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Estudo da reologia de polissacarídeos utilizados

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Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005<br />

ISSN 1517-8595<br />

REVIEW<br />

ESTUDO DA REOLOGIA DE POLISSACARÍDEOS UTILIZADOS<br />

NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS<br />

Juliana Tófano <strong>de</strong> Campos Leite Toneli 1 , Fernan<strong>da</strong> Elisabeth Xidieh Murr 2 , Kil Jin Park 3<br />

RESUMO<br />

O estilo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> atual <strong>da</strong> população está provocando uma crescente <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por alimentos que<br />

sejam, simultaneamente, práticos, saborosos e saudáveis. Os consumidores <strong>de</strong>sejam consumir<br />

alimentos que tragam benefícios à sua saú<strong>de</strong>, porém, não querem abrir mão <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

sensoriais encontra<strong>da</strong>s em alimentos ricos em gorduras. Esses fatores estão causando um gran<strong>de</strong><br />

aumento no consumo <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os, pois são ingredientes capazes <strong>de</strong> aumentar a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s soluções ou induzir à formação <strong>de</strong> sistemas com características similares às<br />

apresenta<strong>da</strong>s pelos géis, controlando a estrutura e a textura <strong>de</strong> alimentos. Em busca <strong>de</strong> aprimorar<br />

a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos produtos alimentícios e reduzir os custos <strong>de</strong> produção, inúmeras pesquisas têm<br />

sido realiza<strong>da</strong>s sobre os polissacarí<strong>de</strong>os que po<strong>de</strong>m ser <strong>utilizados</strong> na produção <strong>de</strong> alimentos,<br />

relacionando suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas e químicas com o seu comportamento, quando utilizado<br />

em formulações sob diferentes condições. Dentre as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos polissacarí<strong>de</strong>os, o<br />

comportamento reológico é <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental importância no projeto, na avaliação e na<br />

mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> processos. Além disso, as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas também são indicadores <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do produto. Esse trabalho tem por objetivo ressaltar a importância do conhecimento<br />

<strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas dos polissacarí<strong>de</strong>os, face à gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos passíveis<br />

<strong>de</strong> aplicação na indústria <strong>de</strong> alimentos e à riqueza <strong>da</strong>s pesquisas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s na área.<br />

Palavras-chave: viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, curvas <strong>de</strong> escoamento, gomas, amido, inulina.<br />

STUDY OF THE RHEOLOGY OF POLYSACCHARIDES USED IN THE FOOD INDUSTRY<br />

ABSTRACT<br />

The population current life style is causing an increasing <strong>de</strong>mand for food that is,<br />

simultaneously, practical, flavorful and healthful. The consumers <strong>de</strong>sire to eat foods that benefit<br />

their health; however, they don’t want to lose the sensorial attributes found in foods that are rich<br />

in fat. These factors are causing a great increase in the consumption of polysacchari<strong>de</strong>s;<br />

therefore, they are ingredients capable to increase the viscosity of the solutions or to induce the<br />

formation of systems with similar characteristics to the characteristics presented by gel,<br />

controlling the structure and the texture of foodstuffs. Innumerable researches about the<br />

polysacchari<strong>de</strong>s that can be used in the food production, relating its physical and chemical<br />

properties with its behavior, when they are used in formulations un<strong>de</strong>r different conditions, has<br />

been carried out to improve the quality of food products and to reduce the production costs.<br />

Amongst the properties of the polysacchari<strong>de</strong>s, the rheological behavior has fun<strong>da</strong>mental<br />

importance in the project, evaluation and mo<strong>de</strong>ling of processes. Moreover, the rheological<br />

properties are also indicators of the quality of the product. This work has the objective of stand<br />

out the importance of the knowledge of the polysacchari<strong>de</strong>s rheological properties, because of<br />

the great variety of products that can be applied in the food industry and the richness of the<br />

researches <strong>de</strong>veloped in the area.<br />

Keywords: viscosity, flow curves, gums, starch, inulin.<br />

_____________________<br />

Protocolo 31 <strong>de</strong> 28/07/2004<br />

1 Departamento <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Alimentos. Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Alimentos, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, P.O. Box 6121,<br />

13083-970, Campinas, SP, Brasil. E-mail: juliana@agr.unicamp.br<br />

1 Departamento <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Alimentos. Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Alimentos, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, P.O. Box 6121,<br />

13083-970, Campinas, SP, Brasil. E-mail: fexmurr@fea.unicamp.br<br />

1 Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia Agrícola, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, P.O. Box 6011, 13084-971, Campinas, SP, Brasil. E-mail:<br />

kil@agr.unicamp.br<br />

181


182<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

INTRODUÇÃO À REOLOGIA<br />

Eugene C. Bingham foi o primeiro a<br />

utilizar a palavra <strong>reologia</strong> ao <strong>de</strong>finir que “tudo<br />

escoa” (Steffe, 1996). Hoje, a Reologia po<strong>de</strong> ser<br />

vista como a ciência <strong>da</strong> <strong>de</strong>formação e do<br />

escoamento <strong>da</strong> matéria, ou seja, é o estudo <strong>da</strong><br />

maneira, segundo a qual os materiais<br />

respon<strong>de</strong>m à aplicação <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong><br />

tensão ou <strong>de</strong>formação.<br />

Todos os materiais possuem proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

reológicas, <strong>de</strong> modo que a <strong>reologia</strong> é uma<br />

ciência que po<strong>de</strong> ser aplica<strong>da</strong> em diversas áreas<br />

<strong>de</strong> estudo. O estudo <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas<br />

dos alimentos, segundo Rao (1977, 1986), é<br />

essencial para várias aplicações que incluem<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os projetos e avaliação <strong>de</strong> processos até o<br />

controle <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a correlação com a<br />

avaliação sensorial e a compreensão <strong>da</strong><br />

estrutura <strong>de</strong> materiais.<br />

Steffe (1996) sugere que a <strong>reologia</strong> é a<br />

ciência dos materiais em alimentos. De acordo<br />

com o autor, po<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>stacar diversas áreas<br />

na indústria <strong>de</strong> alimentos nas quais o<br />

conhecimento dos <strong>da</strong>dos reológicos é essencial:<br />

a) Cálculos em engenharia <strong>de</strong> processos,<br />

envolvendo gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

equipamentos, tais como bombas,<br />

tubulações, extrusores, misturadores,<br />

trocadores <strong>de</strong> calor, <strong>de</strong>ntre outros;<br />

b) Determinação <strong>da</strong> funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ingredientes no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

produtos;<br />

c) Controle intermediário ou final <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos;<br />

d) Testes <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> prateleira;<br />

e) Avaliação <strong>da</strong> textura <strong>de</strong> alimentos e<br />

correlação com testes sensoriais;<br />

f) Análise <strong>de</strong> equações reológicas <strong>de</strong> estado<br />

ou <strong>de</strong> equações constitutivas.<br />

A Reologia Clássica começa com a<br />

consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> dois materiais i<strong>de</strong>ais: o sólido<br />

elástico e o líquido viscoso. O sólido elástico é<br />

um material com forma <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> que, quando<br />

<strong>de</strong>formado por uma força externa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

certos limites, irá retornar à sua forma e<br />

dimensões originais, após a remoção <strong>de</strong>ssa<br />

força. O líquido viscoso não tem forma <strong>de</strong>fini<strong>da</strong><br />

e irá escoar, irreversivelmente, com a aplicação<br />

<strong>de</strong> uma força externa (Stanley, et al., 1996).<br />

Na <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> sólidos, a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> maior interesse é a elastici<strong>da</strong><strong>de</strong> ao passo que,<br />

em líquidos, a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> é a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais<br />

importante. A viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um material po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> física dos<br />

fluidos que caracterizam a sua resistência ao<br />

escoamento (park & leite, 2001).<br />

Reologia dos sólidos<br />

Quando uma força é aplica<strong>da</strong> a um<br />

material sólido e a curva resultante <strong>de</strong> tensão<br />

versus <strong>de</strong>formação é uma linha reta, passando<br />

pela origem, diz-se que o sólido é i<strong>de</strong>al ou<br />

hookeano. Materiais hookeanos não escoam e<br />

são linearmente elásticos. A tensão permanece<br />

constante até que a <strong>de</strong>formação seja removi<strong>da</strong> e,<br />

uma vez que isso ocorra, o material retorna à<br />

sua forma original. A Lei <strong>de</strong> Hooke po<strong>de</strong> ser<br />

utiliza<strong>da</strong> para <strong>de</strong>screver o comportamento <strong>de</strong><br />

muitos sólidos, quando submetidos a pequenas<br />

<strong>de</strong>formações, tipicamente, inferiores a 1%.<br />

Gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>formações, normalmente, produzem<br />

a ruptura do material ou um comportamento<br />

não-linear.<br />

O comportamento <strong>de</strong> um sólido<br />

hookeano po<strong>de</strong> ser investigado, através <strong>de</strong><br />

ensaios <strong>de</strong> compressão uniaxial <strong>de</strong> uma amostra<br />

cilíndrica. Se o material é comprimido <strong>de</strong> uma<br />

forma tal que ele experimente uma mu<strong>da</strong>nça no<br />

comprimento inicial (ho) e no diâmetro (do), a<br />

tensão (σ) e a <strong>de</strong>formação (εc) normais po<strong>de</strong>m<br />

ser calcula<strong>da</strong>s segundo a Equação (1) (Steefe,<br />

1996).<br />

F F<br />

σ = = ;<br />

2<br />

A πd<br />

o<br />

4<br />

ε =<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005<br />

C<br />

δh<br />

h<br />

o<br />

(1)<br />

on<strong>de</strong>:<br />

F = força <strong>de</strong> compressão uniaxial [N]; A = área<br />

<strong>de</strong> contato inicial [m 2 ];<br />

δh = variação na altura <strong>da</strong> amostra [m]<br />

Essas informações po<strong>de</strong>m ser utiliza<strong>da</strong>s<br />

para a <strong>de</strong>terminação do módulo <strong>de</strong> Young (E),<br />

<strong>de</strong> acordo com a Equação (2), ou,<br />

analogamente, do módulo cisalhante (G),<br />

quando a tensão aplica<strong>da</strong> for <strong>de</strong> cisalhamento.<br />

σ<br />

E<br />

ε<br />

= (2)<br />

c<br />

De acordo com Steefe (1996), quando<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>formações são aplica<strong>da</strong>s, a<br />

<strong>de</strong>formação <strong>de</strong> Hencky (εH) <strong>de</strong>ve ser utiliza<strong>da</strong>


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

para calcular a <strong>de</strong>formação e o termo referente à<br />

área, necessário para o cálculo <strong>da</strong> tensão,<br />

<strong>de</strong>verá ser ajustado para as variações no raio,<br />

provoca<strong>da</strong>s pela compressão, como mostra a<br />

Equação (3).<br />

F<br />

σ = (3)<br />

π<br />

( ) 2<br />

R + δR<br />

0<br />

On<strong>de</strong> R0 é o raio inicial do material, δR é a<br />

variação na medi<strong>da</strong> do raio, provoca<strong>da</strong> pela<br />

aplicação <strong>da</strong> tensão.<br />

Reologia dos fluidos<br />

O estudo <strong>da</strong> <strong>de</strong>formação em fluidos<br />

po<strong>de</strong> ser realizado submentendo-os a uma<br />

<strong>de</strong>formação contínua, a uma taxa constante.<br />

Essa condição po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong> com a<br />

utilização <strong>de</strong> duas placas paralelas com o fluido<br />

colocado no espaço entre elas (gap), como<br />

mostra a Figura 1. O prato inferior é fixo (u =<br />

0) e o superior se move a uma veloci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

constante (u), gerando um perfil <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

ao longo do fluido que, por sua vez, é igual à<br />

taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação (γ& ).<br />

x 2<br />

Força<br />

x 1<br />

Área<br />

u<br />

u=0<br />

Fonte: A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Steefe (1996)<br />

Figura 1 – Perfil <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> entre placas<br />

paralelas<br />

O escoamento <strong>de</strong> cisalhamento simples,<br />

também, po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> escoamento<br />

viscométrico. Ele inclui o escoamento axial em<br />

uma tubulação, o escoamento rotacional entre<br />

cilindros concêntricos, o escoamento rotacional<br />

entre cone e placa e o escoamanto rotacional<br />

entre placas paralelas.<br />

De uma maneira geral, é possível<br />

classificar o comportamento reológico dos<br />

materiais, através <strong>de</strong> dois extremos i<strong>de</strong>alizados:<br />

sólidos perfeitos (hookeanos) e fluidos perfeitos<br />

(newtonianos). Enquanto os sólidos i<strong>de</strong>ais se<br />

<strong>de</strong>formam, elasticamente, e a energia <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação é, completamente, recupera<strong>da</strong>,<br />

quando cessa o estado <strong>de</strong> tensão, fluidos i<strong>de</strong>ais<br />

183<br />

escoam, ou seja, se <strong>de</strong>formam <strong>de</strong> forma<br />

irreversível e a energia <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação é<br />

dissipa<strong>da</strong> na forma <strong>de</strong> calor. Dessa maneira, em<br />

fluidos, a energia <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação não é<br />

recupera<strong>da</strong>, após o alívio <strong>da</strong> tensão (Pasquel,<br />

1999).<br />

Quando sólidos i<strong>de</strong>ais são <strong>de</strong>formados,<br />

a tensão gera<strong>da</strong> pela resistência à <strong>de</strong>formação é,<br />

diretamente, proporcional à magnitu<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>formação, mas é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> taxa em<br />

que ela é aplica<strong>da</strong>. No outro extremo, a<br />

resistência <strong>de</strong> um fluido newtoniano para o<br />

movimento imposto é diretamente proporcional<br />

à taxa <strong>de</strong> movimento, mas é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong><br />

magnitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>formação (isto é, o fluxo<br />

continua in<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>mente enquanto a tensão é<br />

manti<strong>da</strong>) (Pasquel, 1999).<br />

Quando fluidos newtonianos são<br />

<strong>de</strong>formados, a tensão <strong>de</strong> cisalhamento gera<strong>da</strong> é,<br />

diretamente, proporcional à taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação. A resistência que o fluido oferece<br />

ao escoamento é caracteriza<strong>da</strong> como a sua<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> newtoniana (μ), como mostra a<br />

Equação (4). Os fluidos newtonianos, por<br />

<strong>de</strong>finição, possuem uma relação, estritamente,<br />

linear entre tensão <strong>de</strong> cisalhamento e taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação, com a linha passando pela origem<br />

(Steefe, 1996).<br />

σ = μ & γ<br />

(4)<br />

on<strong>de</strong>: σ = Tensão <strong>de</strong> cisalhamento (Pa); μ =<br />

Viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> Newtoniana (Pa.s) e γ& = Taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação (s -1 ).<br />

Não existem, naturalmente, fluidos<br />

perfeitos, ou i<strong>de</strong>ais (sem viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>), mas<br />

somente fluidos cujo comportamento se<br />

aproxima do newtoniano, como é o caso <strong>de</strong><br />

líquidos puros, soluções ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras diluí<strong>da</strong>s e<br />

poucos sistemas coloi<strong>da</strong>is. Todos os fluidos<br />

cujo comportamento não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito pela<br />

