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Inserção de Mecânica Quântica no Ensino Médio - Instituto de Física ...

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v.17 n.5 2006<br />

INSERÇÃO DE MECÂNICA QUÂNTICA NO ENSINO<br />

MÉDIO: UMA PROPOSTA PARA PROFESSORES<br />

Marcia Cândida Monta<strong>no</strong> Webber<br />

Trieste F. Ricci<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong><br />

UFRGS


Textos <strong>de</strong> Apoio ao Professor <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, v.17 n.5, 2006.<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> – UFRGS<br />

Programa <strong>de</strong> Pós – Graduação em Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong><br />

Mestrado Profissional em Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong><br />

Editores: Marco Antonio Moreira<br />

Eliane Angela Veit<br />

Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação na Publicação (CIP)<br />

(Bibliotecária Carla Flores Torres CRB 10/1600)<br />

W371i Webber, Márcia Cândida Monta<strong>no</strong>.<br />

<strong>Inserção</strong> <strong>de</strong> mecânica quântica <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> médio : uma proposta para<br />

professores / Márcia Cândido Monta<strong>no</strong> Webber, Trieste Freire Ricci. –<br />

Porto Alegre : UFRGS, <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />

Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, 2007.<br />

63p. : il. (Textos <strong>de</strong> apoio ao professor <strong>de</strong> física / Marco Antonio<br />

Moreira, Eliane Angela Veit, ISSN 1807-2763; v. 17, n. 5)<br />

Produto do trabalho <strong>de</strong> conclusão do Mestrado Profissional em Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Física</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

1. Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>. 2. Formação <strong>de</strong> Professores 3. <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong><br />

I. Webber, Márcia Cândida Monta<strong>no</strong>. II. Ricci, Trieste Freire III. Título. IV.<br />

Série.<br />

Impressão: Waldomiro da Silva Olivo<br />

Intercalação: João Batista C. da Silva<br />

CDU 53:37<br />

PACS 01.40.J


3<br />

INDICE<br />

1. O mundo microscópio e o mundo macroscópico.......................................................... 5<br />

2. Objetos clássicos e objetos quânticos ......................................................................... 13<br />

3. Elétrons e fótons.............................................................................................................. 17<br />

4. Revisando a ótica ondulatória........................................................................................ 19<br />

4.1. Proprieda<strong>de</strong>s fundamentais <strong>de</strong> uma onda......................................................... 19<br />

4.2. Princípio <strong>de</strong> Huygens........................................................................................... 19<br />

4.3. Difração ................................................................................................................. 20<br />

4.4. Superposição linear............................................................................................. 21<br />

4.5. Interferência.......................................................................................................... 22<br />

4.6. Polarização............................................................................................................ 22<br />

5. A experiência da dupla fenda e a natureza ondulatória da luz ................................... 25<br />

5.1. Um pouco da história da luz ............................................................................... 25<br />

5.2. O experimento <strong>de</strong> Young..................................................................................... 25<br />

6. A experiência da dupla fenda e a natureza corpuscular da luz .................................. 29<br />

7. Dualida<strong>de</strong> onda-partícula para luz: onda eletromagnética x feixe <strong>de</strong> fótons............ 33<br />

8. A experiência da fenda dupla com feixe <strong>de</strong> elétrons ................................................... 37<br />

9. A função <strong>de</strong> onda e a natureza probabilística da teoria quântica .............................. 43<br />

Obras consultadas............................................................................................................... 47<br />

Apêndices............................................................................................................................. 49


4<br />

Apêndice A - Roteiro para ativida<strong>de</strong> virtual - parte I................................................ 49<br />

Apêndice B - Roteiro para ativida<strong>de</strong> virtual – parte II.............................................. 55<br />

Apêndice C - Lista <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong> revisão ............................................................ 59<br />

Textos <strong>de</strong> apoio ao professor <strong>de</strong> física ............................................................................. 61


CURSO INTRODUTÓRIO DE MECÂNICA QUÂNTICA<br />

1. O mundo microscópio e o mundo macroscópico<br />

Sabemos que a matéria é formada por átomos − ou moléculas formadas por átomos − e<br />

estes, por sua vez, são formados por componentes ainda me<strong>no</strong>res.<br />

É muito difícil conseguir uma imagem <strong>de</strong> átomo ou molécula. Para um objeto ser visível (em<br />

bons microscópios), <strong>de</strong>ve ser maior do que o comprimento <strong>de</strong> onda da luz utilizada para iluminá-lo.<br />

Uma vez que o espectro da luz visível pelos olhos huma<strong>no</strong>s está, aproximadamente, na faixa que vai<br />

<strong>de</strong> 4.000 Ǻ a 7.000 Ǻ (1 Ǻ, ou um angström, correspon<strong>de</strong> a 10 -10 m), conforme po<strong>de</strong> ser visualizado<br />

<strong>no</strong> espectro magnético da Figura 1 (a escala usada para o espectro <strong>de</strong> luz visível da figura está em<br />

nanômetros, e 1nm = 10 -9 m), os comprimentos <strong>de</strong> onda típicos da luz visível têm or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za<br />

<strong>de</strong> alguns décimos <strong>de</strong> micrômetros (1µm = 10 -6 m). Já o tamanho característico <strong>de</strong> um átomo é da<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> alguns angströns, o que é centenas <strong>de</strong> vezes me<strong>no</strong>r, portanto, que o comprimento <strong>de</strong> onda<br />

da luz visível. Por isso, um átomo não po<strong>de</strong> ser “visto” por meio <strong>de</strong> qualquer instrumento ótico.<br />

Entretanto, po<strong>de</strong>mos visualizar átomos não como fotografias obtidas com luz, mas como<br />

imagens obtidas por meio <strong>de</strong> microscópios eletrônicos <strong>de</strong> varredura, que produzem uma imagem<br />

aumentada do objeto (cerca <strong>de</strong> quinhentas vezes mais ampliada que a fornecida por um bom<br />

microscópio ótico). Tais instrumentos utilizam feixes <strong>de</strong> elétrons para obter essas imagens, o que é<br />

possível porque o comprimento <strong>de</strong> onda dos elétrons que formam o feixe utilizado é bem me<strong>no</strong>r do<br />

que o comprimento <strong>de</strong> onda da luz visível e, portanto, da mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za do objeto <strong>de</strong><br />

interesse. Também po<strong>de</strong>mos capturar imagens <strong>de</strong> átomos com outro tipo <strong>de</strong> microscópio eletrônico, o<br />

microscópio <strong>de</strong> varredura por tunelamento (STM−Scanning Tunneling Microscope), <strong>no</strong> qual uma<br />

agulha microscópica vasculha a superfície, medindo, ao mesmo tempo, a corrente <strong>de</strong> tunelamento<br />

em cada ponto da varredura, resultando numa <strong>de</strong>scrição minuciosa da superfície através da variação<br />

sofrida por essa corrente.<br />

Figura 1 – O espectro eletromagnético


6<br />

A Tabela 1 mostra algumas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas que po<strong>de</strong>m ser comparadas com o tamanho<br />

típico <strong>de</strong> um átomo, ilustrando o que queremos dizer sempre que <strong>no</strong>s referirmos a um objeto como<br />

sendo “microscópico”.<br />

Tabela 1 – Or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas<br />

Gran<strong>de</strong>zas Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za (em metros)<br />

Raio do Universo 10 25<br />

Distância da Terra ao Sol 10 11<br />

Raio da Terra 10 6<br />

Altura do homem 10 0<br />

Espessura <strong>de</strong> um cabelo 10 -4<br />

Bactérias 10 -6<br />

Vírus 10 -7<br />

Diâmetro atômico 10 -10<br />

Raio nuclear 10 -15<br />

Para nós, um objeto será consi<strong>de</strong>rado macroscópico quando for formado por um número<br />

muito gran<strong>de</strong> (muito maior do que um trilhão, por exemplo) <strong>de</strong> átomos ou <strong>de</strong> moléculas. Po<strong>de</strong>mos<br />

fazer algumas comparações entre o diâmetro <strong>de</strong> um átomo com os tamanhos dos objetos<br />

apresentados na Tabela 1. Iniciamos pelo diâmetro <strong>de</strong> um fio <strong>de</strong> cabelo, por ser, entre os objetos<br />

citados, o me<strong>no</strong>r que ainda é visível a olho nu. Comparando-o com o diâmetro <strong>de</strong> um átomo,<br />

observamos que cerca <strong>de</strong> 1.000.000 = 10 6 <strong>de</strong>les cabem <strong>no</strong> diâmetro <strong>de</strong> um fio <strong>de</strong> cabelo típico.<br />

Todavia, um pedacinho <strong>de</strong> fio <strong>de</strong> cabelo contém muito mais átomos do que isso, pois é um objeto<br />

tridimensional, com espessura e comprimento, além <strong>de</strong> largura. Por exemplo, se um fio <strong>de</strong> cabelo<br />

como este tivesse um comprimento igual à sua largura, teria um número <strong>de</strong> átomos com or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> 10 18 , ou seja, um número impronunciável. Trata-se, por exemplo, <strong>de</strong> um número maior<br />

do que o número <strong>de</strong> segundos da ida<strong>de</strong> do universo (cerca <strong>de</strong> 15 bilhões <strong>de</strong> a<strong>no</strong>s)! Analogamente,<br />

numa dimensão linear (largura, por exemplo) <strong>de</strong> uma bactéria cabem cerca <strong>de</strong> 10.000 átomos, e, num<br />

vírus cerca <strong>de</strong> 1.000 átomos, numa dimensão linear <strong>de</strong> um vírus típico. Como esses são objetos<br />

tridimensionais, o número <strong>de</strong> átomos que cabem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma bactéria ou <strong>de</strong> um vírus é muitas<br />

or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za maior do que 10.000 ou 1.000.<br />

Um outro exemplo ainda mais expressivo da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> uma simples célula<br />

orgânica em relação à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za dos <strong>no</strong>ssos objetos microscópicos – os átomos – é o da<br />

molécula <strong>de</strong> DNA (ácido <strong>de</strong>soxirribonucléico) huma<strong>no</strong>, ilustrado esquematicamente nas Figuras 2. Tal<br />

molécula fica localizada <strong>no</strong> núcleo <strong>de</strong> uma célula. Elas falam por si só!<br />

Po<strong>de</strong>mos ainda observar que a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za do tamanho <strong>de</strong> uma bactéria está na faixa<br />

da or<strong>de</strong>m do comprimento <strong>de</strong> onda da luz visível, <strong>de</strong> modo que, ao contrário <strong>de</strong> um átomo, po<strong>de</strong> ser<br />

“vista” ou fotografada por meio <strong>de</strong> algum instrumento óptico <strong>de</strong> aumento que utilize a luz comum, tal<br />

como um microscópio ótico.


7<br />

Como realçado por Hewitt (2002), além <strong>de</strong> incrivelmente peque<strong>no</strong>s, os átomos são<br />

extremamente numerosos. Existem cerca <strong>de</strong> 1.000.000.000.000.000.000.000.000 = 10 24 átomos em<br />

apenas 1 grama <strong>de</strong> água! Esse número, por exemplo, é maior do que o número <strong>de</strong> gotas <strong>de</strong> todos os<br />

lagos e rios do mundo inteiro. Além disso, os átomos são quase tão antigos quanto o próprio<br />

universo.<br />

Figura 2 – Representação da molécula <strong>de</strong> DNA<br />

2(a) Representação <strong>de</strong> um trecho <strong>de</strong> uma molécula <strong>de</strong> DNA huma<strong>no</strong>: cada átomo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminado elemento químico é representado simbolicamente por uma “bola” <strong>de</strong> uma mesma cor.<br />

Nessa representação, comum para os químicos, as esferas se interpenetram para simbolizar ligações<br />

químicas. 2(b) Como o DNA huma<strong>no</strong> “se enrola” para formar cada um dos 23 pares <strong>de</strong> cromossomos<br />

contidos apenas <strong>no</strong> núcleo <strong>de</strong> uma célula humana<br />

Em contraste, um objeto será consi<strong>de</strong>rado como microscópico quando for constituído por um<br />

número relativamente peque<strong>no</strong> <strong>de</strong> átomos ou moléculas. Mais tar<strong>de</strong>, quando estivermos abordando a<br />

mecânica quântica <strong>de</strong> Schrödinger, trataremos <strong>de</strong> dar uma <strong>de</strong>finição mais precisa do significado dos<br />

termos macroscópico e microscópico. Por ora, e neste contexto, os átomos serão <strong>no</strong>ssos<br />

constituintes microscópicos básicos e paradigmáticos, que servirão <strong>de</strong> comparação, em tamanho e<br />

massa, para outros objetos, maiores ou me<strong>no</strong>res.<br />

Assim, temos basicamente duas escalas <strong>de</strong> tamanho com as quais po<strong>de</strong>mos analisar o<br />

comportamento da matéria: a escala macroscópica e a escala microscópica. A escala macroscópica é<br />

a dos fenôme<strong>no</strong>s que envolvem objetos (inclusive bactérias!) ditos macroscópicos.<br />

Os fenôme<strong>no</strong>s que ocorrem <strong>no</strong> mundo microscópico são analisados <strong>de</strong> maneira diferente<br />

daqueles que ocorrem <strong>no</strong> mundo macroscópico. O mundo macroscópico é <strong>de</strong>scrito pela física<br />

clássica (formada pela mecânica newtoniana, termodinâmica e o eletromagnetismo <strong>de</strong> Maxwell), que


8<br />

trabalha com duas categorias <strong>de</strong> fenôme<strong>no</strong>s: as partículas que possuem massa e evoluem <strong>no</strong> tempo<br />

<strong>de</strong> acordo com as leis <strong>de</strong> Newton, e as ondas eletromagnéticas, entida<strong>de</strong>s sem massa que se<br />

propagam através do espaço, evoluindo <strong>no</strong> tempo <strong>de</strong> acordo com as leis <strong>de</strong> Maxwell do<br />

eletromagnetismo.<br />

O mundo microscópico, entretanto, não obe<strong>de</strong>ce às leis da física clássica, e, sim, às leis da<br />

física quântica. Os constituintes do mundo atômico e subatômico, átomos, moléculas e partículas<br />

subatômicas, possuem massa e são os componentes microscópicos da matéria. Quanto à radiação,<br />

como veremos adiante, também é formada por partículas microscópicas, porém não dotadas <strong>de</strong><br />

massa.<br />

A estrutura atômica foi objeto <strong>de</strong> estudo sistemático <strong>no</strong> começo do século XX, quando os<br />

cientistas estudaram <strong>de</strong>talhadamente vários fenôme<strong>no</strong>s, tais como os raios-X, a radioativida<strong>de</strong> e o<br />

efeito fotoelétrico. As pesquisas sobre o efeito fotoelétrico, por exemplo, mostraram, conclusivamente,<br />

que a luz possui também um caráter tipicamente corpuscular e que não po<strong>de</strong> ser concebida só em<br />

termos <strong>de</strong> uma onda. Do ponto <strong>de</strong> vista clássico, isso parecia contraditório porque o fenôme<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

interferência da luz parecia comprovar, em <strong>de</strong>finitivo, que a luz possui caráter ondulatório.<br />

As explorações realizadas do mundo microscópico trouxeram resultados inesperados,<br />

revelando a<strong>no</strong>malias que os cientistas não conseguiam explicar com base em <strong>no</strong>ções clássicas. Aos<br />

poucos, os físicos foram tomando consciência <strong>de</strong> que as <strong>no</strong>ções da física clássica não eram<br />

suficientes para se compreen<strong>de</strong>r o mundo microscópico. Em busca <strong>de</strong> respostas, foi sendo formulada<br />

uma <strong>no</strong>va física, a física quântica, com alterações radicais em relação à física clássica que trata <strong>de</strong><br />

fenôme<strong>no</strong>s macroscópicos.<br />

A física quântica é todo um corpo <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong>senvolvido a partir do início do século<br />

XX, com o qual se procura <strong>de</strong>screver um mundo fantástico e muito diferente daquilo a que estamos<br />

acostumados − o mundo microscópico. Trata principalmente dos fenôme<strong>no</strong>s que ocorrem nessa<br />

escala <strong>de</strong> tamanho e do modo como esses fenôme<strong>no</strong>s refletem o que acontece na escala<br />

macroscópica. A física clássica é todo um corpo <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong>senvolvidos até o fim do século<br />

XIX, o qual parecia ser completo porque explicava praticamente todos os fenôme<strong>no</strong>s observados até<br />

então. Conta-se que o físico alemão Max Planck, um dos responsáveis pelo surgimento da física<br />

quântica, teria sido aconselhado por um <strong>de</strong> seus mestres a <strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> seus estudos científicos e<br />

escolher a carreira <strong>de</strong> pianista, assim, os cientistas da época estavam con<strong>de</strong>nados a ficar sem ter o<br />

que fazer! Afinal, estava quase tudo pronto, faltavam apenas dois peque<strong>no</strong>s <strong>de</strong>talhes. Os dois<br />

<strong>de</strong>talhes que os físicos não conseguiam explicar estão representados pelos “tijolos que faltam” na<br />

Figura 3.


Figura 3 – O edifício da física clássica<br />

9<br />

Um tanto arbitrariamente, po<strong>de</strong>mos situar o nascimento da física quântica em 14 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1900, quando, numa reunião da Socieda<strong>de</strong> Alemã <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, o físico alemão Max<br />

Planck (1858-1947) apresentou seu artigo “sobre a teoria da lei <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> energia do espectro<br />

<strong>no</strong>rmal”, que se constituiu num verda<strong>de</strong>iro marco <strong>de</strong> uma revolução na física. O artigo <strong>de</strong> Planck<br />

propunha uma explicação para o problema do espectro <strong>de</strong> emissão da chamada “radiação do corpo<br />

negro”, radiação eletromagnética que é emitida por um corpo negro em equilibro térmico a uma dada<br />

temperatura. Conhecer o espectro <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> um objeto macroscópico qualquer é, basicamente,<br />

saber quanta energia radiante é emitida pelo objeto em cada faixa <strong>de</strong> comprimento <strong>de</strong> onda ou <strong>de</strong><br />

freqüência. Essa informação está contida na curva <strong>de</strong> um gráfico em que o eixo vertical correspon<strong>de</strong><br />

à intensida<strong>de</strong> lumi<strong>no</strong>sa emitida (a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia emitida por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superfície e por<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo, medida em Watt/m 2 em unida<strong>de</strong>s do SI) e, o eixo horizontal, ao comprimento <strong>de</strong><br />

onda ou à freqüência da radiação emitida. A curva obtida, em função da freqüência da radiação<br />

emitida pelo corpo, para diferentes temperaturas, está ilustrada na Figura 4.<br />

No final do século XIX, os físicos experimentais já conseguiam realizar medidas muito<br />

precisas do espectro <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> um corpo negro, com base nas quais eles obtiveram<br />

empiricamente a curva do espectro <strong>de</strong> radiação do corpo negro com gran<strong>de</strong> precisão.


