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Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

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VASCONCELOS, Sandra Guardini T. <strong>Leituras</strong> <strong>Inglesas</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>oitocentista</strong>.<br />

e também do artigo publicado em Guanabara em 1855 sobre Vicentina,<br />

romance de Joaquim Manuel de Macedo:<br />

“O romance é de origem moderna; veio substituir as <strong>no</strong>velas e<br />

histórias que tanto deleitavam a <strong>no</strong>ssos pais. [...] Por seu intermédio<br />

pode-se moralizar e instruir o povo [...]. Se o teatro foi<br />

justamente chamado a escola de costumes, o romance é a moral<br />

em ação [...]. Mas para que ele produza os benefícios que acabamos<br />

de admirar, cumpre que ele saiba guardar as regras que<br />

lhe são traçadas, que seja como uma colméia de saboroso mel<br />

e não uma taça de deletério vene<strong>no</strong>. O povo em sua cândida<br />

simplicidade busca nele instruir-se, deleitando-se”. 24<br />

Nesse comentário, J.C. Fernandes Pinheiro não faz mais do que ecoar<br />

a opinião freqüente entre os críticos e resenhistas ingleses de que o romance<br />

só se justificava pela sua capacidade de instrução moral, como instrumento<br />

de uma tarefa reformadora que pretendia incutir <strong>no</strong>vos padrões de<br />

comportamento em uma classe social em ascensão. Numa sociedade <strong>no</strong>va,<br />

como a brasileira, não é difícil entender por que alguns esperavam que<br />

também aqui o romance cumprisse o papel de instituidor ou reformador de<br />

costumes.<br />

Tudo indica que, aqui também, houve a mesma necessidade de justificar<br />

a falta de dignidade teórica do <strong>no</strong>vo gênero que, segundo Antonio Cândido, fez<br />

os romancistas franceses do século XVII – e, eu acrescentaria, os ingleses do<br />

século XVIII – se valerem do artifício do “doce remédio” (o utile et dulci) para<br />

esconder o sentimento de inferioridade da ficção diante da <strong>no</strong>bre tradição da<br />

tragédia e da épica. Ao entrar <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como um gênero já consolidado na<br />

Europa, entretanto, o romance não precisou se empenhar tanto em se fazer<br />

reconhecer e o romancista pôde logo ir tratar de outros assuntos, como por<br />

exemplo, cuidar de dar conta do cotidia<strong>no</strong> dos homens comuns, sua matéria.<br />

De fato, comparado com seu congênere inglês, o romance brasileiro se livra<br />

bastante rapidamente de seu “estado de timidez envergonhada” 25 e da pecha<br />

de gênero me<strong>no</strong>r e bastardo. Da mesma forma, teve me<strong>no</strong>s pruridos em aceitar<br />

a “validade em si mesma da mimese” e se entregar ao “livre jogo da fantasia<br />

criadora”. 26<br />

24<br />

Meu itálico.<br />

25<br />

A expressão é de Antonio Cândido, <strong>no</strong> ensaio citado: “Timidez do romance”.<br />

In: Educação pela <strong>no</strong>ite e outros ensaios. São Paulo, Ed. Ática, 1987, p. 82-99.<br />

26<br />

Id., Ibid., p. 88.<br />

238<br />

Sem título-1 238<br />

16/11/2010, 16:21

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