Família Saturno - Fundação Jose Augusto
Família Saturno - Fundação Jose Augusto
Família Saturno - Fundação Jose Augusto
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Circo <strong>Saturno</strong><br />
Tácito Costa<br />
Fotos: Anchieta Xavier<br />
O “camarim” onde Naelson Abreu<br />
da Silva se transforma no palhaço Párachoque<br />
é também o local onde ele dorme,<br />
em um colchão de solteiro, com o<br />
irmão, o trapezista Nadelson <strong>Saturno</strong><br />
de Carvalho. O local, uma cobertura de<br />
lona, imitando uma barraca de camping,<br />
é tão apertado que mal cabe uma pessoa.<br />
E para completar ainda está abarrotado<br />
de caixas e um baú com objetos do Circo<br />
<strong>Saturno</strong>. O calor, mesmo à noite, faz<br />
qualquer um que se demore lá dentro alguns<br />
minutos começar a suar. É sentado<br />
no colchão que Naelson, segurando um<br />
minúsculo espelho e com gestos rápidos<br />
e certeiros, em menos de dez minutos se<br />
apronta para entrar em cena.<br />
O espetáculo está marcado para começar<br />
às 21 horas. A velha Kombi passou o dia<br />
anunciando pelo bairro. Mas chega o horário<br />
previsto para o início do espetáculo<br />
e o público não aparece. Do lado de fora<br />
do Circo <strong>Saturno</strong>, armado no antigo e<br />
popular bairro das Rocas, em Natal, em<br />
frente à Ofi cina de Zé de Alaíde, na rua<br />
Luiz Joaquim de M. Filho, dois rapazes e<br />
uma moça conversam sob os fi os de alta<br />
tensão de um poste, de onde saem faíscas<br />
a intervalos intermitentes, que eles ignoram<br />
solenemente.<br />
O pessoal do circo aparenta tranqüilidade<br />
e cada um faz o seu trabalho. A bilheteira,<br />
que é a partner do atirador de<br />
facas, está a postos desde às 20h30. O<br />
engolidor de fogo cuida da portaria. Na<br />
entrada, já estão montadas duas mesinhas,<br />
com pipocas, algodão-doce e um<br />
freezer com água mineral e refrigerantes.<br />
O algodão e a pipoca custam 1 real, cada.<br />
Palhaço Pára-choque (Naelson Abreu da Silva) segue os passos do pai e do avô<br />
A garrafi nha de água fi ca também por 1<br />
real e o refrigerante 1 real e 50 centavos.<br />
Tudo é muito simples e feito com devoção<br />
e seriedade. A dignidade está presente<br />
nos menores gestos. Uma das principais<br />
atrações do espetáculo, “Sheik”, aguarda<br />
tranqüilo a sua vez de entrar em cena.<br />
Pela aparência robusta, deve receber<br />
mesmo tratamento de estrela. O salário<br />
é pago por semana e depende dos números<br />
que cada artista apresenta, mas não<br />
ultrapassa os 100 reais. Em alguns casos,<br />
quando o artista tem família, para melhorar<br />
a renda, ele pode negociar com o<br />
dono a venda de produtos, como “maçã<br />
do amor”, pipocas, picolés e outras mercadorias,<br />
no interior ou nas proximidades<br />
do circo.<br />
Naelson Abreu da Silva, 23 anos, o Párachoque,<br />
fi lho do dono, vai lá fora conversar.<br />
Já são 21h10. Ele explica que o<br />
público só sai de casa depois da novela.<br />
Jan/Fev 2006<br />
9