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Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

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Crop, 8, 2002<br />

o canal da Mancha e deixar marcas <strong>no</strong> imaginário dos romancistas. Na esteira<br />

dele, vieram centenas de outros romances que, tanto na Inglaterra como<br />

na França, ocuparam o tempo livre de suas leitoras, seu público privilegiado,<br />

e abriram definitivamente espaço para a consolidação do <strong>no</strong>vo gênero.<br />

Ainda que, desde o início, o romance, por causa de sua origem bastarda,<br />

tenha sido imediatamente associado ao popular e visto por muitos<br />

como uma leitura pouco recomendável, passatempo de ociosos, ou, mais<br />

grave ainda, corruptor de costumes, a boa recepção que teve, na França, a<br />

produção <strong>no</strong>velística dos fundadores do romance inglês, principalmente<br />

entre 1740 e 1760, foi apenas o começo de um intenso processo de intercâmbio<br />

entre os dois lados da Mancha, permitindo a definição do século<br />

XVIII como o século do romance. 7 Embora recalcitrantes em relação ao<br />

realismo social de tipo inglês, que consideravam “de mau gosto”, os franceses<br />

souberam aproveitar as sugestões vindas de seus sucedâneos ingleses, e<br />

foram substituindo gradualmente o princípio da bienséance pela exigência<br />

da vraisemblance, conferindo a suas histórias uma orientação mais realista,<br />

<strong>no</strong> que tange à composição dos personagens, escolha de cenário e introdução<br />

de <strong>no</strong>vos métodos narrativos.<br />

Sem ser exatamente um passatempo barato, já que os preços de venda<br />

não eram acessíveis, os romances encontraram nas bibliotecas circulantes<br />

um excelente meio de difusão e circulação. Fundadas como estabelecimentos<br />

comerciais na cidade de Bath, em 1725, e em Londres, em 1740, as<br />

bibliotecas circulantes foram um fator importantíssimo na disseminação do<br />

hábito de leitura e na popularidade do gênero. Módicas taxas permitiam a<br />

leitores de diferentes níveis sócio-econômicos acesso à última <strong>no</strong>vidade <strong>no</strong><br />

mercado livreiro enquanto que o hábito de leitura em voz alta possibilitava<br />

às criadas – do mesmo modo que às senhoras – contato com as venturas e<br />

desventuras das personagens romanescas, envolvidas em enredos que privilegiavam<br />

toda sorte de atribulações, provas e situações angustiantes. O<br />

sucesso dessas histórias foi tal que as bibliotecas circulantes se multiplicaram<br />

por toda a Inglaterra, tornando-se um negócio bastante lucrativo, e<br />

contribuíram de maneira decisiva para tornar acessível ao público leitor sua<br />

dose diária de ficção. Com desti<strong>no</strong> garantido – as bibliotecas circulantes – e<br />

um público de gosto tido como previsível, a palavra de ordem era a repetição<br />

infinita de fórmulas bem-sucedidas e o recurso à imitação.<br />

7<br />

Ver a esse respeito Georges May. Le Dilemme du roman du XVIIIe. siècle. Étude<br />

sur les rapports du roman et de la critique (1715-1767). Paris, PUF, 1963.<br />

229<br />

Sem título-1 229<br />

16/11/2010, 16:21

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