RACISMO EM MARIO FILHO: UMA ANÁLISE DA OBRA O NEGRO ...
RACISMO EM MARIO FILHO: UMA ANÁLISE DA OBRA O NEGRO ...
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a dança e o ritmo, transpostos para o futebol através do drible, da surpresa, das inovações<br />
de passes e jogadas, fatores que não ocorriam em outros países praticantes do esporte<br />
bretão. E seria a partir do âmbito futebolístico que se chegaria à harmonia plena entre as<br />
raças, pois é um espaço democratizante, o que decretaria a vitória da democracia racial<br />
freyriana.<br />
Importante ressaltar a estrutura geral do trabalho, o qual se dividiu em dois<br />
capítulos. O primeiro buscou compreender o contexto no qual está inserida a obra O Negro<br />
no Futebol Brasileiro, revelando suas ligações e sua circularidade no período. O segundo<br />
capítulo realizou uma revisão bibliográfica acerca da obra de Mario Filho e se empreendeu<br />
uma análise do livro enfatizando na percepção do racismo e nas contradições presentes<br />
durante a argumentação e construção do épico de ascensão do negro.<br />
Dessa forma, percebe-se que Mario Filho se inseria em um projeto maior de<br />
pensar o Brasil e de caracterizar a nossa identidade nacional. Projeto fundado basicamente<br />
pelo Movimento Modernista e que recebeu forte apoio do governo de Getúlio Vargas, o<br />
qual visava uma integração nacional e que teve um dos seus ápices com o legado de<br />
Gilberto Freyre.<br />
Cabe explicitar que como O negro no futebol brasileiro é uma obra muito rica e<br />
repleta de nuances a sua análise demanda mais estudos e um aprofundamento maior.<br />
Contando com isso e com os estudos realizados até agora, observa-se um fator muito<br />
relevante na obra, a existência de uma contradição no referente ao tema do racismo. Notase<br />
que Mario Filho é ambíguo, a ambiguidade sobre a questão racial pode ser demonstrada<br />
por alguns aspectos pressentes em seu livro: mesmo quando defende que há a ascensão<br />
social do negro ela se dá em consonância com a plena existência do racismo na sociedade,<br />
pois esse era um fenômeno social muito forte e incrustado no pensamento social, fator<br />
também muito relatado pelo próprio autor (como a exclusão de jogadores negros dos times<br />
grandes da cidade do Rio de Janeiro), assim a possibilidade do negro ascender socialmente,<br />
marcava mais uma forma de ele deixar de ser negro, como se houvesse uma mobilidade<br />
racial – passa a ser branco – e não social realmente, o que revela que o branco sempre seria<br />
o superior, parte-se desse pressuposto já naturalizado. Ao defender a ausência de racismo e<br />
harmonia entre as raças ocorre um silenciamento do próprio racismo, dificultando o<br />
combate a esse. E Mario Filho considera que os negros – pensando como raça – possuem<br />
características inatas, as quais favorecem o seu talento para jogar futebol, o que demonstra<br />
a permanência dos conceitos biológicos e raciais, contradizendo-se com a teoria de que<br />
todos possuem características iguais. Além de citar que os negros e mestiços seriam<br />
possuidores mais fortes de características animais e raciais, marcando uma permanência do<br />
antigo pensamento racialista. Assim, a defesa da democracia racial e, por conseguinte do<br />
fim do racismo, caminha na obra junto com preceitos racialistas e descrição de casos<br />
racistas dentro do futebol, campo que possibilitaria a maior ascensão social de negros e<br />
mestiços.