10<br />

Figura 4 – Espectro <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> um corpo negro<br />

Entretanto, faltava ainda, <strong>de</strong>duzir essa curva teoricamente, a partir das leis mais<br />

fundamentais da física. Esse era o objetivo <strong>de</strong> Planck naquele final <strong>de</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1900. Ele conseguiu<br />

fornecer uma solução para o problema teórico da radiação <strong>de</strong> corpo negro, obtendo a curva correta<br />

que os experimentais já haviam obtido empiricamente, porém, para isso, Planck foi forçado a atribuir<br />

proprieda<strong>de</strong>s quânticas à luz. Mais especificamente, Planck foi forçado a usar um mo<strong>de</strong>lo em que a<br />

radiação eletromagnética só trocaria energia com a matéria em quantida<strong>de</strong>s quantizadas, isto é,<br />

quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia que são múltiplas inteiras <strong>de</strong> uma quantida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> energia, que ele<br />

<strong>de</strong><strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u <strong>de</strong> quantum (plural quanta).<br />

Cinco a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, em 1905, Einstein usaria a proposta <strong>de</strong> Planck para explicar<br />

convincentemente o efeito fotoelétrico. Contudo, a hipótese <strong>de</strong> Planck foi usada por Einstein com uma<br />

interpretação radicalmente diferente daquela dada por Planck: para Einstein, não apenas as trocas <strong>de</strong><br />

energia entre a radiação e a matéria são quantizadas, mas a própria luz o é! Noutras palavras,<br />

Einstein propôs um <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo corpuscular para a luz ou a radiação eletromagnética em geral, <strong>no</strong><br />

qual a radiação é consi<strong>de</strong>rada discreta, formada por um número inteiro <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s microscópicas<br />

sem massa, mas dotadas <strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> momentum linear. Einstein <strong>de</strong><strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u-as “quanta <strong>de</strong> luz”<br />

(plural <strong>de</strong> “quantum <strong>de</strong> luz”). Hoje chamamos <strong>de</strong> fóton ao que Einstein <strong>de</strong><strong>no</strong>minava “quantum <strong>de</strong> luz”.<br />

Assim, <strong>de</strong> acordo com Einstein, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a luz e a radiação eletromagnética em geral<br />

como um feixe <strong>de</strong> fótons.<br />

Em 1911, o físico britânico Ernest Rutherford (1871-1937) <strong>de</strong>scobriu a existência do núcleo<br />

atômico. A partir das observações realizadas por ele e por sua equipe, Rutherford propôs um mo<strong>de</strong>lo<br />

atômico <strong>no</strong> qual o átomo era quase que totalmente vazio, com um minúsculo núcleo extremamente<br />

<strong>de</strong>nso, constituído por partículas positivas − os prótons − e uma região externa, a eletrosfera,


11<br />

formada por partículas negativas − os elétrons −, que giram em tor<strong>no</strong> do núcleo <strong>de</strong>screvendo órbitas<br />

circulares. Este mo<strong>de</strong>lo “planetário” do átomo, entretanto, tinha, do ponto <strong>de</strong> vista teórico-clássico um<br />

sério ponto fraco. De acordo com a teoria eletromagnética, qualquer carga em movimento acelerado<br />

<strong>de</strong>ve emitir radiação e, portanto, per<strong>de</strong>r continuamente energia em forma <strong>de</strong> ondas eletromagnéticas.<br />

No caso do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Rutherford, elétrons negativamente carregados <strong>de</strong>screveriam movimentos<br />

circulares em tor<strong>no</strong> do núcleo e, portanto, teriam uma aceleração (centrípeta). Isso significa que, <strong>no</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo atômico <strong>de</strong> Rutherford, o elétron em órbita acabaria por per<strong>de</strong>r toda a sua energia e colapsar<br />

para o núcleo. Além disso, um núcleo formado apenas por partículas positivas <strong>de</strong>veria se <strong>de</strong>sintegrar,<br />

pois as cargas elétricas <strong>de</strong> mesmo sinal se repelem mutuamente. Portanto, o mo<strong>de</strong>lo atômico<br />

proposto por Rutherford era instável do ponto <strong>de</strong> vista teórico e não explicava convincentemente a<br />

existência duradoura dos átomos.<br />

O físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), que fizera seu doutorado em física teórica com<br />

Rutherford na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manchester, começou a procurar uma solução que apoiasse a<br />

estrutura atômica ”impossível” <strong>de</strong> Rutherford. Então, em 1913, Bohr aplicou a teoria quântica <strong>de</strong><br />

Planck e <strong>de</strong> Einstein na estrutura atômica <strong>de</strong> Rutherford e formulou o primeiro mo<strong>de</strong>lo quantizado do<br />

átomo (mais tar<strong>de</strong> este mo<strong>de</strong>lo seria revisado por conter ainda graves <strong>de</strong>feitos).<br />

O corpo <strong>de</strong> leis e mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>senvolvido durante os primeiros 25 a<strong>no</strong>s do século XX (1900-<br />

1925) ficou conhecido como a “velha física quântica”, por contraste com as <strong>de</strong>scobertas teóricas e<br />

experimentais que se suce<strong>de</strong>riam rapidamente a partir <strong>de</strong> 1925 e que gerariam um <strong>no</strong>vo corpo <strong>de</strong><br />

conhecimentos, ainda maior e mais preciso, hoje conhecido como “mecânica quântica”.<br />

A partir dos trabalhos pioneiros <strong>de</strong> Planck e <strong>de</strong> Einstein <strong>no</strong> início do século XX,<br />

gradativamente os físicos foram aceitando o fato <strong>de</strong> que as a<strong>no</strong>malias com as quais se <strong>de</strong>paravam<br />

eram inerentes ao mundo microscópico e não podiam ser explicadas com base na física do mundo<br />

macroscópico, ou seja, a física clássica.<br />

Assim como para a mecânica clássica existem várias versões ou formulações matemáticas<br />

fisicamente equivalentes (a mecânica vetorial newtoniana, a mecânica lagrangeana, a mecânica<br />

hamiltoniana etc.), a mecânica quântica também po<strong>de</strong> ser apresentada em várias versões, todas<br />

fisicamente equivalentes. Esses <strong>de</strong>senvolvimentos constituem uma etapa crucial <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da física mo<strong>de</strong>rna. Pela primeira vez, os resultados físicos não eram <strong>de</strong>rivados a partir <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

concreto do universo, mas <strong>de</strong> uma construção matemática abstrata.<br />

A primeira versão da mecânica quântica chama-se “mecânica matricial” e foi formulada em<br />

1925 pelo físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976). Esta teoria recebeu tal <strong>no</strong>me por se utilizar<br />

<strong>de</strong> matrizes para representar gran<strong>de</strong>zas físicas. A segunda versão da mecânica quântica apareceu<br />

<strong>no</strong> início <strong>de</strong> 1926, quando o físico austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961) formulou a chamada<br />

“mecânica ondulatória”. Teoria que é uma generalização do postulado <strong>de</strong> Broglie e recebeu esse<br />

<strong>no</strong>me por possuir fortes analogias com a teoria clássica da luz, a óptica ondulatória; é a versão mais<br />

utilizada pelos físicos em geral. Ainda <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1926, o inglês Paul Dirac (1902-1984) <strong>de</strong>senvolveu<br />

uma terceira versão da mecânica quântica.<br />

O sucesso da mecânica quântica foi uma gran<strong>de</strong> conquista científica do século XX pelo fato<br />

<strong>de</strong> prever o comportamento observado dos sistemas físicos microscópicos, isto é, <strong>de</strong>senvolve


12<br />

conceitos consistentes e a<strong>de</strong>quados para <strong>de</strong>screver o mundo em escala microscópica e para fazer<br />

previsões a respeito, confirmando-as ou não em experimentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> precisão.


2. Objetos clássicos e objetos quânticos<br />

Os sistemas físicos são caracterizados pelo seu estado, o qual é <strong>de</strong>finido pelos valores<br />

assumidos por um conjunto mínimo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas físicas, que são proprieda<strong>de</strong>s mensuráveis dos<br />

objetos. As proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um sistema são quaisquer características avaliáveis do mesmo, cujos<br />

valores revelam as condições em que se encontra o sistema.<br />

Portanto, existe um conjunto mínimo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas físicas que <strong>de</strong>fine o estado <strong>de</strong> um sistema<br />

físico qualquer. Po<strong>de</strong>mos exemplificar o estado mecânico <strong>de</strong> um sistema macroscópico usando como<br />

exemplo o mais simples <strong>de</strong> todos os sistemas <strong>de</strong>ste tipo, ou seja, aquele constituído por uma única<br />

partícula clássica <strong>de</strong> massa m. Associando a essa partícula uma representação matemática, o seu<br />

estado será representado por um conjunto <strong>de</strong> seis números (x, y, z, p x, p y, p z), on<strong>de</strong> x, y e z são as<br />

coor<strong>de</strong>nadas cartesianas que informam sobre a posição da partícula e px, py e pz são as componentes<br />

cartesianas do vetor momentum linear (ou quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> translação, <strong>de</strong>finida como p =<br />

m.v) da partícula. Usando <strong>no</strong>tação vetorial, mais con<strong>de</strong>nsada, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong><strong>no</strong>tar o estado <strong>de</strong>sse<br />

sistema muito simples pelo or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> vetores (r, p). Tacitamente, na física clássica se assume que<br />

esses dois observáveis vetoriais (ou seis observáveis escalares) sejam compatíveis entre si (o que é<br />

experimentalmente comprovado para objetos macroscópicos <strong>de</strong>ste tipo). Se o sistema for uma onda<br />

eletromagnética, o seu estado clássico será especificado pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia (ou o<br />

momentum linear) que ela transporta consigo, sua freqüência (ou seu comprimento <strong>de</strong> onda), sua<br />

polarização e sua direção e sentido <strong>de</strong> propagação.<br />

O estado termodinâmico <strong>de</strong> um objeto macroscópico qualquer é <strong>de</strong>finido por conjunto mínimo<br />

(ou seja, <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r número possível) <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas do sistema. As proprieda<strong>de</strong>s<br />

termodinâmicas fundamentais que variam com o transcorrer do tempo são <strong>de</strong><strong>no</strong>minadas <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>s dinâmicas, <strong>de</strong> que são exemplos a posição, a velocida<strong>de</strong> e a energia. As proprieda<strong>de</strong>s<br />

não fundamentais do sistema são aquelas que po<strong>de</strong>m ser expressas como combinações das<br />

proprieda<strong>de</strong>s fundamentais. As proprieda<strong>de</strong>s também po<strong>de</strong>m ser classificadas como internas, as<br />

quais são intrínsecas ao sistema, ou externas, aquelas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m dos movimentos ou das<br />

posições das partes que formam o sistema em relação a corpos exter<strong>no</strong>s a este, ou seja, que não<br />

pertencem ao sistema consi<strong>de</strong>rado.<br />

As proprieda<strong>de</strong>s dinâmicas <strong>de</strong> um sistema são também muitas vezes <strong>de</strong><strong>no</strong>minadas variáveis<br />

<strong>de</strong> estado ou observáveis. Na física clássica, para sistemas formados por objetos macroscópicos, os<br />

observáveis são gran<strong>de</strong>zas que po<strong>de</strong>m sempre ser medidas simultaneamente, ou seja, ao medirmos<br />

o valor <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada gran<strong>de</strong>za, não alteraremos os valores das outras; e se forem medidas<br />

em seqüência, uma após a outra, a or<strong>de</strong>m em que dois observáveis quaisquer serão medidos não<br />

influenciará os resultados obtidos para as duas. E mais, abstraindo-se o ato <strong>de</strong> medir, po<strong>de</strong>mos dizer<br />

que, para os objetos clássicos ou macroscópicos, essas variáveis <strong>de</strong> estado estão bem <strong>de</strong>finidas<br />

simultaneamente em todos os instantes <strong>de</strong> tempo, mesmo quando não estamos realizando qualquer<br />

medição das mesmas. Vamos <strong>de</strong><strong>no</strong>minar este tipo <strong>de</strong> observáveis − que po<strong>de</strong>m ser medidos<br />

simultaneamente e que estão simultaneamente bem <strong>de</strong>finidos − <strong>de</strong> observáveis compatíveis. Além<br />

disso, po<strong>de</strong>mos atribuir uma série <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s dinâmicas bem <strong>de</strong>finidas em cada instante <strong>de</strong><br />

tempo aos objetos e sistemas clássicos; a partir <strong>de</strong>las, usando as leis da física clássica, somos


14<br />

capazes <strong>de</strong> explicar racionalmente os resultados e fazer previsões precisas sobre o comportamento<br />

futuro dos objetos clássicos.<br />

Po<strong>de</strong>mos também preparar um estado clássico o que significa estabelecer condições iniciais<br />

para o sistema, essas <strong>de</strong>finidas pelos valores iniciais (em t = 0) daquelas gran<strong>de</strong>zas que <strong>de</strong>finem <strong>de</strong><br />

maneira completa o estado do sistema clássico. A evolução temporal <strong>de</strong> um estado clássico é regida<br />

pela segunda lei <strong>de</strong> Newton e é <strong>de</strong>terminista, isto é, dado um estado inicial qualquer e as forças que<br />

agem sobre o objeto, os estados futuros estarão <strong>de</strong>terminados.<br />

A mecânica quântica trabalha com sistemas formados por objetos quânticos, que, como<br />

referimos anteriormente, são objetos microscópicos. Po<strong>de</strong>mos citar como mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> objetos<br />

quânticos elétrons, prótons, nêutrons, núcleos atômicos ou moléculas, todos eles sendo objetos<br />

físicos dotados <strong>de</strong> massa. Contudo, também po<strong>de</strong>mos citar como exemplos <strong>de</strong> objetos quânticos os<br />

fótons que formam a luz e que não possuem massa.<br />

O sucesso da mecânica quântica está além do limite macroscópico, uma vez que ela se<br />

adapta aos resultados da mecânica clássica para objetos macroscópicos, isto é, a mecânica quântica<br />

aplicada a objetos macroscópicos fornece resultados iguais aos obtidos pela mecânica clássica. A<br />

recíproca não é verda<strong>de</strong>ira. Os objetos macroscópicos são formados por inúmeros objetos quânticos<br />

(os átomos). Portanto, qualquer sistema quântico formado por N objetos quânticos me<strong>no</strong>res<br />

necessariamente ten<strong>de</strong> a ser um objeto clássico quando N ten<strong>de</strong> ao infinito, ou seja, <strong>no</strong> limite <strong>de</strong> N<br />

muito gran<strong>de</strong>, a física quântica <strong>de</strong>ve ten<strong>de</strong>r e se reduzir à física clássica. Chamamos a isso <strong>de</strong><br />

Princípio da Correspondência, que foi postulado por Bohr em 1923. Basicamente, o princípio da<br />

correspondência <strong>no</strong>s diz que, para uma <strong>no</strong>va teoria ser validada ou corroborada, <strong>de</strong>ve prever os<br />

mesmos resultados válidos que já eram previstos pela teoria antiga.<br />

A diferença fundamental entre os objetos quânticos e os objetos clássicos é que nem sempre<br />

po<strong>de</strong>mos atribuir aos objetos quânticos proprieda<strong>de</strong>s dinâmicas simultaneamente bem <strong>de</strong>finidas, ou<br />

seja, na mecânica quântica nem todos os observáveis são compatíveis entre si. (Por exemplo, não<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminar simultaneamente a posição e o momentum linear <strong>de</strong> um elétron. Isso não é<br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> não possuirmos aparelhos suficientemente precisos para realizar as medições<br />

necessárias, mas constitui uma limitação intrínseca à natureza dos objetos quânticos.).<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas diferenças, a maneira como são <strong>de</strong>finidos os estados <strong>de</strong> objetos quânticos<br />

é inteiramente diversa da maneira como isso é feito na física clássica. O movimento <strong>de</strong> objetos<br />

macroscópicos é regido por equações diferenciais, ou seja, equações cujas soluções não são<br />

números, mas, sim, funções reais das coor<strong>de</strong>nadas espaciais e do tempo. Fisicamente, as gran<strong>de</strong>zas<br />

<strong>de</strong>scritas por essas equações <strong>no</strong>s fornecem valores que <strong>no</strong>rmalmente são alterados a cada instante.<br />

Por exemplo, para o caso em que a força resultante exercida sobre um corpo <strong>de</strong> massa m for nula, a<br />

segunda lei <strong>de</strong> Newton FR = m.a (uma equação diferencial) tem como solução a função horária r = r0<br />

+ v.t , que <strong>de</strong>screve a posição r <strong>de</strong> uma partícula clássica num instante t qualquer.<br />

Analogamente, o movimento <strong>de</strong> objetos na escala microscópica é regido pela equação <strong>de</strong><br />

Schrödinger, proposta em 1926 pelo físico austríaco Erwin Schrödinger e que po<strong>de</strong> ser escrita na<br />

forma sintética:


∂Ψ<br />

ih<br />

∂t<br />

15<br />

= H . Ψ<br />

On<strong>de</strong> H é um operador diferencial (ou seja, que contém <strong>de</strong>rivadas em sua <strong>de</strong>finição)<br />

chamado Hamiltonia<strong>no</strong>. Esta entida<strong>de</strong> matemática representa o observável energia total do sistema<br />

(e h é a constante <strong>de</strong> Planck <strong>no</strong>rmalizada, <strong>de</strong>finida como<br />

h<br />

=<br />

2π<br />

h = 1,05 x 10 -34 J.s). A equação <strong>de</strong><br />

Schrödinger também é uma equação diferencial, mas <strong>de</strong>screve as variações em ondas <strong>de</strong><br />

probabilida<strong>de</strong> associadas a uma partícula quântica (o elétron, por exemplo) sob a ação <strong>de</strong> forças<br />

externas, bem diferente, portanto, do que é <strong>de</strong>scrito pelas equações newtonianas da mecânica<br />

clássica.<br />

A entida<strong>de</strong> matemática que <strong>de</strong>screve o estado <strong>de</strong> um sistema quântico é sua função <strong>de</strong><br />

onda, representada pela letra grega (maiúscula) Ψ , que é solução da equação <strong>de</strong> Schrödinger. A<br />

função <strong>de</strong> onda contém todas as informações físicas a respeito do estado do sistema que <strong>de</strong>screve,<br />

ou seja, ela é o próprio estado do sistema quântico. A equação <strong>de</strong> Schrödinger foi apenas<br />

apresentada, entretanto a sua solução, a função <strong>de</strong> onda, precisa ser compreendida mais<br />

<strong>de</strong>talhadamente, <strong>de</strong> modo que voltaremos a falar da Ψ mais <strong>de</strong>talhadamente <strong>no</strong> tópico 9.


