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Casarão do Chá - Imigrantesjaponeses.com.br

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O viajante que por algum motivo resolvesse tomar o desvio no<<strong>br</strong> />

km 10 da estrada Mogi-Salesópolis, teria boas razões para<<strong>br</strong> />

sentir-se vítima de algum capricho da geografia: o repentino<<strong>br</strong> />

aparecimento de uma edificação no melhor estilo irimoya, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

frontões nokikarahafu, o<strong>br</strong>iga-o a diminuir a marcha e<<strong>br</strong> />

perguntar-se aonde esses poucos quilômetros de estrada de terra<<strong>br</strong> />

o levaram... A primeira vista, trata-se de um templo ou castelo<<strong>br</strong> />

japonês: o pórtico curvo, a cobertura e outros detalhes não<<strong>br</strong> />

deixam lugar a dúvidas. A medida, porém, que <strong>com</strong>eça a<<strong>br</strong> />

observá-lo mais de perto e <strong>com</strong> atenção, a surpresa aumenta: ao<<strong>br</strong> />

la<strong>do</strong> <strong>do</strong> estilo e técnicas características da arquitetura<<strong>br</strong> />

tradicional japonesa, hã materiais e elementos construtivos<<strong>br</strong> />

utiliza<strong>do</strong>s no Brasil, <strong>com</strong>o as telhas, as esquadrias, os pilares de<<strong>br</strong> />

tronco de eucalipto. Uma inspeção pelo seu interior tampouco<<strong>br</strong> />

esclarece o mistério; em vez de imagens, altares ou móveis -<<strong>br</strong> />

indícios de uma utilização religiosa ou simplesmente residencial<<strong>br</strong> />

- o que se vê são máquinas, caixotes, utensílios agrícolas.<<strong>br</strong> />

Trata-se, <strong>com</strong> efeito, <strong>do</strong> <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong> - antiga fá<strong>br</strong>ica, hoje<<strong>br</strong> />

usada <strong>com</strong>o depósito - precioso testemunho de uma das<<strong>br</strong> />

atividades a que se dedicaram os imigrantes japoneses no Brasil,<<strong>br</strong> />

razão pela qual foi tomba<strong>do</strong> pelo CONDEPHAAT, ou seja,<<strong>br</strong> />

reconheci<strong>do</strong> oficialmente <strong>com</strong>o um bem de valor histórico,<<strong>br</strong> />

arquitetônico e cultural, digno de cuida<strong>do</strong>s especiais visan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

sua preservação.<<strong>br</strong> />

E preciso ressaltar, entretanto, que não é o aspecto exótico ou<<strong>br</strong> />

excepcional de uma edificação, monumento ou objeto, o motivo<<strong>br</strong> />

que leva o Conselho de Defesa <strong>do</strong> Patrimônio a colocá-los sob<<strong>br</strong> />

esse tipo especial de proteção, o Tombamento.<<strong>br</strong> />

O valor e o significa<strong>do</strong> das características que mais chamam a<<strong>br</strong> />

atenção no <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, por exemplo - a utilização de<<strong>br</strong> />

elementos formais de castelos e templos para a construção de<<strong>br</strong> />

uma fá<strong>br</strong>ica, o emprego, por parte <strong>do</strong> arquiteto-carpinteiro<<strong>br</strong> />

japonês, que o construiu, de elementos próprios da região —, só<<strong>br</strong> />

podem ser apreendi<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>s no contexto<<strong>br</strong> />

sócio-histórico <strong>do</strong> qual são remanescentes.<<strong>br</strong> />

O <strong>Casarão</strong> <strong>do</strong> <strong>Chá</strong>, desta forma, deve ser encara<strong>do</strong> <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

representante e símbolo <strong>do</strong> esforço de uma coletividade culturalmente<<strong>br</strong> />

diferenciada em construir, num contexto<<strong>br</strong> />

sócio-político novo, seu próprio espaço de vida e trabalho,<<strong>br</strong> />

reinterpretan<strong>do</strong> concepções e modelos construtivos tradicionais.<<strong>br</strong> />

Assim, o valor desse monumento - produto <strong>do</strong> encontro de<<strong>br</strong> />

padrões culturais diferentes - reside principalmente no conjunto<<strong>br</strong> />

de significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s quais terminou sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s poucos<<strong>br</strong> />

testemunhos.<<strong>br</strong> />

José Guilherme Cantor Magnani<<strong>br</strong> />

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