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especialida<strong>de</strong>s<br />
protesta Rasslan. “Quanto mais isolada<br />
a cida<strong>de</strong>, maior a sua necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ter o melhor médico, não o<br />
pior”, completa Birolini. “Acreditar<br />
que profissionais mal preparados<br />
po<strong>de</strong>m aten<strong>de</strong>r as pessoas menos<br />
favorecidas do ponto <strong>de</strong> vista socioeconômico<br />
é uma discriminação<br />
inaceitável, particularmente na medicina”,<br />
<strong>de</strong>staca Rasslan. “Não existem<br />
operações simples. Uma complicação<br />
ocorrida em uma operação<br />
<strong>de</strong> pequeno ou médio porte po<strong>de</strong><br />
tornar-se um problema complexo.”<br />
O professor completa: “No passado,<br />
o cirurgião tinha uma formação<br />
ampla, horizontal, com uma visão do<br />
doente como um todo. Hoje, a formação<br />
é cada vez mais vertical, mais<br />
estreita, com uma tendência a tratar<br />
<strong>de</strong> órgãos ou doenças. O jovem preten<strong>de</strong><br />
ser um superespecialista. Um<br />
cirurgião geral qualificado é mais do<br />
que necessário para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s<br />
da população. É preferível<br />
um único cirurgião geral qualificado a<br />
uma equipe <strong>de</strong> especialistas.”<br />
Como a legislação permite que o<br />
médico sem a formação a<strong>de</strong>quada<br />
atue como cirurgião e a remuneração<br />
é indigna, privilegia-se a quantida<strong>de</strong><br />
em <strong>de</strong>trimento da qualida<strong>de</strong>, o que é<br />
muito grave. “Não há espaço para a<br />
medicina qualificada na atual conjuntura,<br />
o que leva a dois níveis <strong>de</strong> assistência<br />
à saú<strong>de</strong>, como há dois tipos <strong>de</strong><br />
3 REVISTA DA APM – MARÇO DE 2010<br />
Como a legislação<br />
permite que o médico<br />
sem a formação<br />
a<strong>de</strong>quada atue como<br />
cirurgião, privilegiase<br />
a quantida<strong>de</strong><br />
em <strong>de</strong>trimento da<br />
qualida<strong>de</strong>, o que<br />
é muito grave<br />
formação educacional, <strong>de</strong> assistência<br />
jurídica, <strong>de</strong> habitação e assim por<br />
diante”, lamenta Triviño, da Unifesp.<br />
PéSSIMAS CONDIÇõES<br />
DE TRABALHO<br />
Honorários aviltantes, jornada extensiva,<br />
precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vínculos,<br />
falta <strong>de</strong> progressão na carreira e ausência<br />
<strong>de</strong> equipamentos e materiais<br />
tornam ainda mais pesada a carga dos<br />
cirurgiões, sem falar na concentração<br />
<strong>de</strong> profissionais nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s<br />
por conta da carência <strong>de</strong> atrativos<br />
para o trabalho no interior. Diante <strong>de</strong><br />
tantos <strong>de</strong>sestímulos, inclusive no que<br />
diz respeito à educação médica continuada,<br />
o atendimento à população<br />
fica cada vez mais comprometido.<br />
Embora a formação do cirurgião<br />
seja longa, a fim <strong>de</strong> que se torne um<br />
profissional competente e preparado<br />
para enfrentar as responsabilida<strong>de</strong>s<br />
inerentes ao exercício profissional,<br />
“um indivíduo com formação ina<strong>de</strong>quada<br />
compete em iguais condições<br />
com aquele bem capacitado; a remuneração<br />
não diferencia o melhor e o<br />
pior”, indigna-se Rasslan, da FMUSP.<br />
Além disso, continua, “não existe relação<br />
entre diferenciação intelectual<br />
e retorno econômico; por outro lado,<br />
só haverá retorno econômico se houver<br />
diferenciação intelectual”.<br />
“Investe-se em quartos <strong>de</strong> internação<br />
luxuosos e materiais <strong>de</strong> implante<br />
caríssimos, por exemplo, mas a remuneração<br />
do médico continua sendo historicamente<br />
menosprezada”, compara<br />
Triviño. “O chamado ‘custo saú<strong>de</strong>’ cresce<br />
<strong>de</strong> forma avassaladora e <strong>de</strong>sproporcional<br />
aos irrisórios reajustes dos médicos”,<br />
acrescenta Ilias, do CBC-SP.<br />
Nos Estados Unidos, 70% dos médicos<br />
que fazem Cirurgia Geral <strong>de</strong>pois<br />
optam por especialida<strong>de</strong>s e apenas<br />
2% a 3% têm interesse em trabalhar<br />
na emergência. “Os números americanos<br />
não são diferentes dos nossos”,<br />
afirma Rasslan. “Consi<strong>de</strong>ro o médico<br />
que trabalha no pronto-socorro um<br />
super-homem, um super-herói, pois<br />
suas <strong>de</strong>cisões com frequência são a<br />
diferença entre a vida e a morte, daí a<br />
alta relevância <strong>de</strong> uma boa formação e<br />
<strong>de</strong> um excelente treinamento. Parado-