Casarão do Chá - Imigrantesjaponeses.com.br
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<strong>Casarão</strong> <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
<strong>Chá</strong><<strong>br</strong> />
Mogi das Cruzes<<strong>br</strong> />
Celina Kuniyoshi<<strong>br</strong> />
Walter Pires<<strong>br</strong> />
Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São<<strong>br</strong> />
Paulo Secretaria de Esta<strong>do</strong> da<<strong>br</strong> />
Cultura<<strong>br</strong> />
CONDEPHAAT<<strong>br</strong> />
São Paulo 1984
CADERNOS DO CONDEPHAAT<<strong>br</strong> />
Pesquisa e texto: Hist. Celina Kuniyoshi e Arq.<<strong>br</strong> />
Walter Pires<<strong>br</strong> />
Coordenação geral: Antrop. José Guilherme<<strong>br</strong> />
Cantor Magnani<<strong>br</strong> />
Grupo de Colabora<strong>do</strong>res: Hist. Ana Luíza<<strong>br</strong> />
Martins, Arq. Hugo Segawa, Hist. Maria Luíza<<strong>br</strong> />
Tucci Carneiro, Soe. Naira Iracema M. Morga<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />
Antrop. Virgínia Valadão.<<strong>br</strong> />
Projeto gráfico: Arq. Hugo Segawa<<strong>br</strong> />
Caligrafia japonesa: Seiichi Meguro<<strong>br</strong> />
Composição, arte, fotolito, impressão,<<strong>br</strong> />
acabamento:<<strong>br</strong> />
IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO S.A. IMESP<<strong>br</strong> />
Direitos autorais reserva<strong>do</strong>s. 1984<<strong>br</strong> />
CONDEPHAAT<<strong>br</strong> />
Rua Libero Badaró 39, 11º andar<<strong>br</strong> />
01009 - São Paulo - SP<<strong>br</strong> />
CONSELHO DE DEFESA DO PATRIMÔNIO<<strong>br</strong> />
HISTÓRICO, ARQUEOLÓGICO, ARTÍSTICO<<strong>br</strong> />
E TURÍSTICO DO ESTADO DE SÃO PAULO<<strong>br</strong> />
PROF. ANTÔNIO A. ARANTES NETO<<strong>br</strong> />
Presidente<<strong>br</strong> />
PROF. AUGUSTO H. V. TITARELLI<<strong>br</strong> />
Vice-Presidente<<strong>br</strong> />
Representantes no Colegia<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
PROF.ª DORATH PINTO UCHOA<<strong>br</strong> />
Instituto de Pré-História da USP<<strong>br</strong> />
ENG. MÁRIO SAVELLI<<strong>br</strong> />
Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga<<strong>br</strong> />
PROF. ULPIANO T. B. DE MENEZES<<strong>br</strong> />
Departamento de História da Faculdade de<<strong>br</strong> />
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP<<strong>br</strong> />
ARQ. MURILLO MARX<<strong>br</strong> />
Departamento de História da Arquitetura e<<strong>br</strong> />
Estética <strong>do</strong> Projeto da FAUUSP<<strong>br</strong> />
PE. JAMIL NASSIF ABIB<<strong>br</strong> />
Conferência Nacional <strong>do</strong>s Bispos <strong>do</strong> Brasil-CNBB<<strong>br</strong> />
PE. ANTÔNIO DE OLIVEIRA GODINHO<<strong>br</strong> />
Cúria Metropolitana de São Paulo<<strong>br</strong> />
ARQ. ANTÔNIO LUÍS DIAS DE ANDRADE<<strong>br</strong> />
Secretaria <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico<<strong>br</strong> />
Nacional SPHAN<<strong>br</strong> />
PROF. JOSÉ LEANDRO DE B. PIMENTEL<<strong>br</strong> />
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo<<strong>br</strong> />
ARQ HELENA SAIA<<strong>br</strong> />
Instituto de Arquitetos <strong>do</strong> Brasil<<strong>br</strong> />
PROF.ª EUNICE RIBEIRO DURHAM<<strong>br</strong> />
Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura<<strong>br</strong> />
ARQ. CARLOS A. C. LEMOS<<strong>br</strong> />
Departamento de Atividades Regionais da<<strong>br</strong> />
Cultura da Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura
Sumário<<strong>br</strong> />
5 Apresentação<<strong>br</strong> />
Antônio Augusto Arantes Neto<<strong>br</strong> />
6 Preâmbulo<<strong>br</strong> />
José Guilherme Cantor Magnani<<strong>br</strong> />
8 Introdução<<strong>br</strong> />
12 Mogi das Cruzes e a imigração<<strong>br</strong> />
japonesa<<strong>br</strong> />
<strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong><<strong>br</strong> />
17 A propriedade da Sociedade<<strong>br</strong> />
Katakura Gomei Kaisha<<strong>br</strong> />
21 O programa de uso e o processo<<strong>br</strong> />
de beneficiamento<<strong>br</strong> />
30 O arquiteto-carpinteiro Kazuo<<strong>br</strong> />
Hanaoka<<strong>br</strong> />
37 O processo construtivo<<strong>br</strong> />
45 Influências da arquitetura<<strong>br</strong> />
japonesa<<strong>br</strong> />
48 Conclusão<<strong>br</strong> />
50 Bibliografia<<strong>br</strong> />
51 Agradecimentos
Apresentação<<strong>br</strong> />
Antônio Augusto Arantes Neto<<strong>br</strong> />
Presidente<<strong>br</strong> />
Com esta publicação iniciamos a série Monografias, através<<strong>br</strong> />
da qual procuramos tornar acessíveis aos interessa<strong>do</strong>s nas questões<<strong>br</strong> />
da preservação e valorização <strong>do</strong> patrimônio cultural —<<strong>br</strong> />
sejam eles especialistas, ou não —, resulta<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong>s feitos<<strong>br</strong> />
pelos Técnicos e Conselheiros <strong>do</strong> CONDEPHAAT.<<strong>br</strong> />
O tema deste primeiro número é o CASARÃO DO CHÁ,<<strong>br</strong> />
edificação representativa da história da imigração japonesa,<<strong>br</strong> />
localizada no Município de Mogi das Cruzes, próximo à cidade<<strong>br</strong> />
de São Paulo, tomba<strong>do</strong> em 1982 por este organismo.<<strong>br</strong> />
O Conselho de Defesa <strong>do</strong> Patrimônio Histórico, Arqueológico,<<strong>br</strong> />
Artístico e Turístico - CONDEPHAAT - é o órgão da<<strong>br</strong> />
Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura que tem <strong>com</strong>o atribuição a<<strong>br</strong> />
defesa <strong>do</strong> patrimônio cultural (histórico, artístico, arqueológico<<strong>br</strong> />
e paisagístico) no âmbito <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo, file<<strong>br</strong> />
é constituí<strong>do</strong> por um Colegia<strong>do</strong>, cujos mem<strong>br</strong>os representam<<strong>br</strong> />
instituições reconhecidamente atuantes nessa área,<<strong>br</strong> />
pelo Serviço Técnico, por um Centro de Documentação (Seção<<strong>br</strong> />
Técnico-Auxiliar) e por serviços jurídicos e administrativos<<strong>br</strong> />
de apoio. Integram o Serviço Técnico, tradicionalmente,<<strong>br</strong> />
arquitetos e historia<strong>do</strong>res e, hoje, contamos também <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
a contribuição de antropólogos, sociólogos, biólogos e geógrafos.<<strong>br</strong> />
Os técnicos <strong>do</strong> CONDEPHAAT desenvolvem, regularmente,<<strong>br</strong> />
estu<strong>do</strong>s so<strong>br</strong>e assentamentos históricos, espaços rurais e<<strong>br</strong> />
urbanos (bairros, conjuntos arquitetônicos, praças e jardins,<<strong>br</strong> />
edifícios), paisagens e áreas naturais, além de inventários de<<strong>br</strong> />
bens móveis e imóveis necessários à identificação <strong>do</strong> patrimônio<<strong>br</strong> />
cultural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo. Esses estu<strong>do</strong>s visam,<<strong>br</strong> />
basicamente, fundamentar decisões relativas a<<strong>br</strong> />
tombamento, aprovação de projetos de o<strong>br</strong>as e restauros<<strong>br</strong> />
em bens tomba<strong>do</strong>s e em suas áreas envoltórias (num raio de<<strong>br</strong> />
300 metros ao re<strong>do</strong>r desses imóveis) e definição de políticas<<strong>br</strong> />
de defesa e valorização de bens culturais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />
Acreditamos que esses trabalhos interessam também aos pesquisa<strong>do</strong>res<<strong>br</strong> />
e cidadãos de mo<strong>do</strong> geral já que reúnem sistematicamente<<strong>br</strong> />
e interpretam informações que se encontram<<strong>br</strong> />
freqüentemente dispersas em arquivos, bibliotecas ou mesmo<<strong>br</strong> />
na lem<strong>br</strong>ança das pessoas diretamente envolvidas.<<strong>br</strong> />
Além disso, julgamos ser nosso dever tornar públicos a<<strong>br</strong> />
conceituação, a meto<strong>do</strong>logia e os critérios que orientam a<<strong>br</strong> />
nossa atividade, particularmente no que se refere à decisão<<strong>br</strong> />
de tombar, que é constantemente tão polêmica.<<strong>br</strong> />
Para nós é fundamental reencontrar as raízes sociais diferenciadas<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> patrimônio cultural em São Paulo.<<strong>br</strong> />
Comecemos pelo CASARÃO DO CHÁ.<<strong>br</strong> />
5
6<<strong>br</strong> />
Foto Hugo Segawa, 1983
O viajante que por algum motivo resolvesse tomar o desvio no<<strong>br</strong> />
km 10 da estrada Mogi-Salesópolis, teria boas razões para<<strong>br</strong> />
sentir-se vítima de algum capricho da geografia: o repentino<<strong>br</strong> />
aparecimento de uma edificação no melhor estilo irimoya, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
frontões nokikarahafu, o<strong>br</strong>iga-o a diminuir a marcha e<<strong>br</strong> />
perguntar-se aonde esses poucos quilômetros de estrada de terra<<strong>br</strong> />
o levaram... A primeira vista, trata-se de um templo ou castelo<<strong>br</strong> />
japonês: o pórtico curvo, a cobertura e outros detalhes não<<strong>br</strong> />
deixam lugar a dúvidas. A medida, porém, que <strong>com</strong>eça a<<strong>br</strong> />
observá-lo mais de perto e <strong>com</strong> atenção, a surpresa aumenta: ao<<strong>br</strong> />
la<strong>do</strong> <strong>do</strong> estilo e técnicas características da arquitetura<<strong>br</strong> />
tradicional japonesa, hã materiais e elementos construtivos<<strong>br</strong> />
utiliza<strong>do</strong>s no Brasil, <strong>com</strong>o as telhas, as esquadrias, os pilares de<<strong>br</strong> />
tronco de eucalipto. Uma inspeção pelo seu interior tampouco<<strong>br</strong> />
esclarece o mistério; em vez de imagens, altares ou móveis -<<strong>br</strong> />
indícios de uma utilização religiosa ou simplesmente residencial<<strong>br</strong> />
- o que se vê são máquinas, caixotes, utensílios agrícolas.<<strong>br</strong> />
Trata-se, <strong>com</strong> efeito, <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> - antiga fá<strong>br</strong>ica, hoje<<strong>br</strong> />
usada <strong>com</strong>o depósito - precioso testemunho de uma das<<strong>br</strong> />
atividades a que se dedicaram os imigrantes japoneses no Brasil,<<strong>br</strong> />
razão pela qual foi tomba<strong>do</strong> pelo CONDEPHAAT, ou seja,<<strong>br</strong> />
reconheci<strong>do</strong> oficialmente <strong>com</strong>o um bem de valor histórico,<<strong>br</strong> />
arquitetônico e cultural, digno de cuida<strong>do</strong>s especiais visan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
sua preservação.<<strong>br</strong> />
E preciso ressaltar, entretanto, que não é o aspecto exótico ou<<strong>br</strong> />
excepcional de uma edificação, monumento ou objeto, o motivo<<strong>br</strong> />
que leva o Conselho de Defesa <strong>do</strong> Patrimônio a colocá-los sob<<strong>br</strong> />
esse tipo especial de proteção, o Tombamento.<<strong>br</strong> />
O valor e o significa<strong>do</strong> das características que mais chamam a<<strong>br</strong> />
atenção no <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, por exemplo - a utilização de<<strong>br</strong> />
elementos formais de castelos e templos para a construção de<<strong>br</strong> />
uma fá<strong>br</strong>ica, o emprego, por parte <strong>do</strong> arquiteto-carpinteiro<<strong>br</strong> />
japonês, que o construiu, de elementos próprios da região —, só<<strong>br</strong> />
podem ser apreendi<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>s no contexto<<strong>br</strong> />
sócio-histórico <strong>do</strong> qual são remanescentes.<<strong>br</strong> />
O <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, desta forma, deve ser encara<strong>do</strong> <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
representante e símbolo <strong>do</strong> esforço de uma coletividade culturalmente<<strong>br</strong> />
diferenciada em construir, num contexto<<strong>br</strong> />
sócio-político novo, seu próprio espaço de vida e trabalho,<<strong>br</strong> />
reinterpretan<strong>do</strong> concepções e modelos construtivos tradicionais.<<strong>br</strong> />
Assim, o valor desse monumento - produto <strong>do</strong> encontro de<<strong>br</strong> />
padrões culturais diferentes - reside principalmente no conjunto<<strong>br</strong> />
de significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s quais terminou sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s poucos<<strong>br</strong> />
testemunhos.<<strong>br</strong> />
José Guilherme Cantor Magnani<<strong>br</strong> />
7
8<<strong>br</strong> />
Com estes poucos ideogramas — otchá no kooba<<strong>br</strong> />
—, que significam "fá<strong>br</strong>ica de chá" em português,<<strong>br</strong> />
os japoneses chamam ainda hoje o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>.<<strong>br</strong> />
Mesmo sen<strong>do</strong> uma denominação genérica, foi desse<<strong>br</strong> />
mo<strong>do</strong> que essa construção tornou-se conhecida entre<<strong>br</strong> />
os imigrantes japoneses e seus descendentes, que<<strong>br</strong> />
viveram ou vivem em Cocuera. Nenhum outro nome<<strong>br</strong> />
era necessário para designá-lo: otchá no kooba<<strong>br</strong> />
referenciava o edifício e seu uso. No entanto, a<<strong>br</strong> />
ação <strong>do</strong> tempo pode apagar da memória os<<strong>br</strong> />
referenciais importantes de nossa história. E<<strong>br</strong> />
otchá no kooba, ou fá<strong>br</strong>ica de chá, acabou sen<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
populariza<strong>do</strong> <strong>com</strong>o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, intraduzível<<strong>br</strong> />
para o japonês — seria uma imensa casa de chá,<<strong>br</strong> />
local onde se realizariam cerimônias de chá? Apesar<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> termo <strong>Casarão</strong> não nos remeter mais à<<strong>br</strong> />
identificação precisa <strong>do</strong> edifício e sua função, ele<<strong>br</strong> />
nos sugere significa<strong>do</strong>s que decerto passou a assumir.<<strong>br</strong> />
E, também, mesmo quan<strong>do</strong> a ação concreta que<<strong>br</strong> />
permeava essa edificação desapareceu (o fazer, o<<strong>br</strong> />
produzir), conservou-se através da memória, <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
tempo de lem<strong>br</strong>ar, a sua essência. O chá.<<strong>br</strong> />
<strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>.
