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Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

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VASCONCELOS, Sandra Guardini T. <strong>Leituras</strong> <strong>Inglesas</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>oitocentista</strong>.<br />

pouco a pouco, apareciam os anúncios de “<strong>no</strong>velas”, à venda nas “lojas da<br />

Gazeta”. Também em terras brasileiras foram os livreiros e os gabinetes de<br />

leitura os responsáveis pela difusão e circulação de romances, exercendo<br />

um papel tão importante quanto aqueles na Inglaterra e França, como formadores<br />

e mediadores do gosto. 13 Se na década de 1820 as boticas anexas<br />

aos jornais funcionavam como locais de aluguel e venda de livros, na década<br />

de 1830, fundaram-se bibliotecas e gabinetes à maneira dos ingleses e<br />

franceses, isto é, enquanto empreendimentos comerciais responsáveis por<br />

colocar em circulação aqui na província as pacotilhas de <strong>no</strong>velas mandadas<br />

da metrópole. Com certeza, foram os encalhes, os excedentes das edições<br />

para os gabinetes de leitura franceses, e também os sucessos, já traduzidos<br />

para o português, que acabaram tendo Lisboa e o Rio de Janeiro como<br />

desti<strong>no</strong>. A expressão “traduzido do francês”, que aparece em grande parte<br />

dos romances que aqui circularam, é freqüentemente pista falsa, escondendo<br />

a procedência inglesa do romance, e deve ter servido como um chamariz<br />

que facilitava o aluguel e venda desses livros, pois, segundo Laurence<br />

Hallewell, havia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> “uma receptividade excepcional aos ador<strong>no</strong>s da<br />

cultura francesa”, vista como moderna e progressista. 14<br />

Uma consulta à Petite bibliographie biographico-romancière de A.N.<br />

Pigoreau e à compilação de Harold Streeter, em The eighteenth-century<br />

English <strong>no</strong>vel in French translation, comprova a origem inglesa de grande<br />

parte das obras “traduzidas do francês” que constavam dos catálogos dos<br />

gabinetes de leitura do Rio de Janeiro. O confronto entre as informações<br />

bibliográficas disponíveis, incluindo o <strong>no</strong>me ou iniciais do tradutor, demonstra<br />

que, freqüentemente, a edição que chegou ao <strong>Brasil</strong>, ou serviu de<br />

base para a tradução para o português, foi exatamente a mesma que circulava<br />

<strong>no</strong>s gabinetes franceses. Esse é o caso, por exemplo, de L’Italien, ou le<br />

confessional des pénitents <strong>no</strong>irs, de Anne Radcliffe, ou de Alberto, ou o<br />

deserto de Strathnavern, de Mrs. Helme. Daí a afirmação de Marlyse Meyer<br />

de que os paradigmas romanescos que chegaram ao país eram sempre ingleses,<br />

ainda que a mediação fosse francesa.<br />

13<br />

Nelson Schapochnik registra a existência do gabinete de Cremière, na Rua da<br />

Alfândega, e dos de Mongie, Dujardin e Mad Breton, na Rua do Ouvidor. Ver<br />

“Contextos de Leitura <strong>no</strong> Rio de Janeiro do século XIX: salões, gabinetes literários<br />

e bibliotecas”. In: BRESCIANI, Stella. Imagens da Cidade. Séculos XIX e XX.<br />

ABPUH/São Paulo, Marco Zero/FAPESP, 1993, p. 147-162.<br />

14<br />

Laurence Hallewell. O Livro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (sua história). São Paulo: T.A. Queiroz/<br />

EDUSP, 1985, p. 117.<br />

232<br />

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16/11/2010, 16:21

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