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Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

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Crop, 8, 2002<br />

Dado o sentimento de inferioridade que caracterizaria o romance, em<br />

relação às formas clássicas como a tragédia e a epopéia, e que levaria os<br />

romancistas a se justificarem e defenderem por tê-lo escolhido como meio<br />

de expressão, a crítica também parece ter se deixado levar pela necessidade<br />

de exigir, dos romancistas, o cumprimento da tarefa de oferecer aos leitores<br />

“a imagem da virtude (...) e o horror do vício”, como pede A.F. Dutra e<br />

Mello, em seu estudo sobre “A Moreninha, na Minerva <strong>Brasil</strong>iense, 38 não se<br />

esquecendo de citar o velho preceito: Omine tulit punctum qui miscuit<br />

utile dulci. Essa seria, segundo muitos desses críticos, a <strong>no</strong>bre missão de<br />

um gênero que nasceu bastardo.<br />

Mas não se restringem à exigência da função edificante, lembrandose<br />

também de cuidar de algumas questões de natureza formal e de definir<br />

algumas direções para os romancistas que faziam suas primeiras incursões<br />

pelo <strong>no</strong>vo gênero. Cobram, assim, do romancista a fidelidade ao real e a<br />

verossimilhança, na medida em que é próprio do gênero tratar da realidade<br />

cotidiana e doméstica. E não percebem que, <strong>no</strong> fundo, propósitos didáticos<br />

e moralizantes e fidelidade ao real podem ser duas exigências contraditórias,<br />

como bem observa José de Alencar, em sua advertência a Asas de um<br />

Anjo, escrita em função das acusações de imoralidade lançadas contra a<br />

comédia:<br />

“A realidade, ou melhor, a naturalidade, a reprodução da natureza<br />

e da vida social <strong>no</strong> romance e na comédia, não a considero<br />

uma escola ou um sistema; mas o único elemento da literatura:<br />

a sua alma. (...) Se disseram que alguma vez copiam-se da natureza<br />

e da vida cenas repulsivas, que a decência, o gosto e a<br />

delicadeza não toleram, concordo. Mas aí o defeito não está na<br />

literatura, e sim <strong>no</strong> literato; não é a arte que renega do belo; é o<br />

artista, que não soube dar ao quadro esses toques divi<strong>no</strong>s que<br />

doiram as trevas mais espessas da corrupção e da miséria”. 39<br />

Repetiam-se aqui, cerca de cem a<strong>no</strong>s depois, as mesmas concepções,<br />

críticas e defesas e argumentos que tornaram o período de ascensão do<br />

romance, tanto deste como do outro lado do Atlântico, um dos mais ricos<br />

de sua história.<br />

38<br />

A.F. Dutra e Mello. “A Moreninha”, Minerva <strong>Brasil</strong>iense, a<strong>no</strong> 1-2, vol. 2, n. 24,<br />

15 de outubro de 1844, p. 747.<br />

39<br />

José de Alencar, op. cit., vol. I, p. 922.<br />

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Sem título-1 247<br />

16/11/2010, 16:21

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