Introdução<<strong>br</strong> />
Darumá, apóstolo <strong>do</strong> Budismo, partiu da índia, seu<<strong>br</strong> />
país natal, para ir pregar no Celeste Império. Fez prodígios<<strong>br</strong> />
na propaganda da fé que encarnava; mas, apesar<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s seus bons sentimentos, da sua pureza e da sua<<strong>br</strong> />
fé, certa manhã acor<strong>do</strong>u aborreci<strong>do</strong>; sem que se saiba<<strong>br</strong> />
a causa, num gesto de desespero, cortou as pálpe<strong>br</strong>as<<strong>br</strong> />
e arremessou-as ao solo; delas nasceram alguns arbustos<<strong>br</strong> />
que foram crescen<strong>do</strong> e tomaram a forma de uma<<strong>br</strong> />
moita. Eram as árvores de chá. Nasci<strong>do</strong> de um santo,<<strong>br</strong> />
o chá também é santo.<<strong>br</strong> />
DA MITOLOGIA JAPONESA<<strong>br</strong> />
(SPALDING, Tassilo Orpheu. Dicionário das<<strong>br</strong> />
mitologias européias e ocidentais. São<<strong>br</strong> />
Paulo, Cultrix/MEC, 1973).<<strong>br</strong> />
Realizar um estu<strong>do</strong> de tombamento significa, antes de mais<<strong>br</strong> />
nada, mergulhar na história <strong>do</strong> bem cultural a ser preserva<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
e assim poder reconstituir o processo de seu surgimento<<strong>br</strong> />
e as diferentes fases pelas quais passou. Não se trata, contu<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />
de uma reconstituição meramente cronológica, pois o<<strong>br</strong> />
objetivo final é <strong>com</strong>preender o conjunto das relações que<<strong>br</strong> />
estabeleceu e ainda mantém <strong>com</strong> o contexto geográfico,<<strong>br</strong> />
sócio-político e cultural mais a<strong>br</strong>angente no qual se insere.<<strong>br</strong> />
Isto implica a<strong>do</strong>tar uma estratégia de análise que, a partir<<strong>br</strong> />
de diferentes <strong>do</strong>mínios <strong>do</strong> conhecimento, seja capaz de <strong>com</strong>preender<<strong>br</strong> />
to<strong>do</strong>s esses aspectos. Só então é que se poderá concluir,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> fundamento científico, so<strong>br</strong>e sua<<strong>br</strong> />
representatividade e importância.<<strong>br</strong> />
Os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> são submeti<strong>do</strong>s à apreciação <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
colegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> CONDEPHAAT ao qual cabe a<<strong>br</strong> />
responsabilidade de avaliar, mediante critérios próprios, a<<strong>br</strong> />
relevância desse bem no contexto <strong>do</strong> patrimônio cultural de<<strong>br</strong> />
nosso Esta<strong>do</strong>, reconhecer seu valor e preservá-lo por meio<<strong>br</strong> />
da aplicação de um instrumento legal, o Tombamento.<<strong>br</strong> />
Ao iniciar o estu<strong>do</strong> de tombamento <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, nossa<<strong>br</strong> />
primeira sensação diante desse edifício foi de estranha-<<strong>br</strong> />
9
10<<strong>br</strong> />
1. BALDUS, Herbert e WILLEMS, Emilio. Casas e túmulos<<strong>br</strong> />
de japoneses no vale <strong>do</strong> Ribeira de Iguape.<<strong>br</strong> />
Revista <strong>do</strong> Arquivo Municipal. São Paulo, 77:121-35,<<strong>br</strong> />
jun./jul. 1941.<<strong>br</strong> />
2. ALMEIDA, Vicente Unzer de. Condições de vida <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
pequeno agricultor no município de Registro. São<<strong>br</strong> />
Paulo, Escola de Sociologia e Política, 1957.<<strong>br</strong> />
mento: <strong>com</strong>o <strong>com</strong>preender a presença, na área rural de Mogi<<strong>br</strong> />
das Cruzes, de uma construção imponente, <strong>com</strong> características<<strong>br</strong> />
formais de castelos e templos japoneses, edificada para<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>igar uma atividade fa<strong>br</strong>il? Como inserí-lo num<<strong>br</strong> />
panorama no qual os remanescentes arquitetônicos<<strong>br</strong> />
edifica<strong>do</strong>s pelos imigrantes nipônicos são praticamente<<strong>br</strong> />
desconheci<strong>do</strong>s? E ainda, <strong>com</strong>o recuperar a real<<strong>br</strong> />
contribuição desse contingente étnico nessa área, quan<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />
senso <strong>com</strong>um identifica-o, em geral, <strong>com</strong> atividades<<strong>br</strong> />
hortifrutigranjeiras, sistemas de cooperativas agrícolas,<<strong>br</strong> />
ideogramas presentes em vários estabelecimentos <strong>com</strong>erciais,<<strong>br</strong> />
etc?<<strong>br</strong> />
No âmbito acadêmico conhecemos diversos trabalhos so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
temas específicos relaciona<strong>do</strong>s <strong>com</strong> a colônia japonesa no<<strong>br</strong> />
Brasil, <strong>com</strong>o o estu<strong>do</strong> de seu processo imigratório, os problemas<<strong>br</strong> />
de assimilação e integração cultural, mobilidade geográfica<<strong>br</strong> />
e social, estruturas de parentesco, cooperativismo e<<strong>br</strong> />
assim por diante, <strong>com</strong>pon<strong>do</strong>, em seu conjunto, um quadro<<strong>br</strong> />
relativamente a<strong>br</strong>angente no campo das Ciências Sociais. No<<strong>br</strong> />
entanto, apesar da publicação de alguns ensaios preliminares,<<strong>br</strong> />
o assentamento espacial <strong>do</strong> japonês no ambiente urbano<<strong>br</strong> />
ou rural <strong>br</strong>asileiro ainda não foi adequadamente<<strong>br</strong> />
investiga<strong>do</strong>. Referimo-nos, em particular, a uma análise que<<strong>br</strong> />
considerasse a maneira <strong>com</strong>o o imigrante nipônico se defrontou<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> o meio físico-cultural <strong>br</strong>asileiro, obviamente<<strong>br</strong> />
diverso <strong>do</strong> Japão, e <strong>com</strong>o, a partir de seu repertório original,<<strong>br</strong> />
foi <strong>do</strong>minan<strong>do</strong> e se adaptan<strong>do</strong> ao novo habitat. O trabalho<<strong>br</strong> />
que se apresenta neste Caderno — desenvolvi<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
estu<strong>do</strong> de tombamento <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> de Mogi das<<strong>br</strong> />
Cruzes —, é uma tentativa de contribuir para superar esta<<strong>br</strong> />
lacuna, situan<strong>do</strong>-se, desta forma, entre os poucos já realiza<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
nesse senti<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o os de Willems e Baldus 1 , Unzer<<strong>br</strong> />
de Almeida 2 e os recentes estu<strong>do</strong>s de tombamento realiza<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
pelo CONDEPHAAT so<strong>br</strong>e o Cemitério Japonês de<<strong>br</strong> />
Alvares Macha<strong>do</strong> e os galpões e engenho da Kaigai Kogyo<<strong>br</strong> />
Kabushiki Kaisha, em Registro.<<strong>br</strong> />
Em uma primeira instância, o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> suscitou algumas<<strong>br</strong> />
indagações: <strong>com</strong>o uma instalação de programa arquitetônico<<strong>br</strong> />
fa<strong>br</strong>il (beneficiamento e empacotamento de chá),<<strong>br</strong> />
localizada na área rural de Mogi das Cruzes, pôde ostentar<<strong>br</strong> />
elementos formais empresta<strong>do</strong>s de castelos e templos<<strong>br</strong> />
japoneses e a<strong>do</strong>tar um sistema construtivo característico <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
Japão? Por que seu proprietário haveria de se preocupar em<<strong>br</strong> />
requintar a tal ponto essa fá<strong>br</strong>ica, quan<strong>do</strong> dispunha aqui de<<strong>br</strong> />
alternativas construtivas mais simples e rápidas para seu<<strong>br</strong> />
empreendimento? Como explicar a presença da cultura <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
chá naquele município, reduto tradicional de produção<<strong>br</strong> />
hortifrutigranjeira, se foi em Registro que se desenvolveram<<strong>br</strong> />
os chazais mais significativos cultiva<strong>do</strong>s pelas mãos <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
imigrantes japoneses? Houve condições específicas que<<strong>br</strong> />
permitiram
que o chá patrocinasse uma o<strong>br</strong>a <strong>do</strong> porte <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong>? Como<<strong>br</strong> />
traduzir a construção desta evidente reminiscência<<strong>br</strong> />
nipônica no contexto político da segunda metade <strong>do</strong>s anos<<strong>br</strong> />
30 no Brasil, quan<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> Novo estabeleceu sérias restrições<<strong>br</strong> />
às atividades de estrangeiros, através de medidas de<<strong>br</strong> />
caráter nacionalista? Responder a estas e outras indagações<<strong>br</strong> />
que surgiram no decorrer das pesquisas deman<strong>do</strong>u buscas<<strong>br</strong> />
nas fontes tradicionais de informação, procuran<strong>do</strong> esclarecer<<strong>br</strong> />
na bibliografia relacionada <strong>com</strong> a imigração japonesa o<<strong>br</strong> />
contexto geral da vinda <strong>do</strong>s nipônicos para o Brasil e, em<<strong>br</strong> />
particular, o seu deslocamento para a região de Mogi das<<strong>br</strong> />
Cruzes.<<strong>br</strong> />
Por outro la<strong>do</strong>, para a <strong>com</strong>preensão <strong>do</strong> programa arquitetônico<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> foi necessário conhecer as fases <strong>do</strong> processo<<strong>br</strong> />
produtivo <strong>do</strong> chá — <strong>do</strong> cultivo ao beneficiamento —,<<strong>br</strong> />
toman<strong>do</strong>-se <strong>com</strong>o parâmetro as informações existentes so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
essa cultura em Registro.<<strong>br</strong> />
Foi preciso também estudar a arquitetura japonesa para que<<strong>br</strong> />
se pudesse estabelecer referências entre o <strong>Casarão</strong> e as possíveis<<strong>br</strong> />
matrizes formais, sem abstrair <strong>do</strong> contexto da arquitetura<<strong>br</strong> />
rural paulista e de outras possíveis manifestações de<<strong>br</strong> />
arquitetura <strong>do</strong> imigrante japonês. Diante da <strong>com</strong>plexidade<<strong>br</strong> />
desse exemplar foi indispensável a realização de levantamentos<<strong>br</strong> />
métricos, a interpretação da <strong>do</strong>cumentação fotográfica e<<strong>br</strong> />
a análise <strong>com</strong>parativa <strong>com</strong> outros exemplares para que fosse<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>preendi<strong>do</strong> e avalia<strong>do</strong> da maneira mais a<strong>br</strong>angente possível.<<strong>br</strong> />
Recuperar a especificidade da construção <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong><<strong>br</strong> />
implicou, ademais, em colher depoimentos das pessoas que<<strong>br</strong> />
participaram ou se relacionaram de alguma forma <strong>com</strong> o empreendimento:<<strong>br</strong> />
a filha <strong>do</strong> construtor, Amélia Tamie Inose; o<<strong>br</strong> />
filho <strong>do</strong> administra<strong>do</strong>r da fazenda onde se construiu o edifício,<<strong>br</strong> />
Toshio Furihata; o genro <strong>do</strong> administra<strong>do</strong>r, Torao<<strong>br</strong> />
Sasaki; o ex-redator e ex-diretor da revista Brasil Agrícola,<<strong>br</strong> />
Tsunezo Sato e o atual proprietário <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong>, Sethiro<<strong>br</strong> />
Namie. Além destes, foram entrevista<strong>do</strong>s, recentemente, a<<strong>br</strong> />
esposa e duas filhas <strong>do</strong> construtor, Toko Hanaoka, Sumie<<strong>br</strong> />
Terahara e Mitie Takao, e um de seus auxiliares, Goro<<strong>br</strong> />
Urushibata.<<strong>br</strong> />
Resgatar alguns <strong>do</strong>s aspectos acima menciona<strong>do</strong>s vem de encontro<<strong>br</strong> />
ao reconhecimento da contribuição de um contingente<<strong>br</strong> />
étnico cuja presença e atuação denota, mediante<<strong>br</strong> />
manifestações incorporadas ao cotidiano paulista, a<<strong>br</strong> />
heterogeneidade de referências culturais que conformou e<<strong>br</strong> />
conforma a nossa formação social, evidencian<strong>do</strong> dessa<<strong>br</strong> />
maneira uma paisagem plena de diversidade. Diversidade<<strong>br</strong> />
cultural cujos testemunhos constituem o objeto da ação<<strong>br</strong> />
deste CONDEPHAAT.<<strong>br</strong> />
11
12<<strong>br</strong> />
Mogi das Cruzes<<strong>br</strong> />
e a imigração<<strong>br</strong> />
japonesa<<strong>br</strong> />
O segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> estende-se de 1926 a 1941 e o<<strong>br</strong> />
terceiro, inicia-se no pós-guerra. Essa periodização,<<strong>br</strong> />
a<strong>do</strong>tada por diversos autores, foi estabelecida por<<strong>br</strong> />
Hiroshi Saito em O japonês no Brasil. Estu<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />
mobilidade e fixação. São Paulo, FESP, 1961,<<strong>br</strong> />
p.29-30.<<strong>br</strong> />
4. Com suas técnicas, eles construíram a riqueza de Mogi.<<strong>br</strong> />
O Esta<strong>do</strong> de São Paulo. São Paulo, 18 jun. 1978.<<strong>br</strong> />
Suplemento Especial, p.21.<<strong>br</strong> />
Mogi das Cruzes é uma das mais antigas povoações erguidas no<<strong>br</strong> />
planalto paulista. Sua fundação data <strong>do</strong> último decênio <strong>do</strong> século<<strong>br</strong> />
XVI e já em 19/09/1611 era elevada a vila. No entanto, esse<<strong>br</strong> />
município só veio a adquirir importância econômica para o<<strong>br</strong> />
Esta<strong>do</strong> de São Paulo no decorrer <strong>do</strong> século XX, ao<<strong>br</strong> />
transformar-se em centro hortifrutigranjeiro abastece<strong>do</strong>r das<<strong>br</strong> />
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, e em uma das áreas de<<strong>br</strong> />
concentração industrial que se instalou ao longo das vias de<<strong>br</strong> />
ligação entre estas duas metrópoles.<<strong>br</strong> />
Para a implantação e desenvolvimento da produção<<strong>br</strong> />
hortifrutigranjeira em Mogi das Cruzes, foi decisiva a contribuição<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s imigrantes japoneses que aí se fixaram a partir de 1919,<<strong>br</strong> />
ou seja, ainda no primeiro perío<strong>do</strong> da imigração japonesa para o<<strong>br</strong> />
Esta<strong>do</strong> de São Paulo (1908/25) 3 . No transcorrer desse perío<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />
os nipônicos foram encaminha<strong>do</strong>s pelas <strong>com</strong>panhias de<<strong>br</strong> />
emigração <strong>do</strong> Japão constituí<strong>do</strong>s em famílias de lavra<strong>do</strong>res, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
passagem parcialmente subvencionada pelo governo paulista e<<strong>br</strong> />
ten<strong>do</strong> <strong>com</strong>o destino final a lavoura cafeeira onde trabalhariam<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o colonos. A maioria desses imigrantes <strong>com</strong>eçou <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
mão-de-o<strong>br</strong>a assalariada nas fazendas de café, passan<strong>do</strong> em<<strong>br</strong> />
seguida à condição de arrendatário e, finalmente, à de pequeno<<strong>br</strong> />
proprietário. Como veremos a seguir, a trajetória <strong>do</strong> agrônomo<<strong>br</strong> />
Shiguetoshi Suzuki e sua mulher Fujie, primeiros imigrantes<<strong>br</strong> />
japoneses estabeleci<strong>do</strong>s em Mogi das Cruzes, é marcada por<<strong>br</strong> />
estas fases, diferin<strong>do</strong> apenas por não se iniciar em uma zona de<<strong>br</strong> />
cafezais.<<strong>br</strong> />
O destino <strong>do</strong> casal Suzuki era uma fazenda de café em<<strong>br</strong> />
Taquaritinga. Ao ter conhecimento, porém, de que nessa região<<strong>br</strong> />
havia grande incidência de maleita, Shiguetoshi — aconselha<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
por um amigo <strong>do</strong> consula<strong>do</strong> — foi trabalhar em uma plantação<<strong>br</strong> />
de batata e cebola em Sabaúna, bairro distante 20 km da sede <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
município de Mogi das Cruzes.<<strong>br</strong> />
Pouco tempo depois — descontente <strong>com</strong> o tratamento que era<<strong>br</strong> />
da<strong>do</strong> à terra e <strong>com</strong> o pagamento que <strong>com</strong>eçava a se atrasar — o<<strong>br</strong> />
casal Suzuki fugiu de Sabaúna, instalan<strong>do</strong>-se na propriedade de<<strong>br</strong> />
Carlos Steimberg, no bairro de Cocuera, a 03/09/1919.<<strong>br</strong> />
Decorri<strong>do</strong>s três anos, tornou-se proprietário de 10 alqueires de<<strong>br</strong> />
terras, onde passou a plantar batatinha e repolho, "para<<strong>br</strong> />
estranheza <strong>do</strong>s caboclos, acostuma<strong>do</strong>s às culturas tradicionais de<<strong>br</strong> />
milho, mandioca e feijão" 4 .<<strong>br</strong> />
Atenden<strong>do</strong> a seu chama<strong>do</strong>, a partir de 1921, os japoneses foram<<strong>br</strong> />
chegan<strong>do</strong> a Cocuera. Em 1927, havia trinta famílias instaladas<<strong>br</strong> />
nesse bairro. Segun<strong>do</strong> depoimentos, muitos imigrantes<<strong>br</strong> />
deslocavam-se para Mogi das Cruzes por indicação de um<<strong>br</strong> />
médico, Sentaro Takaoka, que tratava de japoneses atingi<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
pela maleita, vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Ribeira, da No-
oeste e <strong>do</strong> Rio Grande. A to<strong>do</strong>s dizia ser Mogi terra livre<<strong>br</strong> />
de <strong>do</strong>enças, por seu clima e altitude — 700 m acima <strong>do</strong> nível<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> mar 5 .<<strong>br</strong> />
Na década de 30, o processo de formação da colônia japonesa<<strong>br</strong> />
em Mogi das Cruzes intensificou-se <strong>com</strong> a vinda de<<strong>br</strong> />
imigrantes provenientes das áreas de cultivo de batatinha<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o Cotia, Mairiporã e Taipas e <strong>com</strong> o deslocamento de<<strong>br</strong> />
colonos e arrendatários das terras de café e de cultura de<<strong>br</strong> />
cereais, que adquiriram nesse município pequenas glebas<<strong>br</strong> />
(quatro a cinco hectares) para o plantio de verduras e frutas.<<strong>br</strong> />
Fixaram-se também em Mogi lavra<strong>do</strong>res vin<strong>do</strong>s diretamente<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> Japão, embora em menor número. Entre estes se<<strong>br</strong> />
encontra o arquiteto-carpinteiro Kazuo Hanaoka, construtor<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>.<<strong>br</strong> />
Por conseguinte, concentraram-se em Mogi das Cruzes principalmente<<strong>br</strong> />
os japoneses que imigraram durante o primeiro<<strong>br</strong> />
perío<strong>do</strong>, apesar de já estar em curso o segun<strong>do</strong> momento da<<strong>br</strong> />
imigração japonesa para o Esta<strong>do</strong> de São Paulo (1926/41).<<strong>br</strong> />
Esse perío<strong>do</strong> caracterizou-se pela vinda de imigrantes po<strong>br</strong>es<<strong>br</strong> />
subvenciona<strong>do</strong>s integralmente pelo governo nipônico,<<strong>br</strong> />
e de coloniza<strong>do</strong>res-proprietários <strong>com</strong> recursos para os núcleos<<strong>br</strong> />
agrícolas organiza<strong>do</strong>s pela BRATAC 6 . O apoio governamental<<strong>br</strong> />
japonês a estes núcleos deve ter contribuí<strong>do</strong> para<<strong>br</strong> />
diminuir a mobilidade <strong>do</strong>s imigrantes <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
pelo interior paulista.<<strong>br</strong> />
Após a II Guerra cresceu sensivelmente a tendência entre<<strong>br</strong> />
os imigrantes japoneses de se fixarem em Mogi <strong>com</strong>o pequenos<<strong>br</strong> />
proprietários hortifruticultores. Essa tendência pode<<strong>br</strong> />
ser considerada <strong>com</strong>o um <strong>do</strong>s reflexos da fase crítica <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
processo de assimilação e integração à sociedade <strong>br</strong>asileira,<<strong>br</strong> />
vivenciada pelos nipônicos no perío<strong>do</strong> de 1938 a 1948.<<strong>br</strong> />
Já em 1934, a imigração japonesa sofrerá rude golpe <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
aprovação, pela Assembléia Constituinte, <strong>do</strong> regime de<<strong>br</strong> />
quotas por nacionalidade 7 . No final dessa década, os japoneses<<strong>br</strong> />
estabeleci<strong>do</strong>s no Brasil viram-se submeti<strong>do</strong>s à pressões<<strong>br</strong> />
de <strong>do</strong>is tipos de nacionalismo: por um la<strong>do</strong>, o<<strong>br</strong> />
expansionismo militar japonês no Pacífico e, por outro, a<<strong>br</strong> />
política nacionalista a<strong>do</strong>tada durante o Esta<strong>do</strong> Novo. As<<strong>br</strong> />
restrições baixadas por Vargas — suspensão de jornais e<<strong>br</strong> />
escolas em idioma estrangeiro — abalaram profundamente<<strong>br</strong> />
os nipônicos, uma vez que significaram o rompimento de<<strong>br</strong> />
seus canais de <strong>com</strong>unicação num momento em que ainda<<strong>br</strong> />
não haviam alcança<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio da língua portuguesa.<<strong>br</strong> />
Foi neste esta<strong>do</strong> praticamente de total isolamento <strong>do</strong>s japoneses<<strong>br</strong> />
que se iniciou a guerra no Pacífico (final de 1941), que<<strong>br</strong> />
trouxe <strong>com</strong>o conseqüência uma intensificação das medidas<<strong>br</strong> />
repressivas. Além <strong>do</strong> rompimento das relações diplomáti-<<strong>br</strong> />
5. Idem.<<strong>br</strong> />
13<<strong>br</strong> />
6. A BRATAC (Sociedade de Colonização <strong>do</strong> Brasil) —<<strong>br</strong> />
empresa japonesa de economia mista, <strong>com</strong> capital<<strong>br</strong> />
forma<strong>do</strong> pelas contribuições das Províncias e de particulares<<strong>br</strong> />
— objetivava recrutar e encaminhar os<<strong>br</strong> />
emigrantes de colonização agrícola que possuíam<<strong>br</strong> />
recursos próprios.<<strong>br</strong> />
O projeto aprova<strong>do</strong> estabelecia uma quota anual por<<strong>br</strong> />
nacionalidade equivalente a 2% <strong>do</strong> total entra<strong>do</strong> nos<<strong>br</strong> />
últimos 50 anos. Como a corrente migratória japonesa<<strong>br</strong> />
era bastante recente e se intensificara principalmente<<strong>br</strong> />
a partir de 1928, esse projeto impunha uma<<strong>br</strong> />
séria limitação aos interesses nipônicos: introdução<<strong>br</strong> />
de apenas 2.847 imigrantes por ano.