3. Elétrons e fótons<br />

Foi o físico britânico Joseph John Thomson (1856-1940) quem <strong>de</strong>scobriu os elétrons em<br />

1897, através da confirmação <strong>de</strong> que os raios catódicos são formados por feixes <strong>de</strong> minúsculas<br />

partículas com cargas elétricas negativas (e <strong>de</strong> mesmo valor), mais tar<strong>de</strong> chamadas <strong>de</strong> elétrons.<br />

Thomson <strong>de</strong>scobriu que os elétrons possuem carga elétrica ao comprovar que eles eram <strong>de</strong>sviados<br />

na presença <strong>de</strong> um campo elétrico e/ou <strong>de</strong> um campo magnético. Por meio da direção e do sentido<br />

em que essas partículas eram <strong>de</strong>sviadas, Thomson concluiu que suas cargas elétricas são negativas<br />

e chamou-os <strong>de</strong> elétrons.<br />

Os elétrons são completamente todos idênticos entre si. Entre outras proprieda<strong>de</strong>s físicas,<br />

eles possuem o mesmo tamanho (um raio me<strong>no</strong>r que 10 -18 m), a mesma massa (aproximadamente<br />

igual a 9,11.10 -31 kg) e a mesma carga elétrica (aproximadamente – 1,6022.10 -19 C). Às vezes,<br />

quando ligados em átomo, os elétrons são comparados aos planetas do sistema solar. Essa analogia<br />

é imprecisa em vários aspectos, como já mencionamos anteriormente a respeito do mo<strong>de</strong>lo atômico<br />

<strong>de</strong> Rutherford. Uma das razões é que os movimentos dos elétrons são diferentes do movimento dos<br />

planetas em tor<strong>no</strong> do Sol porque os elétrons não obe<strong>de</strong>cem às leis da física clássica, e, sim, às leis<br />

da mecânica quântica.<br />

Não é inteiramente correto conceber os elétrons como “bolinhas em rotação”, embora essa<br />

imagem <strong>no</strong>s seja a mais familiar e “confortável” para a <strong>no</strong>ssa maneira <strong>de</strong> pensar, baseada <strong>no</strong> mundo<br />

macroscópico a que temos acesso pelos <strong>no</strong>ssos sentidos. Embora os elétrons não sejam como as<br />

bolinhas do mundo clássico, realmente possuem um tipo <strong>de</strong> rotação que é uma característica<br />

intrínseca dos mesmos, isto é, todos os elétrons giram da mesma forma, sem importar a direção em<br />

que tal rotação é medida, e o valor <strong>de</strong> sua quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> rotação é sempre o mesmo<br />

para todos os elétrons encontrados na natureza. O spin ou momentum angular intrínseco está<br />

relacionado com a rotação dos elétrons em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> si mesmos e tem o mesmo valor para todos os<br />

elétrons. Depen<strong>de</strong>ndo do sentido <strong>de</strong> rotação, um elétron tem spin up (para cima) ou spin down (para<br />

baixo).<br />

Os fótons não foram inicialmente <strong>de</strong>scobertos experimentalmente pelos físicos, e, sim,<br />

propostos. Em seu artigo <strong>de</strong> 1905 sobre o efeito fotoelétrico, do qual falaremos posteriormente,<br />

Einstein propôs pela primeira vez a existência do fóton (que ele chamava então <strong>de</strong> “quantum <strong>de</strong> luz”),<br />

quando postulou que a luz po<strong>de</strong> ser encarada como sendo formada por corpúsculos ou partículas <strong>de</strong><br />

luz sem massa e sem carga elétrica, através dos quais a luz interage com a matéria como se fosse<br />

formada por minúsculos corpúsculos ou “pacotes” <strong>de</strong> energia eletromagnética. Estes foram<br />

originalmente chamados por Einstein <strong>de</strong> quanta <strong>de</strong> luz (quanta é plural <strong>de</strong> quantum, palavra que vem<br />

do latim e significa “quantida<strong>de</strong>”). Um fóton, portanto, é um quantum <strong>de</strong> luz. O <strong>no</strong>me fóton foi cunhado<br />

somente em 1926 pelo físico Gilbert Newton Lewis (1875-1946).<br />

Uma diferença <strong>no</strong>tável entre fótons e outras partículas é que eles po<strong>de</strong>m ser facilmente<br />

criados e <strong>de</strong>struídos. A interação <strong>de</strong> fótons com outras partículas eletricamente carregadas resulta na<br />

força eletromagnética, isto é, o fóton é a partícula mediadora da interação eletromagnética. A energia<br />

<strong>de</strong> um fóton formador <strong>de</strong> radiação eletromagnética <strong>de</strong> freqüência f é dada pela relação <strong>de</strong> Planck,<br />

E = h.<br />

f . É a energia dos fótons que <strong>de</strong>termina se são fótons <strong>de</strong> luz visível, <strong>de</strong> raios X, <strong>de</strong> ondas <strong>de</strong>


18<br />

rádio etc. E como qualquer objeto <strong>de</strong> massa nula, os fótons propagam-se sempre com a velocida<strong>de</strong><br />

da luz, quaisquer que sejam suas energias e em relação a qualquer observador. Assim como os<br />

elétrons, os fótons também possuem spin, mas o valor do spin do fóton é um, ao passo que do<br />

elétron é 1/2.<br />

A confirmação experimental dos fótons aconteceu pela primeira vez em 1923 com os<br />

experimentos <strong>de</strong> Arthur Holly Compton (1892-1962) e sua equipe, ao constatarem que raios X<br />

espalhados por superfícies metálicas polidas apresentam alteração <strong>de</strong> sua freqüência em razão do<br />

espalhamento. (De acordo com a física clássica, os raios X espalhados <strong>de</strong>viam possuir a mesma<br />

freqüência que a dos raios X inci<strong>de</strong>ntes.). O Efeito Compton, como é hoje conhecido (ou seja, a<br />

alteração das freqüências dos raios X espalhados), evi<strong>de</strong>nciou que a freqüência da luz diminui em<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do ângulo em que for espalhada.<br />

Em <strong>no</strong>sso curso, os elétrons e os fótons serão usados como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> objetos quânticos<br />

elementares, ou seja, sem estrutura interna.


4. Revisando a ótica ondulatória<br />

Antes <strong>de</strong> seguirmos adiante com o curso, faremos uma breve revisão <strong>de</strong> alguns conceitos<br />

referentes à ótica ondulatória que são muito importantes para o seu seguimento.<br />

4.1. Proprieda<strong>de</strong>s fundamentais <strong>de</strong> uma onda<br />

O termo “onda” está presente em muitas situações e é usado com muita freqüência <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso<br />

dia-a-dia. Ouvimos falar em ondas <strong>de</strong> rádio, ondas <strong>de</strong> televisão, microondas ou mesmo as ondas do<br />

mar, todas com a mesma função: transmitir energia. Uma onda é uma perturbação que se propaga <strong>no</strong><br />

espaço, transmitindo energia, sem que haja, entretanto, transporte <strong>de</strong> matéria junto com a onda.<br />

A representação gráfica <strong>de</strong> uma onda qualquer é feita através <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas<br />

e do tempo, <strong>de</strong><strong>no</strong>minada genericamente <strong>de</strong> função <strong>de</strong> onda. Para um tipo <strong>de</strong> ondas muito especiais,<br />

<strong>de</strong><strong>no</strong>minadas harmônicas, a função <strong>de</strong> onda é uma função se<strong>no</strong>idal (se<strong>no</strong> ou cosse<strong>no</strong> ou uma<br />

combinação linear das duas). A Figura 5 mostra a representação gráfica <strong>de</strong> uma onda <strong>de</strong>ste tipo com<br />

os seus principais elementos.<br />

on<strong>de</strong>:<br />

equilíbrio;<br />

Figura 5 – Representação gráfica <strong>de</strong> uma onda<br />

A = amplitu<strong>de</strong> da onda, que representa o máximo afastamento em relação ao ponto <strong>de</strong><br />

B, C = cristas ou picos, que representam o ponto mais alto da onda;<br />

D, E =vales ou <strong>de</strong>pressões, que representam o ponto mais baixo da onda;<br />

λ = comprimento <strong>de</strong> onda, que é a distância entre duas cristas ou vales sucessivos.<br />

4.2. Princípio <strong>de</strong> Huygens<br />

Imaginemos que, ao jogar uma pedra em águas calmas, produzamos ondas na superfície da<br />

água, semelhantes às ondas mostradas na Figura 6. Imaginemos também que as cristas <strong>de</strong> ondas<br />

mostradas na figura formem círculos que tenham o mesmo centro (concêntricos). Esses círculos<br />

concêntricos são chamados <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> onda.


Figura 6 – Ondas formadas na água<br />

20<br />

O físico holandês Christian Huygens (1629-1695) propôs que cada ponto <strong>de</strong> uma frente <strong>de</strong><br />

onda qualquer, produzida por uma fonte qualquer, comporta-se como uma fonte puntiforme para<br />

<strong>no</strong>vas ondas secundárias, que se propagam a partir <strong>de</strong>ste ponto. Em outras palavras, as frentes <strong>de</strong><br />

onda que se propagam a partir <strong>de</strong> uma fonte qualquer po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas como a superposição<br />

das cristas <strong>de</strong> pequenas ondas secundárias, cada qual tendo sido emitida a partir <strong>de</strong> um ponto da<br />

frente <strong>de</strong> onda num instante anterior; após um intervalo <strong>de</strong> tempo, todas se somam, produzindo,<br />

assim, uma <strong>no</strong>va frente <strong>de</strong> onda resultante, em outra posição do espaço e correspon<strong>de</strong>nte a um<br />

instante <strong>de</strong> tempo posterior. Quando as ondas formadas estão a uma distância muito gran<strong>de</strong> da fonte,<br />

po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rá-las como formando uma superfície aproximadamente plana (frente <strong>de</strong> onda<br />

plana). As ondas planas po<strong>de</strong>m ser geradas, por exemplo, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma cuba retangular contendo<br />

água, on<strong>de</strong> é produzido um movimento <strong>de</strong> vai-e-vem <strong>de</strong> uma régua. Observamos na Figura 7 (a) o<br />

princípio <strong>de</strong> Huygens ilustrado para uma frente <strong>de</strong> onda plana e, na Figura 7 (b), ilustrado para uma<br />

frente <strong>de</strong> onda esférica.<br />

4.3. Difração<br />

Figura 7 – Princípio <strong>de</strong> Huygens aplicado a frentes <strong>de</strong> ondas.<br />

A difração po<strong>de</strong> ser explicada pelo princípio <strong>de</strong> Huygens. O fenôme<strong>no</strong> da difração ocorre<br />

quando uma frente <strong>de</strong> onda encontra um obstáculo ou uma fenda, passa por ele/ela e se espalha


21<br />

lateralmente (ou se difrata) do outro lado do obstáculo ou da fenda, com cada um <strong>de</strong> seus pontos<br />

constituindo uma fonte puntiforme <strong>de</strong> uma onda secundária. Para que o fenôme<strong>no</strong> da difração seja<br />

observado nitidamente, é necessário que as dimensões do obstáculo ou da abertura sejam da or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za do comprimento da onda inci<strong>de</strong>nte. A difração ocorre para qualquer tipo <strong>de</strong> onda e,<br />

através <strong>de</strong>la, por exemplo, um obstáculo po<strong>de</strong> ser contornado. Nas ondas so<strong>no</strong>ras, por exemplo, é o<br />

fato <strong>de</strong> a onda po<strong>de</strong>r contornar um obstáculo que <strong>no</strong>s permite escutar a voz <strong>de</strong> uma pessoa que <strong>no</strong>s<br />

chama, mesmo quando essa pessoa se encontra atrás <strong>de</strong> um obstáculo. A Figura 8 ilustra ondas<br />

planas atravessando aberturas <strong>de</strong> diversos tamanhos.<br />

Figura 8 – Ondas planas atravessando fendas <strong>de</strong> diferentes larguras<br />

A difração também ocorre com a luz, porém é mais difícil percebermos a difração <strong>de</strong> ondas<br />

lumi<strong>no</strong>sas porque os obstáculos ou as aberturas em que a luz inci<strong>de</strong> são <strong>no</strong>rmalmente bastante<br />

gran<strong>de</strong>s em relação ao comprimento <strong>de</strong> onda da luz usada. Entretanto, se fizermos a luz passar por<br />

orifícios cada vez me<strong>no</strong>res, passaremos a observar com facilida<strong>de</strong> cada vez maior os efeitos da<br />

difração (sempre) existente. Po<strong>de</strong>mos comprovar isso fazendo uma simulação computacional num<br />

applet 1 . Com o simulador, po<strong>de</strong>-se realizar uma <strong>de</strong>monstração virtual da difração da luz através <strong>de</strong><br />

uma fenda única. O applet possibilita trabalhar com diferentes tamanhos para a abertura do obstáculo<br />

(fenda) e, também, a troca <strong>de</strong> cores (alterações do comprimento <strong>de</strong> onda) da luz. Outro recurso muito<br />

importante proporcionado pelo simulador é a visualização do gráfico da distribuição da luz difratada<br />

através da fenda única.<br />

4.4. Superposição linear<br />

Sabemos que um corpo material não po<strong>de</strong> ocupar simultaneamente a mesma região do<br />

espaço que outro. Quanto às ondas, uma onda po<strong>de</strong> ocupar a mesma região <strong>no</strong> espaço que outra <strong>no</strong><br />

mesmo instante? E, se ocuparem a mesma região <strong>no</strong> espaço, uma não acabaria interferindo na<br />

propagação da outra? Como po<strong>de</strong>mos explicar isso?<br />

1 O applet está disponível em http://br.geocities.com/sala<strong>de</strong>fisica3/laboratorio/difracao/difracao.htm


22<br />

Duas ou mais ondas po<strong>de</strong>m passar, sim, simultaneamente pela mesma região do espaço.<br />

Quando isso acontece, as ondas se superpõem, isto é, se somam algebricamente, ponto a ponto <strong>no</strong><br />

espaço, para produzir uma onda resultante. A superposição <strong>de</strong> ondas não altera a propagação <strong>de</strong><br />

cada onda; apenas seus efeitos se somam, acentuando-se ou reduzindo-se, quando estão passando<br />

simultaneamente pelo mesmo lugar do espaço, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da diferença entre suas fases<br />

individuais.<br />

Duas ondas <strong>de</strong> mesmo comprimento <strong>de</strong> onda estão em fase se a diferença <strong>de</strong> fase entre elas<br />

for nula ou igual a um número inteiro qualquer <strong>de</strong> comprimentos <strong>de</strong> onda. Se as ondas estão em fase,<br />

combinam-se aumentando sua amplitu<strong>de</strong>; se estiverem fora <strong>de</strong> fase, combinam-se reduzindo sua<br />

amplitu<strong>de</strong>. Novamente po<strong>de</strong>mos comprovar virtualmente esse fenôme<strong>no</strong> fazendo uma simulação<br />

computacional com outro applet 2 . Essa simulação computacional <strong>de</strong>monstra o princípio da<br />

superposição para dois pulsos que se cruzam, em fase ou fora <strong>de</strong> fase, e <strong>de</strong> maneira completa ou<br />

parcial. Através <strong>de</strong> sua manipulação, po<strong>de</strong>mos comprovar que, após os pulsos <strong>de</strong> onda se<br />

encontrarem na mesma região do espaço e se combinarem, voltam a se propagar como se nada<br />

tivesse acontecido.<br />

4.5. Interferência<br />

O fenôme<strong>no</strong> da combinação <strong>de</strong> ondas que acabamos <strong>de</strong> abordar é o da interferência, e se<br />

refere apenas à amplitu<strong>de</strong> da onda, não a sua propagação. A superposição <strong>de</strong> pulsos <strong>de</strong> onda em<br />

fase, portanto, é <strong>de</strong><strong>no</strong>minada interferência construtiva, e a superposição <strong>de</strong> pulsos <strong>de</strong> onda<br />

totalmente fora <strong>de</strong> fase, interferência <strong>de</strong>strutiva. Em outras palavras, se duas ondas chegarem a um<br />

anteparo qualquer em fase, a combinação (soma algébrica) das duas somará seus efeitos; se duas<br />

ondas chegarem a um anteparo qualquer completamente fora <strong>de</strong> fase, a combinação reduzirá o efeito<br />

final em relação aos efeitos que seriam provocados individualmente por cada uma das ondas<br />

sozinha. A interferência é uma característica típica <strong>de</strong> qualquer movimento ondulatório e po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>no</strong>tada em muitos fenôme<strong>no</strong>s do <strong>no</strong>sso dia-a-dia. Sugerimos que sejam realizadas <strong>no</strong> mínimo duas<br />

experiências reais on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos observar a interferência da luz que passa por uma fenda dupla 3 e a<br />

interferência da luz que passa por um fio <strong>de</strong> cabelo 4 , antes <strong>de</strong> seguirmos com essa revisão 5 .<br />

Um aspecto bastante importante referente às fontes das ondas é a questão <strong>de</strong> sua coerência.<br />

Duas fontes <strong>de</strong> onda são consi<strong>de</strong>radas coerentes se a diferença entre suas fases individuais<br />

(diferença <strong>de</strong> fase) não mudar com o tempo quando essas ondas se encontram. Em outras palavras,<br />

é preciso que as fontes mantenham constante sua diferença <strong>de</strong> fase, mesmo quando cada fase<br />

individual varia com o tempo.<br />

4.6. Polarização<br />

2 O applet esta disponível em http://br.geocities.com/sala<strong>de</strong>fisica3/laboratorio/superposicao/superposicao.htm<br />

3 Disponível em: http://educar.sc.usp.br/experimentoteca/fisica/kit6_otica_fisica/exp2_otica_fisica.pdf<br />

4 Disponível em: http://educar.sc.usp.br/experimentoteca/fisica/kit6_otica_fisica/exp3_otica_fisica.pdf<br />

5 Os en<strong>de</strong>reços são apenas sugestões pois existem vários experimentos reais que <strong>de</strong>monstram o fenôme<strong>no</strong> da<br />

interferência que po<strong>de</strong>m ser utilizados.


