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RACISMO EM MARIO FILHO: UMA ANÁLISE DA OBRA O NEGRO ...

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caberia, principalmente, aos intelectuais do período, revelando que o Modernismo não se<br />

configurou apenas como movimento cultural, mas encontrou ramificações políticas. 5<br />

O Movimento Modernista que encontrou permanências, não se restringindo<br />

apenas aos anos 20, se configurou como um novo pensamento, o qual objetivava como<br />

princípio básico fazer o Brasil adentrar na Modernidade, para isso era necessário que se<br />

pensasse sobre o nosso país, pois o pensamento desses intelectuais era que se<br />

conhecêssemos o particular alcançaríamos o universal, onde já se encontravam as nações<br />

mais desenvolvidas. É a partir dessa necessidade de se pensar o Brasil, compreender a sua<br />

formação e a sua configuração que vai se cunhando a identidade do brasileiro – e se faz<br />

uma revolução na historiografia brasileira. Para a missão de entender o país cabe destacar<br />

as obras principais de: Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, Sérgio Buarque, Raízes<br />

do Brasil e Caio Prado Júnior, Formação do Brasil Contemporâneo. 6<br />

Gilberto Freyre e sua obra merecem destaque, pois influenciaram diretamente o<br />

trabalho de Mario Filho e encontraram longa permanência. Freyre possuía uma relação<br />

íntima com o Estado e sua intenção de integrar e pensar a nação. Com base nisso, o<br />

pernambucano vai se constituir como um criador da identidade brasileira. É na busca pela<br />

singularidade do Brasil que ele vai focar na mestiçagem ocorrida aqui e no advento de uma<br />

sociedade e culturas híbridas. Sua obra é marcada fortemente por ambiguidades e culmina<br />

com a criação do mito da democracia racial, defendendo que o Brasil se configuraria como<br />

um lugar ausente de racismo, onde todas as raças viveriam em harmonia.<br />

Na esteira desses acontecimentos se encontra a figura de Mario Rodrigues Filho.<br />

Assim como Gilberto Freyre era também pernambucano e o jornalismo sempre fez parte de<br />

sua vida. Seu pai, Mario Rodrigues era dono do jornal A manhã, no qual Mário Filho<br />

cuidou por um período da página de esportes e seu irmão era o também jornalista e cronista<br />

Nelson Rodrigues, que o apelidou de “criador de multidões”, graças a sua empreitada de<br />

transformar o futebol em um esporte de massa. É de extrema importância destacar que<br />

Mário Filho revolucionou toda a imprensa esportiva e influenciou diretamente o<br />

desenvolvimento do futebol no Brasil. 7<br />

O negro no futebol brasileiro é uma obra pioneira para a história do futebol no<br />

Brasil e tem significativa importância para compreender a construção dessa história. O<br />

livro – nas suas duas edições – é influenciado claramente pela ideologia da democracia<br />

racial construída a partir do pensamento freyriano. É importante destacar essa influência,<br />

pois é a partir disso que Mario Filho constrói todo o épico de seu livro. Crente no mito da<br />

harmonia social e principalmente, na singularidade da cultura brasileira, uma cultura<br />

híbrida e mestiça para ele, assim como para Freyre, e o futebol seria mais um campo no<br />

qual essa particularidade se manifestaria, existiria um “jeito brasileiro de jogar bola”. A<br />

importância do esporte vai além, pois seria o espaço que possibilitaria a maior ascensão de<br />

negros e mestiços naquele período (apesar dessa ideia encontrar forte permanência até<br />

hoje).<br />

Na obra de Filho o negro alcançaria essa ascensão social e o fim do racismo<br />

através do talento inato para jogar futebol, pois até no futebol o brasileiro – considerado<br />

por excelência o mulato, o mestiço – teria um jeito singular de ser, marcado pela mistura<br />

de todas as culturas e fortemente influenciado pelas características do negro, como a ginga,<br />

5<br />

MARTINS, Paulo Henrique N. A cultura política do patriarcalismo. Revista de Estudos de Sociologia<br />

Online, Vol. 1, 1995, p. 2.<br />

6<br />

VELOSO, Mariza; MADEIRA, Angélica. Leituras Brasileiras: Itinerários no pensamento social e na<br />

literatura. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 41.<br />

7<br />

ANTUNES, Fátima Martin R. F. “Mário Filho: levantando o véu da alma brasileira” In: Com brasileiro,<br />

não há quem possa! Futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues.<br />

São Paulo: Editora UNESP, 2004, pp. 124-129.

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