14<<strong>br</strong> />
Formação de um grupo denomina<strong>do</strong> de "vitoristas"<<strong>br</strong> />
(Kachigumi) que, na defesa intransigente da superioridade<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> Japão, manifestavam-se contra os conterrâneos<<strong>br</strong> />
que ousavam assumir uma atitude contrária,<<strong>br</strong> />
acusan<strong>do</strong>-os, portanto de "derrotistas"<<strong>br</strong> />
(Makegumi) e colabora<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s inimigos de sua<<strong>br</strong> />
pátria. Os "vitoristas" foram responsáveis por<<strong>br</strong> />
diversos atos de terrorismo e assassinatos pratica<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
contra mem<strong>br</strong>os da colônia japonesa logo após o<<strong>br</strong> />
término da II Guerra.<<strong>br</strong> />
Imigrantes japoneses no convés <strong>do</strong> navio "LaPlata<<strong>br</strong> />
Maru ", que partiu de Kobe a 18 de a<strong>br</strong>il e chegou a<<strong>br</strong> />
Santos a 1º de junho de 1929. Foto Kazuo Hanaoka,<<strong>br</strong> />
cedida por Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
cas entre o Brasil e o Japão (1942), os imigrantes japoneses<<strong>br</strong> />
sofreram, durante o perío<strong>do</strong> da II Guerra, cerceamento da<<strong>br</strong> />
liberdade de lo<strong>com</strong>oção, congelamento e confisco de bens,<<strong>br</strong> />
confinamento parcial das áreas de residência, fechamento<<strong>br</strong> />
de associações, remoção de grupos inteiros e numerosas prisões<<strong>br</strong> />
sob varia<strong>do</strong>s pretextos.<<strong>br</strong> />
Estas medidas causaram no interior da colônia japonesa um<<strong>br</strong> />
clima de desorientação política, bastante propício ao surgimento<<strong>br</strong> />
de graves conflitos internos 8 , que se tornaram mais<<strong>br</strong> />
violentos na medida em que os japoneses aqui radica<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
viram-se o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>s a redirecionar seus objetivos. Neste momento,<<strong>br</strong> />
mais da metade <strong>do</strong>s agricultores nipônicos já tinha<<strong>br</strong> />
alcança<strong>do</strong> a condição de proprietário, assim <strong>com</strong>o muitos<<strong>br</strong> />
filhos de imigrantes haviam assimila<strong>do</strong> alguns aspectos da<<strong>br</strong> />
cultura <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
Estes fatores, alia<strong>do</strong>s à situação de isolamento a que ficaram<<strong>br</strong> />
reduzi<strong>do</strong>s em relação à sua pátria — as relações<<strong>br</strong> />
diplomáticas foram restabelecidas somente em 1951 — e<<strong>br</strong> />
internamente, em função das citadas medidas restritivas,<<strong>br</strong> />
conduziram os japoneses a reorganizarem suas <strong>com</strong>unidades<<strong>br</strong> />
em uma base mais autônoma, modifican<strong>do</strong> o objetivo<<strong>br</strong> />
inicial da permanência temporária para um plano de<<strong>br</strong> />
atividades a longo prazo.<<strong>br</strong> />
Esse perío<strong>do</strong> — apesar da reduzida entrada de imigrantes<<strong>br</strong> />
— foi extremamente significativo para o processo de assimilação<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s japoneses ao universo cultural <strong>br</strong>asileiro. A renúncia<<strong>br</strong> />
ao sonho de retorno ao Japão representou o aban<strong>do</strong>no<<strong>br</strong> />
de diversas referências culturais de origem, e a busca,<<strong>br</strong> />
nesse novo universo, de uma outra perspectiva para sua vida<<strong>br</strong> />
futura: já não se tratava, agora, de aceitar os novos hábitos<<strong>br</strong> />
e valores apenas para evitar a discriminação, mas <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
forma de integração definitiva à sociedade <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
Diante dessa situação política extremamente conturbada, algumas<<strong>br</strong> />
famílias japonesas deslocaram-se para outras áreas,<<strong>br</strong> />
no intuito de nelas concretizarem seus planos de permanência<<strong>br</strong> />
definitiva no Brasil. Mogi das Cruzes foi uma dessas<<strong>br</strong> />
áreas escolhidas, em função da presença de vários núcleos<<strong>br</strong> />
de imigrantes, e pela potencialidade econômica de seu<<strong>br</strong> />
setor agrícola. Esse foi apenas um <strong>do</strong>s aspectos que<<strong>br</strong> />
contribuíram para o crescimento da colônia nipônica nesse<<strong>br</strong> />
município no pós-guerra.<<strong>br</strong> />
Na realidade, a concentração japonesa em Mogi das Cruzes,<<strong>br</strong> />
voltada para a produção hortifrutigranjeira, esteve intimamente<<strong>br</strong> />
relacionada à crescente industrialização e urbanização<<strong>br</strong> />
da metrópole paulistana e <strong>do</strong>s municípios vizinhos,<<strong>br</strong> />
ao aumento da demanda de abastecimento exigida pela expansão<<strong>br</strong> />
demográfica e à modificação <strong>do</strong>s hábitos<<strong>br</strong> />
alimentares dessa população. Outro fator para o<<strong>br</strong> />
desenvolvimento des-
ta produção foi a melhoria das condições de transporte no<<strong>br</strong> />
Vale <strong>do</strong> Paraíba, que a<strong>br</strong>iu possibilidades de ligação <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>is grandes merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res (São Paulo e Rio de<<strong>br</strong> />
Janeiro), assim <strong>com</strong>o a formação e consolidação de Cooperativas<<strong>br</strong> />
Agrícolas, que apoiaram as atividades <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res<<strong>br</strong> />
através <strong>do</strong> fornecimento de sementes, adubos, da assistência<<strong>br</strong> />
técnica e da <strong>com</strong>ercialização de seus produtos.<<strong>br</strong> />
Essa concentração pode ser observada ainda hoje em diversos<<strong>br</strong> />
bairros <strong>do</strong> município que receberam contribuição ou foram<<strong>br</strong> />
povoa<strong>do</strong>s por esses imigrantes, <strong>com</strong>o: Cocuera (1919),<<strong>br</strong> />
Porteira Preta (1920), Sabaúna (1921), Botujuru (1924), César<<strong>br</strong> />
de Souza (1925), Vila Moraes (1928), Capela (1930),<<strong>br</strong> />
Biritiba-Ussu (1932, na época pertencia a Mogi), Itapanhaú<<strong>br</strong> />
(1932), Pin<strong>do</strong>rama (década de 40), Taboão (1946), Varinhas<<strong>br</strong> />
(1948), Quatinga (1951), Taiaçupeba (s.d.) e Caputera (s.d.).<<strong>br</strong> />
Após algum tempo de fixação, em to<strong>do</strong>s esses bairros, os<<strong>br</strong> />
imigrantes formaram a sua "Sociedade Japonesa", forma<<strong>br</strong> />
organizativa e de unificação <strong>do</strong>s interesses <strong>com</strong>unitários.<<strong>br</strong> />
A colônia japonesa de Mogi das Cruzes até hoje é famosa<<strong>br</strong> />
pelo desenvolvimento de novas técnicas na avicultura e na<<strong>br</strong> />
agricultura, e pela introdução de diversos produtos na região,<<strong>br</strong> />
entre os quais se encontra o chá.<<strong>br</strong> />
15<<strong>br</strong> />
Festa no interior <strong>do</strong> 'La Plata Maru". 1929. Foto<<strong>br</strong> />
Kazuo Hanaoka, cedida por Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
Localização das principais concentrações de imigrantes<<strong>br</strong> />
japoneses e seus descendentes no município<<strong>br</strong> />
de Mogi das Cruzes. Comissão <strong>do</strong> cinqüentenário<<strong>br</strong> />
da imigração japonesa em Mogi das Cruzes,<<strong>br</strong> />
São Paulo, Cultura Imae, 1969.
16<<strong>br</strong> />
Propriedade da Sociedade Katakura Gomei Kai-<<strong>br</strong> />
sha, em Cocuera. Em primeiro plano, casas de colonos<<strong>br</strong> />
da fazenda. Ao fun<strong>do</strong>, à direita, sede da propriedade.<<strong>br</strong> />
1929/30. Foto Kazuo Hanaoka, cedida<<strong>br</strong> />
por Toko Hanaoka.
<strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong><<strong>br</strong> />
A PROPRIEDADE DA<<strong>br</strong> />
SOCIEDADE KATAKURA<<strong>br</strong> />
GOMEI KAISHA<<strong>br</strong> />
9. BATALHA, Jair Rocha. Calbaus e burgaus. São Paulo,<<strong>br</strong> />
s. ed., 1958, p.81.<<strong>br</strong> />
17<<strong>br</strong> />
Conheci<strong>do</strong> e cultiva<strong>do</strong> desde mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX no Vale<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> Anhangabaú (São Paulo), e no início deste século, em<<strong>br</strong> />
pequenas chácaras no Vale <strong>do</strong> Paraíba, o chá somente alcançou<<strong>br</strong> />
escala <strong>com</strong>ercial após ter si<strong>do</strong> introduzi<strong>do</strong> pelos japoneses<<strong>br</strong> />
no Vale <strong>do</strong> Ribeira (1919) e em Mogi das Cruzes<<strong>br</strong> />
(década de 20). Nos anos 40 existiam duas propriedades que<<strong>br</strong> />
plantavam e beneficiavam chá neste último município: a da<<strong>br</strong> />
Sociedade Katakura Gomei Kaisha em Cocuera e a de<<strong>br</strong> />
Tekuji Abe em Caputera 9 .<<strong>br</strong> />
Abordaremos a seguir a Sociedade Katakura que nos legou<<strong>br</strong> />
o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, um <strong>do</strong>s registros <strong>do</strong> curto perío<strong>do</strong> em<<strong>br</strong> />
que o chá foi produzi<strong>do</strong> e beneficia<strong>do</strong> em Mogi das Cruzes.<<strong>br</strong> />
Essa empresa japonesa, tradicional produtora de teci<strong>do</strong>s de<<strong>br</strong> />
seda na Província de Nagano, enviou para o Brasil em 1922,<<strong>br</strong> />
o engenheiro agrônomo Fukashi Furihata, <strong>com</strong> o objetivo<<strong>br</strong> />
de adquirir uma fazenda em Mato Grosso, e aí implantar a<<strong>br</strong> />
criação <strong>do</strong> bicho da seda. Ao se inviabilizar tal projeto,<<strong>br</strong> />
Furihata <strong>com</strong>prou em nome da Sociedade Katakura, por volta<<strong>br</strong> />
de 1924/25, 150 alqueires de terras no bairro de Cocuera,<<strong>br</strong> />
em Mogi das Cruzes. Nesta propriedade dedicou-se à<<strong>br</strong> />
produção e beneficiamento <strong>do</strong> chá e à hortifruticultura.
