Download - Associação Paulista de Medicina
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cação que forme pensadores e pessoas<br />
com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar<br />
respostas para um mundo que precisa<br />
<strong>de</strong> um novo significado para o sentido<br />
<strong>de</strong> realização e felicida<strong>de</strong>. Empresas<br />
começam a operar numa lógica <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> socioambiental verda<strong>de</strong>ira.<br />
Essas pessoas e instituições<br />
estão movendo a socieda<strong>de</strong> e indicando<br />
o novo caminho por on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos<br />
prosseguir como civilização.<br />
As discussões ambientais ainda<br />
limitam-se à proteção da natureza,<br />
sem colocar o homem<br />
como parte do ecossistema. Ao<br />
mesmo tempo, a saú<strong>de</strong> ainda não<br />
incorporou os cuidados com o<br />
meio ambiente como uma forma<br />
<strong>de</strong> prevenção a doenças. essa<br />
conscientização é importante?<br />
No Brasil, a partir do movimento iniciado<br />
por Chico Men<strong>de</strong>s na Amazônia,<br />
a <strong>de</strong>fesa do meio ambiente segue além<br />
da proteção pura e simples da natureza.<br />
Ela integrou o que chamamos <strong>de</strong><br />
visão socioambiental, em que o <strong>de</strong>safio<br />
é prover condições dignas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
humano e, ao mesmo tempo,<br />
preservar nossos recursos naturais e os<br />
serviços ambientais que nos propiciam<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. É impossível dissociar<br />
a saú<strong>de</strong> do planeta da saú<strong>de</strong> das<br />
pessoas, por exemplo. A maior parte<br />
das mortes, nos países pobres, está<br />
relacionada com a qualida<strong>de</strong> da água,<br />
que, por sua vez, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das condições<br />
ambientais da bacia hidrográfica.<br />
As mudanças climáticas globais produzirão<br />
efeitos diretos, causados pelos<br />
chamados eventos extremos, como<br />
furacões, tempesta<strong>de</strong>s, inundações,<br />
secas e ondas <strong>de</strong> calor. Isso afetará a<br />
saú<strong>de</strong> diretamente, provocando traumas<br />
físicos e psicológicos, além <strong>de</strong><br />
perdas econômicas importantes. Entre<br />
os efeitos indiretos, estão escassez <strong>de</strong><br />
água, queda na produção <strong>de</strong> alimentos,<br />
exacerbação da poluição atmosférica e<br />
migrações dos chamados “refugiados<br />
ambientais”. Todos esses processos<br />
têm impactos importantes na saú<strong>de</strong>.<br />
Além disso, os efeitos das oscilações<br />
do clima (variações <strong>de</strong> temperatura,<br />
chuvas, etc) sobre agentes e vetores<br />
<strong>de</strong> doenças infecciosas endêmicas,<br />
como <strong>de</strong>ngue, malária, leishmaniose,<br />
diarréias infecciosas e outras, po<strong>de</strong>m<br />
acelerar os ciclos infecciosos e facilitar<br />
a dispersão espacial dos agentes microbianos<br />
e <strong>de</strong> seus transmissores.<br />
Nos ministérios e secretarias,<br />
é possível resolver essa dissonância<br />
e criar projetos que<br />
atendam às duas áreas concomitantemente?<br />
Existem diversas iniciativas em curso<br />
no setor público e na socieda<strong>de</strong>. Contudo,<br />
é preciso visão e vonta<strong>de</strong> política<br />
para dar escala a essas experiências,<br />
transformando-as em políticas públicas<br />
que possam ser universalizadas.<br />
“a educação está<br />
longe <strong>de</strong> levar as<br />
pessoas a interagir<br />
com realida<strong>de</strong>s<br />
complexas e<br />
capacitá-las a<br />
produzir respostas<br />
criativas e efetivas<br />
para os <strong>de</strong>safios<br />
da atualida<strong>de</strong>”<br />
Durante sua atuação como ministra,<br />
houve essa preocupação?<br />
Orientei minha atuação no Ministério<br />
do Meio Ambiente por quatro<br />
diretrizes: <strong>de</strong>senvolvimento sustentável,<br />
controle e participação social,<br />
fortalecimento do sistema nacional<br />
<strong>de</strong> meio ambiente e política ambiental<br />
integrada ou transversalida<strong>de</strong>. E<br />
foi a partir <strong>de</strong>ssa visão que conseguimos<br />
importantes avanços, como,<br />
por exemplo, a criação dos planos<br />
nacionais <strong>de</strong> combate à <strong>de</strong>sertificação<br />
e <strong>de</strong> recursos hídricos. Também<br />
conseguimos inverter a tendência<br />
histórica <strong>de</strong> aumento do <strong>de</strong>smatamento<br />
da Amazônia, que foi capaz<br />
<strong>de</strong> reduzir a <strong>de</strong>struição da floresta<br />
em 60% em três anos.<br />
Como a classe médica po<strong>de</strong> se envolver<br />
nessa temática?<br />
Acredito que a classe médica já vem<br />
dando significativas contribuições<br />
para a compreensão do conceito mais<br />
amplo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que procura integrar<br />
as dimensões físicas, psíquicas e emocionais<br />
do ser humano com as condições<br />
ambientais em que ele vive. É<br />
importante que a produção científica<br />
esteja associada a uma atualização<br />
contínua dos cursos <strong>de</strong> medicina, especialmente<br />
no que se refere aos impactos<br />
das mudanças climáticas sobre<br />
a saú<strong>de</strong>. Precisaremos fazer um enorme<br />
esforço para estabelecer políticas<br />
públicas na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que sejam<br />
adaptadas a essas novas condições<br />
ambientais, cujos impactos serão mais<br />
severos sobre os mais pobres.<br />
Pesquisas da organização Mundial<br />
da saú<strong>de</strong> mostram uma intrínseca<br />
relação entre as regiões<br />
menos <strong>de</strong>senvolvidas e a propagação<br />
<strong>de</strong> doenças, inclusive as que<br />
já eram dadas com extintas, como<br />
Chagas ou leishmaniose. em sua<br />
opinião, por que isso acontece?<br />
As regiões mais pobres são também<br />
aquelas em que o Estado tem presença<br />
mais frágil e a qualida<strong>de</strong> dos<br />
serviços <strong>de</strong> saneamento básico, educação<br />
e saú<strong>de</strong>, por exemplo, é mais<br />
precária. Em muitas <strong>de</strong>ssas regiões,<br />
verifica-se também um elevado processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental, que<br />
acaba por reduzir ainda mais a qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida e as opções <strong>de</strong> sobrevivência<br />
da população.<br />
Quais os maiores <strong>de</strong>safios para<br />
o Brasil no que tange ao binômio<br />
poluição e saú<strong>de</strong>?<br />
Adotar um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
que promova o <strong>de</strong>senvolvi-