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Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

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VASCONCELOS, Sandra Guardini T. <strong>Leituras</strong> <strong>Inglesas</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>oitocentista</strong>.<br />

Seu objetivo não era eliminar a Grã-Bretanha da participação na vida econômica<br />

brasileira, mas livrar-se das imposições e privilégios que haviam<br />

marcado as relações anglo-brasileiras desde 1808. Abrindo o comércio do<br />

país à competição das outras nações, o <strong>Brasil</strong> obrigou a Inglaterra a provar<br />

sua superioridade econômica para garantir sua supremacia comercial <strong>no</strong><br />

mercado brasileiro, pondo fim, dessa forma, às imposições inglesas a Portugal<br />

ou aos aspectos escandalosos dos tratados entre os dois rei<strong>no</strong>s que<br />

haviam permitido condições extremamente privilegiadas ao escoamento<br />

dos produtos ingleses na agora ex-colônia.<br />

No entanto, a presença inglesa <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> que, <strong>no</strong> início do século,<br />

ficou marcada graças à introdução de <strong>no</strong>vos hábitos de consumo, à adoção<br />

de certas modas, ao refinamento das maneiras e à oferta regular de<br />

cursos de língua inglesa, continuou a se fazer sentir <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> do Rio<br />

de Janeiro ao longo de todo o século XIX. Não só as alfaiatarias, as lojas<br />

de armarinhos, as comidas e as bebidas, como o chá, eram marcas dessa<br />

presença, mas Gilberto Freyre lembra que o uso do vidro e do ferro nas<br />

construções, as estradas de ferro, a iluminação a gás, os bondes, são apenas<br />

outros exemplos dos poderosos interesses britânicos <strong>no</strong> mercado brasileiro.<br />

3 Se as relações anglo-brasileiras não foram tranqüilas nem fáceis <strong>no</strong><br />

terre<strong>no</strong> do comércio e da política, elas também parecem ter afetado o<br />

modo como os ingleses eram vistos pelos brasileiros, como atestam trechos<br />

de alguns dos <strong>no</strong>ssos comediógrafos, que empregaram estereótipos<br />

como a mesquinharia, a avareza e a embriaguez para caracterizar os personagens<br />

ingleses que atuam, ainda que secundariamente, em suas tramas.<br />

4<br />

Enquanto em Ingleses na Costa, de França Júnior, os credores recebem<br />

o apelido de ingleses por se tratar de uma “raça desapiedada que <strong>no</strong>s<br />

persegue por toda parte”, em Os Dous, ou o Inglês Maquinista, de Martins<br />

Pena, Gainer é o inglês interesseiro e especulador que Felício chama, ironicamente,<br />

de “amicíssimo do <strong>Brasil</strong>” e de velhaco por ter um projeto de<br />

produzir uma máquina que supre todos os ofícios, projeto esse que denuncia<br />

sua intenção de tirar vantagem de sua posição e ganhar dinheiro fácil.<br />

3<br />

Gilberto Freyre. Ingleses <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, Aspectos da influência britânica sobre a<br />

vida, a paisagem e a cultura do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro, José Olympio, 1948.<br />

4<br />

Refiro-me a peças como Ingleses na Costa, de Joaquim José de França Júnior<br />

(1864), Os Dois, ou o Inglês Maquinista, de Martins Pena (1871) e A Torre em<br />

Concurso, de Joaquim Manuel de Macedo.<br />

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16/11/2010, 16:21

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