18<<strong>br</strong> />
Depósito subterrâneo, concebi<strong>do</strong> por Fukashi<<strong>br</strong> />
Fu-rihata, para a conservação da batata-inglesa<<strong>br</strong> />
(batatinha) produzida na propriedade Katakura.<<strong>br</strong> />
1929/30. Foto cedida por Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
Processo tradicional da colheita das folhas de chá,<<strong>br</strong> />
em Registro, Vale <strong>do</strong> Ribeira. 1952. Foto Carlos Borges<<strong>br</strong> />
Schmidt in ALMEIDA, V.U. Condições de vida<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> pequeno agricultor no município de Registro.<<strong>br</strong> />
A Sociedade Katakura Gomei Kaisha é uma das pioneiras na<<strong>br</strong> />
implantação de projetos agroindustriais financia<strong>do</strong>s por<<strong>br</strong> />
empresas particulares japonesas, no Brasil. Na realidade, empreendimentos<<strong>br</strong> />
dessa natureza tornaram-se mais freqüentes no<<strong>br</strong> />
segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da imigração nipônica, quan<strong>do</strong> o Brasil passou<<strong>br</strong> />
a ser considera<strong>do</strong> um merca<strong>do</strong> promissor para os investimentos<<strong>br</strong> />
empresariais japoneses.<<strong>br</strong> />
Furihata encontra-se entre os primeiros japoneses que se estabeleceram<<strong>br</strong> />
em Cocuera, ten<strong>do</strong> se destaca<strong>do</strong> pelo caráter<<strong>br</strong> />
experimental que imprimiu a essa propriedade: desenvolvimento<<strong>br</strong> />
de técnicas agrícolas apropriadas às características locais,<<strong>br</strong> />
visan<strong>do</strong> um maior rendimento da terra, introdução <strong>do</strong> cultivo <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
pêssego, incentivo ao plantio de eucaliptos, tentativas de<<strong>br</strong> />
aperfeiçoamento de técnicas de beneficiamento <strong>do</strong> chá, etc.<<strong>br</strong> />
A preocupação de Furihata <strong>com</strong> o preparo e aperfeiçoamento<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s imigrantes japoneses em relação às técnicas e culturas<<strong>br</strong> />
desenvolvidas no Brasil pode ser igualmente observada na<<strong>br</strong> />
aquisição e publicação da revista Brasil Agrícola. Através desse<<strong>br</strong> />
meio de <strong>com</strong>unicação, extensivo a um público maior,<<strong>br</strong> />
divulgaram-se traduções de matérias so<strong>br</strong>e a agricultura <strong>br</strong>asileira,<<strong>br</strong> />
além de artigos envia<strong>do</strong>s pelos próprios lavra<strong>do</strong>res. Esta<<strong>br</strong> />
revista foi editada mensalmente em japonês até 1937, quan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
deixou de ser publicada em decorrência das restrições impostas<<strong>br</strong> />
pelo Esta<strong>do</strong> Novo.<<strong>br</strong> />
Os lavra<strong>do</strong>res que trabalharam <strong>com</strong> Furihata — principalmente<<strong>br</strong> />
os imigrantes vin<strong>do</strong>s diretamente <strong>do</strong> Japão para a propriedade<<strong>br</strong> />
Katakura — foram favoreci<strong>do</strong>s por essas iniciativas:<<strong>br</strong> />
diferentemente <strong>do</strong> que ocorria <strong>com</strong> os destina<strong>do</strong>s às regiões<<strong>br</strong> />
cafeeiras, puderam contar <strong>com</strong> melhores condições de adaptação<<strong>br</strong> />
ao novo meio.<<strong>br</strong> />
Até mea<strong>do</strong>s da década de 30 a propriedade administrada por<<strong>br</strong> />
Furihata era mais conhecida na região pela produção de frutas e<<strong>br</strong> />
hortaliças. A partir desse momento, o cultivo e beneficiamento<<strong>br</strong> />
de chá tornaram-se as principais atividades dessa fazenda.<<strong>br</strong> />
O plantio e demais cuida<strong>do</strong>s <strong>com</strong> esse produto devem ter si<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
bastante semelhantes àqueles desenvolvi<strong>do</strong>s no Vale <strong>do</strong> Ribeira,<<strong>br</strong> />
tradicional e significativa área produtora no Esta<strong>do</strong> de São Paulo.<<strong>br</strong> />
Nesta região o plantio ocorria entre setem<strong>br</strong>o e novem<strong>br</strong>o, isto é,<<strong>br</strong> />
no perío<strong>do</strong> das águas. Dois anos depois iniciava-se a colheita,<<strong>br</strong> />
que se tornava <strong>com</strong>erciável a partir <strong>do</strong> ano seguinte. De junho a<<strong>br</strong> />
agosto realizava-se uma poda "<strong>br</strong>uta", utilizan<strong>do</strong>-se tesouras e<<strong>br</strong> />
de setem<strong>br</strong>o a maio, época da colheita, podavam-se<<strong>br</strong> />
manualmente os arbustos.
Na propriedade Katakura, conforme Torao Sasaki 10 , o perío<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
da colheita <strong>do</strong> chá preto estendia-se de setem<strong>br</strong>o a março e <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
chá verde, de a<strong>br</strong>il a maio. Para o chá preto colhiam-se os <strong>br</strong>otos<<strong>br</strong> />
mais tenros e para o chá verde, a 4. a e 5ª folhas terminais. Após<<strong>br</strong> />
um perío<strong>do</strong> de 8 a 10 dias voltava-se a colher os <strong>br</strong>otos que se<<strong>br</strong> />
desenvolviam em cada planta. Para este trabalho empregava-se<<strong>br</strong> />
em geral, mulheres e crianças, mão-de-o<strong>br</strong>a mais barata. Os<<strong>br</strong> />
homens, além da colheita, faziam os serviços mais pesa<strong>do</strong>s,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o a derrubada das matas para as novas culturas, o preparo da<<strong>br</strong> />
terra, a poda <strong>do</strong>s troncos <strong>com</strong> a tesoura e o transporte da<<strong>br</strong> />
produção.<<strong>br</strong> />
Para o beneficiamento e <strong>com</strong>ercialização <strong>do</strong> chá Furihata<<strong>br</strong> />
montou um estabelecimento fa<strong>br</strong>il na própria fazenda, denomina<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio.<<strong>br</strong> />
A eclosão da II Guerra Mundial interrompeu as exportações de<<strong>br</strong> />
chá provenientes da índia e provocou a elevação de seu preço no<<strong>br</strong> />
merca<strong>do</strong> mundial. Conseqüentemente o abastecimento de chá<<strong>br</strong> />
passou a ser feito pelos produtores até então minoritários, que se<<strong>br</strong> />
beneficiaram <strong>com</strong> a expansão de suas exportações e <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
valorização desse produto.<<strong>br</strong> />
Um <strong>do</strong>s países favoreci<strong>do</strong>s por esta conjuntura foi o Brasil e,<<strong>br</strong> />
dentre os produtores beneficia<strong>do</strong>s, a Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio, que<<strong>br</strong> />
vendia seus produtos à firma Cocito & Irmãos, a qual por sua<<strong>br</strong> />
vez, exportava-os para a Holanda e Suécia.<<strong>br</strong> />
Com a expansão da produção na fazenda da Sociedade Katakura<<strong>br</strong> />
tornaram-se necessárias instalações mais amplas e aperfeiçoadas<<strong>br</strong> />
para o beneficiamento <strong>do</strong> chá. Essas instalações, que<<strong>br</strong> />
correspondem ao <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, foram concluídas em 1942 e<<strong>br</strong> />
se assentam no mesmo local da antiga fá<strong>br</strong>ica.<<strong>br</strong> />
Se por um la<strong>do</strong> o desenvolvimento da propriedade Katakura e a<<strong>br</strong> />
conseqüente construção <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> foram favoreci<strong>do</strong>s pela<<strong>br</strong> />
conjuntura econômica, por outro o contexto sócio-político que<<strong>br</strong> />
se estendeu de 1938 a 1948 foi extremamente conturba<strong>do</strong> para<<strong>br</strong> />
os investimentos e para os imigrantes japoneses no Brasil.<<strong>br</strong> />
Diante disso, o processo de assimilação cultural <strong>do</strong>s japoneses à<<strong>br</strong> />
sociedade <strong>br</strong>asileira tornou-se mais intenso e profun<strong>do</strong>, pois a<<strong>br</strong> />
perspectiva <strong>do</strong>s imigrantes, a partir desse momento, passou a ser<<strong>br</strong> />
a permanência definitiva e, portanto a construção de um espaço<<strong>br</strong> />
próprio de moradia e trabalho, cada vez mais integra<strong>do</strong> ao meio<<strong>br</strong> />
sócio-cultural que os a<strong>br</strong>igava.<<strong>br</strong> />
Após a II Guerra, a recuperação <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res tradicionais e<<strong>br</strong> />
a queda <strong>do</strong> preço <strong>do</strong> chá no merca<strong>do</strong> mundial afetaram as<<strong>br</strong> />
atividades da Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio: sua produção reduziu-se<<strong>br</strong> />
gradativamente tornan<strong>do</strong> inviável a manutenção<<strong>br</strong> />
10. Depoimento colhi<strong>do</strong> pelos autores. São Paulo, 30<<strong>br</strong> />
jun. 1982. A maior parte das informações so<strong>br</strong>e a propriedade<<strong>br</strong> />
Katakura e sua produção de chá deve-se a<<strong>br</strong> />
Torao Sasaki, que emigrou para o Brasil em 1936.<<strong>br</strong> />
Da Noroeste foi, em 1938/39, para Mogi das Cruzes<<strong>br</strong> />
trabalhar <strong>com</strong> Furihata. Na época da construção <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
<strong>Casarão</strong>, Sasaki era gerente da Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio.<<strong>br</strong> />
Em 1945 casou-se <strong>com</strong> Emi, filha de Furihata. A festa<<strong>br</strong> />
de seu casamento foi realizada no primeiro pavimento<<strong>br</strong> />
da fá<strong>br</strong>ica de chá. Da<strong>do</strong>s <strong>com</strong>plementares so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
Furihata foram obti<strong>do</strong>s <strong>com</strong> Tsunezo Sato (Depoimento<<strong>br</strong> />
aos autores. São Paulo, 08 jul. 1982) e Toshio<<strong>br</strong> />
Furihata (Depoimento, 30 jun. 1982).<<strong>br</strong> />
Vista lateral <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. Em primeiro plano, a<<strong>br</strong> />
direita, o galpão utiliza<strong>do</strong> <strong>com</strong>o oficina pelo<<strong>br</strong> />
arquiteto-carpinteiro Kazuo Hanaoka, durante a<<strong>br</strong> />
construção desse edifício. 1942/43. Foto cedida por<<strong>br</strong> />
Toshio Furihata.<<strong>br</strong> />
19
20<<strong>br</strong> />
Acesso principal das novas instalações da Fá<strong>br</strong>ica<<strong>br</strong> />
de <strong>Chá</strong> Tokio. A esquerda vê-se o administra<strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />
da propriedade Katakura, Fukashi Furihata. Foto<<strong>br</strong> />
cedida por Toshio Furihata.<<strong>br</strong> />
Condições atuais <strong>do</strong> acesso principal <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
<strong>Chá</strong>. 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
da fazenda que passou a ser arrendada, já no final <strong>do</strong>s anos<<strong>br</strong> />
40, e foi por fim subdividida em unidades menores e vendida<<strong>br</strong> />
na década seguinte.<<strong>br</strong> />
Um <strong>do</strong>s arrendatários, a partir de 1947, foi a família Namie<<strong>br</strong> />
que havia aprendi<strong>do</strong> as técnicas da cultura de chá em Registro.<<strong>br</strong> />
Em 1958 Arizo Namie adquiriu uma área de 15,80<<strong>br</strong> />
hectares da Sociedade Katakura, na qual se localizava o <strong>Casarão</strong>.<<strong>br</strong> />
Em 1967 transmitiu-a, em <strong>do</strong>ação, a seu filho Sethiro<<strong>br</strong> />
Namie.<<strong>br</strong> />
A produção e beneficiamento <strong>do</strong> chá foi se retrain<strong>do</strong> paulatinamente<<strong>br</strong> />
até cessar por <strong>com</strong>pleto em 1968. Atualmente,<<strong>br</strong> />
a principal atividade desenvolvida por Namie é o cultivo da<<strong>br</strong> />
batatinha.<<strong>br</strong> />
O <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, após o aban<strong>do</strong>no dessa cultura, passou<<strong>br</strong> />
a servir <strong>com</strong>o depósito de produtos agrícolas, veículos e<<strong>br</strong> />
equipamentos da propriedade, utilização inadequada que<<strong>br</strong> />
provocou a rápida deterioração <strong>do</strong> edifício.<<strong>br</strong> />
Vista <strong>do</strong> pavimento superior <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>.<<strong>br</strong> />
Ao fun<strong>do</strong>, a escada de acesso e o <strong>com</strong>partimento<<strong>br</strong> />
lateral onde as folhas de chá permaneciam até o<<strong>br</strong> />
momento em que eram depositadas nas redes para<<strong>br</strong> />
desidratação. 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Vista geral <strong>do</strong> pavimento superior. Observa-se a desidratação<<strong>br</strong> />
das folhas de chá sen<strong>do</strong> efetuada no próprio<<strong>br</strong> />
piso. Década de 40. Foto cedida por Toshio Furihata.
O PROGRAMA DE USO<<strong>br</strong> />
E O PROCESSO<<strong>br</strong> />
DE BENEFICIAMENTO<<strong>br</strong> />
11. Depoimentos colhi<strong>do</strong>s pelos autores: São Paulo, 30<<strong>br</strong> />
jun. 1982 (T. Sasaki); Mogi das Cruzes, 09 jun. 1982<<strong>br</strong> />
e 19 dez. 1983 (A. Inose); Mogi das Cruzes. 09 jun.<<strong>br</strong> />
1982 e 05 dez. 1983 (S. Namie); Taubaté, 22 dez.<<strong>br</strong> />
1983 (G. Urushibata).<<strong>br</strong> />
A reconstituição <strong>do</strong> programa de uso e <strong>do</strong> processo de<<strong>br</strong> />
beneficiamento da Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio baseia-se nos<<strong>br</strong> />
depoimentos de Torao Sasaki, Amélia Inose, Sethiro Namie e<<strong>br</strong> />
Goro Urushibata 11 .<<strong>br</strong> />
O projeto <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> foi elabora<strong>do</strong> em 1942 por Kazuo<<strong>br</strong> />
Hanaoka, a partir de um programa de uso estabeleci<strong>do</strong> por<<strong>br</strong> />
Furihata. Não foi localizada, até o momento, a<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>cumentação deixada por Hanaoka referente a este<<strong>br</strong> />
projeto <strong>com</strong>o desenhos, plantas, esboços, memoriais, etc.<<strong>br</strong> />
A ampliação da produção e a exigência de tornar mais racional<<strong>br</strong> />
o processo de beneficiamento <strong>do</strong> chá estabeleceram<<strong>br</strong> />
parâmetros para um programa de uso que foi traduzi<strong>do</strong> arquitetonicamente<<strong>br</strong> />
por Hanaoka em um único edifício <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>is pavimentos. A disposição e a articulação entre os ambientes<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> atende adequadamente a cada fase da<<strong>br</strong> />
produção. Contu<strong>do</strong>, o projeto desenvolvi<strong>do</strong> pelo construtor<<strong>br</strong> />
expressa uma concepção mais elaborada, na medida em que<<strong>br</strong> />
procurou integrar esses determinantes de ordem funcional<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> elementos formais e sistema construtivo tradicional da<<strong>br</strong> />
arquitetura japonesa.<<strong>br</strong> />
A primeira fase <strong>do</strong> processo de beneficiamento <strong>do</strong> chá preto<<strong>br</strong> />
corresponde à desidratação ou "murchamento". No <strong>Casarão</strong><<strong>br</strong> />
o <strong>Chá</strong> isto se efetuava no pavimento superior, cons-<<strong>br</strong> />
21
22<<strong>br</strong> />
Vista frontal <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. 1983. Foto Hugo<<strong>br</strong> />
Segawa.<<strong>br</strong> />
Vista posterior <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. 1983. Foto Hugo<<strong>br</strong> />
Segawa.<<strong>br</strong> />
Outro aspecto <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. 1983. Foto Hugo<<strong>br</strong> />
Segawa.