23<br />

Como acabamos <strong>de</strong> ver, a difração e a interferência aplicam-se a qualquer tipo <strong>de</strong> movimento<br />

ondulatório. Em contrapartida, a polarização, fenôme<strong>no</strong> que passaremos a abordar, é uma<br />

proprieda<strong>de</strong> exclusiva das ondas transversais.<br />

Ondas transversais são aquelas em que a direção <strong>de</strong> propagação e a direção <strong>de</strong> vibração da<br />

onda são transversais, isto é, mutuamente perpendiculares. Como exemplos, po<strong>de</strong>mos citar o<br />

movimento vibratório para cima e para baixo, produzindo uma onda numa corda, ou o movimento,<br />

oscilatório do campo elétrico da luz, se consi<strong>de</strong>rarmos o mo<strong>de</strong>lo ondulatório clássico da mesma.<br />

Ondas longitudinais, ao contrário das transversais, são aquelas em que a direção <strong>de</strong> propagação e a<br />

direção <strong>de</strong> vibração são coinci<strong>de</strong>ntes. As ondas so<strong>no</strong>ras são os exemplos mais familiares <strong>de</strong> ondas<br />

longitudinais.<br />

Como referimos anteriormente, somente as ondas transversais po<strong>de</strong>m ter polarização. Vamos<br />

usar o exemplo da luz para explicar o fenôme<strong>no</strong> da polarização. Polarizar linearmente a luz significa<br />

fazer o campo elétrico da luz oscilar num mesmo pla<strong>no</strong> enquanto ela se propaga; polarizar<br />

circularmente a luz significa fazer o campo elétrico da onda lumi<strong>no</strong>sa da luz girar em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> um<br />

eixo, mantendo sua amplitu<strong>de</strong> constante, ou seja, a direção <strong>de</strong> polarização da onda é, por <strong>de</strong>finição, a<br />

direção <strong>de</strong> oscilação <strong>de</strong> seu campo elétrico. Portanto, a luz po<strong>de</strong> ser polarizada. A luz emitida pelo<br />

Sol ou por lâmpadas comuns, ou a luz refletida pelos objetos, é não-polarizada ou apenas<br />

parcialmente polarizada (<strong>no</strong> caso da luz refletida por objetos). Contudo,como já mencionamos, po<strong>de</strong>m<br />

vir a ser polarizadas se as fizermos atravessar filtros polarizadores <strong>de</strong> luz (filtros polarói<strong>de</strong>s).


5. A experiência da dupla fenda e a natureza ondulatória da luz<br />

5.1. Um pouco da história da luz<br />

Uma das questões mais cruciais da história da ciência sempre foi a <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir se a luz é<br />

constituída por partículas ou por ondas. Essa é a questão da natureza da luz e tem-se <strong>no</strong>tícia <strong>de</strong> que<br />

intrigou os homens <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época dos gregos antigos.<br />

Os gregos antigos acreditavam que a luz fosse formada por minúsculos grãos <strong>de</strong> algum tipo<br />

<strong>de</strong> matéria, certamente diferente da matéria ordinária. Alguns <strong>de</strong>les afirmavam que a luz estava<br />

presente <strong>no</strong>s <strong>no</strong>ssos olhos, na forma <strong>de</strong> pequenas partículas emitidas, que, ao atingirem um objeto,<br />

tornavam-<strong>no</strong> visível. Essa idéia começou a ser questionada <strong>no</strong> início do século XVII e, em 1678, o<br />

astrô<strong>no</strong>mo e físico holandês Christian Huygens (1629-1695) propôs que a luz seria composta por<br />

ondas. Segundo Huygens, a luz podia se propagar <strong>no</strong> vácuo (entre o Sol e a Terra, por exemplo) por<br />

existir uma substância invisível nessa região, uma substância sem massa, difusa e estática, chamada<br />

éter luminífero, que permearia todo o universo e os poros da matéria e que constituiria o meio <strong>de</strong><br />

propagação das ondas lumi<strong>no</strong>sas.<br />

Em 1704, em sua obra Óptica, Isaac Newton (1642-1727) <strong>de</strong>screveu todas as formas <strong>de</strong><br />

comportamento e qualida<strong>de</strong>s da luz, propondo também uma teoria corpuscular da luz, na qual a luz<br />

seria constituída por partículas ou corpúsculos <strong>de</strong> luz. Newton precisou valer-se <strong>de</strong> algumas<br />

hipóteses adicionais para conseguir explicar corretamente as leis da reflexão e refração, já então<br />

conhecidas. Entre as hipóteses auxiliares, Newton admitiu (erroneamente, hoje sabemos) que a<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagação da luz fosse maior na água, ou <strong>no</strong> vidro, do que <strong>no</strong> ar. Dada a gran<strong>de</strong><br />

influência <strong>de</strong> Newton durante os séculos XVIII e XIX, a teoria corpuscular da luz foi aceita sem<br />

gran<strong>de</strong>s questionamentos a partir <strong>de</strong> então, sobrepujando largamente a teoria rival proposta por<br />

Huygens. Além <strong>de</strong> Christian Huygens, o físico inglês Robert Hooke (1635-1703) contrapunha-se à<br />

teoria <strong>de</strong> Newton para a luz, ao explicar a refração da luz com uma teoria ondulatória antiga,<br />

consi<strong>de</strong>rando que a luz se propagasse com velocida<strong>de</strong> me<strong>no</strong>r na água, ou <strong>no</strong> vidro, do que <strong>no</strong> ar.<br />

Foram eles os principais <strong>de</strong>fensores da teoria ondulatória da luz na época. Nessa época ainda não<br />

tinha sido observado o fenôme<strong>no</strong> <strong>de</strong> difração e acreditava-se então, que a luz se propagasse sempre<br />

em linha reta. Esse foi um dos motivos que levaram Newton a rejeitar a teoria ondulatória da luz.<br />

Essa situação perdurou até o início do século XIX. Em 1801, o médico Thomas Young (1773-<br />

1829) corroborou a teoria da natureza ondulatória da luz com seu famoso experimento da fenda<br />

dupla.<br />

5.2. O experimento <strong>de</strong> Young<br />

Nesse experimento, Young <strong>de</strong>monstrou que a luz sofre interferência, um fenôme<strong>no</strong> comum a<br />

todos os tipos <strong>de</strong> onda. O esquema do experimento <strong>de</strong> Young está mostrado, esquematicamente, na<br />

Figura 9.


26<br />

Figura 9 – Esquema experimental <strong>de</strong> Young<br />

Uma fonte <strong>de</strong> luz mo<strong>no</strong>cromática inci<strong>de</strong>nte ilumina a fenda So do anteparo A, on<strong>de</strong> é difratada<br />

pela fenda, espalhando-se em várias direções; ao chegar ao anteparo B , a luz é dividida em dois<br />

feixes e <strong>no</strong>vamente difratada pelas fendas S1 e S2; daí eles seguem, então, para uma tela branca, C,<br />

on<strong>de</strong> se combinam ponto a ponto e dão origem a um padrão <strong>de</strong> franjas claras e escuras alternadas,<br />

típico <strong>de</strong> interferência ondulatória. Esse padrão característico é conhecido pelo <strong>no</strong>me <strong>de</strong> padrão <strong>de</strong><br />

interferência. No anteparo C, os pontos claros são aqueles on<strong>de</strong> as ondas sofrem interferência<br />

construtiva, o que ocorre quando as ondas provenientes das duas fendas chegam ao anteparo com<br />

fases iguais (em fase). O conjunto <strong>de</strong>sses pontos constitui uma franja clara. Em outros pontos, as<br />

ondas sofrem interferência totalmente <strong>de</strong>strutiva, o que ocorre quando as ondas ali inci<strong>de</strong>ntes estão<br />

completamente fora <strong>de</strong> fase (ou seja, com uma diferença <strong>de</strong> fase igual a π radia<strong>no</strong>s). O conjunto<br />

<strong>de</strong>sses pontos forma uma franja escura.<br />

O padrão <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> produzido em razão da interferência tem o aspecto mostrado na<br />

Figura 10(a), não o da Figura 10(b), o que mostra que o padrão resultante da iluminação produzida<br />

pelas duas fendas não é, simplesmente, a soma dos dois padrões obtidos com cada uma das fendas<br />

quando a outra está bloqueada. Se isso ocorresse, a intensida<strong>de</strong> lumi<strong>no</strong>sa na tela seria dada pela<br />

curva mostrada em azul na figura da direita, quando o que se vê, <strong>de</strong> fato, é o padrão <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong><br />

mostrado na figura da esquerda.


27<br />

Figura 10 – Gráfico intensida<strong>de</strong> versus posição na tela<br />

Na Figura 11 (a), a intensida<strong>de</strong> lumi<strong>no</strong>sa em cada ponto do anteparo C <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da diferença<br />

<strong>de</strong> distâncias percorridas pela luz <strong>no</strong>s caminhos seguidos pelos raios r1 e r2, que chegam ao ponto P.<br />

Na Figura 11 (b), supondo que D >> d, (on<strong>de</strong> D é a distância do anteparo B até a tela C e d, a<br />

distância entre as duas fendas) e que S 1, S 2 e b constituam um triângulo retângulo com ângulo<br />

inter<strong>no</strong> θ , po<strong>de</strong>-se mostrar que a diferença entre as distâncias percorridas é dada por:<br />

∆ L = d.<br />

senθ<br />

Figura 11 – Esquema <strong>de</strong> representação do arranjo experimental <strong>de</strong> Young.<br />

Para haver uma franja clara, ∆ L <strong>de</strong>ve ser igual a zero ou a um número inteiro <strong>de</strong><br />

comprimento <strong>de</strong> onda, isto é:<br />

d . senθ<br />

= n.<br />

λ on<strong>de</strong> n = 0,1,2,3,...


28<br />

No caso <strong>de</strong> uma franja escura, portanto, ∆ L <strong>de</strong>ve ser igual a um múltiplo ímpar <strong>de</strong> meios<br />

comprimentos <strong>de</strong> onda, ou seja:<br />

⎛ 1 ⎞<br />

. sen θ = ⎜ n + ⎟. λ<br />

⎝ 2 ⎠<br />

d on<strong>de</strong> n = 0,1,2,3,...<br />

O padrão <strong>de</strong> interferência observado na experiência <strong>de</strong> Young também po<strong>de</strong> ser observado<br />

nas Figuras 12 (a) e 12 (b), que mostram a tela do software Doppelspalt, cujo download po<strong>de</strong> ser feito<br />

gratuitamente a partir do en<strong>de</strong>reço http://www.physik.uni-<br />

uenchen.<strong>de</strong>/didaktik/Computer/Doppelspalt/dslit.html, com o qual passaremos a trabalhar a partir <strong>de</strong><br />

agora.<br />

(a) (b)<br />

Figura 12 – Padrão <strong>de</strong> interferência visualizado na tela do software Doppelspalt.<br />

A partir <strong>de</strong>sse experimento, a teoria ondulatória da luz passou a predominar sobre a teoria<br />

corpuscular <strong>de</strong> Newton, tornando-se o alicerce teórico para a óptica ondulatória <strong>de</strong>senvolvida a partir<br />

<strong>de</strong> então e alcançando sua formulação físico-matemática <strong>de</strong>finitiva na década <strong>de</strong> 1860, com o térmi<strong>no</strong><br />

da formulação do eletromagnetismo pelo físico inglês James Clerk Maxwell (1831-1879).


6. A experiência da dupla fenda e a natureza corpuscular da luz<br />

O experimento <strong>de</strong> Thomas Young foi abordado em termos ondulatórios, quando uma luz<br />

mo<strong>no</strong>cromática é usada como fonte e atravessa duas fendas estreitas e próximas, produzindo numa<br />

tela um padrão <strong>de</strong> interferência semelhante ao que é mostrado na Figura 13.<br />

Figura 13 – Vista lateral do arranjo do experimento <strong>de</strong> Young<br />

Vamos ver, agora, como o resultado observado na tela do arranjo <strong>de</strong> Young po<strong>de</strong> ser<br />

explicado pela teoria quântica da luz, ou seja, usaremos um outro mo<strong>de</strong>lo para a luz, não o mo<strong>de</strong>lo<br />

ondulatório clássico, em que a luz é consi<strong>de</strong>rada uma onda eletromagnética, mas um mo<strong>de</strong>lo<br />

corpuscular da luz, consi<strong>de</strong>rada como um feixe ou uma corrente <strong>de</strong> “partículas <strong>de</strong> luz”, chamadas <strong>de</strong><br />

fótons. Como havíamos feito antes quando explicamos o experimento <strong>de</strong> Young com base na teoria<br />

ondulatória, vamos consi<strong>de</strong>rar que a fonte emite luz mo<strong>no</strong>cromática, ou seja, luz <strong>de</strong> uma única<br />

freqüência (ou cor). Em termos da teoria quântica da luz, isso significa que todos os fótons emitidos<br />

pela fonte têm a mesma energia (lembre-se da relação <strong>de</strong> Planck, Efóton = h.f). O número <strong>de</strong>sses<br />

fótons mo<strong>no</strong>energéticos emitidos por segundo pela fonte é proporcional à gran<strong>de</strong>za que chamamos<br />

<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> lumi<strong>no</strong>sa na teoria ondulatória da luz.<br />

A intensida<strong>de</strong> da onda, <strong>de</strong><strong>no</strong>tada pela letra I, representa a taxa média por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área<br />

com a qual a energia é transportada, isto é, é a energia transportada por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> área:<br />

I =<br />

E<br />

t<br />

A<br />

No mo<strong>de</strong>lo ondulatório, a intensida<strong>de</strong> é proporcional ao quadrado da amplitu<strong>de</strong> do campo<br />

elétrico da onda:<br />

2<br />

I α E . No mo<strong>de</strong>lo corpuscular, a intensida<strong>de</strong>, é proporcional à energia<br />

transportada, a qual é, por sua vez, proporcional ao número <strong>de</strong> fótons inci<strong>de</strong>ntes, I ∝ N.<br />

h.<br />

f , on<strong>de</strong><br />

N é o número <strong>de</strong> fótons inci<strong>de</strong>ntes por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo. De acordo com a mecânica quântica, essa<br />

gran<strong>de</strong>za, por sua vez, é diretamente proporcional à probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrá-los numa <strong>de</strong>terminada


30<br />

região, ou seja, é proporcional ao quadrado da amplitu<strong>de</strong> da função <strong>de</strong> onda. Portanto, se<br />

consi<strong>de</strong>rarmos conjuntamente os dois mo<strong>de</strong>los para a luz, chegaremos à conclusão <strong>de</strong> que<br />

2 2<br />

E α Ψ .<br />

Se diminuirmos a intensida<strong>de</strong> da fonte até que os fótons cheguem ao <strong>de</strong>tector da tela C<br />

praticamente um a um, num intervalo <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> observação muito curto, obteremos a imagem<br />

registrada na Figura 14 (a), on<strong>de</strong> os pontos aparecem aleatoriamente um após o outro, cada qual<br />

correspon<strong>de</strong>ndo a cada fóton <strong>de</strong>tectado na tela <strong>de</strong> maneira localizada. Ainda assim, quando apenas<br />

um fóton inci<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada vez, se esperarmos um tempo suficientemente longo para que muitos pontos<br />

se acumulem na tela, observaremos o gradual surgimento <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong> interferência. Isso <strong>no</strong>s<br />

leva a concluir que cada fóton <strong>de</strong>ve ter interferido consigo mesmo após ter ultrapassado a fenda<br />

dupla, como se tivesse passado simultaneamente pelas duas fendas! (essa situação será ilustrada<br />

com o uso do software da fenda dupla)<br />

Quando o número N <strong>de</strong> fótons inci<strong>de</strong>ntes por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo aumenta muito, aproximando-<br />

se dos valores da or<strong>de</strong>m daqueles que ocorrem <strong>no</strong>rmalmente em situações encontradas <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso<br />

dia-a-dia, a distribuição dos impactos na tela começa a revelar um padrão não aleatório <strong>de</strong> pontos,<br />

como o mostrado na Figura 14 (b). Quando o valor <strong>de</strong> N aumenta ainda mais, o padrão <strong>de</strong>lineado<br />

torna-se mais nítido, como o ilustrado na Figura 14(c).<br />

Se a observação se esten<strong>de</strong>r por um tempo mais longo, aumentando, com isso, o número<br />

total, N, <strong>de</strong> fótons que já atingiram a tela, os pontos impressos passam a se agrupar em faixas bem<br />

<strong>de</strong>finidas, dando origem ao padrão mostrado nas Figuras 14(b) e 14(c).<br />

Figura 14 – Estágios da formação <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong> interferência produzido por dupla fenda.<br />

Através do exemplo numérico, vamos verificar a relação entre o valor da intensida<strong>de</strong> lumi<strong>no</strong>sa<br />

e o número <strong>de</strong> fótons emitidos num <strong>de</strong>terminado instante.<br />

Exemplo 1: A mínima intensida<strong>de</strong> lumi<strong>no</strong>sa que o olho huma<strong>no</strong> médio po<strong>de</strong> perceber é <strong>de</strong><br />

aproximadamente 10 -10 W/m 2 . Se a radiação inci<strong>de</strong>nte possui comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> 5.600<br />

Angstroms, quantos fótons entram por segundo na pupila do olho sob essa intensida<strong>de</strong>? Po<strong>de</strong>-se<br />

tomar a área <strong>de</strong> uma pupila típica como sendo igual a 0,5 x 10 -4 m 2 .<br />

Solução:


Sendo<br />

31<br />

E<br />

I =<br />

t , então: E = (10<br />

A<br />

-10 w/m 2 ) x (0,5 x 10 -4 m 2 ) x (1 s)<br />

Sendo E N.<br />

h.<br />

f<br />

E = 5.10 -15 J<br />

= , então N = 1,4075.10 4 fótons/s<br />

Se uma das fendas for coberta, impedindo-se a passagem <strong>de</strong> fótons através <strong>de</strong>la,<br />

observaremos na tela um padrão <strong>de</strong> difração <strong>de</strong> fenda única parecido com o que é mostrado na<br />

