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No. 4/1975

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esfe ato que assinala o transcurso do Dia Inter-<br />

nacional para a Eliminação da Discriminação Ra-<br />

cial, na conformidade do que nos recomenda a<br />

Organização das Nações Unidas.<br />

Promovendo-o, o Governo Brasileiro deseja marcur<br />

o seu repúdio a todas as formas de discriminação<br />

com fundamento na raça ou na etnia de indi-<br />

víduos c de grupos e, simultaneamente, reiterar<br />

a posição que assumiu, no mais alto foro da co-<br />

munidade internacional, desde que a questão foi<br />

ali introduzido para efeito de discussão e de de-<br />

cisão.<br />

É de se assinalar, tambérn, que o repúdio brasi-<br />

leiro ò discriminação racial não é entorpecido ou<br />

abrandado pela circunst6ncia de nos mantermos<br />

fiéis aos princípios do respeito à soberania dos<br />

Estados, de nóo-intervenção nos seus negócios in-<br />

ternos e de autodeterminação dos povos.<br />

A discriminaçiío racial - proibida em nossa Cons-<br />

tituição e definida em lei como conduta punível<br />

- contraria fundamentalmente a formaçáo do<br />

povo brasileiro que praticau e pratica intensa e<br />

habitual miscigenação e, além disso, constrói a<br />

sua próprio cuitura com as contribuições mais<br />

diversas.<br />

Tendo -tido a honra de co-participar da redação<br />

da Declaração Oficial da UNESCO sobre raça e<br />

preconceito de raça, feita em Paris, no ano de<br />

1967 e, ainda, a de servir como Delegado do<br />

Brasil c Relator-Geral, no Seminário da ONU, que<br />

se reuniu na República dos Camarões, laundé, em<br />

1971, sei bem que grandes e largos passos foram<br />

dados no sentido de criar uma consciência mun-<br />

dial dos perigos e maleficios que a discriminação<br />

racial enseia.<br />

A unidade de origem da nossa espécie e a igual<br />

repartição da herança genética, entre todos os<br />

grupos humanos, afirmadas no documento de<br />

1967, constituem, hoje, convicções comuns, não<br />

desmentidas por qualquer constatação científica<br />

séria. E são universalmente condenadas todas as<br />

formas de opressão de indivíduos ou de grupos<br />

com fundamento na roça dos oprimidos. A re-<br />

pulsa geral ao segregacionismo e ao aparteísmo<br />

constitui um alto momento da evolução da cons-<br />

ciência moral da humanidade.<br />

E, assim, bastante significativo o fato de não ser,<br />

apenas, a discriminação racial, um fato socioló-<br />

gico e político de dimensões geográficas limitadas<br />

a esta ou aquela região, para transformar-se em<br />

questóo de consciência que interessa a todas as<br />

forças morais, assim religiosas como políticas e<br />

sociais voltadas para o progresso espiritual da<br />

humanidade.<br />

É forçoso reconhecer que, nesse particular, algumas<br />

nações menos avançadas, do ponto-de-vista<br />

do seu desenvolvimento material, apresentam um<br />

quadro de relações inter-raciais muito mais satisfatório<br />

do que aquelas consideradas, com justiça,<br />

plenamente desenvolvidas.<br />

Recolhe-se, desse fato, a prova da hão coincidência<br />

dos dois progressos: o moral e o material. E,<br />

ainda, que a imposição de modelos de convivêncio<br />

humana a povos que adotaram padrões culturais<br />

moralmente saudáveis, pode gerar retrocessos<br />

indesejáveis no campo da harmoniosa convivência<br />

de raças e de culturas.<br />

É de extrema importância para a paz e para a<br />

eliminação da discriminação racial que nenhuma<br />

nação ou grupo de nações, que nenhuma cultura<br />

ou civilização se suponha detentora do monopólio<br />

da verdade ou repute a sua consciência moral<br />

niais próxima do bem, pelo simples fato de ser<br />

econômica ou militarmente mais poderosa.<br />

A força que deriva da riqueza ou das armas não<br />

impediu as grandes catástrofes morais deste<br />

século.<br />

E isto nos levaria a pensar que assim como os<br />

valores da herança genética se transmitem equanirriemente<br />

entre todos os grupos humanos, também<br />

os valores da consciência morol de nossa<br />

espécie cjerminam e vicejam em todas as latitudes<br />

e em todos os quadrantes da Terra.<br />

Cada povo, se olhar com humildade sua história,<br />

encontrará nela niomentos luminosos e sombrios.<br />

E verificará que as reações salvadoras, os gestos<br />

edificanies nascem de seu próprio seio.<br />

A experiência do colonialismo legou-nos uma lição<br />

que não deveria ser jamais esquecida: a de<br />

que as tutelas morais fundadas na presunçosa<br />

assunção de uma superioridade dos valores próprios<br />

em detrimento dos alheios, importa, quase<br />

sempre, na dejtruição e involução dos tutelados<br />

e no aparecimento de males dantes desconhecidos.<br />

Falando a Chefes de Missão tão generosamente<br />

interessados em conhecer e compreender o Brasil,<br />

peço licença para mostrar-lhes, sem nenhuma<br />

'<br />

iactáncia, mas com indisfarçável orgulho de minha<br />

Pátria, como formamos a consciência da<br />

nosso unidade com as múltiplas contribuições<br />

étnicas e culturais que recebemos.<br />

Em questões de relacionamento racial, a experiência<br />

brasileira é exemplo que vale a pena ser<br />

conhecido e meditado. As linhas fundamentais do<br />

convívlo racial, num país formado pelo amálgama<br />

do índio, do negro e do branco, têm sido a tolerância,<br />

a compreensáo e mesmo a solidariedade<br />

sempre .presentes na tradição étnica brasileira.<br />

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

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