tituí<strong>do</strong> por um ambiente retangular (8,20 m x 28,30 m) e uma<<strong>br</strong> />
área menor (2,45 m x 6,85 m), sem nenhuma divisória, <strong>com</strong> piso<<strong>br</strong> />
assoalha<strong>do</strong> e cobertura em telha vã. Esse ambiente apresenta<<strong>br</strong> />
uma seqüência de janelas, moduladas de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a estrutura,<<strong>br</strong> />
que propiciam condições favoráveis de ventilação. Nesta fase, os<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>otos, imediatamente após a colheita, eram transporta<strong>do</strong>s em<<strong>br</strong> />
balaios para esse pavimento, onde eram deposita<strong>do</strong>s na área<<strong>br</strong> />
menor, à direita da escada de acesso. As folhas eram espalhadas<<strong>br</strong> />
manualmente pelos emprega<strong>do</strong>s da Fá<strong>br</strong>ica so<strong>br</strong>e redes de teci<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />
onde descansavam normalmente por 24 horas, poden<strong>do</strong> aí<<strong>br</strong> />
permanecerem até 3 dias, em perío<strong>do</strong>s de chuva.<<strong>br</strong> />
Conjuntos de aproximadamente 10 redes eram coloca<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
transversalmente nesse pavimento e provi<strong>do</strong>s de um sistema de<<strong>br</strong> />
roldanas que os inclinava, <strong>com</strong> o objetivo de lançar as folhas já<<strong>br</strong> />
murchas ao chão. A seguir os <strong>br</strong>otos eram varri<strong>do</strong>s e<<strong>br</strong> />
transferi<strong>do</strong>s para o piso térreo através de um tubo de teci<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
adapta<strong>do</strong> ao alçapão localiza<strong>do</strong> à esquerda da escada de acesso.<<strong>br</strong> />
Havia necessidade, portanto, de espaços grandes e bem ventila<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
para que essas redes fossem estiradas e as folhas<<strong>br</strong> />
desidratadas, assim <strong>com</strong>o, de limpeza constante <strong>do</strong> assoalho.<<strong>br</strong> />
Pesquisou-se uma possível transposição para o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong><<strong>br</strong> />
da organização espacial <strong>do</strong> beneficiamento a<strong>do</strong>tada nas fá<strong>br</strong>icas<<strong>br</strong> />
japonesas. Segun<strong>do</strong> depoimento de Goro Urushibata, um <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
auxiliares de Hanaoka, na Província de Shizuoka, as grandes<<strong>br</strong> />
fá<strong>br</strong>icas onde se beneficiava o chá verde funcionavam em<<strong>br</strong> />
construções de um único pavimento. Em 1934/35, quan<strong>do</strong> se<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>eçou a produzir chá preto, foram construí<strong>do</strong>s edifícios <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>is pavimentos: no térreo depositavam-se as folhas colhidas e<<strong>br</strong> />
no andar superior processava-se a desidratação. Para evitar a<<strong>br</strong> />
trepidação, o maquinário era instala<strong>do</strong> em outro edifício.<<strong>br</strong> />
Ao contrário <strong>do</strong> Japão, as fá<strong>br</strong>icas de chá preto situadas nas<<strong>br</strong> />
áreas produtoras <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Ribeira assim <strong>com</strong>o a de Tekuji<<strong>br</strong> />
Abe em Caputera, Mogi das Cruzes, possuem dimensões<<strong>br</strong> />
menores e são constituídas de um único edifício, <strong>com</strong> <strong>do</strong>is<<strong>br</strong> />
pavimentos. O andar superior apresenta uso semelhante ao<<strong>br</strong> />
<strong>Casarão</strong> 12 .<<strong>br</strong> />
Todas as fases subseqüentes <strong>do</strong> processo de beneficiamento <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
chá preto efetuadas no <strong>Casarão</strong> ocorriam no térreo. Este<<strong>br</strong> />
pavimento corresponde a uma planta retangular de 15,10 m x<<strong>br</strong> />
35,20 m e é subdividi<strong>do</strong> basicamente em duas áreas: na primeira<<strong>br</strong> />
concentravam-se a maioria das fases de beneficiamento e na<<strong>br</strong> />
segunda, menor, o produto era deposita<strong>do</strong> e embala<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />
A segunda fase, o rolamento, é essencial para o apuro <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
23<<strong>br</strong> />
Processo de desidratação em uma fá<strong>br</strong>ica de chá de<<strong>br</strong> />
Registro. 1952. No <strong>Casarão</strong>, a<strong>do</strong>tava-se sistema semelhante.<<strong>br</strong> />
Foto da D.P.A. da Secretaria da Agricultura<<strong>br</strong> />
in ALMEIDA, V.U. Condições de vida <strong>do</strong> pequeno<<strong>br</strong> />
agricultor no município de Registro.<<strong>br</strong> />
12. PETRONE, Pasquale. A baixada <strong>do</strong> Ribeira. Estu<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
de geografia urbana. São Paulo, FFCLUSP, p.188. Informações<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e a fá<strong>br</strong>ica de chá em Caputera foram<<strong>br</strong> />
obtidas <strong>com</strong> G. Urushibata, emprega<strong>do</strong> desse estabelecimento<<strong>br</strong> />
no final da década de 30 e início <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
anos 40. Antes de emigrar para o Brasil, havia trabalha<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
em uma grande fá<strong>br</strong>ica de chá, na Província<<strong>br</strong> />
de Shizuoka.
24<<strong>br</strong> />
Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Ribeira, localizada em Registro, de<<strong>br</strong> />
propriedade de T. Okamoto. Foto H. Baldus in<<strong>br</strong> />
BALDUS, H. e WILLEMS, E. Casas e túmulos de<<strong>br</strong> />
japoneses no vale <strong>do</strong> Ribeira de Iguape. Revista <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
Arquivo Municipal.<<strong>br</strong> />
Outro aspecto da Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Ribeira onde se<<strong>br</strong> />
evidenciam influências da arquitetura japonesa <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
alguns elementos da cobertura e a estrutura de<<strong>br</strong> />
madeira aparente. Foto H. Baldus in BALDUS, H.<<strong>br</strong> />
e WILLEMS, E. Casas e túmulos de japoneses no<<strong>br</strong> />
vale <strong>do</strong> Ribeira de Iguape. Revista <strong>do</strong> Arquivo Municipal.<<strong>br</strong> />
Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> de Tekuji Abe, situada em<<strong>br</strong> />
Caputera, Mogi das Cruzes. Década de 40. Foto in<<strong>br</strong> />
Revista <strong>com</strong>emorativa <strong>do</strong> aniversário de Mogi das<<strong>br</strong> />
Cruzes.
produto. Neste momento as folhas murchas lançadas <strong>do</strong> piso<<strong>br</strong> />
superior através <strong>do</strong> tubo de teci<strong>do</strong> eram levadas em balaios<<strong>br</strong> />
para 5 máquinas que as submetiam a grande pressão,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> a finalidade de romper as paredes celulares e escoar o<<strong>br</strong> />
excesso de tanino, sem, contu<strong>do</strong> provocar seu dilaceramento.<<strong>br</strong> />
Estas máquinas, hoje desativadas, estão instaladas ao longo<<strong>br</strong> />
da parede que divide o térreo em <strong>do</strong>is ambientes. A posição<<strong>br</strong> />
de antigas roldanas, correias e <strong>do</strong> motor que as acionava<<strong>br</strong> />
são indícios que confirmam a sua localização original.<<strong>br</strong> />
Na terceira fase as folhas eram colocadas, ainda úmidas, em<<strong>br</strong> />
grandes bandejas de madeira de 0,80 m x 1,00 m e transportadas<<strong>br</strong> />
para fermentação em local climatiza<strong>do</strong> a 18° C de<<strong>br</strong> />
temperatura e 90% de umidade. Esse ambiente climatiza<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
de 3,90 m x 3,55 m, situa-se à esquerda da entrada principal<<strong>br</strong> />
e nele as folhas permaneciam fermentan<strong>do</strong> durante duas<<strong>br</strong> />
horas.<<strong>br</strong> />
Para a fase seguinte Furihata concebeu e experimentou um<<strong>br</strong> />
sistema de secagem a vapor. Ao falhar esta invenção,<<strong>br</strong> />
passou-se a utilizar um sistema de secagem em duas etapas.<<strong>br</strong> />
Em primeiro lugar as folhas eram depositadas em um<<strong>br</strong> />
tambor <strong>com</strong> capacidade de 500 litros, que girava so<strong>br</strong>e um<<strong>br</strong> />
forno a carvão. A seguir, ainda meio seco, o produto era<<strong>br</strong> />
coloca<strong>do</strong> em grades de papelão apoiadas num suporte de<<strong>br</strong> />
madeira instala<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e um forno a lenha, onde era torra<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />
Para o funcionamento deste forno, sem que houvesse<<strong>br</strong> />
interferências na circulação principal, a lenha era<<strong>br</strong> />
introduzida por um acesso na face posterior <strong>do</strong> edifício,<<strong>br</strong> />
construí<strong>do</strong> em uma cota mais baixa que o térreo.<<strong>br</strong> />
A última fase de beneficiamento <strong>do</strong> chá preto que se realizava<<strong>br</strong> />
nesta área <strong>do</strong> piso térreo era a seleção ou classificação.<<strong>br</strong> />
Utilizava-se uma máquina <strong>com</strong>posta por cortadeira e peneira,<<strong>br</strong> />
que se situava provavelmente junto às máquinas para rolamento<<strong>br</strong> />
das folhas.<<strong>br</strong> />
O processo de beneficiamento encerrava-se <strong>com</strong> a estocagem<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> chá, pronto para consumo, num depósito onde era introduzi<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
através de um alçapão e retira<strong>do</strong> por quatro<<strong>br</strong> />
aberturas rentes ao piso. Este <strong>com</strong>partimento é revesti<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
internamente <strong>com</strong> papel especial, <strong>com</strong>posto por fi<strong>br</strong>a e piche,<<strong>br</strong> />
para evitar a umidade. Também eram utiliza<strong>do</strong>s 4 depósitos<<strong>br</strong> />
menores, de madeira, situa<strong>do</strong>s nesse mesmo ambiente.<<strong>br</strong> />
A embalagem era feita apenas no momento da saída <strong>do</strong> produto<<strong>br</strong> />
da fá<strong>br</strong>ica, <strong>com</strong> papel impermeável, e colocada em pequenas<<strong>br</strong> />
caixas de papelão ou latinhas que levavam o rótulo<<strong>br</strong> />
"<strong>Chá</strong> Tokio".<<strong>br</strong> />
Segun<strong>do</strong> depoimento de Sethiro Namie, nos últimos anos<<strong>br</strong> />
de funcionamento da Fá<strong>br</strong>ica, o chá preto era embala<strong>do</strong> e<<strong>br</strong> />
25<<strong>br</strong> />
Vista <strong>do</strong> pavimento térreo da Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong><<strong>br</strong> />
Tokio. Observa-se o acesso principal e um<<strong>br</strong> />
pequeno <strong>com</strong>partimento onde funcionou o<<strong>br</strong> />
escritório da fa<strong>br</strong>ica. 1983. Foto Hugo Segawa.
26<<strong>br</strong> />
Detalhe das roldanas que acionavam as máquinas<<strong>br</strong> />
de beneficiamento de chá. 1983. Foto Hugo<<strong>br</strong> />
Segawa.<<strong>br</strong> />
Outro aspecto <strong>do</strong> pavimento térreo. Neste local<<strong>br</strong> />
encontram-se as máquinas, hoje desativadas, para<<strong>br</strong> />
o rolamento e seleção das folhas de chá. Ao fun<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />
à esquerda, os motores que acionavam essas máquinas,<<strong>br</strong> />
através de um sistema de roldanas preso<<strong>br</strong> />
ao vigamento da estrutura. 1983. Foto Hugo<<strong>br</strong> />
Segawa.<<strong>br</strong> />
Uma das primeiras máquinas utilizadas no <strong>Casarão</strong><<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> <strong>Chá</strong> na fase de rolamento. Em segun<strong>do</strong> plano<<strong>br</strong> />
vê-se a parede divisória <strong>do</strong> pavimento térreo,<<strong>br</strong> />
que <strong>com</strong>põe, em parte, o depósito de chá localiza<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
no ambiente vizinho. 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Detalhe de uma das 4 máquinas de rolamento,<<strong>br</strong> />
mais recentes. Uma das inovações que se observa<<strong>br</strong> />
nestas máquinas é a substituição <strong>do</strong> caixote de madeira,<<strong>br</strong> />
no qual as folhas de chá eram pressionadas,<<strong>br</strong> />
por recipientes de ferro. 1983. Foto Hugo Segawa.
coloca<strong>do</strong> nos depósitos menores, e o chá verde era estoca<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />
a granel, no depósito de taipa.<<strong>br</strong> />
O processo de beneficiamento <strong>do</strong> chá verde dispensava as<<strong>br</strong> />
fases de desidratação no pavimento superior e de fermentação.<<strong>br</strong> />
As folhas colhidas eram encaminhadas para o rolamento<<strong>br</strong> />
e deste para a secagem a vapor. Em seguida eram selecionadas<<strong>br</strong> />
e embaladas.<<strong>br</strong> />
27<<strong>br</strong> />
Bandejas utilizadas na fase de fermentação numa<<strong>br</strong> />
fá<strong>br</strong>ica de chá em Registro, na década de 50. Processo<<strong>br</strong> />
semelhante era a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> no <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>.<<strong>br</strong> />
Foto in PETRONE, P. A baixada <strong>do</strong> Ribeira.<<strong>br</strong> />
Depósitos de taipa utiliza<strong>do</strong>s para armazenar o<<strong>br</strong> />
chá produzi<strong>do</strong> na Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio. 1983. Foto<<strong>br</strong> />
Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Vista <strong>do</strong> pavimento térreo. À direita, pequeno<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>partimento no qual se efetuava a fermentação<<strong>br</strong> />
das folhas de chá preto, que adquiriam nesse<<strong>br</strong> />
processo uma coloração avermelhada. Os caixotes<<strong>br</strong> />
empilha<strong>do</strong>s em frente <strong>do</strong> ambiente para<<strong>br</strong> />
fermentação enco<strong>br</strong>em o local onde se situava o<<strong>br</strong> />
forno a lenha, utiliza<strong>do</strong> para torrar as folhas de<<strong>br</strong> />
chã. 1983. Foto Hugo Segawa.
28<<strong>br</strong> />
0 1 2<<strong>br</strong> />
CORTE BB<<strong>br</strong> />
CORTE AA
30<<strong>br</strong> />
Família Umeya Hanaoka. Kamissuwa, 1915/20. À<<strong>br</strong> />
esquerda, de pé, Umeya. Senta<strong>do</strong>s, da esquerda para a<<strong>br</strong> />
direita: irmão, irmã e mãe de Kazuo Hanaoka, Este<<strong>br</strong> />
encontra-se senta<strong>do</strong> no meio <strong>do</strong> jardim.<<strong>br</strong> />
Foto cedida por Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
O<<strong>br</strong> />
ARQUITETO-CARPINTE<<strong>br</strong> />
IRO KAZUO HANAOKA<<strong>br</strong> />
13. Tietê junen-shi. São Paulo, Nippak, 1938, p.219. Depoimentos<<strong>br</strong> />
colhi<strong>do</strong>s pelos autores: São Paulo, 17 dez.<<strong>br</strong> />
1983 e 04 jan. 1984 (T. Hanaoka); Taubaté, 22 dez.<<strong>br</strong> />
1983 (M.Takao); São Paulo, 17 dez. 1983 e 04 jan.<<strong>br</strong> />
1984 (S. Terahara).<<strong>br</strong> />
A reconstituição biográfica de Kazuo Hanaoka baseia-se principalmente<<strong>br</strong> />
no depoimento de sua esposa Toko Hanaoka e<<strong>br</strong> />
na publicação Tietê junen-shi. Além destas informações,<<strong>br</strong> />
recorreu-se aos depoimentos de Amélia Inose, Mitie Takao<<strong>br</strong> />
e Sumie Terahara 13 .<<strong>br</strong> />
Primeiro filho de Umeya Hanaoka — arquiteto-carpinteiro<<strong>br</strong> />
— Kazuo nasceu a 14/10/1899, na cidade de Kamissuwa,<<strong>br</strong> />
Província de Nagano.<<strong>br</strong> />
Após a conclusão <strong>do</strong> curso colegial, Hanaoka foi convoca<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
em 1919 a servir o exército, na Província de Niigata. Prestou<<strong>br</strong> />
serviços inicialmente no setor de engenharia militar e depois<<strong>br</strong> />
no setor de enfermaria, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> desloca<strong>do</strong>, em 1920,
para a frente de guerra contra o exército soviético, na Sibéria.<<strong>br</strong> />
Retornan<strong>do</strong> em julho de 1921, desligou-se dessa corporação<<strong>br</strong> />
militar e voltou a trabalhar <strong>com</strong> seu pai em<<strong>br</strong> />
Kamissuwa, na construção civil.<<strong>br</strong> />
A<strong>com</strong>panhan<strong>do</strong> o projeto e execução das o<strong>br</strong>as de Umeya,<<strong>br</strong> />
Kazuo aprendeu as técnicas de construção, carpintaria e marcenaria<<strong>br</strong> />
japonesas. Este aprendiza<strong>do</strong> era aperfeiçoa<strong>do</strong> mediante<<strong>br</strong> />
construções de maquetes de castelos e templos <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
Japão e análise das soluções nelas a<strong>do</strong>tadas.<<strong>br</strong> />
Depois desses ensinamentos, Kazuo Hanaoka continuou<<strong>br</strong> />
aprofundan<strong>do</strong> seus conhecimentos através de leituras relacionadas<<strong>br</strong> />
ao assunto e de novas experiências <strong>com</strong> maquetes.<<strong>br</strong> />
Freqüentou também um curso especial so<strong>br</strong>e técnicas de<<strong>br</strong> />
construções tradicionais japonesas.<<strong>br</strong> />
A maior parte das o<strong>br</strong>as projetadas e executadas por Kazuo<<strong>br</strong> />
e seu pai eram residências de grande porte e de aprimora<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
acabamento. Após um intenso terremoto em 1924, eles foram<<strong>br</strong> />
vistoriar as casas que tinham construí<strong>do</strong>, voltan<strong>do</strong> extremamente<<strong>br</strong> />
satisfeitos, pois todas haviam resisti<strong>do</strong>, <strong>com</strong>provan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
a sua correta execução.<<strong>br</strong> />
Sua primeira o<strong>br</strong>a, independente <strong>do</strong> pai, foi a residência<<strong>br</strong> />
Katakura, localizada em Okaya e edificada em 1926/27 para<<strong>br</strong> />
o proprietário da Sociedade Katakura Gomei Kaisha. Segun<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
a descrição de Toko Hanaoka, tratava-se de uma construção<<strong>br</strong> />
de requintada fatura, na qual Kazuo procurou explorar<<strong>br</strong> />
ao máximo a qualidade e textura da madeira utilizada<<strong>br</strong> />
na execução <strong>do</strong>s forros, que apresentam um desenho específico<<strong>br</strong> />
para cada ambiente.<<strong>br</strong> />
No Japão, a grande concorrência existente entre os carpinteiros<<strong>br</strong> />
fez <strong>com</strong> que cada família ou grupo construtor desenvolvesse<<strong>br</strong> />
técnicas próprias, surgin<strong>do</strong> daí a necessidade de<<strong>br</strong> />
mantê-las em segre<strong>do</strong>. O zelo pela exclusividade desses conhecimentos<<strong>br</strong> />
chegava a tal ponto que as maquetes — utilizadas<<strong>br</strong> />
no desenvolvimento <strong>do</strong>s projetos e para solucionar dúvidas<<strong>br</strong> />
na sua execução — eram reconstruídas a cada noite e<<strong>br</strong> />
desmanchadas antes <strong>do</strong> amanhecer.<<strong>br</strong> />
Essas técnicas construtivas japonesas foram introduzidas no<<strong>br</strong> />
Brasil por alguns imigrantes <strong>com</strong> especialização na área da<<strong>br</strong> />
construção civil, entre os quais encontra-se Hanaoka.<<strong>br</strong> />
Em 1922, Fukashi Furihata, cuja família mantinha relações<<strong>br</strong> />
de amizade <strong>com</strong> a de Kazuo, convi<strong>do</strong>u-o a emigrar para o<<strong>br</strong> />
Brasil. Diante da objeção de seus pais, Hanaoka somente<<strong>br</strong> />
decidiu partir após a morte de Umeya, desembarcan<strong>do</strong> <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
sua família no porto de Santos no dia 1º de junho de 1929.<<strong>br</strong> />
Para sua surpresa, Furihata — avisa<strong>do</strong> pelo pai da vinda de<<strong>br</strong> />
Kazuo — esperava-o no porto, levan<strong>do</strong>-o para a propriedade<<strong>br</strong> />
da Sociedade Katakura Gomei Kaisha.<<strong>br</strong> />
Butsudan (altar budista), o<strong>br</strong>a de Kazuo Hanaoka.<<strong>br</strong> />
A concepção e execução dessas miniaturas foram<<strong>br</strong> />
amplamente utilizadas por Hanaoka, durante<<strong>br</strong> />
toda a sua vida, <strong>com</strong>o forma de aperfeiçoamento<<strong>br</strong> />
técnico e arquitetônico. 1983. Foto Celina<<strong>br</strong> />
Kuniyoshi. Arquivo CONDEPHAAT.<<strong>br</strong> />
31<<strong>br</strong> />
Kazuo Hanaoka, recém-chega<strong>do</strong>, ao la<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />
imigrantes-colonos da fazenda da Sociedade Katakura<<strong>br</strong> />
Gomei Kaisha, em Cocuera, Mogi das Cruzes.<<strong>br</strong> />
1929/30. Foto cedida por Toko Hanaoka.