Figura 15. Agora os fótons inci<strong>de</strong>m em pontos da tela que antes não atingiam quando as duas fendas<br />

estavam abertas.<br />

Figura 15 – Padrão <strong>de</strong> difração produzido por fenda única<br />

Isso acontece porque o fóton que inci<strong>de</strong> na tela comporta-se agora como uma partícula<br />

clássica, bem localizada e que passa por apenas uma das fendas, sem revelar qualquer sombra <strong>de</strong><br />

um comportamento tipicamente ondulatório, ou seja, concluímos que um fóton po<strong>de</strong> apresentar tanto<br />

proprieda<strong>de</strong>s corpusculares quanto ondulatórias, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do arranjo experimental que se utiliza<br />

para efetuar o experimento com ele! Em contrapartida, admitindo que um objeto quântico tenha<br />

também um caráter ondulatório, po<strong>de</strong>mos usar as proprieda<strong>de</strong>s ondulatórias associadas a<br />

h<br />

comprimento <strong>de</strong> onda, entre essas a relação <strong>de</strong> Broglie ( λ = ).<br />

p


7. Dualida<strong>de</strong> onda-partícula para luz: onda eletromagnética x feixe <strong>de</strong> fótons<br />

Sob <strong>de</strong>terminadas condições, a radiação eletromagnética apresenta proprieda<strong>de</strong>s tipicamente<br />

ondulatórias, tais como difração, interferência e polarização (o experimento <strong>de</strong> Young constituiu uma<br />

manifestação basicamente da interferência). Sob outras condições, porém, a radiação<br />

eletromagnética comporta-se como se fosse constituída por um feixe <strong>de</strong> partículas. Esses aspectos<br />

corpusculares da luz só foram revelados pela primeira vez em experimentos realizados nas primeiras<br />

décadas do século XX, embora o efeito fotoelétrico, <strong>de</strong> 1887 constitua <strong>de</strong> fato uma manifestação<br />

<strong>de</strong>sse caráter. Nesse mo<strong>de</strong>lo corpuscular a radiação eletromagnética é consi<strong>de</strong>rada como sendo um<br />

feixe ou uma corrente <strong>de</strong> partículas <strong>de</strong> luz, ou quanta <strong>de</strong> luz, chamadas atualmente <strong>de</strong> fótons.<br />

Dessa forma, a radiação revela um “duplo caráter” físico, o que significa dizer que se<br />

comporta como onda sob <strong>de</strong>terminadas circunstâncias e como partículas sob outras. Nenhuma das<br />

teorias – ondulatória e corpuscular – explica sozinha todos os aspectos e comportamentos da<br />

radiação observados na natureza. Não faz sentido dizer que a radiação “é” uma onda<br />

eletromagnética, ou “é” um feixe <strong>de</strong> fótons, mas, sim, que é <strong>de</strong>scrita pela física com dois mo<strong>de</strong>los<br />

matemáticos concorrentes – o mo<strong>de</strong>lo ondulatório e o mo<strong>de</strong>lo corpuscular. Portanto, as ondas<br />

eletromagnéticas não são fenôme<strong>no</strong>s puramente ondulatórios nem puramente corpusculares.<br />

O fato <strong>de</strong> a natureza da luz <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser consi<strong>de</strong>rada somente como ondulatória foi<br />

inicialmente revelado, como afirmamos, <strong>no</strong> efeito fotoelétrico, que não podia ser explicado<br />

corretamente com base na teoria ondulatória da luz. Foi Einstein quem, em seu artigo <strong>de</strong> 1905 sobre<br />

o efeito fotoelétrico, propôs o <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo corpuscular da luz, juntamente com o conceito <strong>de</strong><br />

quantum <strong>de</strong> luz. Outros experimentos, porém, especialmente concebidos para testar a hipótese <strong>de</strong><br />

Einstein, revelaram que, sob <strong>de</strong>terminadas condições (ou seja, para <strong>de</strong>terminados arranjos<br />

experimentais), a radiação realmente se comporta como se fosse formada por um feixe <strong>de</strong> fótons. Um<br />

<strong>de</strong>sses experimentos cruciais foi o <strong>de</strong> espalhamento <strong>de</strong> raios X em superfícies metálicas, realizado<br />

repetidas vezes e com muita precisão por Compton e sua equipe <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s da década <strong>de</strong><br />

1920. A partir <strong>de</strong>le, a comunida<strong>de</strong> dos físicos começou a, gradualmente aceitar a valida<strong>de</strong> da<br />

hipótese <strong>de</strong> Einstein para explicar o comportamento observado da radiação.<br />

Paradoxalmente, a observação do efeito fotoelétrico aconteceu quando Heinrich Hertz<br />

realizava experiências para confirmar a existência das ondas eletromagnéticas, em 1887. Hertz<br />

observou que, quando a radiação lumi<strong>no</strong>sa ultravioleta incidia sobre um eletrodo negativamente<br />

carregado e feito <strong>de</strong> um metal alcali<strong>no</strong>, promovia uma <strong>de</strong>scarga elétrica (corrente elétrica) entre esse<br />

eletrodo e o outro (carregado positivamente). Isso constituía uma indicação <strong>de</strong> que os elétrons<br />

conseguiam sair da superfície do metal do eletrodo negativamente carregado pela absorção <strong>de</strong><br />

energia a partir da luz inci<strong>de</strong>nte. Nos a<strong>no</strong>s que se seguiram a sua <strong>de</strong>scoberta, o efeito fotoelétrico<br />

passou a ser estudado <strong>de</strong>talhadamente com arranjos experimentais que consistiam, basicamente,<br />

numa câmara lacrada on<strong>de</strong> era feito vácuo, contendo numa das extremida<strong>de</strong>s uma placa <strong>de</strong> metal<br />

alcali<strong>no</strong> ligada ao pólo negativo <strong>de</strong> uma bateria, um coletor metálico do lado oposto ao da câmara,<br />

ligado ao pólo positivo da bateria, uma fonte <strong>de</strong> tensão contínua, um voltímetro e um amperímetro,<br />

conforme mostrado na Figura 16.


34<br />

Figura 16 – Arranjo experimental do efeito fotoelétrico<br />

Entre os dois eletrodos é mantida pela bateria uma diferença <strong>de</strong> potencial cuja polarida<strong>de</strong><br />

podia ser invertida, <strong>de</strong> modo que os elétrons ejetados do metal (chamados <strong>de</strong> fotoelétrons) alcali<strong>no</strong><br />

pu<strong>de</strong>ssem ser tanto acelerados quanto freados em seu caminho em direção à outra placa. Quando a<br />

luz bate na placa, vários <strong>de</strong> seus elétrons superficiais adquirem energia da radiação inci<strong>de</strong>nte<br />

suficiente para que se libertar do campo eletrostático, que os atrai <strong>de</strong> volta para a placa alcalina, e<br />

abandonam o metal com uma <strong>de</strong>terminada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia cinética. Esses elétrons, portanto,<br />

passam a contribuir para a corrente elétrica entre as duas placas, que podia ser medida através do<br />

amperímetro. Para o caso em que a diferença <strong>de</strong> potencial entre as placas está com polarida<strong>de</strong><br />

invertida em relação à da figura mostrada acima, um aumento do valor absoluto <strong>de</strong>ssa voltagem<br />

provoca portanto, uma diminuição da corrente elétrica da <strong>de</strong>scarga. O valor mínimo <strong>de</strong> potencial <strong>de</strong><br />

freamento para o qual a corrente cessa totalmente é chamado <strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> corte. Neste caso,<br />

todos os fotoelétrons provenientes da placa emissora são freados o suficiente para que nenhum<br />

<strong>de</strong>les, nem mesmo os mais energéticos, alcance a placa coletora. Isso significa, então, que a energia<br />

cinética dos fotoelétrons mais energéticos é toda convertida em energia potencial elétrica <strong>no</strong><br />

momento em que o elétron pára e começa a inverter seu movimento. Assim, medindo-se o valor do<br />

potencial <strong>de</strong> corte podia-se <strong>de</strong>terminar a energia cinética máxima dos fotoelétrons emitidos, com<br />

velocida<strong>de</strong> máxima, a partir da placa alcalina.<br />

Entretanto, o comportamento observado nesses experimentos não podia ser explicado <strong>de</strong><br />

acordo com algumas consi<strong>de</strong>rações da teoria ondulatória clássica da luz. Havia, basicamente, três<br />

resultados experimentais que não podiam ser explicados pela física clássica:<br />

1 0 - Como mostrado na Figura 17, a corrente elétrica fluía somente para valores <strong>de</strong> potencial<br />

<strong>de</strong> freamento superiores ao do potencial <strong>de</strong> corte (VF na figura). Este comportamento era idêntico


35<br />

para várias intensida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> luz ultravioleta inci<strong>de</strong>nte, embora o valor do potencial <strong>de</strong> corte fosse<br />

sempre o mesmo, ou seja, a energia cinética máxima dos fotoelétrons in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da intensida<strong>de</strong> da<br />

luz, ao passo que a física clássica prediz que a energia cinética dos fotoelétrons <strong>de</strong>veria aumentar<br />

sempre que a intensida<strong>de</strong> da luz aumentasse!<br />

Figura 17 – Gráfico da corrente i em função do potencial V. Os dados foram obtidos com o<br />

aparelho da Figura 16.<br />

2 0 – Para qualquer que fosse o valor da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iluminação, existia um valor mínimo<br />

<strong>de</strong> freqüência da luz abaixo do qual o efeito fotoelétrico não ocorria. Isso indicava que a energia<br />

cinética dos fotoelétrons <strong>de</strong>pendia da freqüência da luz usada, mas não <strong>de</strong> sua intensida<strong>de</strong>.<br />

Entretanto, <strong>de</strong> acordo com a teoria eletromagnética <strong>de</strong> Maxwell, a energia cinética dos fotoelétrons<br />

<strong>de</strong>veria in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da freqüência da luz, mas ser <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da intensida<strong>de</strong> lumi<strong>no</strong>sa!<br />

3 0 – Não parecia haver um intervalo <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> retardo <strong>de</strong>tectável entre o instante em que a<br />

luz incidia sobre a placa e o instante em que surgia a corrente <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga. Mas a teoria clássica da<br />

luz exigia que, a fim <strong>de</strong> acumular energia suficiente para sair do metal, os elétrons <strong>de</strong>veriam ficar<br />

absorvendo energia a partir da radiação durante certo intervalo mínimo <strong>de</strong> tempo, que correspon<strong>de</strong>ria<br />

ao tempo <strong>de</strong> retardo esperado entre a incidência da luz e o aparecimento da corrente elétrica.<br />

Einstein explicou o efeito fotoelétrico propondo uma <strong>no</strong>va versão da velha teoria ondulatória<br />

clássica da luz, qual seja, a hipótese <strong>de</strong> que a luz é formada por pacotes concentrados <strong>de</strong> energia ou<br />

quanta <strong>de</strong> luz, chamados atualmente <strong>de</strong> fótons. Com essa hipótese, ele conseguiu explicar com<br />

simplicida<strong>de</strong> as três a<strong>no</strong>malias <strong>de</strong>scritas acima:


36<br />

1 0 – No primeiro caso, <strong>no</strong> qual a energia cinética não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> da luz, a teoria<br />

dos quanta admite que, ao aumentar a intensida<strong>de</strong> da luz, é o número <strong>de</strong> fótons inci<strong>de</strong>ntes que<br />

aumenta e, conseqüentemente, a corrente fotoelétrica também, mas não a energia cinética máxima<br />

<strong>de</strong>sses elétrons, pois tal energia viria da absorção <strong>de</strong> um fóton, cuja energia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da freqüência,<br />

não da intensida<strong>de</strong> da luz.<br />

2 0 – No segundo caso, <strong>no</strong> qual a freqüência da luz inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>veria ter um valor mínimo (f0),<br />

Einstein argumentou que, quando a energia cinética do fotoelétron é nula, o fóton doador <strong>de</strong>ve<br />

possuir uma energia exatamente necessária para ejetar os elétrons; e que, quando a freqüência é<br />

me<strong>no</strong>r do que f 0, os fótons inci<strong>de</strong>ntes não possuem a energia suficiente para doar aos elétrons e,<br />

assim, conseguir fazer com que vençam a atração eletrostática da placa emissora e saiam <strong>de</strong>la para<br />

formar a corrente <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga. Enquanto os elétrons se afastam da superfície da placa emissora, o<br />

campo elétrico produzido por esta realiza um trabalho negativo (correspon<strong>de</strong>nte ao freamento dos<br />

elétrons) <strong>de</strong> valor absoluto igual a w 0 , que Einstein <strong>de</strong><strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u função-trabalho do metal, ou seja, do<br />

total <strong>de</strong> energia que o elétron absorve ao absorver um fóton (h.f), uma parte fica com o metal ( w 0 ) e<br />

o restante, com o fotoelétron, na forma <strong>de</strong> energia cinética. Isso que expressamos com palavras po<strong>de</strong><br />

ser simbolicamente expresso pela equação (Einstein, 1905).<br />

K = hf −<br />

w0<br />

K = 0 → 0 w hf =<br />

3 0 – No terceiro caso, a ausência <strong>de</strong> retardamento é automaticamente explicada, pois a<br />

energia é absorvida pelos elétrons da placa emissora <strong>de</strong> uma só vez, em “pacotes” inteiros (fótons),<br />

não <strong>de</strong> forma gradual, a partir do campo elétrico <strong>de</strong> uma onda eletromagnética, como pensavam os<br />

físicos clássicos.<br />

São indiscutíveis as contribuições que Einstein <strong>no</strong>s trouxe com seus trabalhos, especialmente<br />

para a natureza da luz. Nos dias <strong>de</strong> hoje evi<strong>de</strong>nciamos o efeito fotoelétrico em muitas aplicações do<br />

ponto <strong>de</strong> vista tec<strong>no</strong>lógico, tais como visores <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s, fotômetros, dispositivos eletrônicos que<br />

controlam as portas <strong>de</strong> elevadores etc.<br />

A partir daí, a radiação eletromagnética, até então explicada apenas como sendo uma onda<br />

eletromagnética, passou a ter também um caráter corpuscular. Do ponto <strong>de</strong> vista filosófico, a<br />

<strong>de</strong>scoberta do comportamento dual da onda-partícula representou um marco do pensamento<br />

racional.


37<br />

8. A experiência da fenda dupla com feixe <strong>de</strong> elétrons<br />

O experimento <strong>de</strong> fenda dupla também po<strong>de</strong> ser realizado com feixes <strong>de</strong> objetos<br />

microscópicos, idênticos e dotados <strong>de</strong> massa. Nosso protótipo <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> objeto microscópico será<br />

o elétron. O que po<strong>de</strong>mos esperar como resultado <strong>de</strong>sse experimento levado a cabo com um feixe <strong>de</strong><br />

elétrons, em vez <strong>de</strong> luz (que é um feixe <strong>de</strong> fótons sem massa)? De acordo com tudo que apren<strong>de</strong>mos<br />

em toda a <strong>no</strong>ssa experiência <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa relação com o mundo material a este respeito, se os<br />

elétrons são partículas massivas, então <strong>de</strong>veriam se comportar como bolinhas muito pequenas<br />

(dotadas <strong>de</strong> carga elétrica, além <strong>de</strong> massa), mas essencialmente bolinhas, nada mais que isso.<br />

A partir daí, a experiência cotidiana <strong>no</strong>s sugere que tal experimento seria muito parecido com<br />

uma brinca<strong>de</strong>ira que consiste em atirar um feixe <strong>de</strong> bolas − bolas <strong>de</strong> tênis, digamos − em alta<br />

velocida<strong>de</strong> e uma <strong>de</strong> cada vez (imagine-se uma gran<strong>de</strong> máquina construída para essa finalida<strong>de</strong>,<br />

uma espécie <strong>de</strong> “metralhadora <strong>de</strong> bolas <strong>de</strong> tênis”) contra uma pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> cimento on<strong>de</strong> existissem<br />

duas janelas (as “fendas”). As janelas têm seus centros separados por uma <strong>de</strong>terminada distância d.<br />

Uma vez que as bolas são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>, todas conseguiriam chegar à pare<strong>de</strong> e algumas<br />

conseguiriam entrar na sala que existe após a pare<strong>de</strong>, atravessando-a em alta velocida<strong>de</strong> e atingindo<br />

uma pare<strong>de</strong> que se encontra do lado oposto da sala. Para melhorar ainda mais a analogia com a<br />

situação da experiência <strong>de</strong> fenda dupla com elétrons, po<strong>de</strong>ríamos imaginar também que as bolas <strong>de</strong><br />

tênis atiradas pela máquina saíssem todas pintadas com uma leve camada <strong>de</strong> tinta vermelha e que<br />

as pare<strong>de</strong>s da sala após a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> porta dupla fossem pintadas <strong>de</strong> branco e, inicialmente, sem<br />

nenhuma marca.<br />

Se a finalida<strong>de</strong> da <strong>no</strong>ssa máquina não fosse a <strong>de</strong> atirar bolas <strong>de</strong> tênis, mas, sim, <strong>de</strong> produzir<br />

ondas na água, observaríamos que as ondas se espalhariam por toda a pare<strong>de</strong> além da janela. E<br />

com as bola <strong>de</strong> tênis, o efeito observado seria o mesmo? Como você, leitor, acha que seria a<br />

aparência da pare<strong>de</strong> oposta da sala após termos esperado tempo suficiente para que um número<br />

muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> bolas <strong>de</strong> tênis tenha sido arremessado pela máquina?<br />

Diferentemente das ondas produzidas na água, cada bola atingirá a pare<strong>de</strong> em apenas uma<br />

posição. Vamos imaginar ,inicialmente, que apenas uma das janelas está aberta. Embora algumas<br />

das bolas ricocheteiem nas bordas da janela, a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma bola passar pela janela é muito<br />

maior do que a <strong>de</strong> ela bater na borda da janela e ser <strong>de</strong>sviada lateralmente. Se esperarmos por<br />

algum tempo, vamos verificar que as marcas <strong>de</strong>ixadas na pare<strong>de</strong> oposta vão gradualmente revelando<br />

um padrão. A maior parte das bolas inci<strong>de</strong> na pare<strong>de</strong> oposta numa região situada aproximadamente<br />

entre as duas linhas perpendiculares à pare<strong>de</strong> e que passam pelas bordas laterais da mesma. Fora<br />

<strong>de</strong>ssa região, o número <strong>de</strong> marcas diminui rapidamente, tanto para um lado como para outro.<br />

Po<strong>de</strong>mos visualizar o padrão resultante na Figura 18, on<strong>de</strong> usamos o software Doppelspalt para uma<br />

fonte <strong>de</strong> balas <strong>de</strong> espingarda na mesma situação <strong>de</strong>scrita acima (somente uma fenda aberta). Um<br />

padrão semelhante é observado quando for a outra janela que estiver aberta, apenas com um<br />

peque<strong>no</strong> <strong>de</strong>slocamento para o lado da <strong>no</strong>va janela aberta. Essa distribuição resultante <strong>de</strong> marcas<br />

correspon<strong>de</strong> à <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma bola atravessar a sala e colidir com a pare<strong>de</strong><br />

oposta na vizinhança <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado ponto quando apenas uma das janelas está aberta.


