Download - Associação Paulista de Medicina
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trabalho<br />
médico<br />
pARA pAgAR<br />
fIES É MEDIDA<br />
pAlIATIvA<br />
Entida<strong>de</strong>s criticam lei que permite pagamento <strong>de</strong><br />
crédito educativo com prestação <strong>de</strong> serviços médicos<br />
KARINA TAMBELLINI<br />
A<br />
Lei 12.202/10, sancionada<br />
em janeiro pelo presi<strong>de</strong>nte<br />
Lula, possibilita que médicos<br />
formados com auxílio do Fundo<br />
<strong>de</strong> Financiamento ao Estudante do<br />
Ensino Superior (FIES), em instituições<br />
particulares, paguem parcial ou<br />
totalmente a dívida mediante atuação<br />
no Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família<br />
(PSF), com carga horária <strong>de</strong> 20 horas<br />
semanais. A cada mês <strong>de</strong> trabalho,<br />
abate-se 1% do saldo <strong>de</strong>vedor.<br />
O médico que aceitar essa condição<br />
<strong>de</strong>verá atuar em cida<strong>de</strong>s do Norte,<br />
Nor<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste, <strong>de</strong> acordo<br />
com o Ministério da Saú<strong>de</strong>, uma vez<br />
que essas regiões têm escassez <strong>de</strong><br />
profissionais. Para quitar a dívida, serão<br />
ao todo aproximadamente oito<br />
anos e quatro meses <strong>de</strong> trabalho.<br />
Em 2009, segundo o Ministério da<br />
Educação, 8.150 estudantes <strong>de</strong> medicina<br />
estavam ligados ao FIES. A estimativa<br />
oficial é <strong>de</strong> que até 75% po<strong>de</strong>rão<br />
a<strong>de</strong>rir à nova forma <strong>de</strong> pagamento.<br />
Tal iniciativa, contudo, <strong>de</strong>ve ser<br />
consi<strong>de</strong>rada com cautela. Entida<strong>de</strong>s<br />
médicas alertam que, em vez<br />
<strong>de</strong> ajudar, ela po<strong>de</strong> representar um<br />
risco aos cidadãos: “No Brasil, temos<br />
181 escolas <strong>de</strong> medicina e meta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>las tem sérios problemas; não faz<br />
sentido financiar um estudo <strong>de</strong> má<br />
qualida<strong>de</strong>, pois estaremos gastando<br />
o dinheiro do contribuinte <strong>de</strong> forma<br />
ina<strong>de</strong>quada”, opina José Luiz Gomes<br />
do Amaral, presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong><br />
Médica Brasileira (AMB).<br />
Ainda segundo Amaral, a medida é<br />
puramente paliativa. Não busca resolver<br />
o centro do problema, que é oferecer<br />
uma carreira <strong>de</strong> Estado segura ao<br />
médico, com o aparato técnico necessário<br />
para que ele possa trabalhar em<br />
regiões mais afastadas dos gran<strong>de</strong>s<br />
centros: “Se essas questões estivessem<br />
asseguradas, o preenchimento <strong>de</strong><br />
todas as vagas seria natural. Não é tornando<br />
o serviço quase obrigatório que<br />
se estimula o crescimento e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da profissão”, acredita.<br />
O presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong> <strong>Paulista</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Medicina</strong> (APM), Jorge Carlos<br />
Machado Curi, diz que qualquer<br />
medida que possa estimular o médico<br />
é favorável; entretanto, é preciso<br />
dar condições estruturais para que<br />
o profissional se fixe nessas regiões<br />
mais carentes: “Não dá para imaginar<br />
que apenas essa proposta vá resolver<br />
o problema.”<br />
Amaral pon<strong>de</strong>ra também que esta<br />
lei está longe <strong>de</strong> incluir o médico no<br />
sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. “Só seria<br />
uma medida inclusiva se o acesso ao<br />
PSF permitisse que os estudantes,<br />
ao terminarem a graduação, pu<strong>de</strong>ssem<br />
encontrar um bom posto <strong>de</strong> trabalho,<br />
para continuar crescendo e se<br />
<strong>de</strong>senvolvendo. Da forma como a lei<br />
foi aprovada, não vai satisfazer a necessida<strong>de</strong><br />
da socieda<strong>de</strong>.”<br />
O <strong>de</strong>putado Eleuses Paiva, expresi<strong>de</strong>nte<br />
da APM e da AMB, concorda<br />
com o posicionamento das<br />
entida<strong>de</strong>s. Em sua opinião, a medida<br />
é periférica; consequentemente,<br />
não culminará no resultado <strong>de</strong>sejado<br />
pelos profissionais e pelas entida<strong>de</strong>s<br />
representativas da classe,<br />
que é a interiorização da medicina,<br />
com qualida<strong>de</strong> para todos.<br />
De acordo com o diretor <strong>de</strong> Defesa<br />
Profissional da APM, Tomás Patrício<br />
Smith-Howard, a proposta não <strong>de</strong>ve incentivar<br />
a proliferação <strong>de</strong> escolas médicas.<br />
“O que <strong>de</strong>ve existir é a fiscalização<br />
das faculda<strong>de</strong>s com critérios rigorosos,<br />
como corpo docente qualificado, hospitais<br />
universitários e programas <strong>de</strong><br />
residência médica, para que os alunos e<br />
os futuros médicos possam aten<strong>de</strong>r às<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assistência da população<br />
local”, observa.<br />
“Se houvesse a preocupação com a<br />
carreira do médico e sua segurança,<br />
seria espontâneo trabalhar na Saú<strong>de</strong><br />
da Família, pois é gratificante, remete<br />
às raízes da vocação”, conclui o<br />
presi<strong>de</strong>nte da AMB.<br />
Osmar Bustos<br />
protesto