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Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

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Crop, 8, 2002<br />

O fato é que as pacotilhas de “<strong>no</strong>velas” inglesas efetivamente aportaram<br />

<strong>no</strong> Rio de Janeiro <strong>no</strong> primeiro terço do século XIX, quase sempre via Paris<br />

ou Lisboa, traduzidas do francês. E mantiveram um fluxo constante ao longo<br />

de todo o século, permanecendo <strong>no</strong>s catálogos das bibliotecas e gabinetes<br />

e, certamente, em suas estantes durante todo o período.<br />

Como lembra Antonio Cândido em Formação da Literatura <strong>Brasil</strong>eira,<br />

“os livros traduzidos pertenciam, na maior parte, ao que hoje<br />

se considera literatura de carregação; mas eram <strong>no</strong>vidades prezadas,<br />

muitas vezes, tanto quanto as obras de valor. Assim, ao<br />

lado de George Sand, Merimée, Chateaubriand, Balzac, Goethe,<br />

Irving, Dumas, Vigny, se alinhavam Paul de Kock, Eugène Sue,<br />

Scribe, Soulié, Berthet, Souvestre, Féval, além de outros cujos<br />

<strong>no</strong>mes nada mais sugerem atualmente: Bard, Gonzalès, Rabou,<br />

Chevalier, David, etc. Na maioria, franceses, revelando <strong>no</strong>s títulos<br />

o gênero que se convencio<strong>no</strong>u chamar folhetinesco. Quem<br />

sabe quais e quantos desses subprodutos influíram na formação<br />

do <strong>no</strong>sso romance? Às vezes, mais do que os livros de<br />

peso em que se fixa de preferência a atenção”. 20<br />

“Leitura amena”, na definição do jornalista Quiri<strong>no</strong> dos Santos, proprietário<br />

da Gazeta de Campinas, ou “romances de carregação”, nas palavras<br />

de um jornalista da época, esses livros deixaram marcas muito fortes <strong>no</strong><br />

imaginário de <strong>no</strong>ssos romancistas. José de Alencar foi um daqueles para<br />

quem a leitura desse tipo de romance contribuiu para “gravar em meu espírito<br />

os moldes dessa estrutura literária”. 21 Foram esses romances que atravessaram<br />

os mares, carregando em seu interior alguns temas recorrentes – o<br />

casamento, a vida privada e doméstica, a usurpação de direitos e heranças,<br />

todos embebidos por emoções exacerbadas expressas, <strong>no</strong> mais das vezes, em<br />

tom grandiloqüente, marca da época. Do mesmo modo, os diferentes tipos de<br />

romance, correntes na Inglaterra do século XVIII – doméstico, sentimental,<br />

20<br />

Antonio Cândido. Formação da Literatura <strong>Brasil</strong>eira (Momentos Decisivos). São<br />

Paulo, Martins, 4ª ed., s.d. 2 vol., p. 121-22.<br />

21<br />

José de Alencar. “Como e porque sou romancista”. Obra Completa. Rio de<br />

Janeiro, José Aguilar, 1965, vol. 1. Marlyse Meyer aponta as referências a Sinclair<br />

das Ilhas, de Mrs. Helme, não só em Alencar mas também em Machado de Assis<br />

e Guimarães Rosa, em “O que é, ou quem foi Sinclair das Ilhas?” Revista do<br />

Instituto de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros. São Paulo, Universidade de São Paulo, 1973, n.<br />

14, pp. 37-63.<br />

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16/11/2010, 16:21

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