Anne Caroline Nava Lopes - Outros Tempos
Anne Caroline Nava Lopes - Outros Tempos
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5 CONCLUSÃO<br />
Este trabalho iniciou-se com uma abordagem teórica sobre as<br />
concepções de morte e sobre a chamada morte domada sob o controle e domínio<br />
eclesiásticos. Apresentou uma discussão acerca do imaginário fúnebre e das<br />
práticas mortuárias e por conseqüência uma análise sobre a mudança de<br />
sensibilidade no que diz respeito a morte no Ocidente e no Brasil do século XIX.<br />
Efetivamente, a preocupação com o morrer era algo constitutivo da<br />
própria vida, principalmente diante de um contexto social em que a religião<br />
administrava as posturas, o imaginário e a própria morte. Portanto, morrer bem<br />
exigia uma harmonia entre a religião e um ideal de vida incorruptível. Entretanto,<br />
percebemos que transformações sociais e científicas possibilitaram uma<br />
reconfiguração das sensibilidades sobre o morrer.<br />
Desse modo, o discurso e o poder da ideologia médica assim como o<br />
domínio das práticas corporais pelo Estado promoveram novas relações dos<br />
indivíduos com a morte e, como vimos, muitos foram os efeitos dessas<br />
transformações que atingiram a organização da morte. Assim, não há mais espaço<br />
para as belas mortes, que foram suplantadas pela morte selvagem,<br />
Por fim, conclui-se que o século XIX é um marco temporal fundamental<br />
para pensar os novos rearranjos sobre a experiência da morte. Também<br />
percebemos que nesse momento houve uma modificação profunda sobre as<br />
sensibilidades fúnebres que adquiriram novos sentidos e significados ao longo do<br />
tempo. Significados estes que nos atingiram de maneira direta e que diante de uma<br />
organização social cada vez mais complexa como a nossa pôde revelar uma faceta<br />
da morte cruel demais para todos aqueles assolados pela pobreza.