Equação (5) po<strong>de</strong>m ser chamados <strong>de</strong> nãonewtonianos.<br />

O coeficiente <strong>de</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> (μ)<br />

para esses fluidos não newtonianaosé chamado<br />

<strong>de</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente (η).<br />

Define-se a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente (η)<br />

como a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação γ& (s -1 ), <strong>de</strong> acordo com a Equação<br />

(4), on<strong>de</strong> σ(Pa) é a tensão <strong>de</strong> cisalhamento.<br />

σ = η(<br />

& γ )γ&<br />

(5)<br />

A Figura 2 apresenta uma classificação<br />

geral do comportamento reológico <strong>de</strong> fluidos:<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


184<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

Newtonianos<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do tempo<br />

Pseudoplástico<br />

Dilatante<br />

Plásticos <strong>de</strong> Bingham<br />

Herschel-Bulkley<br />

Outros<br />

Fluidos<br />

não-newtonianos<br />

Inelásticos Viscoelásticos<br />

Depen<strong>de</strong>ntes do tempo<br />

Tixotrópico Reopéctico<br />

Figura 2 – Classificação do comportamento reológico <strong>de</strong> fluidos<br />

Fluidos não-newtonianos viscoelásticos<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos como aqueles que<br />

apresentam, simultaneamente, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

fluidos (viscosas) e <strong>de</strong> sólidos (elásticas), sendo<br />

que as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s viscosas po<strong>de</strong>m ser nãonewtonianas<br />

e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do tempo. As<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s elásticas, por sua vez,<br />

manifestam-se, através <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> tensões<br />

perpendiculares à direção <strong>de</strong> cisalhamento com<br />

magnitu<strong>de</strong> diferente <strong>da</strong>quelas apresenta<strong>da</strong>s<br />

pelas tensões paralelas à direção <strong>de</strong><br />

cisalhamento (Torrest, 1982). Segundo Steffe<br />

(1996), manifestações <strong>de</strong>ssa natureza po<strong>de</strong>m ser<br />

muito fortes e criar problemas, durante o<br />

processamento <strong>de</strong> alimentos. Porém, em muitos<br />

alimentos fluidos, o comportamento elástico é<br />

pequeno ou po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sprezado, fazendo com<br />

que a função viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> se torne a principal<br />

área <strong>de</strong> interesse.<br />

Fluidos não-newtonianos inelásticos são<br />

todos aqueles que, <strong>de</strong> alguma maneira, não se<br />

comportam <strong>de</strong> acordo com a relação <strong>de</strong>scrita<br />

pela Equação (4), quando são submetidos a uma<br />

<strong>de</strong>formação. Eles po<strong>de</strong>m ain<strong>da</strong> ser classificados<br />

como <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes ou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do tempo.<br />

Fluidos com comportamento reológico<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo, sob condições <strong>de</strong><br />

temperatura e composição constantes,<br />

apresentam viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

somente <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação ou <strong>da</strong> tensão <strong>de</strong><br />

cisalhamento. Para o caso <strong>de</strong> fluidos com<br />

comportamento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo, a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente, também, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

duração <strong>de</strong>ssa taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação (Rao, 1977 e<br />

Rao, 1986).<br />

Fluidos não-newtonianos com comportamento<br />

reológico in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo<br />

Uma <strong>da</strong>s possíveis características <strong>de</strong><br />

fluidos não-newtonianos é a existência <strong>de</strong> uma<br />

tensão residual (σo) que, segundo Steffe (1996)<br />

é uma tensão finita necessária para que o fluido<br />

comece a escoar. Quando submetido a tensões<br />

inferiores a σo, o material comporta-se como<br />

um sólido, ou seja, armazena energia sob<br />

pequenas <strong>de</strong>formações e não se nivela sob a<br />

ação <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> maneira a formar uma<br />

superfície lisa. De acordo com Steffe (1996), a<br />

tensão residual é um conceito prático e muito<br />

importante na <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong><br />

processo e na análise <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos<br />

como manteiga e iogurte, porém, trata-se <strong>de</strong> um<br />

conceito i<strong>de</strong>alizado.<br />

Vários estudos têm sido <strong>de</strong>senvolvidos<br />

acerca do conceito <strong>de</strong> tensão residual, sendo<br />

que alguns questionam a sua existência, ao<br />

passo que outros <strong>de</strong>senvolvem métodos<br />

precisos para <strong>de</strong>terminá-la, corretamente.<br />

Barnes & Walters (1985) <strong>de</strong>safiaram a<br />

existência <strong>da</strong> tensão residual ao afirmarem que<br />

tudo escoa, <strong>da</strong>do tempo suficiente ou,<br />

utilizando-se equipamentos com alta<br />

sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Segundo Barnes (1999), com o<br />

passar do tempo e com o aumento <strong>da</strong><br />

sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos equipamentos, tornou-se claro<br />

que, não obstante haver uma pequena faixa <strong>de</strong><br />

tensão, através <strong>da</strong> qual as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

mecânicas dos materiais sofrem alterações<br />

dramáticas (uma tensão residual aparente),<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

esses materiais sempre apresentaram uma<br />

<strong>de</strong>formação lenta, porém contínua, quando<br />

tensionados sob valores inferiores a σo,<br />

mostrando uma resposta elástica linear à tensão<br />

aplica<strong>da</strong>.<br />

Existem dois tipos <strong>de</strong> tensão residual:<br />

estática e dinâmica. A tensão residual estática é<br />

aquela medi<strong>da</strong> em uma amostra que ain<strong>da</strong> não<br />

sofreu qualquer tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, ou seja,<br />

que se encontra, completamente, nãoperturba<strong>da</strong><br />

e estrutura<strong>da</strong>. A tensão residual<br />

dinâmica é medi<strong>da</strong> em uma amostra<br />

completamente <strong>de</strong>sestrutura<strong>da</strong> e, geralmente, é<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> por extrapolação <strong>de</strong> uma curva <strong>de</strong><br />

185<br />

escoamento <strong>de</strong> equilíbrio. Em geral, a tensão<br />

residual estática é, significativamente, maior do<br />

que a dinâmica, a menos que o material<br />

recupere a sua estrutura <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um curto<br />

período <strong>de</strong> tempo, o que é incomum em<br />

alimentos (Steffe, 1996).<br />

Fluidos não-newtonianos po<strong>de</strong>m ain<strong>da</strong><br />

ser classificados <strong>de</strong> acordo com a maneira com<br />

que a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente varia com a taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação, ou seja, se ela aumenta ou diminui<br />

com o aumento <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação.<br />

A Figura 3 ilustra os diferentes tipos <strong>de</strong><br />

comportamento reológico para fluidos nãonewtonianos<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do tempo.<br />

Figura 3 – Reogramas típicos <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> fluidos com comportamento reológico in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

do tempo<br />

Plásticos <strong>de</strong> Bingham: caracterizam-se por<br />

apresentarem uma tensão inicial ou residual, a<br />

partir <strong>da</strong> qual o fluido apresenta uma relação<br />

linear entre tensão <strong>de</strong> cisalhamento e taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação.<br />

Fluidos pseudoplásticos: caracterizam-se pela<br />

diminuição na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente com o<br />

aumento <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação. Geralmente,<br />

começam a escoar sob a ação <strong>de</strong> tensões <strong>de</strong><br />

cisalhamento infinitesimais, não havendo a<br />

presença <strong>de</strong> uma tensão residual. No entanto,<br />

alguns fluidos po<strong>de</strong>m apresentar uma tensão<br />

inicial, a partir <strong>da</strong> qual o comportamento<br />

reológico passa a ser semelhante ao dos<br />

pseudoplásticos.<br />

Fluidos Dilatantes: caracterizam-se por<br />

apresentar um aumento na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente<br />

com o aumento <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação.<br />

Analogamente ao mencionado para os<br />

pseudoplásticos, em alguns casos é possível<br />

observar a presença <strong>de</strong> uma tensão residual, a<br />

partir <strong>da</strong> qual o fluido começa a escoar,<br />

apresentando comportamento análogo ao dos<br />

fluidos dilatantes.<br />

Os pseudoplásticos representam a maior<br />

parte dos fluidos que apresenta comportamento<br />

não-newtoniano. De acordo com VIDAL-<br />

BEZERRA (2000), esse comportamento po<strong>de</strong><br />

ser explicado pela modificação <strong>da</strong> estrutura <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>ias longas <strong>de</strong> moléculas com o aumento do<br />

gradiente <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essas ca<strong>de</strong>ias ten<strong>de</strong>m a<br />

se alinha, paralelamente, às linhas <strong>de</strong> corrente,<br />

diminuindo a resistência ao escoamento. Os<br />

produtos que se comportam como fluidos<br />

pseudoplásticos ten<strong>de</strong>m a apresentar um<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


186<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

comportamento newtoniano, quando<br />

submetidos a gran<strong>de</strong>s gradientes <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

provocado pelo total alinhamento molecular.<br />

Por outro lado, sob baixas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação,<br />

a distribuição, completamente, casual <strong>da</strong>s<br />

partículas, também, induz a esse tipo <strong>de</strong><br />

comportamento.<br />

Os fluidos pseudoplásticos, durante o<br />

escoamento, po<strong>de</strong>m apresentar três regiões<br />

distintas: região <strong>de</strong> baixas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação,<br />

região <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação médias e região<br />

<strong>de</strong> altas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, como mostra a<br />

Figura 4. Na região newtoniana <strong>de</strong> baixas taxas<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente (ηo),<br />

chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> limitante à taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação zero, não varia com a taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação aplica<strong>da</strong>. Na região <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação médias, a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente (η)<br />

diminui com o aumento <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação<br />

(comportamento pseudoplástico) e, na região <strong>de</strong><br />

altas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparente (η∞) volta a ficar constante e é<br />

chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> limitante a taxas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação infinitas. Segundo Steffe (1996), a<br />

região <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação médias é a mais<br />

importante para a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

performance <strong>de</strong> equipamentos para<br />

processamento <strong>de</strong> alimentos, sendo que a região<br />

newtoniana <strong>de</strong> baixas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação po<strong>de</strong><br />

ser importante em problemas que envolvam<br />

baixas <strong>de</strong>formações, como é o caso <strong>de</strong><br />

sedimentação <strong>de</strong> partículas em fluidos.<br />

Figura 4 – Reograma i<strong>de</strong>alizado para um fluido<br />

pseudoplástico (A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Steffe, 1996)<br />

Fluidos não-newtonianos com comportamento<br />

reológico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo<br />

A <strong>de</strong>pendência do tempo em fluidos nãonewtonianos<br />

é observa<strong>da</strong> com certa freqüência.<br />

Como se po<strong>de</strong>ria esperar, o tempo, variável<br />

adicional, condiciona a análise. Um indício do<br />

comportamento reológico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo<br />

<strong>de</strong> um fluido é a observação <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> curva<br />

<strong>de</strong> histerese.<br />

Para que seja possível verificar se o<br />

fluido apresenta ou não viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo, <strong>de</strong>ve ser realizado um<br />

estudo reológico on<strong>de</strong> a substância em análise<br />

<strong>de</strong>ve ser submeti<strong>da</strong> a um aumento na variação<br />

<strong>de</strong> tensão (i<strong>da</strong>) e, quando essa atingir um valor<br />

máximo, ser reduzi<strong>da</strong> até retornar ao valor<br />

inicial (volta). Se a substância não apresenta<br />

comportamento reológico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />

tempo, as curvas <strong>de</strong> tensão versus taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação obti<strong>da</strong>s (i<strong>da</strong> e volta) <strong>de</strong>vem ser<br />

coinci<strong>de</strong>ntes. Entretanto, se a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparente mu<strong>da</strong> com o tempo, as curvas <strong>de</strong> i<strong>da</strong> e<br />

volta não seguem o mesmo caminho, formando<br />

uma histerese.<br />

As curvas típicas <strong>de</strong> tensão versus taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação dos fluidos que apresentam<br />

comportamento reológico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo<br />

po<strong>de</strong>m ser observa<strong>da</strong>s na Figura 5.<br />

Figura 5 – Reogramas típicos <strong>de</strong> vários tipos<br />

<strong>de</strong> fluidos com comportamento reológico<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo<br />

Fluidos Tixotrópicos: caracterizam-se por<br />

apresentar um <strong>de</strong>créscimo na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparente com o tempo <strong>de</strong> aplicação <strong>da</strong> tensão.<br />

No entanto, após o repouso, ten<strong>de</strong>m a retornar à<br />

condição inicial <strong>de</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. O<br />

comportamento tixotrópico é encontrado em<br />

produtos como tinta, catchup, pastas <strong>de</strong> frutas,<br />

etc.<br />

Fluidos Reopéticos: caracterizam-se por<br />

apresentar um acréscimo na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparente com o aumento <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação.<br />

Assim como os fluidos tixotrópicos, após o<br />

repouso, o fluido ten<strong>de</strong> a retornar ao seu<br />

comportamento reológico inicial.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

Po<strong>de</strong>m-se citar como exemplos <strong>de</strong> fluidos<br />

reopécticos as suspensões <strong>de</strong> amido e <strong>de</strong><br />

bentonita, além <strong>de</strong> alguns tipos <strong>de</strong> sóis. No<br />

entanto, esse tipo <strong>de</strong> comportamento não é<br />

muito comum em alimentos.<br />

Mo<strong>de</strong>los reológicos<br />

A <strong>de</strong>scrição do comportamento reológico<br />

dos materiais é feita através <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los que<br />

relacionam como a tensão <strong>de</strong> cisalhamento<br />

varia com a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação.<br />

Dentre os mo<strong>de</strong>los matemáticos<br />

existentes, alguns dos mais aplicados para<br />

sistemas <strong>de</strong> alimentos são: Ostwald-De-Waelle<br />

(Lei <strong>da</strong> Potência), Plástico <strong>de</strong> Bingham,<br />

Herschel-Bulkley e Casson.<br />

Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Ostwald-<strong>de</strong> Waele (Lei <strong>da</strong><br />

Potência):<br />

A Equação (6) representa a chama<strong>da</strong> Lei<br />

<strong>da</strong> Potência, on<strong>de</strong> K é o coeficiente <strong>de</strong><br />

consistência e n é o índice <strong>de</strong> comportamento.<br />

Para n = 1, essa equação se reduz à lei <strong>da</strong><br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Newton com K = μ. Assim, o<br />

<strong>de</strong>svio <strong>de</strong> “n” <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> indica o grau <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>svio do comportamento newtoniano, sendo<br />

que, se n < 1 o comportamento é pseudoplástico<br />

e, se n > 1, dilatante.<br />

n<br />

σ = Kγ&<br />

(6)<br />

Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Herschel-Bulkley<br />

:<br />

Esse mo<strong>de</strong>lo é uma forma modifica<strong>da</strong> do<br />

mo<strong>de</strong>lo proposto por Ostwald-De-Waelle,<br />

conforme ilustra a Equação (7). Como é<br />

possível observar, esse mo<strong>de</strong>lo difere <strong>da</strong> Lei <strong>da</strong><br />

