29.06.2013 Views

RACISMO EM MARIO FILHO: UMA ANÁLISE DA OBRA O NEGRO ...

RACISMO EM MARIO FILHO: UMA ANÁLISE DA OBRA O NEGRO ...

RACISMO EM MARIO FILHO: UMA ANÁLISE DA OBRA O NEGRO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

a dança e o ritmo, transpostos para o futebol através do drible, da surpresa, das inovações<br />

de passes e jogadas, fatores que não ocorriam em outros países praticantes do esporte<br />

bretão. E seria a partir do âmbito futebolístico que se chegaria à harmonia plena entre as<br />

raças, pois é um espaço democratizante, o que decretaria a vitória da democracia racial<br />

freyriana.<br />

Importante ressaltar a estrutura geral do trabalho, o qual se dividiu em dois<br />

capítulos. O primeiro buscou compreender o contexto no qual está inserida a obra O Negro<br />

no Futebol Brasileiro, revelando suas ligações e sua circularidade no período. O segundo<br />

capítulo realizou uma revisão bibliográfica acerca da obra de Mario Filho e se empreendeu<br />

uma análise do livro enfatizando na percepção do racismo e nas contradições presentes<br />

durante a argumentação e construção do épico de ascensão do negro.<br />

Dessa forma, percebe-se que Mario Filho se inseria em um projeto maior de<br />

pensar o Brasil e de caracterizar a nossa identidade nacional. Projeto fundado basicamente<br />

pelo Movimento Modernista e que recebeu forte apoio do governo de Getúlio Vargas, o<br />

qual visava uma integração nacional e que teve um dos seus ápices com o legado de<br />

Gilberto Freyre.<br />

Cabe explicitar que como O negro no futebol brasileiro é uma obra muito rica e<br />

repleta de nuances a sua análise demanda mais estudos e um aprofundamento maior.<br />

Contando com isso e com os estudos realizados até agora, observa-se um fator muito<br />

relevante na obra, a existência de uma contradição no referente ao tema do racismo. Notase<br />

que Mario Filho é ambíguo, a ambiguidade sobre a questão racial pode ser demonstrada<br />

por alguns aspectos pressentes em seu livro: mesmo quando defende que há a ascensão<br />

social do negro ela se dá em consonância com a plena existência do racismo na sociedade,<br />

pois esse era um fenômeno social muito forte e incrustado no pensamento social, fator<br />

também muito relatado pelo próprio autor (como a exclusão de jogadores negros dos times<br />

grandes da cidade do Rio de Janeiro), assim a possibilidade do negro ascender socialmente,<br />

marcava mais uma forma de ele deixar de ser negro, como se houvesse uma mobilidade<br />

racial – passa a ser branco – e não social realmente, o que revela que o branco sempre seria<br />

o superior, parte-se desse pressuposto já naturalizado. Ao defender a ausência de racismo e<br />

harmonia entre as raças ocorre um silenciamento do próprio racismo, dificultando o<br />

combate a esse. E Mario Filho considera que os negros – pensando como raça – possuem<br />

características inatas, as quais favorecem o seu talento para jogar futebol, o que demonstra<br />

a permanência dos conceitos biológicos e raciais, contradizendo-se com a teoria de que<br />

todos possuem características iguais. Além de citar que os negros e mestiços seriam<br />

possuidores mais fortes de características animais e raciais, marcando uma permanência do<br />

antigo pensamento racialista. Assim, a defesa da democracia racial e, por conseguinte do<br />

fim do racismo, caminha na obra junto com preceitos racialistas e descrição de casos<br />

racistas dentro do futebol, campo que possibilitaria a maior ascensão social de negros e<br />

mestiços.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!