32<<strong>br</strong> />
Escritório <strong>do</strong> arquiteto-carpinteiro Kazuo Hanaoka<<strong>br</strong> />
e alojamento de seus emprega<strong>do</strong>s. Núcleo de<<strong>br</strong> />
colonização Tietê, década de 30. Foto cedida por<<strong>br</strong> />
Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
14. Esse edifício, patrocina<strong>do</strong> pela BRATAC, foi inaugura<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
em 1931. Atualmente a<strong>br</strong>iga a Santa Casa de<<strong>br</strong> />
Misericórdia de Pereira Barreto.<<strong>br</strong> />
Hanaoka trabalhou nesta propriedade <strong>com</strong>o lavra<strong>do</strong>r,<<strong>br</strong> />
dirigin<strong>do</strong>-se, a 18/09/30, para a Fazenda Tietê — núcleo de<<strong>br</strong> />
colonização agrícola da BRATAC —, participan<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
empreiteiro de o<strong>br</strong>as, <strong>do</strong> processo de implantação e expansão<<strong>br</strong> />
da futura cidade, denominada posteriormente Pereira<<strong>br</strong> />
Barreto. Levantou nesse núcleo várias casas para os imigrantes<<strong>br</strong> />
japoneses e reconstruiu a sede da Associação Japonesa<<strong>br</strong> />
de Tietê (Kaikan). No entanto, considerava o Hospital,<<strong>br</strong> />
edifica<strong>do</strong> em alvenaria e telhas francesas, a única o<strong>br</strong>a onde<<strong>br</strong> />
pudera aplicar parte de seu conhecimento 14 .<<strong>br</strong> />
Com a perspectiva de eclosão da guerra e temen<strong>do</strong> seus des<strong>do</strong><strong>br</strong>amentos,<<strong>br</strong> />
esse arquiteto-carpinteiro resolveu<<strong>br</strong> />
deslocar-se para as proximidades da Capital, onde julgava<<strong>br</strong> />
encontrar maior segurança. Instalou-se em Campinas, em<<strong>br</strong> />
1939, dedican<strong>do</strong>-se ao cultivo de tomate, na Fazenda<<strong>br</strong> />
Chapadão. Com o agravamento da guerra e diante da<<strong>br</strong> />
ameaça dessa fa-
33<<strong>br</strong> />
Família Kazuo Hanaoka em Tietê, atual Pereira<<strong>br</strong> />
Barreto, cl938. Este retrato ilustra a biografia desse<<strong>br</strong> />
arquiteto-carpinteiro publicada no Tietê junen-shi.<<strong>br</strong> />
Foto cedida por Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
Um grupo de sumo de Tietê, na década de 30. Kazuo<<strong>br</strong> />
Hanaoka (primeiro à esquerda, agacha<strong>do</strong>) incentivou<<strong>br</strong> />
a formação de grupos dedica<strong>do</strong>s ao sumo,<<strong>br</strong> />
baseball, etc, nesse núcleo de colonização da<<strong>br</strong> />
BRATAC. Foto cedida por Mitie Takao.<<strong>br</strong> />
Hospital Central de Tietê, construí<strong>do</strong> por Kazuo<<strong>br</strong> />
Hanaoka e inaugura<strong>do</strong> em 1931. 1934. Foto in Tietê<<strong>br</strong> />
junen-shi.
Reconstrução efetuada por Hanaoka, <strong>do</strong> Kaikan<<strong>br</strong> />
(Associação Japonesa) de Tietê, na década de 30.<<strong>br</strong> />
Observa-se a montagem da estrutura <strong>do</strong> edifício,<<strong>br</strong> />
realizada através de guindastes e roldanas, a partir<<strong>br</strong> />
de uma técnica de origem japonesa. Esse sistema<<strong>br</strong> />
assemelha-se ao que foi utiliza<strong>do</strong> posteriormente,<<strong>br</strong> />
na construção <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. Foto cedida por<<strong>br</strong> />
Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
Vista <strong>do</strong> Kaikan de Tietê, após sua reconstrução,<<strong>br</strong> />
década de 30. Foto cedida por Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
35<<strong>br</strong> />
zenda ser tomada pelo Exército, Hanaoka decidiu sair de<<strong>br</strong> />
Campinas.<<strong>br</strong> />
Convida<strong>do</strong> por Furihata para voltar a Mogi das Cruzes, permaneceu<<strong>br</strong> />
em Campinas até setem<strong>br</strong>o de 1941, para a colheita<<strong>br</strong> />
de tomate. Logo após, partiu sozinho para a fazenda<<strong>br</strong> />
Katakura a fim de construir uma casa para sua família. Esta,<<strong>br</strong> />
aí se instalou em janeiro de 1942, passan<strong>do</strong> a trabalhar na<<strong>br</strong> />
colheita <strong>do</strong> chá.<<strong>br</strong> />
No início desse mesmo ano Furihata solicitou a Kazuo que<<strong>br</strong> />
desenvolvesse o projeto da nova fá<strong>br</strong>ica de chá da propriedade.<<strong>br</strong> />
Relutou em aceitar tal incumbência, pois nunca havia<<strong>br</strong> />
construí<strong>do</strong> esse tipo de edificação e, mais que isso,<<strong>br</strong> />
encontrava-se desiludi<strong>do</strong> <strong>com</strong> suas atividades em terras paulistas.<<strong>br</strong> />
Emigrara para o Brasil <strong>com</strong> a esperança de realizar<<strong>br</strong> />
projetos semelhantes ao da residência Katakura. No entanto,<<strong>br</strong> />
as condições em que se encontravam os imigrantes japoneses<<strong>br</strong> />
não permitiam a contratação de projetos e o<strong>br</strong>as dessa<<strong>br</strong> />
qualidade. Somente casas e estabelecimentos de concepção<<strong>br</strong> />
muito simples, se <strong>com</strong>para<strong>do</strong>s ao seu conhecimento e<<strong>br</strong> />
experiência profissional, foram solicita<strong>do</strong>s a Hanaoka.<<strong>br</strong> />
Diante da insistência de Furihata, acabou projetan<strong>do</strong> e construin<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, onde pôde finalmente aplicar<<strong>br</strong> />
seu conhecimento de arquitetura tradicional japonesa. Em<<strong>br</strong> />
setem<strong>br</strong>o de 1942 o edifício estava concluí<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />
Após algum tempo a família Hanaoka deixou a fazenda Katakura<<strong>br</strong> />
in<strong>do</strong> trabalhar numa propriedade vizinha (Granja<<strong>br</strong> />
Nagao), fixan<strong>do</strong>-se em seguida no km 4 da Estrada<<strong>br</strong> />
Mogi-Salesópolis. Em 1948, Kazuo estabeleceu uma oficina<<strong>br</strong> />
de marcenaria na cidade de Mogi das Cruzes, vin<strong>do</strong> a<<strong>br</strong> />
falecer em 21 de dezem<strong>br</strong>o de 1950.<<strong>br</strong> />
Durante esse perío<strong>do</strong> em Mogi das Cruzes, Hanaoka construiu<<strong>br</strong> />
outras edificações, entre as quais identificamos duas<<strong>br</strong> />
residências e um pequeno depósito, localiza<strong>do</strong>s em<<strong>br</strong> />
Cocuera e que apresentam características construtivas e<<strong>br</strong> />
alguns elementos formais semelhantes à Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong><<strong>br</strong> />
Tokio.<<strong>br</strong> />
Uma das residências e o depósito, localiza<strong>do</strong>s próximos ao<<strong>br</strong> />
<strong>Casarão</strong>, pertenciam à fazenda Katakura, e hoje são propriedade<<strong>br</strong> />
de Shotaru Saito.<<strong>br</strong> />
A outra residência foi construída a pedi<strong>do</strong> de Toshio Saito<<strong>br</strong> />
e, apesar de sua execução ter si<strong>do</strong> interrompida por Hanaoka<<strong>br</strong> />
na fase final, e <strong>do</strong>s acréscimos posteriores, destaca-se pelo<<strong>br</strong> />
apuro formal <strong>com</strong> que foi concebida e realizada.<<strong>br</strong> />
Acrescentamos que as informações colhidas no local evidenciam<<strong>br</strong> />
a existência de outras edificações de autoria de Hanaoka,<<strong>br</strong> />
dentro <strong>do</strong>s limites da propriedade administrada por Furihata,<<strong>br</strong> />
infelizmente demolidas e substituídas por construções<<strong>br</strong> />
mais recentes.
36<<strong>br</strong> />
Residência de Toshio Saito em Cocuera, Mogi das<<strong>br</strong> />
Cruzes. Concebida por Hanaoka, seu projeto não<<strong>br</strong> />
chegou a ser inteiramente executa<strong>do</strong>. 1983. Foto<<strong>br</strong> />
Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Segun<strong>do</strong> testemunho de sua esposa, dentre o conjunto de<<strong>br</strong> />
edificações executadas por Kazuo Hanaoka, este considerava<<strong>br</strong> />
o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> a única o<strong>br</strong>a de valor que realizara no<<strong>br</strong> />
Brasil.
O PROCESSO CONSTRUTIVO<<strong>br</strong> />
Vista posterior <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. Em primeiro plano,<<strong>br</strong> />
o lago que foi utiliza<strong>do</strong> no tratamento <strong>do</strong>s eucaliptos.<<strong>br</strong> />
Década de 40. Foto cedida por Toshio Furihata.<<strong>br</strong> />
15. Lixiviação é a operação de lavagem da madeira através<<strong>br</strong> />
da submersão em água corrente objetivan<strong>do</strong> eliminar<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> alburno as substâncias nutrientes que este<<strong>br</strong> />
contém e que se constituem em alimento para os insetos<<strong>br</strong> />
xilófagos.<<strong>br</strong> />
37<<strong>br</strong> />
As diversas etapas <strong>do</strong> processo de edificação <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
<strong>Chá</strong> mostram <strong>com</strong>o Hanaoka adaptou as técnicas construtivas<<strong>br</strong> />
japonesas e o <strong>com</strong>plexo programa de uso da fá<strong>br</strong>ica aos<<strong>br</strong> />
condicionantes impostos pela localização e pelos materiais,<<strong>br</strong> />
técnicas e mão-de-o<strong>br</strong>a existentes na região.<<strong>br</strong> />
Para a construção <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong>, Hanaoka dispôs de três<<strong>br</strong> />
auxiliares diretos: os carpinteiros Yamazaki e Sawami e o<<strong>br</strong> />
lavra<strong>do</strong>r Urushibata que possuía alguma experiência em<<strong>br</strong> />
construção civil.<<strong>br</strong> />
A execução <strong>do</strong> projeto iniciou-se pelo corte e tratamento <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
eucalipto. Esta madeira foi a<strong>do</strong>tada na construção de to<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />
sistema estrutural porque era encontrada em grande quantidade<<strong>br</strong> />
na própria fazenda e assemelha-se a alguns tipos de<<strong>br</strong> />
madeira emprega<strong>do</strong>s pelos carpinteiros <strong>do</strong> Japão.<<strong>br</strong> />
O arquiteto-carpinteiro Hanaoka a<strong>do</strong>tou medidas minuciosas<<strong>br</strong> />
no manejo dessa madeira, desde a seleção de cada árvore a<<strong>br</strong> />
ser abatida até a montagem <strong>com</strong>pleta da estrutura. Entre<<strong>br</strong> />
seus cuida<strong>do</strong>s incluiu-se até mesmo a observância da tradição<<strong>br</strong> />
popular, ten<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> o corte <strong>do</strong>s eucaliptos durante<<strong>br</strong> />
o quarto minguante. Segun<strong>do</strong> a crença, difundida tanto no<<strong>br</strong> />
Brasil <strong>com</strong>o no Japão, a madeira extraída nesse perío<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
torna-se mais resistente ao ataque de insetos.<<strong>br</strong> />
Imediatamente após o corte, a madeira foi submetida a um<<strong>br</strong> />
tratamento especial que se iniciava pelo amolecimento da<<strong>br</strong> />
casca e por um processo de lixiviação 13 . Para que isso ocorresse<<strong>br</strong> />
as peças foram mantidas submersas durante duas semanas<<strong>br</strong> />
em um lago artificial da própria fazenda, enquanto<<strong>br</strong> />
os troncos <strong>com</strong>ponentes <strong>do</strong> pórtico principal <strong>do</strong> edifício, que<<strong>br</strong> />
por seu peso e dimensão dificultavam a a<strong>do</strong>ção desse mesmo<<strong>br</strong> />
procedimento, ficaram envolvi<strong>do</strong>s pelo perío<strong>do</strong> de quatro<<strong>br</strong> />
semanas em panos constantemente umedeci<strong>do</strong>s. Posteriormente<<strong>br</strong> />
descascaram-se as peças <strong>com</strong> cautela para que o<<strong>br</strong> />
tronco não fosse risca<strong>do</strong>, procedeu-se à sua lavagem <strong>com</strong> água<<strong>br</strong> />
para a extração da resina e, após a secagem, foram polidas.<<strong>br</strong> />
Em seguida, conforme projeto previamente elabora<strong>do</strong>, cada<<strong>br</strong> />
peça de eucalipto foi cortada nas dimensões definidas pela<<strong>br</strong> />
função estrutural que cumpriria, identificada e executadas<<strong>br</strong> />
as sambladuras. Observa-se, contu<strong>do</strong>, que Hanaoka não<<strong>br</strong> />
aparelhou as peças de madeira, procuran<strong>do</strong> utilizar sua<<strong>br</strong> />
forma natural (curvatura, ramificações), <strong>com</strong>o recurso<<strong>br</strong> />
estético e na <strong>com</strong>posição <strong>do</strong>s elementos estruturais.<<strong>br</strong> />
Simultaneamente a esse perío<strong>do</strong> de tratamento e execução<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s elementos estruturais de madeira, definiu-se e<<strong>br</strong> />
preparou-se o terreno para a construção <strong>do</strong> edifício; o local<<strong>br</strong> />
escolhi<strong>do</strong> situa-se na base de uma colina próxima à várzea<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> Córrego Capixinga.