Potência apenas pela existência <strong>da</strong> uma tensão<br />

residual (σo), ou seja, uma vez que a tensão<br />

aplica<strong>da</strong> ao fluido ultrapasse o valor <strong>da</strong> tensão<br />

residual, o material passa a se comportar <strong>de</strong><br />

acordo com o mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> Lei <strong>da</strong> Potência.<br />

n<br />

−σ 0 = K γ<br />

(7)<br />

σ &<br />

Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Bingham<br />

187<br />

A Equação (8) representa o<br />

comportamento apresentado pelos fluidos<br />

classificados como Plásticos <strong>de</strong> Bingham, on<strong>de</strong><br />

μpl é a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> plástica. Assim como os<br />

materiais que seguem o Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Herschel-<br />

Bulkley, os Plásticos <strong>de</strong> Bingham caracterizamse<br />

por apresentarem uma tensão residual,<br />

abaixo <strong>da</strong> qual se comportam como sólidos.<br />

Para tensões superiores à tensão residual, no<br />

entanto, os fluidos apresentam um<br />

comportamento newtoniano. Isso equivale a<br />

apresentarem um comportamento <strong>de</strong> Herschel-<br />

Bulkley com K = μpl.<br />

σ = −μ<br />

γ ± σ se σ 〉<br />

pl &<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005<br />

0<br />

& (8)<br />

γ = 0 se σ ≤ σ<br />

Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Casson:<br />

Casson (1959) elaborou esse mo<strong>de</strong>lo para<br />

uma suspensão <strong>de</strong> partículas interagindo num<br />

meio newtoniano, obtendo expressão<br />

matemática correspon<strong>de</strong>nte à Equação (9).<br />

1/<br />

2<br />

σ<br />

1/<br />

2<br />

= σ & 0 + K γ (9)<br />

Esse mo<strong>de</strong>lo tem sido adotado como<br />

método oficial para interpretar o<br />

comportamento do chocolate pelo<br />

“International Office of Cocoa and Chocolate”<br />

(Rao & Rizvi, 1986).<br />

Há diversos fatores que influenciam no<br />

momento <strong>da</strong> escolha do mo<strong>de</strong>lo reológico que<br />

será utilizado para <strong>de</strong>screver o comportamento<br />

<strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> um fluido em particular.<br />

Muitos mo<strong>de</strong>los, além dos já <strong>de</strong>scritos, são<br />

<strong>utilizados</strong> para representar o comportamento <strong>de</strong><br />

fluidos não-newtonianos, sendo que alguns<br />

<strong>de</strong>les po<strong>de</strong>m ser visualizados no Quadro 1.<br />

0<br />

σ<br />

0


188<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

Quadro 1 – Mo<strong>de</strong>los reológicos para <strong>de</strong>screver o comportamento <strong>de</strong> fluidos não-newtonianos<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do tempo (A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Steefe, 1996)<br />

Mo<strong>de</strong>lo Equação Equação Número<br />

Casson<br />

Modificado<br />

0, 5<br />

σ<br />

0,<br />

5 n1<br />

= σ 0 + K & 1γ<br />

(10)<br />

Ellis<br />

n1<br />

& γ = K1σ + K 2 ( σ )<br />

(11)<br />

Herschel-Bulkley<br />

generalizado<br />

n1<br />

σ<br />

n1<br />

n2<br />

= σ 0 + K & 1γ<br />

(12)<br />

Vocadlo<br />

1<br />

n1 n1<br />

σ = ( σ 0 + K & 1γ<br />

)<br />

(13)<br />

Série <strong>de</strong><br />

potências<br />

3<br />

5<br />

& γ = K1<br />

σ + K 2 ( σ ) + K3<br />

( σ ) + ...<br />

(14)<br />

Carreau 2<br />

( ) [ ( ) ] ) 1 (<br />

Cross<br />

Van Wazer<br />

n−<br />

2<br />

η = η∞<br />

+ η0<br />

−η<br />

∞ 1+<br />

K & 1γ<br />

( η0<br />

−η<br />

∞ )<br />

η = η∞<br />

+<br />

n<br />

1+ ( K & 1γ<br />

)<br />

( η0<br />

−η<br />

∞ )<br />

η = + η n ∞<br />

1<br />

1+<br />

( K & 1γ<br />

) + ( K & 2γ<br />

)<br />

(15)<br />

(16)<br />

(17)<br />

Powell-Eyring<br />

⎛ 1 ⎞ −1<br />

σ = K1<br />

& γ + ⎜ sinh ( K3<br />

& γ )<br />

K ⎟<br />

⎝ 2 ⎠<br />

(18)<br />

Reiner-<br />

Philippoff<br />

⎛<br />

⎞<br />

⎜ ( η η ) ⎟<br />

σ ⎜<br />

0 − ∞<br />

= η<br />

⎟ &<br />

∞ +<br />

γ<br />

⎜ ⎛ 2<br />

σ ⎞ ⎟<br />

⎜ 1+<br />

⎜ ⎟ ⎟<br />

⎝ ⎝ K1<br />

⎠ ⎠<br />

K1, K2, K3 e n1, n2 são constantes arbitrárias e expoentes, respectivamente, <strong>de</strong>terminados a partir dos <strong>da</strong>dos<br />

experimentais<br />

Os mo<strong>de</strong>los matemáticos po<strong>de</strong>m,<br />

também, relacionar as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas<br />

<strong>de</strong> um fluido com gran<strong>de</strong>zas práticas como<br />

concentração, temperatura, índice <strong>de</strong><br />

maturação, etc. Esse conhecimento é<br />

indispensável no controle <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, no<br />

controle intermediário em linhas <strong>de</strong> produção,<br />

no projeto e dimensionamento dos processos.<br />

Nesses casos, as equações que relacionam a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> do material a essas gran<strong>de</strong>zas<br />

po<strong>de</strong>m assumir muitas formas e não há um<br />

único mo<strong>de</strong>lo que seja aplicável a to<strong>da</strong>s as<br />

situações. Para fluidos não-newtonianos,<br />

os mo<strong>de</strong>los existentes são todos empíricos e<br />

representam o ajuste mais conveniente do<br />

reograma correspon<strong>de</strong>nte ao produto analisado<br />

(Branco, 1995; Steffe, 1996).<br />

A influência <strong>da</strong> temperatura sobre a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fluidos newtonianos po<strong>de</strong> ser<br />

expressa, segundo a equação <strong>de</strong> Arrhenius,<br />

envolvendo a temperatura absoluta (T), a<br />

constante universal dos gases (R) e a energia <strong>de</strong><br />

ativação para a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> (Ea), como mostra a<br />

Equação (20).<br />

(19)<br />

⎛ E ⎞<br />

μ = f<br />

(20)<br />

a<br />

( T ) = Aexp⎜<br />

⎟<br />

⎝ RT ⎠<br />

Os valores <strong>de</strong> Ea e <strong>da</strong> constante A são<br />

<strong>de</strong>terminados a partir dos <strong>da</strong>dos experimentais.<br />

Valores elevados <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> ativação<br />

indicam uma mu<strong>da</strong>nça mais rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a temperatura.<br />

Os efeitos <strong>da</strong> temperatura e <strong>da</strong><br />

concentração sobre a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente, sob<br />

uma taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação constante, po<strong>de</strong>m ser<br />

combinados, através <strong>de</strong> uma relação simples,<br />

como mostra a Equação (21) (Vitali & Rao,<br />

1984; Castaldo et al., 1990 citados por Steffe,<br />

1996).<br />

⎛ E ⎞<br />

η = exp<br />

( 21)<br />

a B<br />

( T C)<br />

= K ⎜ C<br />

f , T , C ⎟<br />

⎝ RT ⎠<br />

As três constantes (KT,C, Ea, B) <strong>de</strong>vem ser<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s a partir <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos experimentais.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

Steffe (1996) apresenta uma série <strong>de</strong><br />

outros mo<strong>de</strong>los que po<strong>de</strong>m predizer o<br />

comportamento <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um fluido<br />

com a temperatura, com a concentração ou com<br />

a umi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

POLISSACARÍDEOS UTILIZADOS NA<br />

INDÚSTRIA DE ALIMENTOS<br />

Polissacarí<strong>de</strong>os são biopolímeros muito<br />

versáteis que po<strong>de</strong>m ser encontrados na<br />

natureza sob as mais diversas formas,<br />

exercendo diferentes funções. Muitas vezes,<br />

po<strong>de</strong>m ser extraídos <strong>da</strong>s raízes, dos tubérculos,<br />

dos caules e <strong>da</strong>s sementes <strong>de</strong> produtos vegetais,<br />

nos quais atuam como reserva <strong>de</strong> energia –<br />

como é o caso do amido, <strong>da</strong> inulina e dos<br />

galactomananos. Outras vezes, po<strong>de</strong>m ser<br />

encontrados, na estrutura celular <strong>de</strong> tecidos<br />

vegetais, on<strong>de</strong> contribuem para a integri<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

estrutural e para a força mecânica, formando<br />

re<strong>de</strong>s hidrata<strong>da</strong>s tridimensionais – como é o<br />

caso <strong>da</strong>s pectinas, em plantas terrestres, e <strong>da</strong>s<br />

carragenanas, agar e alginato, em plantas<br />

marinhas (Lapasin & Pricl, 1999).<br />

Segundo Lapasin & Pricl (1999), os<br />

polímeros <strong>de</strong> carboidratos possuem gran<strong>de</strong><br />

aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos.<br />

Algumas vezes, estão presentes por razões<br />

tecnológicas, como auxiliares no processo, para<br />

estabilizar emulsões e suspensões ou para<br />

fornecer a estrutura física necessária para o<br />

empacotamento e distribuição. No entanto, seu<br />

uso mais freqüente está associado à sua<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> espessar e gelificar soluções,<br />

sendo aplicados para melhorar e padronizar a<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos alimentos processados. De<br />

acordo com Stephen & Churms (1995), os<br />

polissacarí<strong>de</strong>os estão sendo empregados em<br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s crescentes na tecnologia <strong>de</strong><br />

alimentos como espessantes, estabilizantes,<br />

emulsificantes e agentes gelificantes, <strong>de</strong>ntre<br />

outras funções.<br />

O uso <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os como<br />

espessantes está associado à capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />

eles possuem <strong>de</strong> aumentar a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

líquido, resultando em características<br />

organolépticas e texturas <strong>de</strong>sejáveis em<br />

alimentos, como corpo e mouthfeel. Os<br />

polissacarí<strong>de</strong>os, também, são, freqüentemente,<br />

<strong>utilizados</strong> para eliminar efeitos in<strong>de</strong>sejáveis <strong>de</strong><br />

liberação <strong>de</strong> água em alguns alimentos<br />

processados e como encorpantes na formulação<br />

<strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> baixas calorias.<br />

Devido à sua estrutura química, os<br />

polissacarí<strong>de</strong>os, quando em solução,<br />

189<br />

apresentam a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formar géis. Esse<br />

processo envolve diferentes mecanismos <strong>de</strong><br />

associação entre ca<strong>de</strong>ias, os quais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

<strong>da</strong>s características individuais do polímero<br />

aplicado. Dessa forma, os géis resultantes <strong>de</strong><br />

diferentes polímeros irão apresentar formas<br />

estruturais e texturas diferentes, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

aplicados em uma gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alimentos (Lapasin & Pricl, 1999).<br />

Dentre os polissacarí<strong>de</strong>os mais <strong>utilizados</strong><br />

na indústria <strong>de</strong> alimentos estão os amidos, seus<br />

<strong>de</strong>rivados e os polissacarí<strong>de</strong>os não-amiláceos.<br />

Existe, ain<strong>da</strong>, o grupo dos hidrocolói<strong>de</strong>s que,<br />

juntamente com uma pequena proporção <strong>de</strong><br />

amidos e <strong>de</strong> outros produtos que não são<br />

carboidratos, como a lignina e a proteína nãodigerível,<br />

constituem o grupo <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s<br />

fibras dietéticas (Stephen & Churms, 1995). A<br />

escolha do polissacarí<strong>de</strong>o mais apropriado<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong>s suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas e<br />

químicas, assim como <strong>da</strong>s características<br />

<strong>de</strong>sejáveis no alimento e <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong><br />

processamento, como temperatura e<br />

concentração.<br />

Principais polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na<br />

indústria <strong>de</strong> alimentos e suas aplicações<br />

Amidos e seus <strong>de</strong>rivados<br />

O amido é um dos produtos <strong>de</strong> origem<br />

vegetal mais abun<strong>da</strong>ntes na natureza, que<br />

ocorre naturalmente sob a forma <strong>de</strong> grãos<br />

minúsculos (partículas <strong>de</strong> 2 a 100μm) em<br />

raízes, sementes e caules <strong>de</strong> numerosos tipos <strong>de</strong><br />

plantas, como milho, trigo, arroz, ceva<strong>da</strong> e<br />

batatas, nos quais atua como um carboidrato <strong>de</strong><br />

reserva. Trata-se <strong>de</strong> um polissacarí<strong>de</strong>o<br />

complexo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a nutrição<br />

animal e humana (Lapasin & Pricl, 1999; Zobel<br />

& Stephen, 1995).<br />

Existem vários tipos <strong>de</strong> amido que<br />

diferem entre si pela fonte <strong>de</strong> que foram<br />

extraídos e/ou pela forma <strong>de</strong> obtenção. As<br />

diferenças entre os diversos tipos <strong>de</strong> amido<br />

po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>s na morfologia granular,<br />

no peso molecular, na composição (grau <strong>de</strong><br />

ramificação <strong>da</strong>s macromoléculas <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os) e nas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicoquímicos.<br />

Segundo Lapasin & Pricl (1999) os<br />

amidos consistem em duas classes <strong>de</strong> polímeros<br />

<strong>de</strong> carboidratos: uma linear, chama<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

amilose, e outra ramifica<strong>da</strong>, chama<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

amilopectina. Na natureza, o amido é<br />

semicristalino, com vários níveis <strong>de</strong><br />

cristalini<strong>da</strong><strong>de</strong>. A cristalini<strong>da</strong><strong>de</strong> está.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


190<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

Exclusivamente, liga<strong>da</strong> à amilopectina, ao<br />

passo que as regiões amorfas são associa<strong>da</strong>s à<br />

amilose (Zobel, 1988a; 1988b).<br />

Seja qual for a fonte, o amido nativo ou<br />

em suas formas modifica<strong>da</strong>s é um ingrediente,<br />

praticamente, obrigatório em alimentos e<br />

produtos relacionados. Trata-se <strong>de</strong> um polímero<br />

solúvel que po<strong>de</strong> fornecer dispersões viscosas,<br />

soluções ou géis, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong><br />

concentração e temperatura (Lapasin & Pricl,<br />

1999).<br />

O amido nativo, não bostante ser isolado<br />

<strong>de</strong> forma, relativamente, fácil, através <strong>de</strong><br />

moagem úmi<strong>da</strong>, não é i<strong>de</strong>al para a formulação<br />

