diante dessa realidade e com o avanço da racionalidade e do<br />
desenvolvimento da ciência médica, novas posturas surgiram. Ainda de acordo com<br />
Coe (2005, p. 25):<br />
Com o fortalecimento da doutrina capitalista, há uma nova atitude diante da<br />
morte e dos mortos. Se até o século XVIII não havia separação radical entre<br />
a vida e a morte, a partir do século XIX essa separação se acentua. Há o<br />
avanço do individualismo, do pensamento racional, da laicização das<br />
relações sociais, da secularização da vida cotidiana. Os enterros vão sendo<br />
paulatinamente sendo objeto de inúmeras discussões, pois os<br />
sepultamentos eram realizados nos templos religiosos considerados santos.<br />
Aos poucos os enterramentos nas igrejas vão perdendo o seu caráter<br />
sagrado, assumindo um caráter cada vez mais profano. Seria o advento da<br />
“morte selvagem” e o fim da “morte familiar” que havia vigorado até então.<br />
Os discursos médicos, higiênico-sanitários passaram a ser os discursos<br />
predominantes e focos da atenção das políticas públicas e de seu ordenamento tal<br />
como ocorreram na Europa os discursos e práticas higienistas. A morte higiênica na<br />
concepção de Ariès (2003) em seu estudo sobre a morte e o morrer no ocidente deu<br />
origem ao que o autor chama de “morte interdita”, isto é, processo através do qual<br />
se institui no social contemporâneo a cultura mortuária vista através e sob controle<br />
do saber médico. De acordo com Reis (1991, p. 248):<br />
A França representava um espelho de civilização e progresso, como<br />
escreveu em sua tese um médico baiano em 1852. Tal como esse país<br />
resolvera combatera seus miasmas no século XVIII, o Brasil independente<br />
deveria combatê-los como parte de um projeto civilizatório.<br />
Desse modo, o morrer passa por uma drástica estruturação e<br />
ajustamento, tornando-se cada vez mais racional o trato com a morte, fazendo com<br />
que as velhas práticas e hábitos sagrados fossem se modificando e cedendo espaço<br />
para novos costumes.<br />
Com o advento do Código Sanitário de 1904, sancionado pelo governo no<br />
momento em que a cidade de São Luís passava por um processo de urbanização<br />
que instaurou-se um período de mudanças. Foram as preocupações relativas ao<br />
controle das doenças e infecções que impulsionaram as reformas urbanas, por isso<br />
foram as ruas alargadas, iluminadas e tornadas ventiladas, medidas consideradas<br />
indispensáveis para acabar com os miasmas. De acordo com Medeiros (2007, p.<br />
92):