38<br />

Figura 18 – Lado esquerdo: Padrão observado <strong>no</strong> software Doppelspalt quando a fonte é uma<br />

metralhadora e apenas uma das fendas está aberta. Lado Direito: Gráfico do número <strong>de</strong> impactos na<br />

tela em função da posição na mesma. O centro do gráfico é um ponto da tela diretamente à frente do<br />

centro da fenda.<br />

Continuando com <strong>no</strong>ssa brinca<strong>de</strong>ira, vamos agora imaginar que as duas janelas estejam<br />

abertas. Neste caso, o que você imagina que acontece com as marcas <strong>de</strong> bolas na pare<strong>de</strong> oposta à<br />

medida que o número <strong>de</strong> impactos vai se tornando muito gran<strong>de</strong>? A distribuição das marcas que as<br />

bolas <strong>de</strong>ixam na pare<strong>de</strong> oposta da sala, isto é, sua distribuição, será parecida com a do caso<br />

anterior?<br />

Certamente, com as duas janelas abertas aumenta o número total <strong>de</strong> bolas que inci<strong>de</strong>m na<br />

pare<strong>de</strong> oposta da sala. Com o <strong>de</strong>correr do tempo, observamos que vai surgindo gradualmente um<br />

padrão na distribuição das marcas, com duas regiões on<strong>de</strong> existem altas concentrações <strong>de</strong> marcas<br />

<strong>de</strong> impacto, centradas em pontos separados por uma distância aproximadamente igual à que existe<br />

entre os centros das janelas (d). Essa distribuição resultante, na verda<strong>de</strong>, nada mais é do que a soma<br />

<strong>de</strong> duas distribuições, como a da Figura 18, mas <strong>de</strong>slocadas por uma distância aproximadamente<br />

igual a d, como po<strong>de</strong>mos observar na Figura 19. Essa distribuição resultante <strong>de</strong> marcas correspon<strong>de</strong><br />

à <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma bola atravessar a sala e colidir com a pare<strong>de</strong> oposta na<br />

vizinhança <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado ponto quando ambas as janelas estão abertas.<br />

FIGURA 19: Padrão observado <strong>no</strong> software Doppelspalt quando a fonte são balas <strong>de</strong><br />

metralhadora e as duas fendas estão abertas. A distância aproximada d entre os centros dos dois<br />

picos do gráfico é <strong>de</strong> 50 unida<strong>de</strong>s.


39<br />

Entretanto, o que <strong>no</strong>s garante que as bolas não interferem entre si, como ocorre com as<br />

ondas <strong>no</strong> experimento <strong>de</strong> Young, quando foi comprovada a interferência da luz que passa por duas<br />

fendas? Ou as bolas não po<strong>de</strong>riam ricochetear umas contra as outras, <strong>de</strong>sviando-se por todos os<br />

lados? Isso não seria um tipo <strong>de</strong> interferência? Sim, seria, mas, para que isso ocorra, as bolas<br />

<strong>de</strong>veriam ter saído da máquina ao mesmo tempo, o que não acontece. (Imagine-se a situação<br />

ilustrada na Figura 20, em que <strong>no</strong>ssa máquina fosse semelhante a uma metralhadora. Suas balas<br />

não sairiam ao mesmo tempo da metralhadora, mas uma <strong>de</strong> cada vez, embora com alta freqüência.)<br />

Ou seja, cada bola <strong>de</strong>ve ter passado por uma ou por outra janela, mas não por ambas ao mesmo<br />

tempo!<br />

Figura 20 – Balas <strong>de</strong> metralhadora incidindo em duas fendas<br />

E se usarmos elétrons <strong>no</strong> lugar <strong>de</strong> bolas? Vamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado a <strong>no</strong>ssa metralhadora <strong>de</strong><br />

bolas <strong>de</strong> tênis e imaginar agora que a fonte seja um filamento aquecido capaz <strong>de</strong> emitir elétrons, os<br />

quais são colimados na saída da fonte, formando um feixe direcionado (como se fosse um canhão <strong>de</strong><br />

elétrons). Que padrão você acha que será agora observado na tela (semelhante à <strong>no</strong>ssa “pare<strong>de</strong> do<br />

lado oposto da sala” da analogia anterior)? Como você acha que o resultado do experimento <strong>de</strong> duas<br />

fendas po<strong>de</strong>ria ser interpretado neste caso? O padrão observado na pare<strong>de</strong>, que agora será<br />

representado por pontos causados pelos impactos dos elétrons numa tela pintada com tinta sensível<br />

aos impactos. O padrão <strong>de</strong> impactos que vai se formando à medida que o tempo passa será o<br />

mesmo observado com as bolas <strong>de</strong> tênis?<br />

Para quantificar a distribuição dos elétrons na tela, po<strong>de</strong>mos usar um contador <strong>de</strong> Geiger,<br />

posicionado em cada posição da mesma, o qual <strong>no</strong>s permite realizar uma contagem cumulativa dos<br />

impactos numa vizinhança daquele ponto. A Figura 21 é uma representação esquemática <strong>de</strong> como<br />

fica o arranjo experimental <strong>de</strong> Young quando a fonte passa a ser <strong>de</strong> elétrons. O padrão <strong>de</strong> impactos


40<br />

das bolas <strong>de</strong> tênis e o padrão resultante dos impactos eletrônicos estão mostrados juntos, para<br />

comparação, <strong>no</strong> lado direito da figura. O padrão mostrado mais à direita correspon<strong>de</strong> ao dos impactos<br />

<strong>de</strong> elétrons na tela.<br />

Figura 21 – Arranjo experimental <strong>de</strong> Young com elétrons. O padrão mostrado mais à direita<br />

correspon<strong>de</strong> ao dos impactos <strong>de</strong> elétrons na tela.<br />

Assim que o filamento aquece bastante e começa a emitir elétrons, observamos na tela C que<br />

um padrão começa a se formar e fica evi<strong>de</strong>nte que a distribuição é muito diferente daquela obtida<br />

com as bolas <strong>de</strong> tênis da experiência imaginária anterior, pois os elétrons <strong>de</strong>tectados na tela não<br />

diminuem tanto para um lado como para outro, mas, sim, distribuem-se em bandas, com espaços<br />

negros entre elas, em regiões on<strong>de</strong> poucos elétrons ou nenhum elétron chega, exatamente como <strong>no</strong><br />

caso do experimento <strong>de</strong> Young para a radiação eletromagnética. O padrão observado é o mesmo da<br />

interferência com luz! Ou seja, neste experimento, os elétrons estão se comportando como se fossem<br />

ondas. Será que isso está acontecendo porque o número <strong>de</strong> elétrons emitidos é muito gran<strong>de</strong>? O que<br />

observaríamos se fosse emitido apenas um elétron <strong>de</strong> cada vez, <strong>de</strong> maneira que apenas um <strong>de</strong>les<br />

inci<strong>de</strong> <strong>no</strong> anteparo <strong>de</strong> fenda dupla e também na tela <strong>de</strong> cada vez? Antes <strong>de</strong> ler as observações<br />

registradas abaixo, use o software Doppelspalt e verifique por sua conta.<br />

As observações registradas são as seguintes:<br />

1. O <strong>de</strong>tector só registra números inteiros <strong>de</strong> elétrons, pois nunca chegam até ele elétrons<br />

fracionados (po<strong>de</strong>mos comparar essa característica para partículas clássicas como balas <strong>de</strong><br />

metralhadoras ou sprays);<br />

2. Se a fonte <strong>de</strong> elétrons for muito fraca, eles chegarão ao <strong>de</strong>tector ao acaso e praticamente<br />

um a um. Po<strong>de</strong>mos medir a distribuição <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte a ter uma só fenda aberta<br />

(que é igual a P1 ou P2), ou a duas fendas abertas (P1,2 ≠ P1 + P2). Mesmo com a intensida<strong>de</strong> da fonte<br />

muito fraca, se esperarmos por um tempo suficientemente longo, obteremos uma figura <strong>de</strong><br />

interferência tal qual a obtida com as ondas lumi<strong>no</strong>sas;<br />

3. Se uma das fendas for fechada, os elétrons <strong>de</strong>tectados na tela acumulam-se formando um<br />

típico padrão <strong>de</strong> difração <strong>de</strong> fenda única, com franjas brilhantes laterais a uma central. Isso é bem


41<br />

diferente do caso das bolas <strong>de</strong> tênis atiradas contra uma única fenda (janela), que não formam um<br />

padrão como esse, pois seu comprimento <strong>de</strong> onda é muito peque<strong>no</strong> em relação à largura das fendas.<br />

Isso faz com que as franjas <strong>de</strong> difração fiquem tão juntas que se superpõem, resultando numa região<br />

com iluminação mais ou me<strong>no</strong>s uniforme, sem franjas. Por isso não as <strong>no</strong>tamos <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> objetos<br />

macroscópicos dotados <strong>de</strong> massa.<br />

As observações <strong>de</strong>stacadas nesse experimento distribuem-se da seguinte maneira: as<br />

observações 1 e 2 são características <strong>de</strong> partículas clássicas, mas a observação 3 tem característica<br />

<strong>de</strong> ondas! Como conciliar isso? Como po<strong>de</strong>mos aceitar esse comportamento aparentemente<br />

contraditório e muito estranho? Só temos uma conclusão plausível:<br />

Os elétrons (ou outras partículas quânticas) não se comportam nem como partículas<br />

clássicas nem como ondas clássicas, embora, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do experimento que se realize, revelem<br />

possuir proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ambas.<br />

Esse experimento <strong>no</strong>s mostra que elétrons e outras partículas quânticas compartilham do<br />

caráter ondulatório com o eletromagnetismo clássico, assim como as radiações eletromagnéticas<br />

compartilham com as partículas clássicas um caráter corpuscular da forma como Einstein postulou:<br />

pacotes <strong>de</strong> energia para a radiação.<br />

Se partículas quânticas, tais como elétrons e fótons, possuem tanto proprieda<strong>de</strong>s<br />

corpusculares quanto ondulatórias, o que você pensa a respeito das partículas macroscópicas? Elas<br />

não po<strong>de</strong>riam também apresentar esse comportamento dual, ou seja, apresentar ora um<br />

comportamento tipicamente corpuscular, ora um tipicamente ondulatório?<br />

Essa questão foi abordada em 1923-1924 pelo físico francês Louis <strong>de</strong> Broglie quando<br />

<strong>de</strong>senvolvia sua tese <strong>de</strong> doutoramento em física teórica. Ele, então, propôs que aquilo que<br />

chamamos <strong>de</strong> partículas ou corpos, por serem feitos <strong>de</strong> matéria, seriam, na verda<strong>de</strong>, ondas <strong>de</strong><br />

matéria, <strong>de</strong> maneira que o comportamento dual (isto é, ora <strong>de</strong> onda, ora <strong>de</strong> partícula ou corpúsculo),<br />

até então apenas associado à radiação eletromagnética, também se aplicaria à matéria. Assim, para<br />

a matéria também a energia está relacionada com a freqüência <strong>de</strong> uma onda associada, como <strong>no</strong><br />

caso da radiação: E = h.f. De acordo com De Broglie, todos os corpos − elétrons, fótons, átomos,<br />

balas <strong>de</strong> metralhadoras, pessoas, animais ou planetas − possuem um comprimento <strong>de</strong> onda dado<br />

por uma relação que já foi vista <strong>no</strong> tópico 5:<br />

h<br />

=<br />

p<br />

λ , on<strong>de</strong> p = m.<br />

v .<br />

Na relação <strong>de</strong> De Broglie (como é chamada a equação acima), gran<strong>de</strong>zas características <strong>de</strong><br />

partículas (energia e momentum) estão agora associados a gran<strong>de</strong>zas características <strong>de</strong> ondas<br />

(freqüência e comprimento <strong>de</strong> onda), através da constante <strong>de</strong> Planck (h).<br />

Se todos os corpos apresentam, além <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s corpusculares, também proprieda<strong>de</strong>s<br />

ondulatórias, por que não evi<strong>de</strong>nciamos isso <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso cotidia<strong>no</strong>? Se isso acontece, não po<strong>de</strong>ríamos<br />

dizer, por exemplo, que as balas que saem <strong>de</strong> uma metralhadora, ao invés <strong>de</strong> seguirem em linha reta,<br />

<strong>de</strong>veriam apresentar efeitos típicos <strong>de</strong> difração e <strong>de</strong> interferência, como padrões <strong>de</strong> franjas obtidos<br />

com feixes <strong>de</strong> metralhadora.


42<br />

Os efeitos ondulatórios não são observados em objetos macroscópicos porque os<br />

comprimentos <strong>de</strong> onda <strong>de</strong>sses corpos são muito peque<strong>no</strong>s, <strong>de</strong> tal modo que a interferência e a<br />

difração são <strong>de</strong>sprezíveis. Já com objetos quânticos, dotados <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> movimento muito<br />

me<strong>no</strong>res e que correspon<strong>de</strong>m a comprimentos <strong>de</strong> onda muito maiores, a difração po<strong>de</strong> ser<br />

apreciável. Da mesma forma, não evi<strong>de</strong>nciamos a natureza ondulatória da propagação da luz em<br />

ótica geométrica porque as dimensões dos equipamentos utilizados (como lentes, espelhos ou<br />

fendas) são bastante gran<strong>de</strong>s quando comparados com o comprimento <strong>de</strong> onda da luz.


9. A função <strong>de</strong> onda e a natureza probabilística da teoria quântica<br />

Agora que confirmamos em <strong>no</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s virtuais o caráter ondulatório das partículas,<br />

que confirma a hipótese <strong>de</strong> De Broglie, vamos verificar qual gran<strong>de</strong>za física explica a natureza<br />

<strong>de</strong>ssas ondas. Como po<strong>de</strong>mos associar uma função ao movimento <strong>de</strong> uma partícula microscópica?<br />

Qual o tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição que temos para os movimentos em escala microscópica?<br />

As respostas às <strong>no</strong>ssas questões foram objetos <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> muitos físicos e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

várias tentativas sem nenhum sucesso, verificou-se que nenhuma gran<strong>de</strong>za física até então<br />

conhecida explicava a natureza <strong>de</strong>ssas ondas. Para tentar solucionar essa questão, foi proposta uma<br />

função <strong>de</strong> Onda, a função psi (Ψ), da qual tratamos, juntamente com uma interpretação física para a<br />

mesma.<br />

O <strong>de</strong>staque histórico da época foi para dois gran<strong>de</strong>s <strong>no</strong>mes: Edwin Schrödinger, em 1926, e<br />

Max Born, em 1927. Schrödinger <strong>de</strong>stacou-se pela <strong>de</strong>scoberta da equação que leva o seu <strong>no</strong>me, a<br />

qual <strong>de</strong>termina a evolução temporal da função <strong>de</strong> onda Ψ associada a objetos microscópicos. Como<br />

mencionamos <strong>no</strong> tópico 2, a entida<strong>de</strong> matemática que <strong>de</strong>screve o estado <strong>de</strong> um sistema quântico é<br />

sua função <strong>de</strong> onda Ψ , que é uma solução da equação <strong>de</strong> Schrödinger. A função <strong>de</strong> onda contém<br />

todas as informações físicas a respeito do estado do sistema que <strong>de</strong>screve, ou seja, po<strong>de</strong>mos<br />

i<strong>de</strong>ntificá-la como o próprio estado do sistema quântico, pois é ela que <strong>de</strong>fine completamente o<br />

estado do sistema quântico correspon<strong>de</strong>nte. Contudo, mesmo fornecendo todas as informações <strong>de</strong><br />

que se po<strong>de</strong> dispor sobre o estado quântico do sistema, o número <strong>de</strong>ssas informações é limitado, e<br />

essas limitações são inerentes à natureza, não se trata <strong>de</strong> limitações tec<strong>no</strong>lógicas. Por exemplo, para<br />

um elétron, é uma função <strong>de</strong> posição e do tempo, mas não do momentum. Isso tem íntima relação<br />

com o princípio da incerteza <strong>de</strong> Heisenberg (1927), mas, mesmo sendo limitadas, <strong>de</strong> forma alguma<br />

essas informações po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas incompletas. A versão <strong>de</strong> Schrödinger da teoria quântica,<br />

através <strong>de</strong> sua equação <strong>de</strong> onda, foi <strong>de</strong><strong>no</strong>minada mecânica ondulatória.<br />

A função <strong>de</strong> onda Ψ , entretanto, não é uma função real. Trata-se <strong>de</strong> uma função complexa.<br />

Como o próprio <strong>no</strong>me sugere, uma função complexa por si mesma não po<strong>de</strong> representar uma<br />

gran<strong>de</strong>za física, mensurável, pois possui uma parte imaginária. A própria Ψ , portanto, não possui um<br />

significado físico direto. Somente gran<strong>de</strong>zas ou observáveis reais possuem um significado físico<br />

direto e po<strong>de</strong>m ser medidas através <strong>de</strong> experimentos e instrumentos. Matematicamente, isso significa<br />

que a Ψ possui uma parte real e uma parte imaginária e que <strong>de</strong>ve ser escrita na forma geral a + b.<br />

i ,<br />

on<strong>de</strong> a e b são funções reais e i é a unida<strong>de</strong> imaginária, <strong>de</strong>finida como i = −1<br />

.<br />

Como a função <strong>de</strong> onda Ψ é complexa, usando um pouco <strong>de</strong> álgebra, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> multiplicá-la<br />

pelo seu complexo conjugado, obtém-se o resultado<br />

2<br />

| Ψ | , que é o módulo (valor absoluto) da<br />

função ao quadrado, que é uma função real, não complexa. Essa função, sim, possui um significado<br />

físico direto e fornece a probabilida<strong>de</strong>, por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volume, <strong>de</strong> se encontrar a partícula na<br />

vizinhança <strong>de</strong> um ponto do espaço e num <strong>de</strong>terminado instante <strong>de</strong> tempo; por isso, seu significado<br />

físico é o <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>. Foi o físico alemão Max Born (1882-1970) quem, em<br />

1927, propôs essa interpretação para o módulo ao quadrado da função <strong>de</strong> onda, razão por que<br />

ganhou o prêmio Nobel em 1954.