<strong>de</strong> alimentos estáveis, nutritivos, saborosos e,<br />

portanto, vendáveis (Zobel & Stephen, 1995). O<br />

uso do amido nativo em alimentos é limitado<br />

<strong>de</strong>vido às suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas e químicas.<br />

Os grânulos são insolúveis em água fria,<br />

requerendo um processo <strong>de</strong> cozimento para que<br />

a dispersão seja alcança<strong>da</strong>. Muito<br />

freqüentemente, a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> do amido nativo<br />

cozido é muito eleva<strong>da</strong> para que ele seja<br />

utilizado em certas aplicações. Além disso, a<br />

maior parte dos amidos nativos, também, têm<br />

uma tendência a per<strong>de</strong>r sua viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r<br />

espessante, durante o cozimento,<br />

particularmente, na presença <strong>de</strong> alimentos<br />

ácidos (Wurzburg, 1995; Lapasin & Pricl,<br />

1999).<br />

Os amidos modificados foram<br />

<strong>de</strong>senvolvidos para corrigir um ou mais<br />

problemas existentes, no amido nativo, os quais<br />

limitam a sua utilização na indústria <strong>de</strong><br />

alimentos. Lapasin & Pricl (1999) <strong>de</strong>stacam os<br />

éteres, ésteres e produtos <strong>de</strong>spolimerizados<br />

como alguns <strong>de</strong>rivativos do amido<br />

industrialmente importantes. Com essas<br />

modificações, as pastas resultantes são estáveis,<br />

translúci<strong>da</strong>s e possuem uma menor tendência à<br />

retro<strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção. Além disso, eles po<strong>de</strong>m ser,<br />

facilmente, processados para que se obtenha<br />

condições <strong>de</strong>sejáveis <strong>de</strong> textura, pH e<br />

resistência à temperatura, o que permite o seu<br />

uso como espessantes e agentes retentores <strong>de</strong><br />

água em produtos à base <strong>de</strong> água e leite.<br />

Os amidos hidrolisados estão disponíveis<br />

em uma gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> composições,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> produtos com alto peso molecular, que<br />

são, sensivelmente, menos saborosos, até a<br />

<strong>de</strong>xtrose cristalina, um monossacarí<strong>de</strong>o com<br />

cerca <strong>de</strong> 60% <strong>da</strong> doçura <strong>da</strong> sacarose (Blanchard<br />

& Katz, 1995).<br />

As malto<strong>de</strong>xtrinas e os maltooligossacarí<strong>de</strong>os<br />

são produtos <strong>da</strong> hidrólise do<br />

amido obtidos através <strong>da</strong> catálise áci<strong>da</strong> ou <strong>de</strong><br />

uma ação enzimática específica. De acordo com<br />

Loret et al. (2004), as malto<strong>de</strong>xtrinas são<br />

produtos <strong>da</strong> hidólise do amido que possuem<br />

valores <strong>de</strong> <strong>de</strong>xtrose equivalente (DE) menores<br />

que 20. A DE é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como o número total<br />

<strong>de</strong> açúcares redutores, relativamente, a uma<br />

linha base <strong>de</strong> glicose igual a 100, expressa em<br />

base seca. Produtos <strong>da</strong> hidrólise com DE maior<br />

que 20 são, freqüentemente, referenciados<br />

como xaropes <strong>de</strong> glicose, os quais, como o<br />

próprio nome diz, são produtos fornecidos sob a<br />

forma <strong>de</strong> soluções aqüosas.<br />

De certa forma, é a solubil<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

produto resultante <strong>da</strong> hidrólise do amido que<br />

diferencia as duas classes <strong>de</strong> material, ou seja,<br />

para valores <strong>de</strong> DE muito maiores que 20, o<br />

produto é constituído por oligômeros curtos que<br />

são, livremente, solúveis em água, ao passo<br />

que, abaixo <strong>de</strong> 20, há uma proporção suficiente<br />

<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> poliméricas longas para inibir a<br />

solubili<strong>da</strong><strong>de</strong> e promover a gelatinização<br />

(Ritcher et al., 1976 citados por Loret et. al.,<br />

2004). As malto<strong>de</strong>xtrinas são, portanto, uma<br />

mistura <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> alto e baixo peso<br />

molecular.<br />

A malto<strong>de</strong>xtrina possui uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reproduzir a sensação provoca<strong>da</strong> pela<br />

gordura <strong>de</strong>vido à re<strong>de</strong> tridimensional que é<br />

forma<strong>da</strong>, durante o seu processo <strong>de</strong> gelificação,<br />

<strong>de</strong> modo que ela é um dos substitutos <strong>da</strong><br />

gordura mais <strong>utilizados</strong> nos últimos 25 anos<br />

(Loret Et Al., 2004). Blanchard & Katz (1995)<br />

<strong>de</strong>stacam que a aplicação <strong>da</strong> malto<strong>de</strong>xtrina<br />

como substituto <strong>de</strong> gordura é a mais versátil,<br />

pois permite que muitas <strong>da</strong>s suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

funcionais sejam utiliza<strong>da</strong>s, simultaneamente:<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> encorpar, <strong>de</strong> previnir a<br />

cristalização, <strong>de</strong> promover a dispersibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

controlar o congelamento e <strong>de</strong> promover a<br />

ligação <strong>de</strong> aromas, pigmentos e gorduras. Os<br />

autores, também, <strong>de</strong>stacam outras aplicações<br />

possíveis, como ingrediente na encapsulação <strong>de</strong><br />

aromas e corantes, na panificação, na<br />

confeitaria, em produtos lácteos, sobremesas e<br />

outros.<br />

Celulose e seus <strong>de</strong>rivados<br />

Segundo Coffey, Bell, Hen<strong>de</strong>rson (1995),<br />

a celulose é uma <strong>da</strong>s substâncias orgânicas<br />

naturais mais abun<strong>da</strong>ntes na natureza. Trata-se<br />

<strong>de</strong> um polímero linear <strong>de</strong> alto peso molecular<br />

que constitui o maior tijolo <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong><br />

pare<strong>de</strong> celular <strong>de</strong> plantas superiores (Lapasin &<br />

Pricl, 1999; Coffey, Bell, Hen<strong>de</strong>rson, 1995).<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

A celulose e seus <strong>de</strong>rivados físicos e<br />

químicos têm vasta aplicação no preparo <strong>de</strong><br />

alimentos formulados, principalmente, <strong>de</strong>vido à<br />

estrutura química do <strong>de</strong>rivado <strong>da</strong> celulose. Para<br />

as celuloses, quimicamente, modifica<strong>da</strong>s, essa<br />

característica, geralmente, está associa<strong>da</strong> à<br />

natureza cristalina ou amorfa do produto.<br />

Dentre as funções <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>da</strong> celulose,<br />

quimicamente, modifica<strong>da</strong> em alimentos,<br />

po<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>stacar: regulação <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

reológicas, emulsificação, estabilização <strong>de</strong><br />

espumas, modificação <strong>da</strong> formação e do<br />

crescimento <strong>de</strong> cristais <strong>de</strong> gelo e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ligação à água (Lapasin & Pricl, 1999; Coffey,<br />

Bell, Hen<strong>de</strong>rson, 1995).<br />

Pectinas<br />

Voragen et. al. (1995) <strong>de</strong>finem as<br />

substâncias pécticas como um grupo <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os, intimamente, associados que<br />

está presente nas pare<strong>de</strong>s celulares primárias e<br />

nas regiões intercelulares <strong>de</strong> muitos vegetais. A<br />

textura <strong>de</strong> frutas e vegetais, durante o<br />

crescimento, amadurecimento e armazenagem é<br />

fortemente influencia<strong>da</strong> pela quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> e pela<br />

natureza <strong>da</strong> pectina presente. Mu<strong>da</strong>nças<br />

importantes - <strong>de</strong>sejáveis e in<strong>de</strong>sejáveis - nas<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> frutas e outros vegetais,<br />

durante a armazenagem e o processamento<br />

estão associa<strong>da</strong>s ao componente péctico.<br />

As pectinas têm a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formar<br />

géis, sob certas circunstâncias, o que faz <strong>de</strong>la<br />

um importante aditivo em geléias, marmela<strong>da</strong>s<br />

e na indústria confeiteira, <strong>de</strong> maneira geral.<br />

Muitos fatores afetam as condições <strong>de</strong> formação<br />

<strong>de</strong> gel, assim como a força <strong>de</strong>le. No entanto, o<br />

papel principal é exercido pelas moléculas <strong>de</strong><br />

pectina, <strong>de</strong> modo que seu comprimento <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>ia e a natureza química <strong>da</strong>s zonas <strong>de</strong><br />

conexão têm forte influência. Sob condições<br />

iguais, a força do gel aumenta com o aumento<br />

do peso molecular <strong>da</strong> pectina utiliza<strong>da</strong> e<br />

qualquer tratamento que <strong>de</strong>spolimerize as<br />

ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> pectina refletirá em géis mais fracos.<br />

As pectinas têm pouco uso como<br />

espessantes <strong>de</strong>vido à sua baixa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />

formar soluções viscosas, quando compara<strong>da</strong>s<br />

com outros biopolímeros.<br />

Galactomananos<br />

Em muitas sementes, as pare<strong>de</strong>s celulares<br />

dos tecidos são espessas e possuem gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os, os quais são<br />

mobilizados durante a germinação. A maior<br />

191<br />

parte <strong>de</strong>sses polissacarí<strong>de</strong>os apresenta<br />

similari<strong>da</strong><strong>de</strong>s estruturais básicas e são muito<br />

similares, em estrutura, aos componentes<br />

hemicelulósicos ou pécticos (Reid & Edwards,<br />

1995; Lapasin & Pricl, 1999).<br />

Segundo Lapasin & Pricl (1999), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> esses polímeros, frequentemente,<br />

chamados <strong>de</strong> gomas, são extraídos ou isolados<br />

<strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> vegetais, como é o caso <strong>da</strong><br />

carob ou locusta, guar, tara e tamarindo. Como<br />

po<strong>de</strong>m ser extraídos <strong>de</strong> diversas fontes vegetais,<br />

os galactomananos po<strong>de</strong>m diferir em seu peso<br />

molecular, na distribuição do peso molecular e<br />

na razão entre frações <strong>de</strong> galactose e manose<br />

(G/M).<br />

Stephen & Churms (1995) <strong>de</strong>stacam os<br />

galactomananos como ingredientes,<br />

extremamente, importantes, na indústria <strong>de</strong><br />

alimentos, uma vez que resultam em soluções<br />

com alta viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, atuam como<br />

emulsificantes e interagem efetivamente com<br />

outros polissacarí<strong>de</strong>os para formar géis. As<br />

gomas extraí<strong>da</strong>s <strong>de</strong> sementes têm a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> modificar o comportamento <strong>da</strong> água em<br />

sistemas <strong>de</strong> alimentos <strong>de</strong> uma maneira<br />

altamente eficiente, <strong>de</strong> reduzir e minimizar a<br />

fricção em alimentos (auxiliando no<br />

processamento e na palatabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />

produtos) e <strong>de</strong> auxiliar no controle do tamanho<br />

dos cristais em soluções satura<strong>da</strong>s <strong>de</strong> açúcar.<br />

Dentre os galactomananos <strong>utilizados</strong> na<br />

indústria <strong>de</strong> alimentos, as gomas locusta e guar<br />

são polissacarí<strong>de</strong>os que apresentam estruturas<br />

químicas similares, com uma ca<strong>de</strong>ia principal<br />

linear <strong>de</strong> β-1,4-D-manose substituído em graus<br />

variáveis na posição 6 com um resíduo simples<br />

<strong>de</strong> α-1,6-D-galactose (Casas & Garcia-Ochoa,<br />

1999; Fernan<strong>de</strong>s, Gonçalves, Doublier, 1994;<br />

Garcia-Ochoa & Casas, 1992). A goma locusta<br />

(LBG), extraí<strong>da</strong> do endosperma <strong>da</strong> semente <strong>da</strong><br />

árvore carob (Ceratonia siliqua L.), possui uma<br />

razão manose/galactose (M/G) <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 4:1.<br />

A goma guar (GG), extraí<strong>da</strong> do endosperma <strong>da</strong>s<br />

sementes <strong>da</strong> leguminosa Cyamopsis<br />

tetragonolobus, possui uma razão M/G <strong>de</strong><br />

aproxima<strong>da</strong>mente 1,7:1 (Fernan<strong>de</strong>s, Gonçalves,<br />

Doublier, 1994). De acordo com Casas &<br />

Garcia-Ochoa (1999), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong><br />

temperatura <strong>de</strong> dissolução, as moléculas <strong>de</strong><br />

goma locusta po<strong>de</strong>m apresentar zonas <strong>de</strong><br />

radicais livres, sem ligações com a galactose,<br />

que são referi<strong>da</strong>s como regiões lisas.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


192<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

Polissacarí<strong>de</strong>os <strong>de</strong> algas vermelhas<br />

(Rhodophyceae)<br />

As algas vermelhas são fonte <strong>de</strong> muitos<br />

polissacarí<strong>de</strong>os industriais, como as gomas<br />

carragenana e agar, que são todos polímeros <strong>de</strong><br />

galactose e seus <strong>de</strong>rivativos e apresentam uma<br />

estrutura básica comum. Esses polímeros <strong>de</strong><br />

carboidratos são, essencialmente, ca<strong>de</strong>ias<br />

lineares nas quais as galactoses estão liga<strong>da</strong>s<br />

,alterna<strong>da</strong>mente, através <strong>de</strong> ligações α-1,3 e β-<br />

1,4.<br />

As carragenanas são <strong>da</strong> família <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os sulfatados lineares que po<strong>de</strong>m<br />

ser extraídos como componentes <strong>da</strong> matriz <strong>de</strong><br />

algas marinhas vermelhas. A sua estrutura<br />

química é basea<strong>da</strong> na repetição <strong>de</strong> uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> dissacarí<strong>de</strong>o do tipo AB, <strong>de</strong> modo que elas<br />

po<strong>de</strong>m ser escritas, <strong>de</strong> maneira geral, como<br />

(AB)n, on<strong>de</strong> A é <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ligações 1,3 <strong>de</strong> β-D-galactose e B , geralmente,<br />

mas não invariavelmente, está presente através<br />

<strong>de</strong> ligações 1,4 <strong>de</strong> 3,6-anidro-α-D-galactose<br />

(Lapasin & Pricl, 1999).<br />

As carragenanas são bem caracteriza<strong>da</strong>s<br />

em termos <strong>de</strong> sua estrutura química e po<strong>de</strong>m ser<br />

classifica<strong>da</strong>s em μ, κ, ν, ι, λ, θ e ξcarragenanas.<br />

Dentre os vários tipos existentes,<br />

somente três são comercialmente importantes:<br />

κ, ι e λ,-carragenanas. Elas são polímeros<br />

versáteis como aditivos em alimentos, sendo<br />

capazes <strong>de</strong> se ligar à água, promovendo a<br />

formação <strong>de</strong> géis e atuando como agente<br />

espessantes e estabilizantes. Vantagens<br />

adicionais estão na sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar<br />

a palatabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a aparência. De acordo com<br />

