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a imagem de d. fernando na crônica de fernão lopes - Universidade ...

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Atingimos assim um elemento chave para enten<strong>de</strong>rmos a construção <strong>de</strong> Fernão<br />

Lopes acerca da <strong>imagem</strong> do rei <strong>na</strong>s suas três Crônicas. A justiça é esse elemento crucial<br />

que transpassa toda a produção lopea<strong>na</strong>. E é no prólogo da Crônica <strong>de</strong> D. Pedro I que o<br />

cronista nos apresenta seu conceito <strong>de</strong> justiça, associado ao bom governo, e que perpassará<br />

toda a obra <strong>de</strong> Fernão Lopes. Encontramos então no próprio Fernão Lopes uma possível<br />

resposta para alguns dos questio<strong>na</strong>mentos que nos colocamos no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste projeto. O<br />

cronista amarra sua <strong>na</strong>rrativa em torno do tema da justiça, pois a justiça é que confere a<br />

legitimida<strong>de</strong> ao rei.<br />

D. Fer<strong>na</strong>ndo, <strong>de</strong> acordo com o que Fernão Lopes escreve, “Amava a justiça” 9 ao<br />

começo <strong>de</strong> seu rei<strong>na</strong>do. O rei que pela <strong>de</strong>scrição lopea<strong>na</strong> seria formoso e justo, ao fi<strong>na</strong>l do<br />

seu rei<strong>na</strong>do transforma-se em doente e injusto, per<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ssa maneira o elemento<br />

principal que legitimava a sua ação à frente do reino, pois o cronista escreve que “a justiça<br />

nom tam soomente afremosenta os Reis <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> corporal mas ainda spiritual, pois<br />

quanto a fremusura do spiritu tem avantagem da do corpo: tanta a justiça em no Rei he<br />

mais neçessaria que outra fremosura”. 10<br />

A Crônica surge em meio a um contexto <strong>de</strong> reformulação dos po<strong>de</strong>res em Portugal.<br />

Esse momento refletirá <strong>na</strong> <strong>na</strong>rrativa <strong>de</strong> Fernão Lopes, que enfatiza as ações da mo<strong>na</strong>rquia e<br />

dos Concelhos – estes muitas vezes interpretados como o “povo”, dando ao cronista a fama<br />

<strong>de</strong> escrever <strong>crônica</strong>s do povo português – em <strong>de</strong>trimento das ações da nobreza cujas ações<br />

são vistas muitas vezes como prejudiciais para o conjunto do reino. Segundo Marcella<br />

Lopes Guimarães esta intencio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> presente no texto <strong>de</strong> Fernão Lopes não se trata <strong>de</strong><br />

uma premeditação da <strong>na</strong>rrativa a ser construída a respeito da mo<strong>na</strong>rquia portuguesa. O<br />

discurso lopeano surge <strong>de</strong>sta maneira, pois “o po<strong>de</strong>r cria a verda<strong>de</strong>, e, portanto, a sua<br />

legitimação”. 11 Po<strong>de</strong>mos afirmar com isso que a análise dos acontecimentos levada a cabo<br />

por Fernão Lopes é fruto da “verda<strong>de</strong>” <strong>na</strong> qual se cria <strong>na</strong>quele momento.<br />

Que verda<strong>de</strong>s eram estas? Este questio<strong>na</strong>mento nos leva novamente ao início <strong>de</strong>ssa<br />

discussão, ou seja, à crença <strong>de</strong> que D. Fer<strong>na</strong>ndo foi um mal rei. Quero ressaltar novamente<br />

aqui um elemento que ficou bastante explícito durante a exposição dos dados extraídos da<br />

Crônica em relação ao perfil do rei. São dados antagônicos. Eles mostram duas realida<strong>de</strong>s.<br />

Dois reis.<br />

Primeiramente um D. Fer<strong>na</strong>ndo mostrado como rei i<strong>de</strong>al, continuador do projeto<br />

começado por seu pai, D. Pedro I, que trouxera estabilida<strong>de</strong> novamente ao reino, e que, em<br />

vistas das circunstâncias <strong>na</strong>s quais D. Fer<strong>na</strong>ndo assume o trono, tinha todas as condições<br />

para ser continuado por seu sucessor. Em contrapartida vemos surgir um segundo D.<br />

Fer<strong>na</strong>ndo, que em oposição ao primeiro, se mostra <strong>de</strong>sastroso, impru<strong>de</strong>nte e incapaz <strong>de</strong> dar<br />

continuida<strong>de</strong> à atuação política <strong>de</strong> seu pai.<br />

Oliveira Marques nos dá pistas sobre as razões que geraram tal diferença entre o<br />

rei<strong>na</strong>do <strong>de</strong> D. Fer<strong>na</strong>ndo e <strong>de</strong> seu antecessor, D. Pedro I. segundo o historiador “ao<br />

contrário <strong>de</strong> D. Pedro, [D. Fer<strong>na</strong>ndo] <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhava da companhia <strong>de</strong> populares, preferindolhes<br />

a nobreza”. 12 Esta preferência pela nobreza, teoria à qual nos aproximamos, verificase<br />

através do casamento do D. Fer<strong>na</strong>ndo com D. Leonor Teles.<br />

O casamento com D. Leonor Teles é tido pela historiografia como o marco da<br />

mudança <strong>na</strong> atuação do mo<strong>na</strong>rca. Porém nossa pesquisa aponta em outra direção, que não<br />

seja pura e simplesmente um marco, ou um ponto a partir do qual a ação gover<strong>na</strong>tiva <strong>de</strong> D.<br />

9<br />

I<strong>de</strong>m. p. 3.<br />

10<br />

LOPES, Fernão. Crónica do senhor rei Dom Pedro oitavo rei <strong>de</strong>stes regnos. Porto: Livraria Civilização.<br />

1979. p. 5. Grifo meu.<br />

11<br />

O’BRIEN, Patrícia. Apud GUIMARÃES, Marcella Lopes. Op. Cit. Grifo meu.<br />

12<br />

MARQUES, A. H. <strong>de</strong> Oliveira. Nova História <strong>de</strong> Portugal. Vol. IV: Portugal <strong>na</strong> crise dos séculos XIV e<br />

XV. [s.l.]: Presença. [s.d.]. p. 510. Grifo meu.

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