44<br />

No caso muito simples <strong>de</strong> um sistema quântico formado por uma única partícula<br />

microscópica, a função <strong>de</strong> onda <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do parâmetro t e da posição espacial da partícula, ou seja,<br />

<strong>de</strong> suas três coor<strong>de</strong>nadas espaciais. Contudo, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> sistemas quânticos mais complexos, ela<br />

<strong>de</strong>verá ser função <strong>de</strong> vários observáveis físicos, não apenas da posição <strong>de</strong> uma só partícula.<br />

Entretanto, como comentamos antes, nem todos os observáveis são compatíveis para um dado<br />

sistema quântico. Isso significa que, como argumentos da função <strong>de</strong> onda, só po<strong>de</strong>m comparecer<br />

observáveis compatíveis entre si. Portanto, para conhecer a Ψ e o estado quântico <strong>de</strong> um sistema é<br />

necessário <strong>de</strong>terminar um conjunto mínimo <strong>de</strong> observáveis compatíveis associados ao sistema.<br />

Com sua interpretação, Born conseguiu relacionar a função <strong>de</strong> onda Ψ com a probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> localização dos objetos microscópicos. Isso significa que as soluções da equação <strong>de</strong> Schrödinger<br />

não fornecem trajetórias nem <strong>de</strong>screvem a propagação <strong>de</strong> algo material (como é o caso das funções<br />

<strong>de</strong> onda que <strong>de</strong>screvem a propagação <strong>de</strong> ondas so<strong>no</strong>ras, ondas mecânicas em geral ou ondas<br />

eletromagnéticas), mas somente probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> localização das partículas! (Por meio <strong>de</strong> seu<br />

módulo ao quadrado.) Essa interpretação causou gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto na época, traduzindo-se num<br />

problema conceitual e filosófico, pois, <strong>de</strong>ssa maneira, <strong>no</strong> mundo atômico o <strong>de</strong>terminismo <strong>de</strong>veria ser<br />

abandonado!<br />

Para compreen<strong>de</strong>rmos o sentido do <strong>de</strong>terminismo na física clássica e, então, po<strong>de</strong>rmos<br />

compará-lo com a <strong>de</strong>scrição probabilística, <strong>de</strong>vemos salientar que, na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>terminista, se<br />

conhecermos as condições iniciais do movimento <strong>de</strong> uma partícula macroscópica (ou seja, sua<br />

posição inicial e sua velocida<strong>de</strong>, ou momentum linear, inicial), po<strong>de</strong>remos <strong>de</strong>terminar, a partir das leis<br />

<strong>de</strong> Newton, a <strong>de</strong>scrição do movimento em termos da posição e da velocida<strong>de</strong> (ou momentum linear)<br />

em qualquer instante. Em outras palavras, conhecendo o “presente” (condições iniciais), po<strong>de</strong>remos<br />

<strong>de</strong>terminar (daí o termo “<strong>de</strong>terminismo”) o “futuro”. Na mecânica quântica isso não é verda<strong>de</strong>iro.<br />

De acordo com tal interpretação, a equação <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> Schrödinger constitui, portanto, um<br />

mo<strong>de</strong>lo estatístico, incapaz <strong>de</strong> <strong>no</strong>s fornecer o valor que uma gran<strong>de</strong>za específica terá num instante<br />

específico, ou seja, o mo<strong>de</strong>lo quântico é capaz <strong>de</strong> <strong>no</strong>s fornecer a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada valor<br />

esperado vir a ser observado naquele <strong>de</strong>terminado instante.<br />

O fato <strong>de</strong> a teoria quântica não fornecer um valor específico, mas apenas relacionar possíveis<br />

valores e a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> cada um, resultou num famoso (e muito respeitoso)<br />

“duelo” intelectual entre Einstein e Bohr (Figura 22).


Figura 22 – Einstein e Bohr<br />

45<br />

Voltando às <strong>no</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s virtuais e às conclusões a que chegamos, quando as<br />

partículas usadas são microscópicas: como po<strong>de</strong>mos verificar a existência da função <strong>de</strong> onda a partir<br />

dos padrões visualizados? Como po<strong>de</strong>mos interpretar o caráter estatístico ou probabilístico nesses<br />

padrões?<br />

No experimento <strong>de</strong> Young da fenda dupla, vimos que uma frente <strong>de</strong> onda lumi<strong>no</strong>sa divi<strong>de</strong>-se<br />

ao passar pelas duas fendas. Cada <strong>no</strong>va frente <strong>de</strong> onda assim produzida propaga-se, a partir <strong>de</strong> cada<br />

fenda até a tela e, nesta, superpõem-se, interferindo entre si. Quando o experimento <strong>de</strong> Young é<br />

refeito com partículas microscópicas, o que acontece? Po<strong>de</strong>mos dizer que as partículas<br />

microscópicas, ao chegarem à fenda dupla, divi<strong>de</strong>m-se? O que faz com que uma partícula<br />

microscópica possa interferir consigo mesma?<br />

Da mesma forma que uma onda lumi<strong>no</strong>sa divi<strong>de</strong>-se em duas na dupla fenda, são as funções<br />

<strong>de</strong> onda associadas a partículas microscópicas que inci<strong>de</strong>m na dupla fenda (mesmo sendo uma <strong>de</strong><br />

cada vez! ) que se divi<strong>de</strong>m (não as partículas!), propagando-se <strong>de</strong>pois disso até a tela, on<strong>de</strong> irão se<br />

superpor e interferir. O módulo ao quadrado da função <strong>de</strong> onda resultante na tela representa a<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar uma partícula microscópica do feixe atingindo a tela num<br />

dado ponto e num dado instante. Os lugares mais prováveis <strong>de</strong> a partícula microscópica atingir a tela<br />

são aqueles on<strong>de</strong> é maior o valor do módulo ao quadrado <strong>de</strong> sua função <strong>de</strong> onda (franjas claras) e os<br />

lugares me<strong>no</strong>s prováveis <strong>de</strong> encontrar uma partícula microscópica são aqueles on<strong>de</strong> são me<strong>no</strong>res os<br />

valores do módulo ao quadrado da função <strong>de</strong> onda (franjas escuras), ou seja, não po<strong>de</strong>mos dizer<br />

exatamente on<strong>de</strong> uma partícula microscópica está ou estará, mas, quando temos um número muito<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> partículas, po<strong>de</strong>mos dizer, com muita precisão, o lugar mais provável <strong>de</strong> on<strong>de</strong> elas


46<br />

po<strong>de</strong>rão ser encontradas; também, po<strong>de</strong>mos dizer com certeza o lugar on<strong>de</strong> as partículas não<br />

estarão – ou seja, on<strong>de</strong> a probabilida<strong>de</strong> é zero.<br />

Como vimos na experiência <strong>de</strong> Young para partículas microscópicas, o padrão <strong>de</strong> impactos<br />

observado é um padrão característico <strong>de</strong> interferência, o qual <strong>de</strong>riva do princípio da superposição<br />

linear. Este princípio se refere aos possíveis estados <strong>de</strong> um sistema quântico. Se dois estados<br />

quânticos são possíveis, então também é possível existir a soma dos dois estados, ou seja, um<br />

terceiro estado, que é a combinação dos dois primeiros. Isso significa que um objeto quântico po<strong>de</strong><br />

existir simultaneamente em mais <strong>de</strong> um estado, ao contrário do que é assumido como válido na física<br />

clássica. Conseqüentemente, a superposição <strong>de</strong> estados leva a uma teoria probabilística.<br />

Essa é uma das conseqüências da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Born: o fato <strong>de</strong> a física quântica <strong>no</strong>s<br />

mostrar que a natureza po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita em termos <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> e que a teoria possui,<br />

essencialmente, um caráter probabilístico ou estatístico, não <strong>de</strong>terminístico.


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apoio ao professor <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, n.14).<br />

SOUSA SANTOS, B. <strong>de</strong>. Introdução a uma ciência pós-mo<strong>de</strong>rna. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal,<br />

1989.<br />

STRATHERN, P. Bohr e a teoria quântica em 90 minutos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar<br />

Editor, 1998.<br />

__________.Einstein e a relativida<strong>de</strong> em 90 minutos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor,<br />

1998.<br />

48


Apêndices<br />

Apêndice A - Roteiro para ativida<strong>de</strong> virtual - parte I<br />

Experimento da fenda dupla<br />

Instruções gerais: Suas observações, <strong>de</strong>scrições, explicações, opiniões ou dúvidas <strong>de</strong>vem<br />

ser a<strong>no</strong>tadas na mesma or<strong>de</strong>m em que as diversas etapas vão sendo realizadas. Não serão aceitas<br />

ativida<strong>de</strong>s sem <strong>de</strong>senvolvimentos ou com respostas do tipo “não sei”. O resultado final <strong>de</strong>verá ser<br />

entregue à professora para avaliação.<br />

I – Apren<strong>de</strong>ndo a usar o simulador<br />

• O software DoppelSpalt (Fenda Dupla) po<strong>de</strong> ser baixado livremente do en<strong>de</strong>reço<br />

www.physik.uni-muenchen.<strong>de</strong>/didaktik/Computer/Doppelspalt/dslit.html.<br />

• Depois <strong>de</strong> instalado (o que é muito fácil <strong>de</strong> fazer), o programa abrirá uma janela on<strong>de</strong><br />

você <strong>de</strong>verá clicar na opção ig<strong>no</strong>rieren. Então se abrirá a janela mostrada na Figura 1, on<strong>de</strong><br />

aparecem figuras dos principais formuladores da mecânica quântica (quem são?). Você po<strong>de</strong>rá saber<br />

o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les posicionando o mouse em cima da correspon<strong>de</strong>nte figura. Ainda nessa<br />

tela, escolha a língua que <strong>de</strong>seja usar e clique OK para entrar <strong>no</strong> programa (nesse roteiro a língua<br />

utilizada foi o Inglês).


Figura 1 – Tela <strong>de</strong> abertura do software<br />

50<br />

• Em seguida, aparecerá a tela principal do software (Figura 2), on<strong>de</strong> você po<strong>de</strong>rá<br />

clicar em cima dos botões virtuais para escolher a combinação <strong>de</strong> alternativas e <strong>de</strong> parâmetros que<br />

usará em sua simulação. A Figura 3 mostra os botões da tela principal ampliados.<br />

Figura 2 − Tela principal do software<br />

Figura 3 − Botões da tela principal<br />

• Clicando com o botão esquerdo do mouse em fonte, você po<strong>de</strong>rá escolher qual o tipo<br />

<strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> emissão que usará tais como, feixes <strong>de</strong> balas <strong>de</strong> metralhadora, <strong>de</strong> elétrons, <strong>de</strong> prótons,<br />

<strong>de</strong> átomos inteiros ou <strong>de</strong> moléculas inteiras e, também, <strong>de</strong> fótons − ou seja, luz (radiação


51<br />

eletromagnética, segundo a física clássica). A gran<strong>de</strong> diferença entre os fótons e as outras partículas<br />

citadas é que estas são todas dotadas <strong>de</strong> massa, enquanto nenhum fóton possui massa.<br />

• Clicando com o botão esquerdo do mouse em cima do anteparo da fenda dupla,<br />

po<strong>de</strong>rá escolher a distância <strong>de</strong> separação entre os centros das mesmas e, também, qual será a<br />

largura <strong>de</strong> cada fenda.<br />

• Clicando em cima da tela com o botão esquerdo do mouse você po<strong>de</strong>rá “fotografar”,<br />

isto é, gravar os padrões obtidos com o simulador, e também obter gráficos e histogramas dos<br />

mesmos.<br />

• Para iniciar/parar uma simulação, clique com o botão esquerdo do mouse <strong>no</strong> botão<br />

virtual da Figura 4.<br />

Figura 4 – Botão iniciar<br />

• Você po<strong>de</strong> aumentar a freqüência <strong>de</strong> emissão da fonte – o que simula a passagem<br />

mais rápida do tempo – clicando <strong>no</strong> botão virtual da Figura 5.<br />

Figura 5 − Utilizado para aumentar a freqüência <strong>de</strong> emissão<br />

• Você po<strong>de</strong> visualizar o arranjo do interferômetro sob diferentes ângulos <strong>de</strong><br />

perspectiva clicando nas setas contidas <strong>no</strong> botão virtual (Figura 6). E ainda, clicando <strong>no</strong>s triângulos<br />

exteriores <strong>de</strong>sse botão virtual, <strong>no</strong>s quatro cantos do quadrado que sua forma <strong>de</strong>fine, po<strong>de</strong>m-se adotar<br />

quatro perspectivas radicalmente diferentes do arranjo <strong>de</strong> fenda dupla, cada qual tendo suas<br />

vantagens em relação aos <strong>de</strong>mais, mas todos se complementando.<br />

Figura 6 − Utilizado para visualização <strong>de</strong> diferentes ângulos<br />

II - Ativida<strong>de</strong>s<br />

Ativida<strong>de</strong> 1


52<br />

1-1. Clique em source (fonte) e escolha a opção gunballs (balas <strong>de</strong> metralhadora). Ligue a<br />

fonte e observe o padrão que vai se formando na tela. Para acelerar o transcorrer do tempo, aumente<br />

a freqüência <strong>de</strong> emissão da fonte, clicando <strong>no</strong> botão speed. Quando um padrão bem <strong>de</strong>finido e<br />

estável estiver disponível na tela, passe a <strong>de</strong>screver <strong>de</strong>talhadamente o mesmo, e a<strong>no</strong>te suas<br />

observações. Tente se concentrar <strong>no</strong>s aspectos que, em sua opinião, são os mais relevantes e/ou<br />

característicos.<br />

1-2. Feche uma das fendas clicando na opção aperture ou sobre o anteparo on<strong>de</strong> se<br />

encontram as fendas. A<strong>no</strong>te o que você observa na tela, usando um feixe <strong>de</strong> balas. Há alguma(s)<br />

diferença(s) em relação ao que você observou na etapa 1-1?<br />

1-3. Feche a fenda que havia aberto antes e abra a que estava fechada. O que você observa<br />

agora? Houve alguma(s) mudança(s) significativa(s)? Registre suas observações sucintamente.<br />

1-4. Abra <strong>no</strong>vamente as duas fendas. Descreva <strong>de</strong>talhadamente o que você observa na tela e<br />

compare com o que observou <strong>no</strong>s itens anteriores. Verifique os gráficos correspon<strong>de</strong>ntes a esse<br />

padrão clicando em cima da tela e escolhendo as opções theo result (resultado teórico) e evaluation<br />

(avaliação). Faça um esboço <strong>de</strong>sses gráficos em seu trabalho.<br />

1-5. Que conclusão geral você tira a partir <strong>de</strong>ssas comparações? Tente explicar (a <strong>de</strong>scrição<br />

você já fez!) fisicamente o que se observa na tela.<br />

1-6. No experimento virtual que você acabou <strong>de</strong> realizar, foi usado um feixe <strong>de</strong> balas <strong>de</strong><br />

metralhadora, formado, portanto, por partículas clássicas. Quais são as características que você<br />

consi<strong>de</strong>ra mais importantes <strong>de</strong> uma partícula que obe<strong>de</strong>ce às leis da física clássica?<br />

1-7. Vamos comprovar o que você observou <strong>no</strong>s itens acima com um exemplo numérico.<br />

Consi<strong>de</strong>re que cada bala da metralhadora tem uma massa <strong>de</strong> 5mg e que sua velocida<strong>de</strong> seja <strong>de</strong> 100<br />

m/s. Utilizando a relação <strong>de</strong> De Broglie λ=h/p com p = m.v calcule o comprimento <strong>de</strong> onda para as<br />

balas e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> obter a resposta, verifique o porquê as balas não po<strong>de</strong>m apresentar um padrão <strong>de</strong><br />

difração.<br />

Ativida<strong>de</strong> 2<br />

2-1. Clique em fonte e escolha a opção colorspray (spray colorido ). Trata-se ou não <strong>de</strong> um<br />

feixe <strong>de</strong> partículas clássicas? O que você acha? Por quê?


53<br />

2-2. Ligue a fonte com as duas fendas abertas e observe o padrão que vai se formando na<br />

tela. Descreva sucintamente suas características mais relevantes e compare-o com o padrão que foi<br />

observado na etapa 1-1 da Ativida<strong>de</strong> 1.<br />

2-3. Feche uma das fendas, clicando na opção aperture ou sobre o anteparo. Verifique quais<br />

são os gráficos correspon<strong>de</strong>ntes a esse padrão, clicando em cima da tela e escolhendo as opções<br />

theo result e/ou evaluation. Registre suas observações do padrão formado na tela, junto com esboços<br />

dos gráficos correspon<strong>de</strong>ntes ao padrão.<br />

2-4. Em seguida, feche a fenda que havia aberto e abra a que estava fechada. Observe o<br />

padrão que surge na tela. Houve alguma alteração significativa em relação ao padrão anterior?<br />

Verifique quais são os gráficos correspon<strong>de</strong>ntes a esse padrão, clicando em cima da tela e<br />

escolhendo a opção theo result ou evaluation.<br />

2-5. Depois abra <strong>no</strong>vamente as duas, observe o padrão que se forma na tela e verifique quais<br />

são os gráficos correspon<strong>de</strong>ntes a esse padrão, clicando em cima da tela e escolhendo a opção theo<br />

result ou evaluation. A<strong>no</strong>te sucintamente o que você observou na tela e compare com o que<br />

observou antes, com apenas uma das fendas aberta. Verifique quais são os gráficos correspon<strong>de</strong>ntes<br />

a esse padrão, clicando em cima da tela e escolhendo a opção theo result ou evaluation. Que<br />

conclusão geral você tira <strong>de</strong>ssas comparações?<br />

2-6. Nas ativida<strong>de</strong>s 1 e 2 você observou algum padrão parecido com o que se observa <strong>no</strong><br />

experimento <strong>de</strong> Young feito com ondas? Ou seja, você observou algum padrão que seja típico <strong>de</strong><br />

interferência? Justifique sua resposta. Por que não se observa padrões <strong>de</strong> interferência nas<br />

ativida<strong>de</strong>s 1 e 2, se a mecânica quântica <strong>de</strong>screve toda a matéria? (você po<strong>de</strong> usar o valor<br />

encontrado <strong>no</strong> item 1.7 para justificar sua resposta).<br />

2-7. Calcule o comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> De Broglie para um elétron na velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 4 cm/s<br />

e para uma bolinha <strong>de</strong> aço <strong>de</strong> 2 g com a mesma velocida<strong>de</strong>.Imagine que se queira observar a<br />

difração e a interferência da bolinha e do elétron e que para isso vamos fazer com que vários <strong>de</strong>les<br />

passem por uma fenda <strong>de</strong> 1 cm,conseguiremos observar esses fenôme<strong>no</strong>s em ambos os casos?Use<br />

a relação <strong>de</strong> De Broglie para justificar sua resposta


Apêndice B - Roteiro para ativida<strong>de</strong> virtual – parte II<br />

Ativida<strong>de</strong> 1<br />

1-1. Clique em fonte e escolha a opção fótons, feche uma das fendas e escolha a largura<br />

mínima para a fenda que ficou aberta. Altere também o valor do zoom para 1000x. O software simula<br />

a emissão <strong>de</strong> um feixe lumi<strong>no</strong>so mo<strong>no</strong>fotônico, ou seja, um feixe lumi<strong>no</strong>so <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> tão fraca<br />

que apenas um fóton inci<strong>de</strong> <strong>no</strong> anteparo da fenda dupla <strong>de</strong> cada vez (todos dotados <strong>de</strong> mesma<br />

energia, <strong>de</strong> maneira que o feixe também é mo<strong>no</strong>energético). Ligue a fonte e observe a chegada <strong>de</strong><br />

cada fóton na tela. Observe os padrões formados, <strong>de</strong>pois que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> fótons já atingiu<br />

a tela, quando apenas uma das fendas fica aberta, e, <strong>de</strong>pois, a outra (po<strong>de</strong> usar a opção Speed para<br />

aumentar a freqüência <strong>de</strong> emissão dos fótons e simular o transcorrer mais rápido do tempo).<br />