38<<strong>br</strong> />
Detalhe da articulação entre diversas vigas e um <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
pilares da estrutura principal. A vinculação se dá<<strong>br</strong> />
através de sambladuras fixadas por cavilhas de madeira.<<strong>br</strong> />
1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Detalhe de tesoura <strong>do</strong> pavimento superior. Nas<<strong>br</strong> />
duas escoras ainda são nítidas as notações em japonês<<strong>br</strong> />
que identificavam todas as peças de madeira.<<strong>br</strong> />
1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Essa implantação deman<strong>do</strong>u a regularização <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong> terreno<<strong>br</strong> />
através de um aterro sustenta<strong>do</strong> por muro de arrimo construí<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
em pedra e barro, localiza<strong>do</strong> na face posterior <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong>. Após<<strong>br</strong> />
o aterro dessa área, Hanaoka considerava fundamental aguardar<<strong>br</strong> />
que a chuva provocasse a consolidação <strong>do</strong> solo para poder<<strong>br</strong> />
iniciar a construção <strong>do</strong> muro de arrimo e <strong>do</strong> próprio edifício. No<<strong>br</strong> />
entanto, Furihata, preocupa<strong>do</strong> <strong>com</strong> o curto perío<strong>do</strong> de tempo<<strong>br</strong> />
disponível para as o<strong>br</strong>as (os poucos meses de entressafra),<<strong>br</strong> />
insistiu <strong>com</strong> Hanaoka para que estas prosseguissem. Kazuo<<strong>br</strong> />
tentou solucionar o problema molhan<strong>do</strong> continuamente a<<strong>br</strong> />
superfície <strong>do</strong> terreno para apressar seu assentamento, e iniciou o<<strong>br</strong> />
muro de arrimo. Nesse momento, <strong>com</strong>o previra, chuvas intensas<<strong>br</strong> />
levaram à ruína tre-
chos <strong>do</strong> serviço executa<strong>do</strong>. Em conseqüência, as áreas afetadas<<strong>br</strong> />
tiveram que ser re<strong>com</strong>postas, adequadamente consolidadas<<strong>br</strong> />
e a construção pôde, enfim, ter continuidade.<<strong>br</strong> />
Algumas áreas contíguas apresentam menor declividade, no<<strong>br</strong> />
entanto, a escolha desse local deve ter ocorri<strong>do</strong> em função<<strong>br</strong> />
da proximidade das áreas cultivadas, <strong>do</strong>s acessos e da sede<<strong>br</strong> />
da propriedade, além das condições favoráveis de ventilação<<strong>br</strong> />
e insolação.<<strong>br</strong> />
O sistema de apoio <strong>do</strong> edifício so<strong>br</strong>e o solo foi soluciona<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
por Hanaoka a partir da a<strong>do</strong>ção de uma técnica utilizada na<<strong>br</strong> />
arquitetura tradicional japonesa: blocos de pedra pouco<<strong>br</strong> />
espessos, assentam-se na superfície <strong>do</strong> terreno e sustentam<<strong>br</strong> />
os pilares e as paredes <strong>do</strong> pavimento térreo.<<strong>br</strong> />
Após o perío<strong>do</strong> de preparo <strong>do</strong> terreno e de execução rigorosa<<strong>br</strong> />
das peças estruturais, que se prolongou por três a quatro<<strong>br</strong> />
meses, seguiu-se a elevação e montagem da estrutura, efetuada<<strong>br</strong> />
em um mês aproximadamente. Os pilares e vigamento<<strong>br</strong> />
principal foram monta<strong>do</strong>s em apenas uma semana. As peças<<strong>br</strong> />
foram erguidas através de roldanas e pequenos guindastes<<strong>br</strong> />
e na sua fixação não foram utiliza<strong>do</strong>s pregos — apenas<<strong>br</strong> />
cavilhas de madeira ou as próprias sambladuras vinculam<<strong>br</strong> />
o conjunto estrutural.<<strong>br</strong> />
O sistema estrutural <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> baseia-se em dez pilares dispostos<<strong>br</strong> />
em duas fileiras centrais (forman<strong>do</strong> uma área retangular<<strong>br</strong> />
de 8,50 m x 28,60 m) e que se interligam por vigas<<strong>br</strong> />
transversais e longitudinais <strong>com</strong>postas por treliças planas.<<strong>br</strong> />
Essa estrutura conforma os espaços correspondentes ao pavimento<<strong>br</strong> />
superior e à área central <strong>do</strong> pavimento térreo. Neste<<strong>br</strong> />
último a estrutura das áreas que se projetam além <strong>do</strong> limite<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s pilares centrais é mais simples e desenvolve-se em torno<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> sistema principal. O <strong>com</strong>pleto <strong>do</strong>mínio que Hanaoka possuía<<strong>br</strong> />
das técnicas construtivas japonesas e da concepção geral<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> edifício evidencia-se pela maneira engenhosa e rápida<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> que solucionou a montagem dessa <strong>com</strong>plexa estrutura.<<strong>br</strong> />
Como o novo edifício ocuparia o mesmo local das instalações<<strong>br</strong> />
até então utilizadas pela Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio, estas<<strong>br</strong> />
deveriam ser necessariamente demolidas. Este fato ocasionaria<<strong>br</strong> />
a interrupção das atividades de beneficiamento daquele<<strong>br</strong> />
ano se, até o final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de entressafra (de junho a<<strong>br</strong> />
agosto), as antigas instalações não fossem demolidas e a nova<<strong>br</strong> />
fá<strong>br</strong>ica não apresentasse condições de funcionamento. Portanto,<<strong>br</strong> />
a rapidez e a maneira <strong>com</strong>o foi executada essa etapa<<strong>br</strong> />
da construção foram condicionadas por esse curto perío<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
de tempo disponível.<<strong>br</strong> />
Em agosto de 1942 a estrutura de madeira, a cobertura, o<<strong>br</strong> />
soalho <strong>do</strong> pavimento superior e parte das paredes estavam<<strong>br</strong> />
39<<strong>br</strong> />
Vista posterior da Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio, onde se<<strong>br</strong> />
podem observar o muro de arrimo de pedra e o<<strong>br</strong> />
acesso ao forno a lenha. Década de 40. Foto cedida<<strong>br</strong> />
por Toshio Furihata.<<strong>br</strong> />
Bloco de pedra utiliza<strong>do</strong> na sustentação da estrutura.<<strong>br</strong> />
O solapamento <strong>do</strong> aterro, nesse local, provocou<<strong>br</strong> />
o desligamento entre o pilar e o bloco, observa<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
na fotografia. 1982. Foto Walter Pires. Arquivo<<strong>br</strong> />
CONDEPHAAT.
40<<strong>br</strong> />
Outro aspecto da estrutura principal,<<strong>br</strong> />
destacan<strong>do</strong>-se as treliças planas. 1983. Foto Hugo<<strong>br</strong> />
Segawa.<<strong>br</strong> />
Estrutura principal <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> no pavimento térreo.<<strong>br</strong> />
Vê-se <strong>do</strong>is pilares e, no primeiro plano, parte<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> vigamento transversal e longitudinal <strong>com</strong>posto<<strong>br</strong> />
por treliças planas. 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Detalhe de um <strong>do</strong>s pilares da estrutura principal<<strong>br</strong> />
no pavimento térreo. Funcionan<strong>do</strong> <strong>com</strong>o apoio para<<strong>br</strong> />
os vigamentos transversal e longitudinal dessa estrutura<<strong>br</strong> />
e para o madeiramento das coberturas <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
pavimento térreo e superior, esses pilares desempenham<<strong>br</strong> />
papel fundamental na <strong>com</strong>posição <strong>do</strong> sistema<<strong>br</strong> />
estrutural <strong>do</strong> edifício. 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Cobertura <strong>do</strong> pavimento térreo. Observa-se, pelo<<strong>br</strong> />
interior <strong>do</strong> edifício, um <strong>do</strong>s espigões e a estrutura<<strong>br</strong> />
de sustentação desse telha<strong>do</strong>. 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
concluídas. A nova fá<strong>br</strong>ica iniciou suas atividades,<<strong>br</strong> />
retoman<strong>do</strong>-se o beneficiamento da produção após a instalação<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s equipamentos no piso térreo.<<strong>br</strong> />
O conjunto estrutural apóia-se so<strong>br</strong>e os blocos de pedra da<<strong>br</strong> />
fundação. Não há nenhum tipo de amarração entre a estrutura<<strong>br</strong> />
e esses diversos blocos, que funcionam <strong>com</strong>o simples<<strong>br</strong> />
apoio intermediário entre o conjunto estrutural e o solo para<<strong>br</strong> />
a distribuição da carga <strong>do</strong> edifício. Os blocos auxiliam<<strong>br</strong> />
igualmente na conservação <strong>do</strong> madeiramento, evitan<strong>do</strong> que<<strong>br</strong> />
a umidade <strong>do</strong> terreno o atinja diretamente.<<strong>br</strong> />
A aparente fragilidade que resultaria da desvinculação entre<<strong>br</strong> />
o edifício e o terreno é superada pela notável articulação<<strong>br</strong> />
de to<strong>do</strong> o sistema estrutural. Essa rigidez pode ser verificada<<strong>br</strong> />
no <strong>com</strong>portamento desse conjunto após o solapamento<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> aterro, ocorri<strong>do</strong> nos últimos anos: apesar <strong>do</strong>s blocos de<<strong>br</strong> />
pedra terem a<strong>com</strong>panha<strong>do</strong> o afundamento <strong>do</strong> terreno, os
pilares que estes sustentavam mantiveram-se "suspensos"<<strong>br</strong> />
— desliga<strong>do</strong>s totalmente <strong>do</strong> terreno — pela vinculação <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
o restante da estrutura.<<strong>br</strong> />
A cobertura principal <strong>do</strong> edifício, so<strong>br</strong>e o pavimento superior,<<strong>br</strong> />
é <strong>com</strong>posta por tesouras apoiadas nas duas fileiras centrais<<strong>br</strong> />
de pilares. O pavimento térreo, <strong>com</strong> área maior que o<<strong>br</strong> />
superior, apresenta um telha<strong>do</strong> de estrutura mais simples,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> vigamento apoia<strong>do</strong> entre os pilares centrais <strong>do</strong> edifício<<strong>br</strong> />
e os periféricos. Em toda a cobertura foi utilizada telha <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
tipo francesa. As tesouras, terças e cai<strong>br</strong>os foram executa<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> troncos de eucalipto, enquanto as ripas de sustentação<<strong>br</strong> />
das telhas foram feitas <strong>com</strong> madeira aparelhada convencional.<<strong>br</strong> />
41<<strong>br</strong> />
Vista <strong>do</strong> conjunto de tesouras que sustentam a cobertura<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> pavimento superior. Segun<strong>do</strong> depoimentos,<<strong>br</strong> />
a colocação da cumeeira <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> foi <strong>com</strong>emorada<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> uma grande festa, continuan<strong>do</strong> em<<strong>br</strong> />
terras paulistas uma tradição japonesa. 1983. Foto<<strong>br</strong> />
Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Sede da fazenda Katakura, fotografada por Kazuo<<strong>br</strong> />
Hanaoka, 1929/30. Em primeiro plano, à direita, o<<strong>br</strong> />
"barracão" onde os colonos dessa propriedade faziam<<strong>br</strong> />
suas <strong>com</strong>pras. Posteriormente foi demoli<strong>do</strong> e<<strong>br</strong> />
nesse local foram construídas as primeiras instalações<<strong>br</strong> />
da Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio e, depois, o <strong>Casarão</strong><<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. Foto cedida por Toko Hanaoka.<<strong>br</strong> />
Vista <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, observan<strong>do</strong>-se, ao fun<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />
a antiga sede da propriedade Katakura. 1983.<<strong>br</strong> />
Foto Hugo Segawa.
42<<strong>br</strong> />
Em primeiro plano vê-se a cobertura curva <strong>do</strong> pórtico<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> <strong>Casarão</strong>, em estilo nokikarahafu, arrematada<<strong>br</strong> />
por coroamento onde está representada uma<<strong>br</strong> />
flor (liana em japonês) e a inicial F (Furihata). No<<strong>br</strong> />
pavimento superior destaca-se o frontão triangular,<<strong>br</strong> />
em estilo chi<strong>do</strong>rihafu encima<strong>do</strong>, igualmente,<<strong>br</strong> />
por um coroamento <strong>com</strong> a inscrição tchá (chá em<<strong>br</strong> />
japonês). 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
As características formais que melhor evidenciam a influência<<strong>br</strong> />
da arquitetura japonesa no projeto <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> estão<<strong>br</strong> />
expostas no desenho de sua cobertura. O telha<strong>do</strong> curvo<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o pórtico <strong>do</strong> galpão, magnificamente executa<strong>do</strong>, remonta<<strong>br</strong> />
àqueles <strong>do</strong>s templos japoneses que marcam o acesso<<strong>br</strong> />
principal da edificação ou <strong>do</strong> conjunto de edificações. Esse<<strong>br</strong> />
exemplar pode ser identifica<strong>do</strong> <strong>com</strong> os frontões ou pórticos<<strong>br</strong> />
curvos japoneses de influência chinesa denomina<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
noki-karahafu. Nesse pórtico é marcante um <strong>do</strong>s aspectos, já<<strong>br</strong> />
descrito anteriormente, que caracteriza o projeto deste<<strong>br</strong> />
edifício: o uso <strong>do</strong> desenho natural da madeira — sua<<strong>br</strong> />
curvatura e ramificação —, na <strong>com</strong>posição formal e <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
elemento participante <strong>do</strong> sistema estrutural.<<strong>br</strong> />
A cobertura <strong>do</strong> pavimento superior, em duas águas, possui<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>is frontões triangulares de linhas retas, recua<strong>do</strong>s em relação<<strong>br</strong> />
ao alinhamento das paredes <strong>do</strong> térreo; isso provoca a presença<<strong>br</strong> />
de duas pequenas águas que reco<strong>br</strong>em os la<strong>do</strong>s menores<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> pavimento superior desde a empena <strong>do</strong> frontão
até o beirai. Bastante difundida na arquitetura tradicional<<strong>br</strong> />
japonesa, tanto religiosa <strong>com</strong>o civil, este tipo de cobertura<<strong>br</strong> />
denomina-se irimoya.<<strong>br</strong> />
O elemento, porém, que mais se destaca nessa cobertura é<<strong>br</strong> />
o frontão de linhas curvas que reco<strong>br</strong>e pequena ala localizada<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o pórtico principal <strong>do</strong> térreo; de fatura necessariamente<<strong>br</strong> />
mais <strong>com</strong>plexa que os frontões de linhas retas, recebe<<strong>br</strong> />
o nome de chi<strong>do</strong>rihafu. Alguns <strong>do</strong>s beirais, em especial<<strong>br</strong> />
o <strong>do</strong> frontão curvo, tem seu balanço equili<strong>br</strong>a<strong>do</strong> através<<strong>br</strong> />
de um sistema de apoio entre as diversas vigas que os <strong>com</strong>põem,<<strong>br</strong> />
de mo<strong>do</strong> a formar contrapesos e travamentos para<<strong>br</strong> />
sua sustentação.<<strong>br</strong> />
Observam-se também, na cobertura <strong>do</strong> pavimento térreo,<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>is frontões menores, de linhas retas, semelhantes aos descritos<<strong>br</strong> />
anteriormente. Um deles localiza-se centralmente, na<<strong>br</strong> />
face posterior <strong>do</strong> edifício, e possui uma abertura<<strong>br</strong> />
envidraçada em sua empena que auxilia a iluminação <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
piso térreo.<<strong>br</strong> />
Detalhe da estrutura de sustentação <strong>do</strong> pórtico<<strong>br</strong> />
no-kikarahafu, onde é marcante o uso da forma<<strong>br</strong> />
natural da madeira. 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
43<<strong>br</strong> />
Estrutura de sustentação e travamento de um <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
beirais <strong>do</strong> frontão chi<strong>do</strong>rihafu, situada no pavimento<<strong>br</strong> />
superior. 1969. Foto Luiz Pedro de Araújo in Processo<<strong>br</strong> />
CONDEPHAAT nº 22.067/82.<<strong>br</strong> />
Vista lateral <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> mostran<strong>do</strong>, no pavimento<<strong>br</strong> />
superior, um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is frontões triangulares que caracterizam<<strong>br</strong> />
a cobertura em estilo irimoya. No telha<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> pavimento térreo observa-se outro pequeno<<strong>br</strong> />
frontão triangular. 1983. Foto Walter Pires, Arquivo<<strong>br</strong> />
CONDEPHAAT.
