Família Saturno - Fundação Jose Augusto
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Serena (Betty Faria) e Luis Roberto (Renan<br />
<strong>Augusto</strong>) ou pela história do caseiro<br />
(Werner Schunemann) e sua jovem esposa,<br />
ora pelo núcleo que se forma em<br />
torno dos personagens do hotel (Marina<br />
Person e Eduardo Dusek) ou pelas relações<br />
entre Serena e Luis Roberto com os<br />
demais personagens – além do assessor e<br />
do político corrupto, que, invisivelmente,<br />
movem a história. Apesar de chegar<br />
uma hora em que é preciso perguntar<br />
sobre “quem?” ou “o quê?” é o fi lme,<br />
vemos a composição de inesquecíveis e<br />
belos momentos.<br />
A abertura de “Bens Confi scados”, assim<br />
como a cena fi nal de “O Pântano”<br />
(2001, de Lucrecia Martel) com toda<br />
aquela atmosfera envolta da queda daquela<br />
escada, trás uma das cenas mais<br />
instigantes do cinema contemporâneo<br />
– a do suicídio da estilista amante do<br />
político corrupto em pleno centro de<br />
São Paulo. Quando, nessa cena, o foco<br />
sobre a relação personagem-espaço inverte<br />
seu ponto de vista para a relação<br />
personagem-história, a inversão em escala<br />
e ângulo da câmera justifi ca a si e ao<br />
próprio fi lme. De modo que, ao sair da<br />
relação da personagem com a metrópole,<br />
o que então passa a interessar às suas<br />
lentes é a relação que os indivíduos estabelecem<br />
com suas vidas. Na escolha do<br />
movimento, da escala e do ângulo dessa<br />
tomada temos toda a história e o que sob<br />
suas cortinas decidem os personagens.<br />
Portanto, apesar da diversidade espacial,<br />
o que fi ca mais evidente são as<br />
decisões que afetam os destinos dos<br />
personagens. O que, em parte, justifi ca<br />
a fragmentação do foco dramático que,<br />
a cada deslocamento de espaço, inverte<br />
a noção de personagem principal e coadjuvante.<br />
Porque, assim como na vida,<br />
a fi cção têm histórias particulares que<br />
também precisam ser consideradas. Mas<br />
a inversão mais signifi cativa está no<br />
diálogo que “Bens Confi scados” mantém<br />
com “Dois Córregos”, quando, por<br />
exemplo, ausenta o Pai que antes estava<br />
presente; dar vida ao “Filho” e a “Mãe”<br />
e a Praia de Cidreiras–RS que apareciam<br />
somente em delírios; e quando, a partir<br />
dos mesmos ângulos, faz reviver imagens<br />
do fi lme anterior – como a estética de<br />
uma contínua e permanente evocação<br />
cinematográfi ca.<br />
Jan/Fev 2006<br />
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