Piculell (1995), o uso <strong>da</strong>s carragenanas na<br />

indústria alimentícia inclui uma gran<strong>de</strong><br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sobremesas lácteas (sorvetes,<br />

achocolatados, flans, géis <strong>de</strong> leite) e conservas<br />

<strong>de</strong> carne, incluindo pet foods. Além disso, a sua<br />

habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> permanecer em solução permite<br />

seu uso em molhos para sala<strong>da</strong>.<br />

O termo coletivo agar refere-se a uma<br />

complexa mistura <strong>de</strong> componentes<br />

polissacarí<strong>de</strong>os que po<strong>de</strong>m ser extraídos <strong>de</strong><br />

certas espécies <strong>de</strong> algas-marinhas. De acordo<br />

com Lapasin & Pricl (1999), a agar é composta<br />

<strong>de</strong> duas frações principais: agarose, um<br />

polissacarí<strong>de</strong>o neutro, e agaropectina, um<br />

polissacarí<strong>de</strong>o sulfatado. A porcentagem <strong>de</strong><br />

agarose, que é a fração, comercialmente,<br />

importante, geralmente. varia <strong>de</strong> 50 a 90%.<br />

A funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do agar em produtos<br />

alimentícios <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> quase, exclusivamente, <strong>da</strong><br />

sua habili<strong>da</strong><strong>de</strong> em ligar-se à água e formar géis<br />

termosensíveis. As proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s gelificantes<br />

são funções <strong>da</strong> fração <strong>de</strong> agarose. Os elevados<br />

pontos <strong>de</strong> fusão dos géis <strong>de</strong> agar os tornam<br />

apropriados para uso em massas <strong>de</strong> panificação,<br />

on<strong>de</strong> a agar é superior à carragenana . A sua<br />

principal utilização é para o congelamento <strong>de</strong><br />

massas doces e bolos, para evitar problemas na<br />

manutenção <strong>da</strong> integri<strong>da</strong><strong>de</strong> do produto<br />

congelado durante o empacotamento e a<br />

distribuição (Stanley, 1995).<br />

Alginatos<br />

Alginatos são polissacarí<strong>de</strong>os estruturais<br />

que ocorrem, naturalmente, nas algas marinhas<br />

marrons (Phaeophyceae) que crescem nas<br />

águas rasas <strong>da</strong>s zonas tempera<strong>da</strong>s e em<br />

bactérias do solo. Existem muitas espécies <strong>de</strong><br />

algas marrons, mas, apenas, algumas são,<br />

suficientemente, abun<strong>da</strong>ntes e,<br />

convenientemente, localiza<strong>da</strong>s para a produção<br />

<strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> valor comercial, os alginatos<br />

(Moe et al., 1995; Lapasin & Pricl, 1999).<br />

Assim como ocorre com as<br />

carragenanas, alginatos é um termo coletivo<br />

para ácido algínico, seus sais e <strong>de</strong>rivados.<br />

Ácido algínico é co-polissacarí<strong>de</strong>o <strong>de</strong> alto peso<br />

molecular composto <strong>de</strong> duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

monoméricas <strong>de</strong> ácido β-D-manurônico e α-Lgulurônico,<br />

em várias proporções, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>da</strong> espécie <strong>de</strong> alga (Lapasin & Pricl, 1999).<br />

De acordo com Moe et al. (1995), os<br />

alginatos não têm valor nutricional e são<br />

<strong>utilizados</strong> como aditivos para melhorar,<br />

modificar e estabilizar a textura <strong>de</strong> certos<br />

alimentos. Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s importantes incluem a<br />

melhora <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formação<br />

<strong>de</strong> gel e estabilização <strong>de</strong> misturas aqüosas,<br />

dispersões e emulsões. Algumas <strong>de</strong>ssas<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s são provenientes <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

físicas inerentes dos alginatos, mas elas também<br />

po<strong>de</strong>m ser resultado <strong>da</strong> interação com outros<br />

componentes do alimento, tais como proteínas,<br />

gorduras ou fibras.<br />

Polissacarí<strong>de</strong>os microbianos<br />

Nos últimos anos, muitos polissacarí<strong>de</strong>os<br />

<strong>de</strong> interesse científico e comercial passaram a<br />

ser obtidos através <strong>de</strong> fermentações<br />

microbianas. Microorganismos como fungos e<br />

bactérias produzem três tipos diferentes <strong>de</strong><br />

polímeros <strong>de</strong> carboidratos (Morris, 1995):<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

- Polissacarí<strong>de</strong>os extracelulares ou<br />

exocelulares: po<strong>de</strong>m ser encontrados na<br />

forma <strong>de</strong> uma cápsula discreta que envolve<br />

a célula microbiana e que é parte <strong>da</strong> própria<br />

pare<strong>de</strong> celular (polissacarí<strong>de</strong>os capsulares)<br />

ou como uma massa amorfa secreta<strong>da</strong> no<br />

meio em torno do microorganismo.<br />

- Polissacarí<strong>de</strong>os estruturais.<br />

- Polissacarí<strong>de</strong>os intracelulares <strong>de</strong><br />

armazenagem.<br />

Os polissacarí<strong>de</strong>os <strong>de</strong> origem microbiana<br />

apresentam a vantagem <strong>de</strong> possuírem<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas e químicas reprodutíveis,<br />

além <strong>de</strong> apresentarem uma fonte regular.<br />

Lapasin & Pricl (1999) atribuem o sucesso<br />

<strong>de</strong>sses polissacarí<strong>de</strong>os ao fato <strong>de</strong> eles po<strong>de</strong>rem<br />

ser produzidos sob condições controla<strong>da</strong>s a<br />

partir <strong>de</strong> espécies seleciona<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> modo que<br />

problemas <strong>de</strong> variações <strong>de</strong> estrutura e<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s possam ser evitados. Além disso,<br />

os polissacarí<strong>de</strong>os microbianos apresentam uma<br />

série <strong>de</strong> regulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s estruturais que raramente<br />

são encontra<strong>da</strong>s em polímeros <strong>de</strong> carboidratos<br />

provenientes <strong>de</strong> outras fontes. Tal regulari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

na sua estrutura primária implica em as ca<strong>de</strong>ias<br />

po<strong>de</strong>rem assumir conformações ordinárias<br />

(hélices simples ou múltiplas) tanto no estado<br />

sólido como em solução e isso, por sua vez, tem<br />

uma forte influência sobre as suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

físico-químicas. Finalmente, a versatili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

exibi<strong>da</strong> pelos microorganismos na síntese <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os iônicos e neutros com uma<br />

gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> composições e<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s não encontra uma contraparti<strong>da</strong> no<br />

mundo vegetal e nem tampouco po<strong>de</strong> ser<br />

imita<strong>da</strong>, nem mesmo pelos mais renomados<br />

cientistas.<br />

Dentre os polissacarí<strong>de</strong>os microbianos, as<br />

gomas xantana e gelana <strong>de</strong>stacam-se para a<br />

aplicação em alimentos.<br />

De acordo com Morris (1995), a goma<br />

xantana foi estabeleci<strong>da</strong> como um aditivo em<br />

alimentos e suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s funcionais <strong>de</strong>ram<br />

início a novas aplicações. Trata-se <strong>de</strong> um<br />

polímero aniônico resultante <strong>da</strong> secreção<br />

exocelular <strong>da</strong> bactéria Xanthomonas<br />

campestris. Sua ca<strong>de</strong>ia principal é basea<strong>da</strong> em<br />

uma ligação linear <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> com uma<br />

ca<strong>de</strong>ia lateral <strong>de</strong> trissacarí<strong>de</strong>o anexa<strong>da</strong> a<br />

resíduos alternativos <strong>de</strong> D-glicosil (lapasin &<br />

pricl, 1999; lagoueyte & paquin, 1998; casas,<br />

santos, Garcia-Ochoa, 2000).<br />

Quando em solução aqüosa, a xantana<br />

mostra uma transição conformacional entre<br />

ca<strong>de</strong>ias or<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

193<br />

<strong>da</strong> temperatura, <strong>da</strong> força iônica e do pH. Ela<br />

passa <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>n<strong>da</strong>, sob eleva<strong>da</strong>s<br />

temperaturas e baixa força iônica, para uma<br />

forma or<strong>de</strong>na<strong>da</strong>, sob temperaturas e<br />

concentrações <strong>de</strong> sais, fisiologicamente,<br />

relevantes (Lagoueyte & Paquin, 1998; Casas &<br />

Garcia-Ochoa, 1999; Casas, Santos, Garcia-<br />

Ochoa, 2000). Sua natureza ramifica<strong>da</strong> confere<br />

a ela características reológicas diferentes,<br />

melhores do que as resultantes <strong>de</strong> outras gomas<br />

naturais, como goma locusta ou goma guar. As<br />

soluções <strong>de</strong> xantana apresentam proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> espessante e estabilizante, com um<br />

comportamento pseudoplástico muito estável<br />

em uma larga faixa <strong>de</strong> pH, pK (concentração<br />

iônica) e temperatura (Casas & Garcia-Ochoa,<br />

1999; Casas, Santos, Garcia-Ochoa, 2000;<br />

Lagoueyte & Paquin, 1998; Kang&Petit, 1993<br />

Citados por Casas, Santos, Garcia-Ochoa,<br />

2000).<br />

De acordo com Morris (1995), a principal<br />

aplicação industrial para a goma xantana <strong>de</strong>vese<br />

ao fato que, quando a goma é dispersa em<br />

água quente ou fria, as dipersões aqüosas<br />

resultantes são tixotrópicas. A estrutura<br />

semelhante à <strong>de</strong> um gel fraco que se forma<br />

resulta em uma alta viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> sob baixas<br />

taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação sob baixas concentrações<br />

do polímero, que po<strong>de</strong> ser utilizado como um<br />

espessante em soluções aqüosas e permite<br />

estabilização <strong>de</strong> espumas, emulsões e<br />

suspensões particula<strong>da</strong>s. Finalmente, o<br />

comportamento pseudoplástico reversível,<br />

permite a manipulação e o controle <strong>de</strong><br />

processos tais como espalhamento,<br />

bombeamento e atomização.<br />

A goma xantana apresenta uma gran<strong>de</strong><br />

varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicações em alimentos. A<br />

tixotropia <strong>da</strong>s dispersões <strong>de</strong> xantana levaram ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> misturas<br />

secas <strong>de</strong> formulações <strong>de</strong> molhos, temperos e<br />

sobremesas, as quais po<strong>de</strong>m ser aqueci<strong>da</strong>s ou<br />

refrigera<strong>da</strong>s sem que haja per<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

características texturais <strong>de</strong>sejáveis. Além disso,<br />

a goma xantana melhora o processamento, a<br />

armazenagem e a elastici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> massas<br />

(Morris, 1995).<br />

A goma gelana é um polissacarí<strong>de</strong>o<br />

extracelular secretado pelo microorganismo<br />

Pseudomonas elo<strong>de</strong>a. O seu potencial <strong>de</strong><br />

aplicação em alimentos, segundo MORRIS<br />

(1995) inclui produtos <strong>de</strong> confeitaria, geléias,<br />

alimentos industrializados, géis à base <strong>de</strong> água,<br />

recheios e pudins, sorvetes, iogurtes,<br />

milkshakes, <strong>de</strong>ntre outros. De uma maneira<br />

geral, sua utilização está associa<strong>da</strong> à<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


194<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

substituição <strong>de</strong> hidrocolói<strong>de</strong>s, geralmente,<br />

aplicados em baixas concentrações <strong>de</strong><br />

polímeros.<br />

Gomas e mucilagens:<br />

As gomas <strong>de</strong> origem vegetal, naturais e<br />

sem modificação, são reconheci<strong>da</strong>s na indústria<br />

<strong>de</strong> alimentos como aditivos <strong>de</strong> valor<br />

incalculável, com proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas bem<br />

<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s. Dentre essas gomas, a mais<br />

conheci<strong>da</strong> é a goma arábica ou goma acácia,<br />

que é o exu<strong>da</strong>do <strong>de</strong> árvores africanas acácia<br />

(predominantemente A. senegal), cresci<strong>da</strong>s em<br />

diferentes áreas geográficas principais: Sudão,<br />

países do oeste africano <strong>de</strong> linguagem francesa<br />

e Nigéria. Devido à sua abundância e gran<strong>de</strong><br />

varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação industrial, muitos<br />

estudos têm sido <strong>de</strong>senvolvidos com foco no<br />

cultivo, marketing, química e estudo <strong>da</strong>s<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas <strong>de</strong>ssa substância. Para uso,<br />

em alimentos, as melhores classes <strong>da</strong> goma,<br />

seleciona<strong>da</strong>s, manualmente, são converti<strong>da</strong>s em<br />

pó, através <strong>de</strong> secagem em spray dryer após<br />

terem sido dissolvi<strong>da</strong>s em água quente e<br />

clarifica<strong>da</strong>s, preferencialmente, por<br />

centrifugação (Stephen & Churms, 1995b).<br />

Lapasin & Pricl (1999) <strong>de</strong>stacam que<br />

uma <strong>da</strong>s aplicações mais interessantes <strong>da</strong> goma<br />

arábica é a preparação <strong>de</strong> aromas encapsulados<br />

em pó, por secagem em spray dryer. Muitos<br />

produtos em pó, comercializados em pacotes,<br />

tais como bolos, sobremesas, misturas para<br />

sopas e pudins, contêm aromas encapsulados.<br />

Durante o processo <strong>de</strong> secagem por atomização,<br />

a goma arábica atua como agente<br />

microencapsulante, protegendo os compostos<br />

voláteis <strong>da</strong>s temperaturas eleva<strong>da</strong>s e retendo<br />

mesmo os aromas mais <strong>de</strong>licados. Quando a<br />

mistura é dissolvi<strong>da</strong> para o preparo final do<br />

produto, os aromas são liberados.<br />

Inulina:<br />

A inulina é um polissacarí<strong>de</strong>o <strong>de</strong> reserva<br />

que po<strong>de</strong> ser encontrado em mais <strong>de</strong> 30.000<br />

produtos vegetais, <strong>de</strong>ntre os quais as raízes <strong>de</strong><br />

chicória e a alcachofra <strong>de</strong> Jerusalém se<br />

<strong>de</strong>stacam para a sua produção industrial<br />

(SILVA, 1996). Quimicamente, a inulina é<br />

composta por uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong><br />

frutose uni<strong>da</strong>s por ligações β(2→1), contendo<br />

uma molécula <strong>de</strong> glicose terminal.<br />

Sua utilização na indústria <strong>de</strong> alimentos<br />

está relaciona<strong>da</strong> à sua atuação como substituto<br />

<strong>de</strong> gordura, com a vantagem <strong>de</strong> apresentar<br />

baixo teor calórico e <strong>de</strong> atuar no organismo<br />

humano <strong>de</strong> maneira similar às fibras dietéticas,<br />

contribuindo para a saú<strong>de</strong> do sistema<br />

gastrointestinal e para o incremento <strong>da</strong>s<br />

bifidobactérias. Dessa forma, a inulina po<strong>de</strong> ser<br />

utiliza<strong>da</strong>, tanto como um substituto <strong>de</strong><br />

macronutrientes, quanto como um suplemento,<br />

adicionado aos alimentos, principalmente, por<br />

suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s nutricionais. Quando<br />

combina<strong>da</strong> com água, a inulina produz a mesma<br />

textura e o mesmo mouthfeel que a gordura em<br />

alimentos à base <strong>de</strong> água, tais como produtos<br />

lácteos, massas assa<strong>da</strong>s, recheios, sobremesas<br />

congela<strong>da</strong>s e molhos (Niness, 1999; Schaller-<br />

Povolny & Smith, 1999).<br />

Apesar <strong>de</strong> haver uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pesquisas sobre as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s nutricionais <strong>da</strong><br />

inulina, suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físico-químicas ain<strong>da</strong><br />

são pouco conheci<strong>da</strong>s e pouco se sabe sobre os<br />

efeitos <strong>da</strong> interação <strong>da</strong> inulina com outros<br />

biopolímeros.<br />

Misturas <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os<br />

A mistura <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os na<br />

formulação <strong>de</strong> alimentos po<strong>de</strong> resultar em<br />

interações sinérgicas <strong>de</strong>sejáveis, levando a<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas melhora<strong>da</strong>s e a<br />

melhorias na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos produtos. Além<br />

disso, a combinação <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os também<br />

po<strong>de</strong> ser benéfica por proporcionar reduções<br />

nos custos <strong>de</strong> manufatura (Williams & Phillips,<br />

1995).<br />

De Acordo Com Williams & Phillips<br />

(1995), três tipos <strong>de</strong> interação po<strong>de</strong>m ocorrer<br />

em soluções contendo dois ou mais polímeros,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> natureza dos mesmos:<br />

a) Incompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong>: resulta na formação <strong>de</strong><br />

duas cama<strong>da</strong>s líqui<strong>da</strong>s <strong>de</strong> polímeros, com<br />

ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las enriqueci<strong>da</strong> em um ou<br />

outro polímero;<br />

b) Compatibili<strong>da</strong><strong>de</strong>: resulta em miscibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

completa e na formação <strong>de</strong> uma única fase<br />

homogênea;<br />

c) Associação <strong>de</strong> polímeros: resulta na coprecipitação<br />

dos polímeros na forma <strong>de</strong> um<br />

coacervado sólido ou, em alguns casos, na<br />

formação <strong>de</strong> um gel.<br />

Como um exemplo <strong>de</strong> mistura <strong>de</strong><br />

polímeros, po<strong>de</strong>-se citar a composição entre<br />

goma xantana e galactomananos. A goma guar,<br />

por exemplo, não gelifica na presença <strong>de</strong> goma<br />

xantana, mas po<strong>de</strong> produzir um aumento<br />

substancial na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções. A<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

principal importância <strong>de</strong>ssa mistura não está nas<br />

fracas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> gel <strong>de</strong> xantana, as quais<br />

são <strong>de</strong> menor importância, mas sim na redução<br />

dos custos, já que a goma guar é muito mais<br />

barata do que a xantana (Lapasin & Pricl,<br />

1999).<br />

Tecante & Doublier (1999) relatam que<br />

misturas <strong>de</strong> amidos e outras moléculas <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os têm sido aplica<strong>da</strong>s por muitos<br />

anos na indústria <strong>de</strong> alimentos. As gomas<br />

arábica, guar, xantana, locusta e carragenana<br />

são algumas <strong>da</strong>s macromoléculas comumente<br />

combina<strong>da</strong>s com amido <strong>de</strong> trigo ou <strong>de</strong> milho.<br />

Um dos aspectos importantes <strong>da</strong>s misturas <strong>de</strong><br />

amido-hidrocolói<strong>de</strong>s é que eles mostram uma<br />

varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas e texturais<br />

que são úteis na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> diferentes<br />

aplicações em alimentos.<br />

Reologia <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os<br />

utiliza<strong>da</strong>s na indústria <strong>de</strong> alimentos<br />

Aspectos gerais sobre a <strong>reologia</strong> <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os<br />

A gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s aplicações <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os, na indústria alimentícia está<br />

associa<strong>da</strong> à capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> que eles possuem <strong>de</strong><br />

alterar, drasticamente, as suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

físicas quando em solução, resultando em<br />

soluções <strong>de</strong> alta viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou criando re<strong>de</strong>s<br />

intermoleculares coesivas. Nesses casos, o<br />

conhecimento do comportamento reológico <strong>da</strong>s<br />

soluções <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os é <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental<br />

importância no projeto, na avaliação e na<br />

mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> processos. Além disso, as<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas, também, são um<br />

indicador <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do produto e<br />

<strong>de</strong>sempenham um papel fun<strong>da</strong>mental na análise<br />

<strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> escoamento em processos <strong>de</strong><br />

alimentos como pasteurização, evaporação e<br />

secagem (Marcotte, Taherian Hoshahili,<br />

Ramaswamy, 2001; Morris, 1995; Lapasin &<br />

Pricl, 1999).<br />

Lapasin & Pricl (1999), em seu estudo<br />

sobre <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os industriais,<br />

ressaltam que o comportamento reológico dos<br />

materiais, especialmente, <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os, po<strong>de</strong> ser afetado por uma série<br />

<strong>de</strong> fatores, principalmente, aqueles relacionados<br />

às características moleculares e<br />

supramoleculares. A nível molecular, a ca<strong>de</strong>ia<br />

polimérica principal e suas características<br />

relaciona<strong>da</strong>s, tais como comprimento em<br />

solução, forma e eventual presença <strong>de</strong> grupos<br />

ionizáveis, representam o papel principal na<br />

195<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s macroscópicas<br />

do sistema, incluindo a <strong>reologia</strong>. Muitos <strong>de</strong>sses<br />

parâmetros moleculares estão correlacionados,<br />

outros <strong>de</strong>vem ser combinados com fatores<br />

externos como, por exemplo, as características<br />

do meio solvente. Essas características irão,<br />

posteriormente, exercer influência sobre a<br />

conformação adota<strong>da</strong> pela macromolécula no<br />

sistema, assim como sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> estruturas supramoleculares. Em<br />

outras palavras, mu<strong>da</strong>nças na força iônica, na<br />

temperatura ou em outros parâmetros do<br />

solvente po<strong>de</strong>m induzir a uma transição<br />

conformacional, modificando a resistência<br />

hidrodinâmica <strong>da</strong> macromolécula ao<br />

escoamento. Além disso, se a concentração do<br />

polímero for, suficientemente, alta, as variações<br />

<strong>de</strong>scritas acima po<strong>de</strong>m promover mu<strong>da</strong>nças<br />

estruturais a um nível supramolecular e,<br />

conseqüentemente, modificar o comportamento<br />

reológico.<br />

Os polissacarí<strong>de</strong>os em soluções diluí<strong>da</strong>s<br />

encontram-se na forma <strong>de</strong> espirais<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s e aleatórias, cuja forma flutua<br />

continuamente através do movimento<br />

browniano. As proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s apresenta<strong>da</strong>s por<br />

essas soluções estão associa<strong>da</strong>s ao grau <strong>de</strong><br />

ocupação do espaço pelo polímero. Sob baixas<br />

concentrações, a solução é forma<strong>da</strong> por ilhas <strong>de</strong><br />

espirais que estão bem separa<strong>da</strong>s umas <strong>da</strong>s<br />

outras e completamente livres para se<br />

movimentarem <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Com o<br />

aumento <strong>da</strong> concentração, entretanto, as espirais<br />

começam a se tocar po<strong>de</strong> haver a formação <strong>de</strong><br />

moléculas adicionais pela sobreposição ou pela<br />

acomo<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> uma espiral na outra. Com a<br />

formação <strong>de</strong>ssas sobreposições, as ca<strong>de</strong>ias<br />

individuais po<strong>de</strong>rão se movimentar somente<br />

pelo processo <strong>de</strong> contorção através <strong>da</strong> re<strong>de</strong><br />

emaranha<strong>da</strong> <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias vizinhas. O início do<br />

processo <strong>de</strong> sobreposição <strong>da</strong>s espirais é<br />

<strong>de</strong>terminado por dois fatores: o número <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>ias presentes (proporcional à concentração)<br />

e o volume que ca<strong>da</strong> uma ocupa (associado ao<br />

peso molecular) (Morris, 1995; Lapasin &<br />

Pricl, 1999).<br />

Um parâmetro conveniente para a<br />

caracterização do volume <strong>da</strong>s espirais é a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> intrínseca ou o número limite <strong>de</strong><br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, [η], que me<strong>de</strong> o<br />

aumento fracional na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> por uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias isola<strong>da</strong>s (Morris,<br />

1995; Lapasin & Pricl, 1999). Para qualquer<br />

polissacarí<strong>de</strong>o específico, a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

intrínseca aumenta com o peso molecular (M)<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


196<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

<strong>de</strong> acordo com a relação <strong>de</strong> Mark-Houwink,<br />

como mostra a Equação (22), on<strong>de</strong> os<br />

parâmetros K e a variam <strong>de</strong> um sistema para o<br />

outro e <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>terminados<br />

experimentalmente.<br />

a<br />

η = KM<br />

( 22)<br />

A viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> intrínseca é <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>,<br />

experimentalmente, através <strong>da</strong> medição <strong>da</strong><br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s soluções sob concentrações<br />

muito baixas (c). Denotando as viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong><br />

solução e do solvente como η e (ηs),<br />

respectivamente, [η] é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> formalmente<br />

pelas relações apresenta<strong>da</strong>s nas Equações 23,<br />

24 e 25 (MORRIS, 1995):<br />

Viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> Relativa:<br />

η<br />

η rel = ( 23)<br />

η<br />

s<br />

Viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> Específica:<br />

η −η<br />

s η sp = = ηrel<br />

−1<br />

(24)<br />

η<br />

s<br />

Viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> Intrínseca:<br />

⎧η<br />

ps ⎫<br />

[ η] = lim C→0<br />

⎨ ⎬ (25)<br />

⎩ C ⎭<br />

A transição <strong>de</strong> uma solução diluí<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

espirais com movimentos livres e<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes para uma re<strong>de</strong> emaranha<strong>da</strong> é<br />

acompanha<strong>da</strong> por uma mu<strong>da</strong>nça muito marca<strong>da</strong><br />

na <strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> solução com<br />

a concentração. Sob concentrações inferiores ao<br />

início <strong>da</strong> sobreposição <strong>da</strong>s espirais, a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> específica é, aproxima<strong>da</strong>mente,<br />

proporcional a c 1,3 . Sob concentrações mais<br />

eleva<strong>da</strong>s, on<strong>de</strong> as ca<strong>de</strong>ias estão emaranha<strong>da</strong>s, as<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s aumentam mais, rapi<strong>da</strong>mente,<br />

com o aumento <strong>da</strong> concentração, variando<br />

aproxima<strong>da</strong>mente com c 3,3 (Morris, 1995).<br />

A concentração em que a sobreposição<br />

<strong>da</strong>s espirais começa a ocorrer é referi<strong>da</strong> como<br />

concentração crítica (c*). O volume <strong>da</strong>s espirais<br />

po<strong>de</strong> variar, largamente, <strong>de</strong> uma amostra para<br />

outra, havendo uma variação correspon<strong>de</strong>nte no<br />

valor <strong>de</strong> c*. Em soluções diluí<strong>da</strong>s, abaixo do<br />

início <strong>da</strong> sobreposição (c < c*), as viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

mostram apenas uma pequena <strong>de</strong>pendência com<br />

a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> as<br />

espirais individuais estarem sendo estica<strong>da</strong>s<br />

pelo escoamento e oferecendo menor<br />

resistência ao movimento. No entanto, quando c<br />

> c*, em geral, as soluções começam a<br />

apresentar características pseudoplásticas.<br />

Muitos estudos revelam que a<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> específica com a<br />

concentração mostra duas regiões <strong>de</strong><br />

comportamento <strong>de</strong> lei <strong>da</strong> potência, sendo uma<br />

<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> lado <strong>da</strong> concentração crítica (Loret et.<br />

al., 2004; Speers & Tung, 1986; Rao & Kenny,<br />

1975). Os valores <strong>da</strong> potência para as duas<br />

regiões para diferentes biopolímeros lineares<br />

(goma guar, goma locusta, alginato) têm sido<br />

apresentados na faixa <strong>de</strong> 1,1 a 1,4 na região<br />

diluí<strong>da</strong> e <strong>de</strong> 3,5 a 5,1, na região concentra<strong>da</strong>.<br />

Para a malto<strong>de</strong>xtrina, os autores encontraram<br />

um valor <strong>de</strong> 1,4, na região diluí<strong>da</strong>, e 4,7, para<br />

altas concentrações (Loret et. al., 2004).<br />

Os valores <strong>da</strong>s concentrações críticas<br />

variam muito entre os biopolímeros. Para κcarragenana<br />

(0,1M NaCl, pH9), Croguennoc<br />

et.al. (2000) observaram um valor <strong>de</strong> 0,45%<br />

(g/l). Morris et. al. (1981) observaram os<br />

valores <strong>de</strong> 0,22% (g/l) para goma guar, 1% (g/l)<br />

para o alginato (0,2M NaCl) e 8% (g/l) para a<br />

<strong>de</strong>xtrana. Loret et al. (2004) observaram um<br />

valor <strong>de</strong> 17% para soluções aquosas <strong>de</strong><br />

malto<strong>de</strong>xtrina.<br />

Morris (1995) estabelece que, para que a<br />

solução <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os comece a escoar, os<br />

emaranhados intermoleculares <strong>de</strong>vem ser<br />

separados. Quando as soluções são cisalha<strong>da</strong>s<br />

por baixas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, há tempo<br />

suficiente para que novos emaranhados se<br />

formem entre diferentes pares <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias. Dessa<br />

maneira, a <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> interligação global <strong>da</strong><br />

re<strong>de</strong> permanece constante e a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

solução, também, permanece constante em um<br />

valor máximo fixo – a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cisalhamento zero (ηo). Sob taxas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação mais eleva<strong>da</strong>s, entretanto, on<strong>de</strong> a<br />

taxa <strong>de</strong> re-agrupamento cai através <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong><br />

separação dos emaranhados existentes, a<br />

extensão <strong>de</strong> agrupamento-<strong>de</strong>sagrupamento<br />

diminui, progressivamente, com o aumento <strong>da</strong><br />

taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação e a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> cai,<br />

tipicamente, por duas ou três or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong><br />

magnitu<strong>de</strong> através <strong>da</strong> faixa <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação <strong>de</strong> importância prática.<br />

Não obstante diferentes soluções <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os apresentarem diferentes valores<br />

<strong>de</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> máxima à taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação<br />

zero, e diferentes valores <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

para a qual a solução começa a escoar, to<strong>da</strong>s<br />

elas apresentam uma forma geral <strong>de</strong><br />

comportamento pseudoplástico (Morris, 1995).<br />

Além <strong>da</strong> concentração, a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

soluções <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os, também, é,<br />

significativamente, afeta<strong>da</strong> por variáveis como<br />

taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, temperatura, tensão e<br />

tempo <strong>de</strong> cisalhamento.<br />

A temperatura tem uma importante<br />

influência sobre o comportamento <strong>de</strong><br />

escoamento <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> hidrocolói<strong>de</strong>s. Uma<br />

vez que diferentes temperaturas são<br />

encontra<strong>da</strong>s, durante o processamento <strong>de</strong><br />

hidrocolói<strong>de</strong>s, suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas<br />

