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Família Saturno - Fundação Jose Augusto

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vista. Descobrimos outros poetas populares,<br />

cordelistas, violeiros, rezadeiras<br />

e até cantadoras de incelências. Quase<br />

todos os artistas têm algo em comum.<br />

São pessoas simples e muito receptivas.<br />

Alguns vivem em condições de pobreza<br />

extrema como o poeta e violeiro mossoroense<br />

Luís Campos. Mas não lembro de<br />

ter encontrado gente infeliz.<br />

A alegria de Dona Aldizes Bessa, dançadeira<br />

de São Gonçalo, no sítio Pega, em<br />

Portalegre, foi marcante. Outras comunidades<br />

de negros também nos receberam<br />

muito bem. Em Patu, fomos surpreendidos<br />

pela riqueza cultural dos negros do<br />

Jatobá com sua louvação a São Benedito.<br />

Comprovamos também a vivacidade da<br />

dança dos Negros do Rosário de Caicó,<br />

e seus compadres nas proximidades de<br />

Parelhas.<br />

Fomos bater na divisa de São Miguel<br />

com Pereiro (CE) para conhecer a dança<br />

de São Gonçalo feita por lá. Ouvimos<br />

cânticos preservados que atravessaram<br />

mais de um século e registramos também<br />

a arte da louceira mais antiga de São<br />

Miguel. Bois-de-reis foram vários. Uns<br />

feitos como antigamente, outros mais<br />

infl uenciados pela modernidade. Mas,<br />

como bem disse Ariano Suassuna, a cultura<br />

popular se transforma. Não temos<br />

o direito de querer que as manifestações<br />

folclóricas permaneçam sempre iguais.<br />

Tivemos muitas conversas curiosas. Destaco,<br />

aqui, duas fi guras pitorescas. O<br />

mestre Antônio da Ladeira, comandante<br />

do Boi-de-reis de Santa Cruz, e Anacreonte,<br />

um seridoense de Cruzeta, homem<br />

humilde e grande conhecedor da genealogia<br />

do povo da sua região. Vencemos a<br />

resistência dos dois em contar um pouco<br />

sobre suas vidas. Antônio é um autêntico<br />

cabra da peste. Durante a conversa,<br />

o mestre do Boi-de-reis não largou, em<br />

nenhum momento, um cacetete de madeira<br />

feito por ele. “Se vier com frescura,<br />

eu dano no pé do ouvido”, disse. Anacreonte,<br />

também desconfi ado, não admitia<br />

ser fotografado. Para ele, a máquina era<br />

“coisa do cão”.<br />

A Preá também acerta ao exibir em suas<br />

páginas a riqueza dos sítios arqueológicos<br />

potiguares. O sítio Xiquexique, em<br />

Carnaúba dos Dantas, foi o que mais<br />

me despertou interesse. Não esperava<br />

encontrar tantas pinturas rupestres ricas<br />

em detalhes e tão nítidas, apesar da falta<br />

de interesse do poder público em preservar<br />

estes locais tão ricos em história. O<br />

Lajedo Soledade, em Apodi, por ter mais<br />

fama e já receber investimentos públicos,<br />

não chegou a me surpreender tanto.<br />

Mas, obviamente, também é um lugar<br />

encantador que merece ser visitado.<br />

Timbaúba dos Batistas, terra dos bordados,<br />

também superou nossas expectativas<br />

com suas inscrições rupestres no<br />

sítio Pintado. Foram várias descobertas<br />

e muito aprendizado. A entrevista com<br />

Ariano, no casarão do bairro Casa Forte,<br />

no Recife, foi uma aula de teatro e cultura<br />

popular.<br />

Também resgatamos fotógrafos importantes<br />

da cena natalense como Jaeci<br />

Emerenciano, destaque da oitava edição,<br />

e convencemos Giovanni Sérgio, um<br />

verdadeiro poeta da imagem, a ganhar<br />

as páginas do número 11. Outro perfi<br />

l, daqueles que todo repórter gosta de<br />

escrever, foi feito com o poeta “galado”<br />

Alex Nascimento. Criativo e sarcástico,<br />

Alex diz tudo que a gente gosta de ouvir.<br />

Quem não leu, pode conferir na Preá 14.<br />

Todas as edições estão disponíveis na página<br />

da FJA na internet (www.fja.rn.gov.<br />

br).<br />

Faria tudo de novo. Conheci o Rio<br />

Grande do Norte e seu povo em sua plenitude.<br />

Vi uma terra culturalmente rica<br />

e de povo humilde. Faltou agradecer a<br />

alguns pela oportunidade. Deixo aqui o<br />

meu agradecimento e a vontade de rever<br />

cada personagem. Vida longa à Preá!<br />

Jan/Fev 2006<br />

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