Livro de Estudo - Volume 2 - Portal do Professor - Ministério da ...
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A literatura infantil é um tipo específico <strong>de</strong> leitura e é sobre ela que vamos tratar<br />
nessa sessão. “Era uma vez...”: palavras mágicas que abrem as portas <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong><br />
imaginário, repleto <strong>de</strong> surpresas e gostosuras! O livro <strong>de</strong> literatura infantil<br />
guar<strong>da</strong> esta possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “mergulho” em novos universos, nos aproximan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> personagens curiosos, situações inusita<strong>da</strong>s, acontecimentos surpreen<strong>de</strong>ntes.<br />
Nos livros po<strong>de</strong>mos encontrar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cabeça para baixo: bonecas e animais<br />
que falam, camas que voam, castelos e encantamentos que tornam o sonho<br />
possível. Vejam como Lygia Bojunga, escritora brasileira premia<strong>da</strong> pelo conjunto<br />
<strong>de</strong> sua obra, fala <strong>do</strong> livro:<br />
<strong>Livro</strong> – a troca<br />
Pra mim, livro é vi<strong>da</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu era<br />
muito pequena<br />
os livros me <strong>de</strong>ram casa e comi<strong>da</strong>.<br />
Foi assim: eu brincava <strong>de</strong> construtora,<br />
livro era tijolo; em pé, fazia pare<strong>de</strong>;<br />
<strong>de</strong>ita<strong>do</strong>, fazia <strong>de</strong>grau <strong>de</strong> esca<strong>da</strong>;<br />
inclina<strong>do</strong>, encostava num outro e<br />
fazia telha<strong>do</strong>. E quan<strong>do</strong> a casinha<br />
ficava pronta eu me espremia lá<br />
<strong>de</strong>ntro pra brincar <strong>de</strong> morar<br />
em livro.<br />
De casa em casa eu fui <strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong><br />
o mun<strong>do</strong> (<strong>de</strong> tanto olhar pras pare<strong>de</strong>s).<br />
Primeiro, olhan<strong>do</strong> <strong>de</strong>se nhos; <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>cifran<strong>do</strong> palavras.<br />
Fui crescen<strong>do</strong>; e <strong>de</strong>rrubei telha<strong>do</strong>s com a cabeça.<br />
Mas fui pegan<strong>do</strong> intimi<strong>da</strong><strong>de</strong> com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava,<br />
menos eu ia me lembran<strong>do</strong> <strong>de</strong> consertar o telha<strong>do</strong> ou <strong>de</strong> construir novas casas. Só<br />
por causa <strong>de</strong> uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.<br />
To<strong>do</strong> dia a minha imaginação comia, comia e comia; e <strong>de</strong> barriga assim to<strong>da</strong><br />
cheia, me levava pra morar no mun<strong>do</strong> inteiro: iglu, cabana, palácio, arranhaceú;<br />
era só escolher e pronto, o livro me <strong>da</strong>va.<br />
Foi assim que, <strong>de</strong>vagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que – no<br />
meu jeito <strong>de</strong> ver as coisas – é a troca <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong>; quanto mais eu buscava<br />
no livro, mais ele me <strong>da</strong>va.<br />
Mas como a gente tem mania <strong>de</strong> sempre querer mais, eu cismei um dia <strong>de</strong><br />
alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra – em algum lugar – uma criança<br />
juntar com outros, e levantar a casa on<strong>de</strong> ela vai morar.<br />
(Um encontro com Lygia Bojunga Nunes. 1998)<br />
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