<strong>de</strong>vem ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s em função <strong>da</strong> temperatura.<br />

O efeito <strong>da</strong> temperatura sobre a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparente, sob uma taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação<br />

específica, geralmente, é <strong>de</strong>scrito pelo mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> Arrhenius (Equação 19)<br />

Rao & Kenny, 1975; Speers & Tung, 1986,<br />

Marcotte, Taherian Hoshahili, Ramaswamy,<br />

2001).<br />

As soluções <strong>de</strong> gomas, geralmente, são<br />

fluidos não-newtonianos com comportamento<br />

pseudoplástico. Diversos mo<strong>de</strong>los têm sido<br />

aplicados para <strong>de</strong>screver o comportamento<br />

reológico <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> hidrocolói<strong>de</strong>s, por<br />

exemplo, mo<strong>de</strong>los lineares (newtoniano ou<br />

Bingham), lei <strong>da</strong> potência (Ostwald-<strong>de</strong>-Waele),<br />

lei <strong>da</strong> potência com tensão residual (Herschel-<br />

Bulkley) e o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Casson. Dentre esses, o<br />

<strong>da</strong> Lei <strong>da</strong> Potência é talvez o mais utilizado<br />

para fluidos não-newtonianos e é,<br />

extensivamente, utilizado para <strong>de</strong>screver as<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> líquidos, tanto<br />

em análises teóricas, quanto em aplicações<br />

práticas <strong>da</strong> engenharia (Kayacier & Dogan,<br />

2006; Barnes, Hutton, Walters, 1989). As<br />

soluções <strong>de</strong> hidrocolói<strong>de</strong>s, também, po<strong>de</strong>m<br />

apresentar proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

do tempo, principalmente, a tixotropia.<br />

Gray & Bonnecaze (1998) ressaltam que<br />

a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suspensões <strong>de</strong>nsas é,<br />

fortemente, influencia<strong>da</strong> pelo arranjo <strong>da</strong>s<br />

partículas em gran<strong>de</strong>s frações volumétricas. A<br />

maior parte <strong>de</strong>ssas suspensões só escoa, quando<br />

a sua estrutura, que consiste <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> que<br />

previne o escoamento, tiver sido <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

uma tensão eleva<strong>da</strong> o suficiente – a tensão<br />

residual (Zhu et. al., 2001). De acordo com<br />

Bonnecaze & Brady (1992), em uma curva <strong>de</strong><br />

tensão versus taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> um<br />

material que apresenta tensão residual, a tensão<br />

aumenta, incialmente, <strong>de</strong> uma maneira quase<br />

197<br />

linear (tensão proporcional à <strong>de</strong>formação),<br />

confirmando a natureza elástica do material<br />

abaixo <strong>da</strong> tensão residual. A inclinação <strong>da</strong> curva<br />

começa a <strong>de</strong>crescer no limite <strong>de</strong> reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do material (tensão residual limite elástica), na<br />

qual o comportamento plástico ou não-linear é<br />

observado, até atingir um máximo (tensão<br />

residual estática), após a qual a resposta do<br />

material passa a ser como a <strong>de</strong> um líquido. O<br />

platô <strong>de</strong> tensão para altas <strong>de</strong>formações é<br />

referido como tensão residual dinâmica, que é<br />

equivalente à tensão à taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação zero<br />

extrapola<strong>da</strong> nas curvas <strong>de</strong> tensão versus taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação, assim como a tensão residual, que<br />

aparece como um parâmetro do material em<br />

mo<strong>de</strong>los constitutivos.<br />

<strong>Estudo</strong>s sobre o comportamento reológico <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong><br />

alimentos<br />

Para que seja possível <strong>de</strong>finir qual o<br />

melhor polissacarí<strong>de</strong>o a ser empregado na<br />

produção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado alimento, <strong>de</strong>ve-se<br />

estabelecer, em primeiro lugar, quais são os<br />

atributos físicos e sensoriais <strong>de</strong>sejáveis. Em<br />

segundo lugar, <strong>de</strong>vem ser conheci<strong>da</strong>s as<br />

condições <strong>de</strong> processamento e <strong>de</strong> armazenagem<br />

<strong>de</strong>sse produto. Consi<strong>de</strong>rando-se esses aspectos,<br />

é preciso conhecer as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos<br />

polissacarí<strong>de</strong>os existentes e como eles se<br />

comportam, quando submetidos às condições<br />

<strong>de</strong> processamento e armazenagem do produto,<br />

consi<strong>de</strong>rando, ain<strong>da</strong>, a interação com os<br />

ingredientes <strong>da</strong> formulação. Dessa forma, para<br />

que as indústrias tenham condições <strong>de</strong> melhorar<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus produtos e reduzir os custos<br />

<strong>de</strong> produção, inúmeras pesquisas têm sido<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar o<br />

comportamento <strong>de</strong> diferentes polissacarí<strong>de</strong>os,<br />

individualmente, e, em misturas, quando<br />

submetidos a diferentes condições <strong>de</strong> processo.<br />

Dentre os aspectos estu<strong>da</strong>dos, o comportamento<br />

reológico <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os é um<br />

dos mais importantes, pois está fortemente<br />

associado à estrutura molecular dos<br />

ingredientes e o seu conhecimento é<br />

fun<strong>da</strong>mental para o dimensionamento <strong>da</strong>s<br />

condições <strong>de</strong> processo e avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do produto final.<br />

Loret et al. (2004) realizaram um estudo<br />

do efeito <strong>da</strong> concentração e <strong>da</strong> temperatura<br />

sobre a gelatinização <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong><br />

malto<strong>de</strong>xtrina, através <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os autores observaram que, à<br />

temperatura <strong>de</strong> 60ºC, as soluções apresentaram<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


198<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

um comportamento newtoniano <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> faixa<br />

<strong>de</strong> concentrações estu<strong>da</strong><strong>da</strong> (1 a 40%). Através<br />

<strong>da</strong> <strong>de</strong>terminação do comportamento <strong>da</strong><br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> específica em função <strong>da</strong><br />

concentração, os autores conseguiram visualizar<br />

a concentração crítica <strong>da</strong>s soluções, que foi<br />

estima<strong>da</strong> em 17%. A maior parte dos polímeros<br />

apresenta um comportamento pseudoplástico<br />

em soluções que se encontrem acima <strong>da</strong><br />

concentração crítica, <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>sagregação e<br />

orientação <strong>da</strong>s ca<strong>de</strong>ias sob tensões eleva<strong>da</strong>s. No<br />

entanto, no caso <strong>da</strong>s soluções <strong>de</strong> malto<strong>de</strong>xtrina<br />

prepara<strong>da</strong>s acima <strong>de</strong> c*, o comportamento<br />

newtoniano, ain<strong>da</strong>, foi observado. Os autores<br />

relacionaram esse fato à estrutura ramifica<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

amilopectina e à polidispersi<strong>da</strong><strong>de</strong> no peso<br />

molecular <strong>da</strong> amostra.<br />

Marcotte, Taherian Hoshahili,<br />

Ramaswamy (2001) realizaram um estudo <strong>da</strong>s<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas <strong>de</strong> diversos<br />

hidrocolói<strong>de</strong>s (carragenana, pectina, gelatina,<br />

amido e xantana) sob diferentes concentrações<br />

(1 a 6%, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> hidrocolói<strong>de</strong>) e<br />

<strong>de</strong> temperatura (20, 40, 60 e 80ºC). Os autores<br />

confirmaram a existência <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>pendência<br />

<strong>da</strong>s características reológicas com a<br />

concentração e a temperatura, que variou <strong>de</strong> um<br />

hidrocolói<strong>de</strong> para o outro.<br />

De acordo com observações dos autores,<br />

eleva<strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> gomas resultam em<br />

um aumento nas viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s newtoniana e<br />

aparente, ao passo que eleva<strong>da</strong>s temperaturas<br />

provocam redução nelas. A gelatina, que é uma<br />

proteína, apresenta um comportamento,<br />

claramente, newtoniano, enquanto que os<br />

<strong>de</strong>mais apresentam comportamento nãonewtoniano<br />

<strong>de</strong> fluidos pseudoplásticos. As<br />

curvas <strong>de</strong> escoamento do amido e <strong>da</strong> pectina<br />

po<strong>de</strong>m ser representa<strong>da</strong>s pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> Lei <strong>da</strong><br />

Potência, em to<strong>da</strong>s as temperaturas e<br />

concentrações.<br />

Para todos os hidrocolói<strong>de</strong>s, a<br />

pseudoplastici<strong>da</strong><strong>de</strong> aumentou com o aumento<br />

<strong>da</strong> concentração, caracteriza<strong>da</strong> por um<br />

<strong>de</strong>créscimo no índice <strong>de</strong> comportamento.<br />

Contrariamente, os hidrocolói<strong>de</strong>s apresentaram<br />

uma redução na pseudoplastici<strong>da</strong><strong>de</strong> com o<br />

aumento <strong>da</strong> temperatura. O índice <strong>de</strong><br />

consistência, por sua vez, aumentou com o<br />

aumento <strong>da</strong> concentração e com a redução <strong>da</strong><br />

temperatura, indicando um aumento na<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente. Comparativamente, a<br />

goma xantana foi a mais pseudoplástica e a<br />

menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> temperatura, ao passo que<br />

a pectina teve o comportamento mais próximo<br />

do newtoniano. A carragenana foi a mais<br />

afeta<strong>da</strong> pela temperatura e exibiu uma eleva<strong>da</strong><br />

tensão residual sob baixas temperaturas.<br />

Marcotte, Taherian Hoshahili,<br />

Ramaswamy (2001) observaram, ain<strong>da</strong>, a<br />

existência <strong>de</strong> uma tensão residual nas soluções<br />

<strong>de</strong> goma xantana, em to<strong>da</strong>s as condições<br />

experimentais, e nas <strong>de</strong> goma carragenana, para<br />

as concentrações <strong>de</strong> 2 e 3% à temperatura <strong>de</strong><br />

20ºC. Por essa razão, o comportamento<br />

reológico <strong>de</strong>ssas soluções foi representado pelo<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Herschel-Bulkley. O aumento <strong>da</strong><br />

concentração <strong>da</strong>s soluções e a redução <strong>da</strong><br />

temperatura <strong>de</strong> medi<strong>da</strong> provocaram o aumento<br />

<strong>da</strong> tensão residual.<br />

Rao & Kenny (1975) E Marcotte,<br />

Taherian Hoshahili, Ramaswamy (2001)<br />

ressaltam que a tensão residual é uma<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sejável em gomas por auxiliar na<br />

manutenção <strong>de</strong> diversos ingredientes, <strong>utilizados</strong><br />

na formulação <strong>de</strong> alimentos, em seus <strong>de</strong>vidos<br />

lugares. Christianson & Bageley (1984)<br />

avaliaram as tensões residuais em dispersões <strong>de</strong><br />

grãos <strong>de</strong> amido intumescidos e <strong>de</strong>formáveis e<br />

observaram que o valor <strong>de</strong>terminado,<br />

experimentalmente, para a tensão residual<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do método <strong>de</strong> avaliação e <strong>da</strong>s<br />

condições experimentais.<br />

Soluções <strong>de</strong> goma com valores elevados<br />

<strong>de</strong> n, ou seja, com comportamento, altamente,<br />

pseudoplásticos, ten<strong>de</strong>m a apresentar uma<br />

sensação <strong>de</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> na boca. Desse modo,<br />

quando características <strong>de</strong> eleva<strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

um bom mouthfeel são <strong>de</strong>sejáveis em uma<br />

formulação, a escolha <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> um sistema<br />

<strong>de</strong> gomas que possua um comportamento,<br />

altamente, pseudoplástico. Rao & Kenny (1975)<br />

e Speers & Tung (1986) reportaram que, para<br />

um <strong>da</strong>do tipo <strong>de</strong> goma, o valor do índice <strong>de</strong><br />

comportamento e suas alterações com a<br />

concentração são, altamente, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />

tamanho molecular.<br />

Garcia-Ochoa & Casas (1992) estu<strong>da</strong>ram<br />

a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> goma locusta em<br />

função <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, <strong>da</strong> concentração<br />

<strong>da</strong> solução, <strong>da</strong> temperatura <strong>de</strong> solubilização e <strong>da</strong><br />

temperatura <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>. De acordo com os<br />

autores, as soluções apresentaram<br />

comportamento pseudoplástico e um<br />

<strong>de</strong>créscimo na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> com o aumento <strong>da</strong><br />

temperatura <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>. A temperatura <strong>de</strong><br />

solubilização teve forte influência sobre a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente <strong>da</strong>s soluções, havendo um<br />

aumento na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente com o<br />

aumento <strong>da</strong> temperatura <strong>de</strong> dissolução. Os<br />

autores atribuíram esse comportamento à<br />

diferença no peso molecular e na extensão e/ou<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ramificação <strong>da</strong>s moléculas que<br />

se dissolvem às diferentes temperaturas,<br />

provocando uma variação na razão<br />

galactose/manose <strong>da</strong> solução. O aumento <strong>da</strong><br />

temperatura <strong>de</strong> solubilização provoca a<br />

dissolução <strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong> peso molecular<br />

mais elevado e uma menor razão entre<br />

galactose e manose, o que provoca um aumento<br />

na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> solução. No entanto, os<br />

autores observaram que, quando a temperatura<br />

<strong>de</strong> dissolução atingiu 80ºC, houve uma inversão<br />

no comportamento <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que foi<br />

atribuí<strong>da</strong> à <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção térmica <strong>da</strong>s moléculas<br />

em solução ou a um enfraquecimento ou quebra<br />

<strong>da</strong>s ligações intermoleculares.<br />

Dunstan et al. (1995) compararam as<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas <strong>da</strong> goma guar e goma<br />

arábica com as <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os elaborados a<br />

partir <strong>da</strong> fermentação <strong>de</strong> culturas celulares <strong>de</strong><br />

plantas. Todos o polissacarí<strong>de</strong>os apresentaram<br />

comportamento reológico não-newtoniano<br />

muito pseudoplástico, porém os<br />

polissacarí<strong>de</strong>os fermentados apresentaram<br />

maior <strong>de</strong>pendência com as condições <strong>de</strong><br />

temperatura e pH. De acordo com os autores, as<br />

soluções <strong>de</strong> goma guar não apresentaram<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a temperatura.<br />

Isso indica que o polímero é formado por<br />

estruturas rígi<strong>da</strong>s ou que a concentração<br />

eletrolítica é eleva<strong>da</strong> o suficiente para que os<br />

efeitos <strong>da</strong> temperatura e do pH sejam ocultados.<br />

Nesse estudo, os autores observaram uma<br />

inversão no comportamento <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparente com a temperatura, em função <strong>da</strong> taxa<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, nas soluções <strong>de</strong> goma arábica e<br />

<strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os fermentados, como mostra a<br />

Figura 6. Os <strong>da</strong>dos apresentados correspon<strong>de</strong>m<br />

a uma solução <strong>de</strong> goma arábica 20%<br />

(peso/volume) sob várias temperaturas.<br />

Analisando-se a Figura 6, nota-se que há uma<br />

intersecção <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> alta viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

para um estado <strong>de</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, relativamente,<br />

baixa sob altas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação. A goma<br />

arábica é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como um hidrocolói<strong>de</strong><br />

compacto e ramificado. No entanto, como<br />

mostra o comportamento <strong>de</strong> intersecção, as<br />

moléculas, ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong>vem estar aptas a sofrer<br />

alterações conformacionais no campo <strong>de</strong><br />

cisalhamento. As curvas se cruzam a uma taxa<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação <strong>de</strong>, aproxima<strong>da</strong>mente, 5s -1 .<br />

Deve-se observar que o comportamento<br />

pseudoplástico é observado para sistemas<br />

coloi<strong>da</strong>is <strong>de</strong> esferas rígi<strong>da</strong>s com alta fração<br />

volumétrica. Esse comportamento foi atribuído<br />

a reorganizações estruturais <strong>da</strong>s suspensões.<br />

199<br />

Figura 6 – Comportamento <strong>da</strong> viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />

função <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação para solução <strong>de</strong><br />

goma arábica 20% (peso/volume) sob diferentes<br />

temperaturas (A<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Dunstan et al.,<br />

1995)<br />

Leite (2001) estudou a <strong>reologia</strong> <strong>de</strong><br />

precipitado <strong>de</strong> inulina obtido a partir do<br />

abaixamento <strong>de</strong> temperatura do extrato<br />

concentrado <strong>de</strong> raízes <strong>de</strong> chicória e observou<br />

que a temperatura <strong>de</strong> resfriamento do extrato<br />

teve influência sobre a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

amostras. As amostras que foram congela<strong>da</strong>s<br />

resultaram em soluções com maior<br />

concentração <strong>de</strong> inulina e, portanto,<br />

apresentaram maiores viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O<br />

precipitado <strong>de</strong> inulina apresentou<br />

comportamento reológico não-newtoniano <strong>de</strong><br />

fluido pseudoplástico, representado, segundo o<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Lei <strong>da</strong> Potência.<br />

Zimeri & Kokini (2003) observaram que<br />

géis puros <strong>de</strong> inulina em água com<br />

concentrações inferiores a 20% apresentaram<br />

comportamento newtoniano. Paoletti et al.<br />

(2001) observaram comportamento semelhante<br />

para géis preparados à concentração <strong>de</strong> 25%.<br />

No entanto, para concentrações <strong>de</strong> 30 e 40%,<br />

Zimeri & Kokini (2003) observaram que os géis<br />

apresentaram tensões residuais estática e<br />

dinâmica. A tensão residual estática foi<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> como um máximo na curva,<br />

provoca<strong>da</strong> pela estrutura cristalina não<br />

perturba<strong>da</strong> <strong>da</strong> inulina. Os autores concluíram<br />

que géis concentrados <strong>de</strong> inulina seguiram um<br />

comportamento reológico <strong>de</strong> Herschel-Bulkley.<br />

Muitos estudos têm sido <strong>de</strong>senvolvidos<br />

sobre a interação entre diferentes<br />

polissacarí<strong>de</strong>os, avaliando o sinergismo <strong>da</strong>s<br />

misturas, o aumento provocado na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>s soluções e a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

géis.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


200<br />

<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

Casas & Garcia-Ochoa (1999) estu<strong>da</strong>ram<br />

a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mistura <strong>de</strong> gomas xantana e<br />

locusta e observaram que, quando as soluções<br />

são mistura<strong>da</strong>s, observa-se um aumento<br />

dramático na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, muito maior do que a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> combina<strong>da</strong> <strong>da</strong>s soluções individuais<br />

dos polissacarí<strong>de</strong>os. Os autores avaliaram a<br />

influência <strong>da</strong> concentração total <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os, <strong>da</strong> razão entre gomas xantana e<br />

locusta e <strong>da</strong> temperatura <strong>de</strong> dissolução sobre o<br />

comportamento reológico <strong>da</strong> mistura. O<br />

aumento na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> solução foi atribuído<br />

à interação entre as moléculas <strong>da</strong>s gomas<br />

xantana e locusta, que ocorre entre as ca<strong>de</strong>ias<br />

laterais <strong>da</strong>s moléculas <strong>de</strong> goma xantana e a<br />

ca<strong>de</strong>ia principal <strong>da</strong> goma locusta. A estrutura<br />

<strong>da</strong>s moléculas <strong>da</strong>s gomas xantana e locusta em<br />

solução tem gran<strong>de</strong> influência sobre a<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> final <strong>da</strong> solução. A conformação <strong>da</strong><br />

molécula <strong>da</strong> goma xantana mu<strong>da</strong> com o<br />

aumento <strong>da</strong> temperatura, passando <strong>de</strong> uma<br />

estrutura or<strong>de</strong>na<strong>da</strong> para uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>. A<br />

composição <strong>da</strong> goma locusta, por sua vez, mu<strong>da</strong><br />

com a temperatura <strong>de</strong> dissolução, havendo uma<br />

redução na razão galactose/manose com o<br />

aumento <strong>da</strong> temperatura, <strong>de</strong> modo que regiões<br />

mais lisas (sem os radicais <strong>de</strong> galactose) estão,<br />

predominantemente, dissolvi<strong>da</strong>s. Essas<br />

condições favorecem a interação entre as<br />

gomas, provocando o aumento na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O estudo do comportamento reológico <strong>de</strong><br />

misturas <strong>de</strong> gomas (xantana, guar e alginato)<br />

com salep foi realizado por Kayacier & Dogan<br />

(2006), com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se avaliar a sinergia<br />

entre os componentes. O salep é um ingrediente<br />

alimentício, obtido através <strong>da</strong> moagem <strong>de</strong><br />

tubérculos secos <strong>de</strong> orquí<strong>de</strong>a selvagem,<br />

extensivamente, utilizado na Turquia para a<br />

produção <strong>de</strong> sorvetes e <strong>de</strong> uma bebi<strong>da</strong> quente.<br />

Em sua composição básica, o salep contém<br />

glucomanose e amido, <strong>de</strong> forma que, além <strong>de</strong><br />

conferir ao produto o aroma e o sabor<br />

<strong>de</strong>sejados, também, atua como espessante e<br />

estabilizante. To<strong>da</strong>s as soluções avalia<strong>da</strong>s<br />

apresentaram um comportamento reológico<br />

não-newtoniano pseudoplástico que foi <strong>de</strong>scrito<br />

pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Lei <strong>da</strong> Potência. Os autores<br />

observaram um aumento na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparente <strong>da</strong>s soluções com o aumento <strong>da</strong><br />

concentração <strong>da</strong>s gomas e <strong>de</strong> salep. A goma<br />

guar, particularmente, sob altas concentrações,<br />

foi a que apresentou um melhor efeito sinérgico<br />

com o salep, caracterizado por um aumento na<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dessa forma, os autores<br />

concluíram que o uso combinado <strong>de</strong> salep e<br />

goma guar po<strong>de</strong> auxiliar na obtenção <strong>da</strong><br />

consistência <strong>de</strong>seja<strong>da</strong> em formulações <strong>de</strong><br />

alimentos, utilizando-se uma menor quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> espessantes.<br />

Fernan<strong>de</strong>s, Gonçalves, Doublier (1994)<br />

estu<strong>da</strong>ram o comportamento reológico <strong>de</strong><br />

misturas <strong>de</strong> κ-carragenana e galactomananas<br />

(gomas locusta e guar) com níveis muito baixos<br />

<strong>de</strong> κ-carragenana, na presença <strong>de</strong> KCl, e<br />

observaram que as misturas apresentaram<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s características <strong>de</strong> géis, quando os<br />

níveis <strong>de</strong> KCl foram suficientes para induzir a<br />

estabilização <strong>da</strong>s moléculas <strong>de</strong> κ-carragenana<br />

na forma helicoi<strong>da</strong>l. As curvas <strong>de</strong> escoamento<br />

observa<strong>da</strong>s para os galactomananos foram<br />

típicas <strong>de</strong> soluções macromoleculares, com<br />

comportamento pseudoplástico e uma<br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> limitante ηo sob baixas taxas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formação (platô newtoniano). A adição <strong>de</strong> κcarragenana<br />

não alterou muito o<br />

comportamento <strong>da</strong> solução, no entanto, para<br />

concentrações <strong>de</strong> KCl superiores a 0,025%<br />

houve um aumento significativo na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

para baixas taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação. Esse aumento<br />

na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> foi atribuído ao início <strong>da</strong><br />

formação <strong>de</strong> uma estrutura no sistema.<br />

Tecante & Doublier (1999) estu<strong>da</strong>ram o<br />

comportamento reológico <strong>de</strong> misturas do amido<br />

<strong>de</strong> milho ceroso (CWCS) e goma κcarragenana,<br />

com adição <strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> potássio,<br />

e observaram que a presença <strong>da</strong> goma e <strong>de</strong> KCl<br />

nas soluções <strong>de</strong> amido tiveram um efeito<br />

notável sobre a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e sobre o seu<br />

comportamento reológico. As soluções<br />

apresentaram comportamento não newtoniano<br />

pseudoplástico. Os autores observaram um<br />

aumento na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, quando o KCl não foi<br />

adicionado para to<strong>da</strong>s as concentrações <strong>de</strong><br />

amido avalia<strong>da</strong>s (0, 2, 3 e 4%), sendo que,<br />

quanto maior a concentração <strong>de</strong> amido, maior<br />

foi o aumento observado.<br />

Zimeri & Kokini (2003) estu<strong>da</strong>ram as<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas <strong>de</strong> sistemas<br />

combinados <strong>de</strong> inulina e amido <strong>de</strong> milho ceroso<br />

como um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> interação entre<br />

carboidratos em alimentos. Os autores<br />

observaram uma forte <strong>de</strong>pendência <strong>da</strong><br />

viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> com o comportamento <strong>de</strong> fases e <strong>da</strong><br />

microestrutura dos sistemas. To<strong>da</strong>s as amostras<br />

apresentaram um comportamento<br />

pseudoplástico, sendo que as misturas com<br />

eleva<strong>da</strong>s concentrações <strong>de</strong> inulina (30 a 40%)<br />

mostraram uma tensão residual, caracteriza<strong>da</strong><br />

pelo ajuste dos <strong>da</strong>dos experimentais pelo<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Herschel-Bulkley. As curvas <strong>de</strong><br />

escoamento, também, tiveram um bom ajuste<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Produtos Agroindustriais, Campina Gran<strong>de</strong>, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005


<strong>Estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>reologia</strong> <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os <strong>utilizados</strong> na indústria <strong>de</strong> alimentos Toneli et al.<br />

pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Carreau, que foi utilizado para<br />

estimar a viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> ηo.<br />

Em sistemas combinados <strong>de</strong> inulina e<br />

amido <strong>de</strong> milho ceroso (WMS), a concentração<br />

<strong>de</strong> inulina teve forte influência sobre as<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s reológicas <strong>da</strong> mistura. Zimeri &<br />

Kokini (2003) observaram a existência <strong>de</strong> uma<br />

concentração crítica <strong>de</strong> inulina, abaixo <strong>da</strong> qual o<br />

sistema se comporta como um sistema contínuo<br />

<strong>de</strong> WMS com a inulina, sendo a fase dispersa.<br />

Para valores acima <strong>de</strong> c*, no entanto, o sistema<br />

passa a se comportar como um sistema contínuo<br />

<strong>de</strong> inulina, com o WMS como fase dispersa.<br />

Paoletti et. al. (2001) estu<strong>da</strong>ram o<br />

comportamento reológico <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong><br />

inulina com gomas locusta, carragenana, guar e<br />

com alginato, prepara<strong>da</strong>s com 25% <strong>de</strong> inulina e<br />

1% <strong>da</strong>s gomas e analisa<strong>da</strong>s à temperatura <strong>de</strong><br />

20ºC. A mistura <strong>de</strong> inulina com goma locusta<br />

foi a que apresentou o maior sinergismo entre<br />

os componentes, caracterizado por uma<br />

alteração no comportamento reológico <strong>de</strong><br />

newtoniano para pseudoplástico e por um<br />

aumento na tensão residual <strong>de</strong> 0,41 para 3,27Pa,<br />

com a adição <strong>de</strong> inulina ao gel <strong>de</strong> goma locusta<br />

1%. Por outro lado, a mistura <strong>de</strong> inulina com<br />

goma carragenana não alterou o comportamento<br />

reológico do gel <strong>de</strong> carragenana 1%.<br />

A influência <strong>da</strong> adição <strong>de</strong> amidos<br />

hidrolisados e modificados, em diferentes<br />

concentrações, sobre o comportamento<br />

reológico <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> inulina foi estu<strong>da</strong>do<br />

por Nogueira (2001) e Leite (2001). Os autores<br />

observaram que a adição dos amidos provocou<br />

um aumento na viscosi<strong>da</strong><strong>de</strong> aparente <strong>da</strong>s<br />

soluções, porém, não alterou o comportamento<br />

reológico <strong>da</strong>s soluções, que foi <strong>de</strong> fluido nãonewtoniano<br />

pseudoplástico, representado pelo<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Lei <strong>da</strong> Potência. Nogueira (2001)<br />

observou que a adição dos amidos provocou<br />

uma redução no índice <strong>de</strong> consistência <strong>da</strong><br />

solução <strong>de</strong> inulina, provocando uma redução na<br />

pseudoplastici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

CONCLUSÕES<br />

Os polissacarí<strong>de</strong>os são ingredientes<br />

essenciais para a formulação <strong>de</strong> alimentos,<br />

capazes <strong>de</strong> exercer uma gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

funções para melhorar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos produtos<br />

finais. No entanto, as suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas<br />

e químicas têm forte influência sobre o seu<br />

comportamento quando aplicados em<br />

formulações e submetidos às condições <strong>de</strong><br />

processo.<br />

201<br />

Dessa forma, o conhecimento do<br />

comportamento reológico dos polissacarí<strong>de</strong>os é<br />

essencial para a formulação <strong>de</strong> alimentos, para<br />

o projeto e avaliação <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> processo<br />

e para a <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do produto<br />

final.<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se a gran<strong>de</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

polissacarí<strong>de</strong>os que po<strong>de</strong>m ser aplicados como<br />

ingredientes em alimentos, torna-se <strong>de</strong> extrema<br />

importância o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas<br />

que avaliem o comportamento reológico <strong>de</strong>sses<br />

polímeros, quando submetidos a diferentes<br />

condições <strong>de</strong> processos e aplicados em<br />

formulações varia<strong>da</strong>s. O conhecimento <strong>de</strong>ssas<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s é essencial para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos produtos<br />

alimentícios, no estudo, o processo e<br />

dimensionamento <strong>de</strong> equipamentos, com<br />

melhor quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e menor custo, <strong>de</strong> acordo com<br />

as atuais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do mercado consumidor.<br />

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