44<<strong>br</strong> />
Detalhe de pilar e parede de taipa de mão <strong>do</strong> pavimento<<strong>br</strong> />
térreo. Através <strong>do</strong> revestimento destruí<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
observa-se a fixação, no pilar, das peças horizontais<<strong>br</strong> />
de madeira que <strong>com</strong>põem a armação da parede.<<strong>br</strong> />
Vêem-se, também, os blocos de pedra que sustentam<<strong>br</strong> />
o pilar e as paredes. 1983. Foto Walter Pires.<<strong>br</strong> />
Arquivo CONDEPHAAT.<<strong>br</strong> />
As paredes <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> foram executadas em taipa de mão.<<strong>br</strong> />
No piso térreo as peças verticais de madeira, que <strong>com</strong>põem<<strong>br</strong> />
a armação da parede, encaixam-se superiormente em vigas<<strong>br</strong> />
de eucalipto e rentes ao piso apóiam-se diretamente so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
os blocos de pedra da fundação. No piso superior<<strong>br</strong> />
encaixam-se, tanto em cima quanto em baixo, no<<strong>br</strong> />
vigamento de eucalipto. Essas peças sustentam uma malha<<strong>br</strong> />
horizontal, <strong>com</strong>posta por tiras de bambu eqüidistantes, que<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>pletam a armação; esta é vedada <strong>com</strong> barro mistura<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
a capim. Como proteção <strong>com</strong>plementar as paredes foram<<strong>br</strong> />
revestidas <strong>com</strong> uma camada de argamassa de barro e<<strong>br</strong> />
receberam, no passa<strong>do</strong>, algumas demãos de cal. O piso <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
<strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> no pavimento térreo é cimenta<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />
enquanto o pavimento superior apresenta soalho em<<strong>br</strong> />
madeira.<<strong>br</strong> />
As janelas de madeira possuem duas folhas envidraçadas de<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>ir; as <strong>do</strong> piso térreo apresentam ainda uma pequena bandeira<<strong>br</strong> />
fixa. Foram adquiridas pelo construtor já prontas e<<strong>br</strong> />
assemelham-se a outros exemplares encontra<strong>do</strong>s em casas de<<strong>br</strong> />
imigrantes japoneses dessa região. Foram posicionadas de<<strong>br</strong> />
acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a modulação da estrutura de madeira <strong>do</strong> edifício,<<strong>br</strong> />
que é utilizada também para sua sustentação.<<strong>br</strong> />
As portas <strong>do</strong> edifício, poucas e rudes, são executadas <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
pranchas de madeira sem qualquer ornamentação.<<strong>br</strong> />
A escada de acesso ao pavimento superior destaca-se por sua<<strong>br</strong> />
estrutura de madeira formada por troncos de eucalipto <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
suas ramificações, escolhi<strong>do</strong>s especialmente para <strong>com</strong>por <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
sua forma natural a inclinação e corrimão deseja<strong>do</strong>s por<<strong>br</strong> />
Hanaoka. O espelho <strong>do</strong>s degraus e a balaustrada da escada<<strong>br</strong> />
foram executa<strong>do</strong>s em taipa de mão.<<strong>br</strong> />
Vista da superfície inferior <strong>do</strong> soalho <strong>do</strong> pavimento superior e sua estrutura<<strong>br</strong> />
de sustentação. 1983. Foto Hugo Segawa.<<strong>br</strong> />
Escada de acesso ao pavimento superior. 1969. Foto Luiz Pedro de<<strong>br</strong> />
Araújo in Processo CONDEPHAAT nº 22.067/82.
INFLUÊNCIAS DA<<strong>br</strong> />
ARQUITETURA JAPONESA<<strong>br</strong> />
Edificações rurais próximas a Tóquio. O <strong>Casarão</strong><<strong>br</strong> />
apresenta características semelhantes às edificações da<<strong>br</strong> />
fotografia: o volume, os <strong>do</strong>is pavimentos e o telha<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
irimoya. 1965. Foto Heinrich Engel in GROPIUS,<<strong>br</strong> />
Walter. Architettura in Giappone.<<strong>br</strong> />
16. Apesar da difusão dessa técnica construtiva no Japão,<<strong>br</strong> />
sua aplicação no <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> pode ter se<<strong>br</strong> />
da<strong>do</strong> tanto pela transferência dessa tradição construtiva<<strong>br</strong> />
através de Hanaoka, <strong>com</strong>o pela simples adaptação<<strong>br</strong> />
da usual parede de pau-a-pique <strong>do</strong> interior paulista.<<strong>br</strong> />
O carpinteiro Kazuo Hanaoka submeteu-se neste projeto a<<strong>br</strong> />
uma série de condicionantes defini<strong>do</strong>s pelo mo<strong>do</strong> <strong>br</strong>asileiro,<<strong>br</strong> />
ou paulista, de construir. Além de adaptações na escolha de<<strong>br</strong> />
materiais (eucalipto, telhas francesas, esquadrias) e no<<strong>br</strong> />
próprio programa da edificação, identificam-se<<strong>br</strong> />
sincretismos tanto <strong>com</strong> a arquitetura <strong>br</strong>asileira (o uso da<<strong>br</strong> />
taipa de mão, técnica <strong>com</strong>um ao Japão e ao Brasil;<<strong>br</strong> />
construção da cobertura <strong>com</strong> características formais<<strong>br</strong> />
japonesas e materiais <strong>com</strong>uns à nossa arquitetura), <strong>com</strong>o no<<strong>br</strong> />
interior da própria arquitetura japonesa (utilização de<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>ponentes formais oriun<strong>do</strong>s de templos e castelos numa<<strong>br</strong> />
edificação fa<strong>br</strong>il).<<strong>br</strong> />
Mesmo diante dessa <strong>com</strong>plexa fusão de elementos construtivos<<strong>br</strong> />
diferencia<strong>do</strong>s pode-se assinalar uma série de características<<strong>br</strong> />
que nos remetem à arquitetura tradicional japonesa:<<strong>br</strong> />
1. Estrutura independente de madeira — utilizada originalmente<<strong>br</strong> />
no Japão <strong>com</strong>o uma melhor forma de adaptação<<strong>br</strong> />
aos freqüentes terremotos;<<strong>br</strong> />
2. Planta livre — poucas divisórias internas, apenas nos locais<<strong>br</strong> />
indispensáveis ao programa original (depósito de chá<<strong>br</strong> />
e <strong>com</strong>partimento para fermentação);<<strong>br</strong> />
3. Cobertura — alguns aspectos formais <strong>com</strong>o o telha<strong>do</strong> tipo<<strong>br</strong> />
irimoya, <strong>com</strong>um à construção tradicional japonesa, e<<strong>br</strong> />
o frontão e o pórtico mais elabora<strong>do</strong>s que se inspiraram<<strong>br</strong> />
na arquitetura religiosa e palaciana <strong>do</strong> Japão; Uso de<<strong>br</strong> />
blocos de pedra na fundação, sem amarração <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
estrutura <strong>do</strong> edifício — solução a<strong>do</strong>tada na arquitetura<<strong>br</strong> />
japonesa também <strong>com</strong>o proteção contra os constantes terremotos;<<strong>br</strong> />
Estrutura de madeira aparente; Paredes de taipa de mão<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> uso de bambu 16 4<<strong>br</strong> />
; Utilização da forma natural da<<strong>br</strong> />
madeira <strong>com</strong>o recurso estético e na <strong>com</strong>posição da<<strong>br</strong> />
estrutura e detalhes construtivos;<<strong>br</strong> />
8 Modulação — no Japão as edificações tradicionais e seus<<strong>br</strong> />
espaços internos modulam-se pelas dimensões <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
"tatami" (1,80 m x 0,90 m aproximadamente). No<<strong>br</strong> />
<strong>Casarão</strong> é clara uma intenção regula<strong>do</strong>ra da <strong>com</strong>posição<<strong>br</strong> />
espacial <strong>do</strong> edifício, mas ainda não existem elementos<<strong>br</strong> />
para determinar se isso ocorreu em função desses<<strong>br</strong> />
padrões utiliza<strong>do</strong>s normalmente no Japão;<<strong>br</strong> />
Esquadrias sustentadas pela estrutura de madeira <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
edifício.<<strong>br</strong> />
45
46<<strong>br</strong> />
Edificação rural japonesa, na Província de Niigata.<<strong>br</strong> />
A estrutura independente de madeira e o apoio<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e blocos de pedra que se observam nesta casa<<strong>br</strong> />
são técnicas construtivas tradicionais <strong>do</strong> Japão, que<<strong>br</strong> />
foram utilizadas também na construção <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong><<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. l958/60. Foto Yukio Futagawa in<<strong>br</strong> />
ITOH, Teiji. Nihon no minká.<<strong>br</strong> />
Detalhe de um frontão triangular de uma cobertura<<strong>br</strong> />
em estilo irimoya numa construção rural japonesa,<<strong>br</strong> />
em Kashihara. Observam-se uma parede<<strong>br</strong> />
em taipa de mão e coroamentos de espigão e<<strong>br</strong> />
cumeeira da cobertura semelhantes aos utiliza<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
no <strong>Casarão</strong>. 1958/60. Foto Yukio Futagawa in ITOH,<<strong>br</strong> />
Teiji. Nihon no minká.
Pórtico nokikarahafu de uma edificação rural japonesa<<strong>br</strong> />
em Maniwa, Província de Okayama. A construção<<strong>br</strong> />
apresenta estrutura de madeira aparente<<strong>br</strong> />
apoiada em blocos de pedra. 1958/60. Foto Yukio<<strong>br</strong> />
Futagawa in ITOH, Teiji. Nihon no minká.<<strong>br</strong> />
Edificação rural japonesa em Ibogawa, Província de<<strong>br</strong> />
Hyogo. Telha<strong>do</strong> irimoya, estrutura de madeira<<strong>br</strong> />
aparente e esquadrias sustentadas pelo sistema<<strong>br</strong> />
estrutural, C1958/60. Foto Yukio Futagawa in<<strong>br</strong> />
ITOH, Teiji. Nihon no minká.<<strong>br</strong> />
47<<strong>br</strong> />
Detalhe da estrutura de um pórtico nokikarahafu<<strong>br</strong> />
de uma edificação japonesa. Foto in BUISSON, D.<<strong>br</strong> />
Temples et sanctuaires au Japon.
48<<strong>br</strong> />
Conclusão<<strong>br</strong> />
O estu<strong>do</strong> de tombamento no qual se baseia este Caderno<<strong>br</strong> />
mostrou que o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> é um <strong>do</strong>s poucos testemunhos,<<strong>br</strong> />
em terras paulistas, <strong>do</strong> assentamento espacial <strong>do</strong> imigrante<<strong>br</strong> />
japonês, <strong>com</strong> características evidentes de sua origem.<<strong>br</strong> />
Mais concretamente, é um vestígio da população nipônica<<strong>br</strong> />
— e de uma de suas atividades —, na área rural <strong>do</strong> municí-<<strong>br</strong> />
pio de Mogi das Cruzes.<<strong>br</strong> />
Desta forma, o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> — mais <strong>do</strong> que um elemento<<strong>br</strong> />
representativo <strong>do</strong> processo de assimilação e integração <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
imigrantes japoneses à sociedade <strong>br</strong>asileira, em geral — deve<<strong>br</strong> />
ser visto <strong>com</strong>o resulta<strong>do</strong> de fatores específicos, presentes<<strong>br</strong> />
no momento de sua criação. E marco de uma fase particular<<strong>br</strong> />
da cultura <strong>do</strong> chá em Mogi das Cruzes que, embora curta,<<strong>br</strong> />
foi suficientemente intensa e significativa para deixar registrada<<strong>br</strong> />
sua presença, e de maneira bastante original.<<strong>br</strong> />
A construção <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> tornou-se possível porque<<strong>br</strong> />
o administra<strong>do</strong>r da Fazenda Katakura pôde contratar os serviços<<strong>br</strong> />
de um imigrante <strong>com</strong> conhecimento de técnicas e da<<strong>br</strong> />
arquitetura tradicional japonesa. Não é, porém, um exemplar<<strong>br</strong> />
arquitetônico típico <strong>do</strong> Japão, mas um testemunho da<<strong>br</strong> />
arquitetura de imigrantes nipônicos. Estes, em seu novo<<strong>br</strong> />
habitat, foram leva<strong>do</strong>s a reinterpretar sua organização espacial<<strong>br</strong> />
a partir <strong>do</strong> repertório de origem e <strong>do</strong>s condicionantes<<strong>br</strong> />
existentes em seu local de assentamento.<<strong>br</strong> />
A sede da Fá<strong>br</strong>ica de <strong>Chá</strong> Tokio expressa essa<<strong>br</strong> />
reinterpretação através da manutenção de uma série de<<strong>br</strong> />
características construtivas japonesas e da utilização de<<strong>br</strong> />
técnicas e materiais emprega<strong>do</strong>s usualmente na área rural<<strong>br</strong> />
paulista.<<strong>br</strong> />
Dentre os vestígios conheci<strong>do</strong>s da arquitetura de imigrantes<<strong>br</strong> />
japoneses o <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, contu<strong>do</strong>, figura <strong>com</strong>o um<<strong>br</strong> />
exemplar de excepcional valor: de um la<strong>do</strong>, porque revela<<strong>br</strong> />
um sincretismo interno à própria arquitetura japonesa, visível,<<strong>br</strong> />
por exemplo, na presença de elementos arquitetônicos<<strong>br</strong> />
característicos de castelos e templos numa edificação fa<strong>br</strong>il<<strong>br</strong> />
— solução in<strong>com</strong>um, mesmo no Japão. E por outro, pelo<<strong>br</strong> />
fato de serem raros os edifícios desse porte, <strong>com</strong> essas<<strong>br</strong> />
características e <strong>com</strong> tal finalidade, construí<strong>do</strong>s <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />
cuida<strong>do</strong>so apuro formal que é possível perceber na<<strong>br</strong> />
execução <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>.<<strong>br</strong> />
Tornar presente a contribuição <strong>do</strong>s imigrantes através <strong>do</strong> reconhecimento<<strong>br</strong> />
e valorização de seus testemunhos é tarefa árdua,<<strong>br</strong> />
mas necessária. O estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> representa<<strong>br</strong> />
uma tentativa nesse senti<strong>do</strong>, procuran<strong>do</strong> resgatar um fragmento<<strong>br</strong> />
da diversificada paisagem cultural paulista. Não basta,<<strong>br</strong> />
entretanto, recuperar a memória: é preciso, ademais, preservar<<strong>br</strong> />
e revitalizar o depositário concreto dessa memória —
49<<strong>br</strong> />
no caso, o edifício <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> — de forma que seja, a um<<strong>br</strong> />
tempo, símbolo de um passa<strong>do</strong> e espaço, hoje, de vivência<<strong>br</strong> />
cultural.<<strong>br</strong> />
Foto Hugo Segawa, 1983
50<<strong>br</strong> />
Bibliografia<<strong>br</strong> />
LIVROS<<strong>br</strong> />
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Revista <strong>com</strong>emorativa <strong>do</strong> aniversário de Mogi das Cruzes, s.l.,<<strong>br</strong> />
1948/1949.<<strong>br</strong> />
JORNAIS<<strong>br</strong> />
No "Kasato Maru" chegaram os primeiros imigrantes. Mogiana. Mogi<<strong>br</strong> />
das Cruzes, 18 jun. 1978. Suplemento especial.<<strong>br</strong> />
Em 1919 chegavam Shiguetoshi e Fujie Suzuki. Começava, então, a imigração<<strong>br</strong> />
no bairro de Cocuera. Mogiana. Mogi das Cruzes, 18 jun.<<strong>br</strong> />
1978. Suplemento especial.<<strong>br</strong> />
Na agricultura e avicultura, Mogi é pioneira. Mogiana. Mogi das Cruzes,<<strong>br</strong> />
18 jun. 1978. Suplemento especial.<<strong>br</strong> />
Com suas técnicas, eles construíram a riqueza de Mogi. O Esta<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />
São Paulo. São Paulo, 18 jun. 1978. Suplemento especial, p.21.<<strong>br</strong> />
ROSSETTI, Cassio F.. <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>. Mogi News. Mogi das Cruzes,<<strong>br</strong> />
17 a<strong>br</strong>. 1983, p.4.<<strong>br</strong> />
Agradecimentos<<strong>br</strong> />
A Toko Hanaoka, Sumie Terahara, Amélia Tamie Inose, Mitie Takao,<<strong>br</strong> />
Torao Sasaki, Toshio Furihata, Goro Urushibata, Tsunezo Sato e<<strong>br</strong> />
Sethiro Namie pelos depoimentos presta<strong>do</strong>s.<<strong>br</strong> />
A Toko Hanaoka, Mitie Takao, Toshio Furihata e à Seção <strong>do</strong> Arquivo<<strong>br</strong> />
Histórico da Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes pelo empréstimo<<strong>br</strong> />
de material iconográfico e autorização de sua reprodução.<<strong>br</strong> />
A Carlos Hanaoka, por permitir a reprodução fotográfica <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
"butsudan", de autoria de Kazuo Hanaoka.<<strong>br</strong> />
A Wilson Roberto Hiroshi Koike, pelo auxílio na obtenção de alguns<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s depoimentos, e a Eymard Cezar Araújo Ferreira, pela colaboração<<strong>br</strong> />
no levantamento bibliográfico em Mogi das Cruzes, durante a elaboração<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de tombamento <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>.<<strong>br</strong> />
A Carmem Lúcia M. V. de Oliveira, Hugo Segawa, José Guilherme C.<<strong>br</strong> />
Magnani e Mada Pentea<strong>do</strong> pela colaboração direta na organização e na<<strong>br</strong> />
revisão final deste texto.<<strong>br</strong> />
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