Descreva o que você observou.<br />

1-2. O padrão que você observa agora é o mesmo que aquele observado nas ativida<strong>de</strong>s em<br />

que trabalhamos com partículas macroscópicas, quando tínhamos apenas uma fenda aberta? Por<br />

quê? Em sua opinião, quais são as diferenças mais <strong>no</strong>táveis e relevantes?<br />

1-3. Repita o experimento agora com as duas fendas abertas (com a mesma largura <strong>de</strong><br />

antes). Se quiser po<strong>de</strong>rá usar os diferentes zoom e clicar nas opções resultado teórico e avaliação.<br />

Procure <strong>de</strong>screver como acontece a chegada dos fótons <strong>no</strong> anteparo. E agora, o padrão que você<br />

observa é o mesmo que aquele observado nas ativida<strong>de</strong>s em que trabalhamos com partículas<br />

macroscópicas, quando também tínhamos as duas fendas abertas? Tente dar explicação para o que<br />

você observa na tela, tendo como base o que apren<strong>de</strong>u sobre interferência <strong>de</strong> ondas.<br />

1-4. A partir do que observa na tela, após um padrão bem <strong>de</strong>finido ter surgido na mesma, <strong>de</strong><br />

que maneira você i<strong>de</strong>ntifica o comportamento corpuscular e o comportamento ondulatório dos fótons?<br />

1-5. É comum ler-se que uma característica fundamental da mecânica quântica é a dualida<strong>de</strong><br />

onda-partícula. Analise essa afirmativa com base <strong>no</strong> que você observou na ativida<strong>de</strong> anterior.<br />

1-6. Que conclusão geral você tira <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>? Responda, comparando com a conclusão<br />

geral que você tirou das ativida<strong>de</strong>s realizadas com partículas macroscópicas.<br />

Ativida<strong>de</strong> 2<br />

Os fenôme<strong>no</strong>s da difração e da interferência não po<strong>de</strong>m realmente ser separados <strong>de</strong> forma<br />

completa. Franjas <strong>de</strong> difração são originadas da interferência entre raios <strong>de</strong> luz provenientes <strong>de</strong><br />

lugares diferentes <strong>de</strong> uma mesma fenda; franjas <strong>de</strong> interferência são originadas da interferência entre


56<br />

os raios lumi<strong>no</strong>sos provenientes <strong>de</strong> fendas diferentes. Quando duas fendas estão abertas, esses dois<br />

tipos <strong>de</strong> franjas ocorrem simultaneamente e não po<strong>de</strong>m ser separados <strong>de</strong> forma completa. Vamos<br />

confirmar essa afirmação nas próximas ativida<strong>de</strong>s com o software.<br />

2-1. Escolha a opção elétrons e mantenha somente a fenda 1 aberta na largura <strong>de</strong> fenda<br />

100nm e energia <strong>de</strong> cada elétron igual a 100KeV, o que correspon<strong>de</strong> (pela relação <strong>de</strong> De Broglie) a<br />

um comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> 4pm (1 p=10 -12 m). para os elétrons do feixe. Quando estiver se<br />

formando um padrão na tela, pare e observe. Escreva o que você observou. Grave este padrão como<br />

a Foto 1, clicando <strong>no</strong> anteparo da tela e escolhendo a opção Cinta <strong>de</strong> Fotos (espanhol) ou Photos<br />

(inglês).<br />

2.2. Agora abra as duas fendas e mantenha os mesmos valores do item anterior, verifique a<br />

distância entre os centros das fendas que <strong>de</strong>ve ser 700nm. Clique <strong>no</strong> botão reset e inicie. O padrão<br />

que você observou é o mesmo que foi observado na ativida<strong>de</strong> 2.1?Justifique sua resposta. Grave<br />

este padrão como a Foto 2 da cinta <strong>de</strong> fotos.<br />

2.3. Agora mu<strong>de</strong> apenas a distância entre os centros das fendas (clicando sobre o anteparo<br />

das mesmas), <strong>de</strong> 700 nm para 2000 nm. Quando a distância das fendas aumenta, o que acontece<br />

com o padrão <strong>de</strong> franjas observado? Grave este padrão como a Foto 3 da cinta <strong>de</strong> fotos.<br />

2.4. Ainda com as duas fendas abertas e, com a largura das fendas 100nm diminua a<br />

distância entre as fendas para 100nm. O que acontece com o padrão apresentado na tela? Esse<br />

padrão não po<strong>de</strong>rá ser gravado, mas ele ficará logo abaixo dos outros 3 que já estão gravados,<br />

então, compare o <strong>no</strong>vo padrão <strong>de</strong> franjas obtido com aqueles das Fotos 1,2 e 3.<br />

2-5. Agora mantenha apenas a fenda 1 aberta, variando a largura da mesma para 600nm.<br />

Explique o padrão que você está visualizando na tela.<br />

Ativida<strong>de</strong> 3 - Exercício Interativo<br />

3.1. Clicando em fonte, vamos escolher elétrons com energia <strong>de</strong> 1 kev e zoom 1000 x.<br />

Elétrons com esse valor <strong>de</strong> energia cinética têm velocida<strong>de</strong>s não-relativísticas, <strong>de</strong> modo que seu<br />

momentum linear (quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento) é dado pela <strong>de</strong>finição newtoniana, ou seja, p = m.v. O<br />

software <strong>no</strong>s informa também que elétrons com essa energia têm comprimento <strong>de</strong> onda λ = 39 pm.<br />

Tente obter este valor <strong>de</strong> comprimento <strong>de</strong> onda, consi<strong>de</strong>rando que se tratem <strong>de</strong> elétrons não-<br />

relativísticos. Ou seja, consi<strong>de</strong>re que o momentum linear <strong>de</strong> cada elétron é dada pela relação<br />

clássica, p = m.v e que a energia cinética é dada pela relação E = ½.m.v 2 .<br />

Dados: a massa do elétron é 9,11.10 -31 kg e 1 eV = 1,6 x 10 -19 J.


57<br />

3-2. Vamos checar a valida<strong>de</strong> da fórmula da condição <strong>de</strong> máximos <strong>de</strong> interferência (d. sen<br />

θ n = n . λ, on<strong>de</strong> n = 0, 1, 2, ....). Para isso, vamos usar os dados que o software <strong>no</strong>s fornece. Depois<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrido algum tempo, pare a simulação que estava fazendo anteriormente e, a<strong>no</strong>te os seguintes<br />

valores: D (distância entre a tela e o anteparo on<strong>de</strong> estão as fendas), d (distância entre os centros<br />

das fendas) e Yn (distância do centro da tela ao n-ésimo máximo lateral; o máximo central<br />

correspon<strong>de</strong> a n = 0). Nossa sugestão é que seja usado o segundo máximo lateral, correspon<strong>de</strong>nte a<br />

n = 2. Para tal, use a escala do software. A Figura 1 ilustra o ângulo θ 2 . Como o ângulo usado é<br />

muito peque<strong>no</strong> comparado a 1 radia<strong>no</strong>, (que é equivalente a aproximadamente 57 o ), po<strong>de</strong>-se usar a<br />

seguinte aproximação: substituir o se<strong>no</strong> pela tangente <strong>de</strong> θ n , obtendo:<br />

d . sen θ n ≅ d . tg θ n = n . λ.<br />

Além disso, da Figura 1, obtemos que tg θ n = Yn / D . Em seguida, isole o valor <strong>de</strong> Yn e<br />

compare com o valor correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>terminado a partir da tela do software.<br />

Figura 1 − Ilustra o ângulo θ que localiza o segundo máximo lateral (n = 2). Note também que o<br />

2<br />

suporte do arranjo do simulador possui uma escala facilmente utilizável pelo usuário.<br />

Qual o valor encontrado para a distância do n-ésimo máximo lateral e o ponto central da tela<br />

(Yn )? Compare esse valor com aquele que se po<strong>de</strong> ler na escala da tela virtual do software, basta<br />

clicar com o mouse direito em cima do segundo máximo.<br />

Sugestão para parâmetros a serem usados <strong>no</strong> exercício interativo:<br />

d = 700nm D = 3m n = 2 λ = 39pm


58<br />

3-3. Na ativida<strong>de</strong> anterior, fizemos uma aproximação para os valores <strong>de</strong> se<strong>no</strong>, substituindo-os<br />

pelos das tangentes dos ângulos correspon<strong>de</strong>ntes. Temos como provar que esses valores são<br />

realmente muito próximos, e também como conferir se o ângulo θ realmente tem um valor bastante<br />

peque<strong>no</strong>. Para isso, use os valores fornecidos pelo software e calcule primeiramente o valor <strong>de</strong> θ<br />

usando a condição <strong>de</strong> máximos <strong>de</strong> interferência. Em seguida, use a fórmula da tangente, <strong>de</strong>termine o<br />

valor do θ e compare os dois resultados encontrados. Você saberia explicar, geometricamente, o<br />

porquê o valor <strong>de</strong> θ é tão peque<strong>no</strong>?


Apêndice C - Lista <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong> revisão<br />

1. Uma das características importantes <strong>de</strong> uma onda eletromagnética é a polarização. Em que<br />

consiste a polarização da luz?<br />

2. Explique sucintamente o fenôme<strong>no</strong> da difração <strong>de</strong> ondas, consi<strong>de</strong>rando que a fenda ou a fonte <strong>de</strong><br />

luz não seja puntiforme.<br />

3. Baseando-se na relação <strong>de</strong> De Broglie, explique por que não observamos as características <strong>de</strong><br />

difração (um padrão <strong>de</strong> franjas claras escuras) com feixes <strong>de</strong> balas <strong>de</strong> metralhadora, cada qual com<br />

10 mg <strong>de</strong> massa e velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100m/s?<br />

4. A interferência lumi<strong>no</strong>sa representa uma constatação <strong>de</strong> que a luz possui características típicas <strong>de</strong><br />

um fenôme<strong>no</strong> ondulatório. Baseado nessa afirmação, explique o fenôme<strong>no</strong> da interferência.<br />

5. Faça um esboço dos padrões gráficos <strong>de</strong> interferência e <strong>de</strong> difração e explique a(s) diferença(s)<br />

entre um padrão <strong>de</strong> franjas <strong>de</strong> difração e um <strong>de</strong> franjas <strong>de</strong> interferência.<br />

6. Não po<strong>de</strong>mos visualizar átomos através <strong>de</strong> fotografias obtidas com a luz. Por quê? De que forma,<br />

então, são obtidas as imagens <strong>de</strong> átomos que vemos reproduzidas em muitos livros?<br />

7. Em sua opinião, quais as diferenças mais relevantes entre objetos clássicos e objetos quânticos?<br />

Dê exemplos que justifiquem sua resposta<br />

8. A Energia <strong>de</strong> um átomo não po<strong>de</strong> assumir qualquer valor. Essa afirmação está intimamente ligada<br />

ao fato <strong>de</strong> que a energia, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> um sistema ligado, não é contínua, mas sim, quantizada.<br />

Explique o que significa dizer que a energia é quantizada, citando também alguns exemplos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>zas quantizadas.<br />

9. Na questão anterior você explicou o significado do termo “quantizada” aplicado à energia <strong>de</strong> um<br />

átomo. O que significa esse termo quando aplicado à luz? Justifique sua resposta usando o mo<strong>de</strong>lo<br />

proposto por Einstein para a luz.<br />

10. Em que consistia o problema do espectro <strong>de</strong> emissão do corpo negro? Qual foi a hipótese <strong>de</strong><br />

Planck para resolver o problema?


60<br />

11. Einstein usou a hipótese <strong>de</strong> Planck para explicar convincentemente o efeito fotoelétrico. Esse efeito<br />

comprovava conclusivamente que tipo <strong>de</strong> comportamento por parte da luz?<br />

12. Na famosa experiência <strong>de</strong> Young da fenda dupla, a fonte utilizada emitia luz (aproximadamente)<br />

mo<strong>no</strong>cromática. Por quê? Qual a conclusão a que Young chegou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> realizar o experimento?<br />

13. A experiência <strong>de</strong> Young da fenda dupla foi virtualmente refeita em sala <strong>de</strong> aula, usando-se como<br />

fonte um feixe <strong>de</strong> elétrons mo<strong>no</strong> energéticos. A conclusão obtida da experiência foi a mesma que<br />

Young obteve?<br />

14. Uma característica fundamental da mecânica quântica é a chamada dualida<strong>de</strong> onda-partícula.<br />

Analise essa <strong>no</strong>ção através do que você concluiu <strong>no</strong> exercício anterior.<br />

15. A luz se propaga <strong>de</strong> um lugar para outro como uma onda ou como uma partícula?<br />

16. A luz interage com um <strong>de</strong>tector qualquer (tela, sensor lumi<strong>no</strong>so, célula fotoelétrica, célula da retina<br />

etc.) como se fosse uma onda ou uma partícula?<br />

17. Em sua opinião, quais são as diferenças mais relevantes entre física clássica e física quântica?<br />

18. As Leis da mecânica clássica são válidas para todos os corpos, sejam eles microscópicos ou<br />

macroscópicos? Explique sua resposta, citando exemplos.<br />

19. A analogia entre os elétrons <strong>de</strong> um átomo e os planetas do sistema solar é muito imperfeita. Cite<br />

pelo me<strong>no</strong>s uma razão para justificar essa afirmação.<br />

20. O que é um fóton? Qual sua massa? Qual a sua velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagação <strong>no</strong> vácuo?<br />

21. O que é o spin <strong>de</strong> um elétron? Tente explicar com suas próprias palavras do que se trata.<br />

22. Qual a diferença mais relevante entre elétrons e fótons?


Textos <strong>de</strong> apoio ao professor <strong>de</strong> física<br />

n° 1 Um Programa <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s sobreTópicos <strong>de</strong> <strong>Física</strong> para a 8ª Série do 1º Grau.<br />

Axt., R., Steffani, M. H. e Guimarães, V. H., 1990.<br />

n° 2 Radioativida<strong>de</strong>.<br />

Brückmann, M. E. e Fries, S. G., 1991.<br />

n° 3 Mapas Conceituais <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong><br />

Moreira, M. A.., 1992.<br />

n° 4 Um Laboratório <strong>de</strong> <strong>Física</strong> para Ensi<strong>no</strong> <strong>Médio</strong><br />

Axt, R e Brückmann, M. E., 1993.<br />

n° 5 <strong>Física</strong> para Secundaristas – Fenôme<strong>no</strong>s Mecânicos e Térmicos.<br />

Axt, R. e Alves, V. M., 1994.<br />

n° 6 <strong>Física</strong> para Secundaristas – Eletromagnetismo e Óptica.<br />

Axt, R e Alves, V. M., 1995.<br />

n° 7 Diagramas V <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>.<br />

Moreira, M. A., 1996.<br />

n° 8 Supercondutivida<strong>de</strong> – Uma proposta <strong>de</strong> inserção <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>Médio</strong>.<br />

Ostermann, F., Ferreira, L. M. e Cavalcanti, C. H., 1997.<br />

n° 9 Energia, entropia e irreversibilida<strong>de</strong>.<br />

Moreira, M. A.. 1998.<br />

n°10 Teorias construtivistas.<br />

Moreira, M. A., e Ostermann, F., 1999.<br />

n°11 Teoria da relativida<strong>de</strong> especial.<br />

Ricci, T. F., 2000.<br />

n°12 Partículas elementares e interações fundamentais.<br />

Ostermann, F., 2001.


62<br />

n°13 Introdução à <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong>. Notas <strong>de</strong> curso.<br />

Greca, I. M. e Herscovitz. V. E., 2002.<br />

n°14 Uma introdução conceitual à <strong>Mecânica</strong> <strong>Quântica</strong> para professores do ensi<strong>no</strong> médio.<br />

Ricci, T. F. e Ostermann, F., 2003.<br />

nº15 O quarto estado da matéria.<br />

Ziebell, L. F. 2004.<br />

v.16, n.1 Ativida<strong>de</strong>s experimentais <strong>de</strong> <strong>Física</strong> para crianças <strong>de</strong> 7 a 10 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Schroe<strong>de</strong>r, C., 2005.<br />

v.16, n.2 O microcomputador como instrumento <strong>de</strong> medida <strong>no</strong> laboratório didático <strong>de</strong> <strong>Física</strong>.<br />

Silva, L. F. da e Veit, E. A., 2005<br />

v.16 n.3 Epistemologias do Século XX<br />

Massoni, N. T., 2005.<br />

v.16 n.4 Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ciências para a 8a série do Ensi<strong>no</strong> Fundamental: Astro<strong>no</strong>mia, luz e cores<br />

Mees, A. A.; Andra<strong>de</strong>, C. T. J. <strong>de</strong> e Steffani, M. H., 2005.<br />

v.16 n.5 Relativida<strong>de</strong>: a passagem do enfoque galilea<strong>no</strong> para a visão <strong>de</strong> Einstein<br />

Wolff, J. F. <strong>de</strong> S. e Mors, P. M., 2005.<br />

v.17 n.1 Circuitos elétricos: <strong>no</strong>vas e velhas tec<strong>no</strong>logias como facilitadoras <strong>de</strong> uma aprendizagem<br />

significativa <strong>no</strong> nível médio . Moraes, M. B. dos S. A., Ribeiro-Teixeira, R. M.<br />

v.17 n.2 A estratégia dos projetos didáticos <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> física na educação <strong>de</strong> jovens e adultos (EJA)<br />

Espindola, K e Moreira, M. A.<br />

v.17 n.3 Introdução ao conceito <strong>de</strong> energia<br />

Bucussi, Av.<br />

v.17 n.4 Roteiros para ativida<strong>de</strong>s experimentais <strong>de</strong> <strong>Física</strong> para crianças <strong>de</strong> seis a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

Grala, R. M.<br />

v.17 n.5 <strong>Inserção</strong> <strong>de</strong> mecânica quântica <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> médio: uma proposta para professores.<br />

Webber, M.C.M.

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